Marina contra Ronaldo
Espaço Aberto: Marina Silva entrou no PSB por uma porta, saiu o deputado federal Ronaldo Caiado (DEM-GO) por outra. Mais que uma decorrência do jogo político, o episódio expõe uma intriga que contamina o ambientalismo brasileiro: alguém, sendo ruralista, pertence ao mal. Terrível preconceito. Por Xico Graziano
Publicado em: - 4 minutos de leitura
A atitude radical da ex-senadora acriana provocou imediata reação do líder ruralista, que acusou Marina Silva de ser "intolerante". O veto político, disse ele, recai sobre todo o setor produtivo, expondo uma visão, ultraada, de "inimigo histórico". A Frente Parlamentar da Agropecuária, forte no Congresso Nacional, acusou a líder da Rede Sustentabilidade de praticar o "sectarismo", lamentando a "demonização de sempre". Forte polêmica.
No fundo, o gesto beligerante de Marina supõe existir uma incompatibilidade entre as ideias dos que protegem o meio ambiente e as dos que defendem a agricultura. Válida no ado, hoje em dia essa polarização anda amenizada. Embora haja divergências de pontos de vista, normais numa equação tão complexa, os fóruns atuais de discussão sobre o assunto, em todo o mundo, caminham buscando convergências. Nesse panorama construtivo, eliminar o contendor, como procedeu Marina, expressa uma intransigência negativa.
Há tempos, quando a tecnologia ainda gatinhava no campo, ninguém acreditaria que a agronomia e a ecologia pudessem um dia se aproximar. A contaminação pelos agrotóxicos, o desmatamento desenfreado, a erosão dos solos, entre tantos problemas, configuravam uma tragédia ambiental que parecia irreversível. Todavia, adas algumas décadas, o controle integrado das pragas, o plantio direto na palha, a proteção dos recursos hídricos, entre outras virtudes, configuram modelos sustentáveis no agro. Firma-se um novo patamar de produção, no qual a agronomia namora firme a ecologia.
Abençoa-os, concretizando seus íntimos desejos, o desenvolvimento tecnológico. Basta verificar a "economia" de novas áreas causada pela elevação de produtividade da terra. Pesquisadores da Embrapa, analisando o período entre 1950 e 2006, calcularam esse efeito poupa-terra na pecuária brasileira. Sua conclusão é sensacional: sem os ganhos de produtividade ocorridos na bovinocultura, teriam sido necessários 525 milhões de hectares a mais para produzir a mesma quantidade de carne. Área maior que a Amazônia inteira.
Todo esse sucesso, real, ainda não foi suficiente para, no mundo da ideologia, sobrepujar o ranço negativo, trazido do ado, que estigmatiza o setor rural como atrasado, depredador. Chega a ser curioso. Muita gente no meio urbano desconhece totalmente a moderna produção capitalista no campo, vendo problemas onde existem soluções. Daí vinga certa utopia regressiva que enxerga a agricultura como dantes, aquelas galinhas caipiras cocoricando no terreiro, canteiros adubados com esterco do curral, vaquinhas ordenhadas à mão, carpição do mato na enxada. Puro bucolismo.
Muito se falou sobre o drama da fome no Dia Mundial da Alimentação, em 16 de outubro. Haveria muito mais famintos, e as pessoas não teriam elevado sua longevidade, se não fosse a revolução tecnológica na agropecuária mundial. Por volta de 1890, quando imperava a produção camponesa, a população mundial somava apenas 1 bilhão de habitantes. Com a urbanização e a industrialização tudo mudou. Começou a explosão demográfica, aumentado a pressão sobre os recursos naturais do planeta.
Nunca custa repetir o óbvio: a fonte básica dos problemas ecológicos está no crescimento da população humana. É das demandas criadas no processo civilizatório que brotam os dilemas contemporâneos entre produzir e preservar, desafiando o conhecimento científico. Vale para todos os setores da economia. Na agricultura, pode-se comprovar que a inteligência dos laboratórios tem conseguido modificar a velha equação dicotômica, trocando o sinal de "vezes" (produzir x preservar) por "mais" (produzir + preservar). Nasce assim, aos poucos, a agricultura sustentável que certamente ocupará o futuro.
Nesse processo de evolução, difícil não é a teoria, mas sim a prática da sustentabilidade. E, nesse ponto, o carimbo negativo de Marina Silva em Ronaldo Caiado atrapalhou. Seu discurso irritado aumentou a cizânia. Ao invés de procurar consensos, favoreceu a divergência. Virou manchete, agradou à turma fundamentalista, mas pouco construiu. Ao grudar em Caiado a pecha de inimigo, destruiu uma alternativa de diálogo. Fechou uma porta.
Imaginem o contrário. Entrando no PSB, que se articulava no apoio à candidatura majoritária de Caiado em Goiás, Marina poderia com ele, alicerçado pelas circunstâncias eleitorais, construir uma ponte sólida, aproximando o líder ruralista de suas ideias ecológicas. Descobriria que o atual líder do DEM, embora famoso pelo ruralismo, é reconhecido neurocirurgião, dá valor à vida humana. Pessoa séria, acompanhou de perto a evolução recente da agricultura no Brasil, jamais deixando de reconhecer a exigência do novo patamar de responsabilidade socioambiental. Nunca aceitou, porém, a imposição de regras, consideradas lunáticas, que violentassem a história dos agricultores tradicionais do País, condenando-os como se fossem criminosos. Sou testemunha desse processo político.
Já pensaram, com seu jeito dengoso, a lutadora ambientalista conquistando o vozeirão ruralista? Teria sido sensacional. Mas não vingou, a oportunidade foi perdida. A intolerância venceu a benevolência, atrasando por um tempo o casamento da agronomia com a ecologia. Os noivos, porém, apadrinhados pela História, não romperam. O amor, e não o ódio, pertence à sustentabilidade.
Material escrito por:
Xico Graziano
ar todos os materiaisDeixe sua opinião!

