Chico Bento e a imagem do campo
Espaço Aberto: Terminou com farol baixo o Congresso Brasileiro do Agronegócio, realizado recentemente na capital paulista. Seus participantes ficaram com a impressão de estar discutindo os mesmos problemas há anos, sem avanço na agenda. Percebem o enfraquecimento do Ministério da Agricultura. Parece até que a agricultura não tem importância na vida nacional. Por Xico Graziano
Publicado em: - 4 minutos de leitura
Essa frustração pega longe. Nas fronteiras do Centro-Oeste, onde mais brilha a produção agropecuária, os produtores rurais não conseguem entender por que razão as ferrovias, hidrovias e rodovias nunca saem do papel. Estatísticas são conhecidas e consequências, avalizadas: sem boa logística os ganhos de produtividade dentro da porteira se esvaem pelos tortuosos e esburacados caminhos pós-colheita. Fora os discursos, nada acontece.
Assim como não anda, ao contrário, regride, a agricultura energética. Avançam as energias renováveis em todo o mundo, com decidido apoio público; por aqui, no país campeão mundial da fotossíntese, se estimulam os combustíveis fósseis. Mata-se o etanol, nossa "galinha dos ovos de ouro". Nos grãos, anuncia-se com estardalhaço crédito farto para o plantio, mas o seguro rural continua fora do jogo. Resultado: mais endividamento, menos garantia na renda agrícola.
A pesquisa com biotecnologia, que deveria deslanchar, encontra-se freada no o aos recursos genéticos da biodiversidade. Problemas variados. Fiscais do trabalho enxergam escravos onde bem entendem. Indígenas aculturados, apoiados pelo governo, tornam-se invasores de terras lavoradas, enquanto verdadeiros índios, abandonados pelo mesmo governo, desfalecem nas aldeias. Aumenta a insegurança jurídica da propriedade rural.
Se não fosse a pujança do campo, a economia brasileira estaria bem pior. No primeiro trimestre de 2013 o setor rural cresceu 9,7%; os serviços, 0,5%; e a indústria mostrou queda de 0,3%. A balança comercial do agronegócio no ano ado apresentou um superávit de US$ 79,4 bilhões, no mesmo período a indústria registrou déficit de US$ 94,9 bilhões. Quer dizer, os agronegócios pagam as contas externas do País. Em retribuição, migalhas.
Na geração de empregos, cerca de 15 milhões de pessoas trabalham nas atividades agrícolas, quase 20% da população economicamente ativa (PEA). Para comparação, nos EUA apenas 2,7% da PEA milita no agro. Embora o avanço da tecnologia, principalmente a mecanização, poupe emprego, a demanda por gente qualificada segue firme, principalmente nas recentes zonas de expansão agropecuária, onde faltam tratoristas, mecânicos, serviçais variados. Existe um verdadeiro "apagão de mão de obra".
Por que a agricultura brasileira, sendo tão importante, recebe pouca atenção da sociedade? Por que a política pública desmerece o campo? As respostas devem ser buscadas em sua representação simbólica: a imagem. Aqui reside o xis da questão. Na Europa e nos EUA a sociedade olha o campo de forma positiva, sabendo que sua permanência na terra propicia a segurança alimentar. Ademais, manter a população no campo significa menos disputa pelo emprego na cidade.
No Brasil, infelizmente, ao invés de valorizar, a urbe desdenha o campo. Em que pese a modernidade ter avançado, a opinião pública nacional ainda mantém uma imagem atrasada, quase sempre negativa, do mundo rural. Que razões levam a sociedade brasileira a menosprezar, a quase esquecer sua agricultura? Por que, ao contrário dos países desenvolvidos, nosso setor rural se encontra tão estigmatizado?
Difíceis são as respostas. Primeiro, a ocupação histórica. O Brasil iniciou sua agricultura com base no latifúndio e na escravidão. Os coronéis do sertão e, depois, a oligarquia agrária formaram um contraste marcante da opulência com a miséria rural. Mais tarde, já nos anos 1950, ao latifúndio, juntamente com o imperialismo, se imputou todo o mal que freava o progresso da Nação. Essa carga histórica, e ideológica, pejorativa permanece até hoje na consciência coletiva, sendo cultivada nos rançosos livros escolares. A imagem repudiada de outrora ofusca o brilho do presente.
Envolve, também, razões culturais. O Brasil rapidamente transitou de sociedade agrária para industrializada. O violento êxodo rural inchou as cidades. Novos valores, urbanos, aram a predominar fortemente, sem tempo para acomodações. Resultado: a agricultura virou sinônimo de ado. Os famosos filmes de Mazzaropi, a começar do impiedoso Jeca Tatu (1959), ajudaram a substituir a imagem bucólica pelo preconceito.
No ambientalismo também se encontram justificativas. O Brasil ainda incorpora fronteiras agrícolas - e, portanto, derruba florestas e cerrados - numa época em que a consciência ecológica domina a elite da civilização pós-industrial. Antes, desmatar era sinônimo de progresso; agora, de destruição. Para não falar do uso descuidado de agrotóxicos, que macula a estampa da agricultura.
Como mudar essa situação? Como mostrar à sociedade que a agricultura não é problema, e sim solução para o Brasil?
O desafio a pela melhoria da comunicação. Mas, com ela, deve-se implementar a lição de casa, e esta atende pelo nome de "agricultura sustentável". Mais, ainda: o ruralismo precisa renovar suas lideranças para se conectar com a juventude, trocar o discurso tradicional, chorão, pela atitude proativa. Investir no marketing para fortalecer sua posição na sociedade.
Maurício de Souza anunciou recentemente que Chico Bento vai estudar Agronomia. Que legal! Tomara que a inspiração dos quadrinhos traga uma mensagem positiva sobre nossa agricultura. Pode manter o sotaque puxado. Não pode discriminar.
Material escrito por:
Xico Graziano
ar todos os materiaisDeixe sua opinião!

HULHA NEGRA - RIO GRANDE DO SUL - PRODUÇÃO DE LEITE
EM 26/08/2013
SÃO JOSÉ DO BELMONTE - PERNAMBUCO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
EM 24/08/2013
Embora os homens nos entristeçam, devemos sempre nos alegrar em Deus, e crer que sempre há grandes possibilidades de mudanças , principalmente em nós primeiramente para depois, através de votos oportunos, melhorarmos os nossos governantes. Muito mais do que vocês ai no sul e sudeste, sofremos nós aqui no nordeste (semi-árido) com a indústria da seca onde muito dinheiro já foi direcionado ,porém muito mal aplicado . Desde a época do Império temos sido tratados como um povo inferior e uma região improdutiva , pobre e obrigada a consumir os industrializados do sul e do sudeste . Exemplo disto é o bilionário/trilionário investimento em obras como a Transnordestina e a Transposição do Rio São Francisco que ao meu ver , até agora só têm transportado dinheiro para a conta de grandes empresários do ramo da construção civil (financiadores de campanhas políticas em prol de seus interesses) Quanto a isto muito pouco ou quase nada podemos fazer ,Porém com relação ao agronegócio aí e a agricultura familiar aqui no Nordeste nós podemos melhorar através do associativismo e empenho pessoal pelo social. Tivemos recentemente ,nos dias 21 a 23 de agosto de 20013, no Centro de Convenções de Pernambuco , em Olinda(Recife) a 21a. AGRINORDESTE,onde as palestras ministradas, maioria dos temas expostos, não retrataram as nossas realidades e nem as expectativas das nossas regiões. Alguns palestrantes vindos do sul retrataram situações de suas regiões e trouxeram até mesmo resultados de ouros países. Pessoalmente ,como técnico em zootecnia, o meu desejo de conhecer novas idéias e práticas aplicáveis à nossa realidade foi frustrado,porém não anulado. Os resultados poderiam ter sido melhores se os técnicos da Embrapa Caprinos e Ovinos do Semiárido Nordeste e os da Codevasf tivessem divulgado os seus esforços e apresentado melhor suas práticas que vêem transformando a CAPRINOIVINOCULTURA DO NORDESTE BRASILEIRO ,isto é o que precisamos ver , aprender e fazer acontecer para poder crescer. Abraços do coléga José Carlos ,24.agosto de 2013