EXTREMA DE RÔNDONIA - RONDÔNIA
EM 12/05/2014
Você nos deu a grande oportunidade abrindo este espaço, como disse o Gilson Gonçálves de Goiania, onde o mesmo mencionou os xiitas ecológicos, é bem isto mesmo, vemos uma imensa multidão com esta postura, sem o menor embasamento ou informação, não conhecem as dificuldades do homem urbano, sem estrutura, sem emprego e que depende da comida barata que vem do campo. A D. Marina que é muito viajada, deve ter visto na europa, o quanto custa apenas uma banana em algum quiosque, se é que lá ela tenha se interessado por isto, coisa que o nosso homem do campo aqui tem de graça. Este meu povo do roça é feliz, apesar dos discursos xiitas ecológicos. Meus parabéns do Dep. Ronaldo Caiado e a Sen. Kátia Abreu, estes sim,
defendem a produção com todas as suas forças, tem conhecimento e são sabedores de que se o campo cruzar os braços, a cidade sucumbe. Lamentamos que o próprio governo federal não tenha projetos (sem tanta burocracia) que contemple os médios produtores, estes tem que encontrar fórmulas mágicas para produzir, mas, nossa brava gente é imune a todos os obstáculos. PRÁ FRENTE BRASIL!!!

PEDRO AVELINO - RIO GRANDE DO NORTE - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
EM 14/11/2013
MUTUM - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
EM 03/11/2013

MUTUM - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE
EM 03/11/2013
Temos que ser realistas, o campo esta sem mão de obra, com ou sem qualificação, as pessoas querem morar nas cidades, principalmente nas grandes cidades, onde falam que terão mais oportunidades, principalmente de lazer, pois o custo de vida é até maior, pois gastam com transporte, aluguel, agua luz, e no campo este custo não existe, ou é bem menor, podendo ainda criar galinhas, (frango ovos), porcos (suínos), hortas e frutas. Quando o custos d0s alimentos sobem as pessoas da cidade, declaram espantos, esquecendo que para produzir também tem custos, e podem ser muito elevados, etc... indo para as ruas reivindicar melhores oportunidades, esquecendo que a causa do problema é o êxodo rural e a urbanização sem planejamento.
Nelsomar Pereira Fonseca

GUAÇUÍ - ESPÍRITO SANTO
EM 02/11/2013

ARAGUAÍNA - TOCANTINS - PESQUISA/ENSINO
EM 01/11/2013
Seu artigo é extremamente lúcido. Na próxima semana será leitura obrigatória para meus alunos do curso de graduação em Zootecnia e também daqueles dos cursos de mestrado e doutorado da mesma instituição.
Concordo plenamente com seu texto, porém os discursos extremistas infelizmente geram mais votos do que uma boa prosa: longa e educada....
GOIÂNIA - GOIÁS - PRODUÇÃO DE LEITE
EM 01/11/2013
Tenho acompanhado sua trajetória tentando mostrar um pouco de racionalidade aos xiitas ecológicos. Temos orgulho de você. Faço coro ao primeiro comentário, está fazendo falta o programa do TERRAVIVA, o canal de quem planta e cria, DIA A DIA RURAL, no horário do almoço.
O Deputado Ronaldo Caiado é o defensor número 1 do produtor rural e penso que é nosso dever agradece-lo com uma votação bastante expressiva a qualquer cargo que concorra.
Gilson G Costa

EXTREMA DE RÔNDONIA - RONDÔNIA
EM 30/10/2013
ARAGUARI - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ
EM 30/10/2013
Realmente essa briga política não é boa para a política, para o meio-ambiente e para a agropecuária do Brasil. Isso enfraquece o lado que não é PT. Fortalece o MST.
Marina errou ou ela ainda é PT ????!

ARAGUARI - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ
EM 30/10/2013
Ronaldo Caiado deve se candidatar a presidente para acabarmos com esta raça PT que está acabando com o País!!!!
Será uma opção excelente para nós produtores....

JATAÍ - GOIÁS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
EM 29/10/2013
Esta senhora é a mensageira da fome e da miséria, isto fica claro com suas declarações preconceituosas sobre a produção rural no Brasil. É ela quem representa o atraso quando critica quem produz o alimento que chega à mesa do cidadão brasileiro. O seu discurso obtuso de efeito populista não pode coagir e não coaduna com quem tem uma história de dedicação e luta em prol do setor produtivo, o qual ela trata com tanta vilania.

PARANAÍBA - MATO GROSSO DO SUL - PRODUÇÃO DE LEITE
EM 29/10/2013
SANTA RITA - MARANHÃO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
EM 29/10/2013

UNAÍ - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
EM 29/10/2013

BOM CONSELHO - PERNAMBUCO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
EM 29/10/2013
A agricultura sustentável só será construida com o dialógo e não com antigas rinhas como o virtual candidato prega.
Parabéns pelo texto Chico muito bom mesmo!!!

PARANAVAÍ - PARANÁ - PRODUÇÃO DE LEITE
EM 29/10/2013
Muito Obrigado.
Genecio Fe
Em tempo: O programa da tarde não substitui a perda do horário que era das 11:00 às 13:00.
PEDREGULHO - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
EM 29/10/2013