PORTO ALEGRE - RIO GRANDE DO SUL - PRODUÇÃO DE LEITE
EM 23/08/2013
Parabéns pelo texto, deixando muito claro a realidade em que a agricultura é tratada pelos governantes e por boa parte das lideranças.
Temos que escolher melhor nossos representantes no congresso e em todas as assembleias legislativas para que verdadeiros lideres trabalhem em prol da locomotiva do Brasil.
Sem o agronegócio o País já estaria numa escala inflacionária assustadora.

MARCIONÍLIO SOUZA - BAHIA
EM 23/08/2013
Quando estive na Europa em 1993, a convite da AJAP,Associação de Jovens Agricultores Portugueses,havia uma Politica Agricola especifica para o Jovem Agricultor,fomentando sua permanencia na Zona Rural,inclusive pagando para que ele fizesse cursos profissionalizantes Rurais.

LONDRES - LONDRES
EM 22/08/2013

ALEGRETE - RIO GRANDE DO SUL
EM 22/08/2013
O Campo na verdade é a grande força motriz desse pais. Pois sem o alimento produzido no campo de nada adianta indústrias, comercio e serviços. Essa mudança precisa acontecer a partir dos municípios, pois a maioria esmagadora está atrelada diretamente a produção rural. Nós os produtores também precisamos não termos vergonha de dizer que somos do campo e que dele tiramos nosso sustento e o da população urbana. O Produtor Rural deve ter o mesmo orgulho em dizer o que faz, assim como um médico, cientista ou qualquer outra profissão.
Parabéns Graziano, Grande abraço a todos os Produtores Rurais desse país.

BELA VISTA DE GOIÁS - GOIÁS - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA A PRODUÇÃO
EM 22/08/2013

VOLTA REDONDA - RIO DE JANEIRO - PRODUÇÃO DE LEITE
EM 22/08/2013
UMIRIM - CEARÁ
EM 21/08/2013

LONDRES - LONDRES
EM 21/08/2013
Faye Waddington-Ayres

BELA VISTA DE GOIÁS - GOIÁS - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA A PRODUÇÃO
EM 21/08/2013

SÃO GABRIEL DA PALHA - ESPÍRITO SANTO - PRODUÇÃO DE CAFÉ
EM 21/08/2013
Parabéns pela sua luta e destemor. Além de ser um ILUMINADO. Estas questões ideológicas são repugnantes.
Queremos que o pessoal da Cidade entenda que se for cobrado dele, o que se cobra do homem do campo na implantação do novo Código Florestal, por ex. não sei o que será deles. Parabéns pela abordagem.

TUPÃ - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE CAFÉ
EM 21/08/2013
Abraços
Chico Simões
PIRACICABA - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
EM 21/08/2013

LAVRAS - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE
EM 21/08/2013
Excelente o texto, ele ilustra perfeitamente a nossa situação no momento atual.
Isso tem que ser mudado.
O marketing valorizando as atividades rurais deve ser feito logo, a exemplo de outros países.
Devemos apelar para quem? Governo Federal? Governo Estadual? CNA?
E as outras medidas a serem tomadas?
Esperamos resultados , e para breve.
Parabéns!

CAXAMBU - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE
EM 21/08/2013
BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
EM 21/08/2013

CAMPINAS - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
EM 21/08/2013
Infelizmente a sociedade brasileira ainda não tem idéia da importância da nossa agricultura,o mesmo acontecendo com os nossos governantes.Vide a situação precaria que se encontra o
MAPA e em especial a Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo.
VARGEM ALTA - ESPÍRITO SANTO
EM 21/08/2013
Um grande Abraço.

BELA VISTA DE GOIÁS - GOIÁS - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA A PRODUÇÃO
EM 21/08/2013