Os desafios do setor leiteiro nacional têm sido solucionados por diagnósticos?
Sobre os desafios de nossa pecuária, os dividiria em dois momentos: um de curto prazo, os denominados desafios conjunturais que normalmente estamos acostumados a debater intensamente no dia a dia, principalmente nos momentos de crise ou logo após estes, como: importação desleal de leite, fraudes e baixa qualidade do leite, elevação de custo de produção, falta de assistência técnica, entre outros.[...]
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O interessante é que no decorrer dos anos esses debates são recorrentes e frequentemente estão nas pautas de inúmeros diagnósticos sobre leite conduzidos no país. Estamos familiarizados com especialistas, patrocinados por bancos, federações ou serviços de apoio, financiando diagnósticos como se estes fossem a solução dos problemas da pecuária. Se o número de diagnósticos realizados no Brasil nas últimas duas décadas fosse quantificado, chegaríamos a dezenas de publicações, estando a sua maioria empoeirando nas estantes de entidades públicas e privadas. Somente para a Região Nordeste do Brasil nos últimos 15 anos encontra-se meia dúzia de diagnósticos com prospecção de demandas que não resultaram na melhoria que se esperava na pecuária daquela Região. E o pior, se elaborasse uma matriz de oportunidades e desafios levantados nos diagnósticos até o momento, comparando os recentes com os realizados há tempos, percebe-se claramente que a grande maioria dos problemas continua os mesmos, ou seja, pouco se avançou. Por quê? Porque não há grande interesse político nem de lideranças do setor em solucioná-los. O que mais impacta é fazer diagnósticos, pois são rápidos, não tão caros, relativamente fáceis e se ganha prestígio ao lança-los em auditórios repletos e fotos nas primeiras páginas dos noticiários.
Já os desafios de longo prazo, os denominados estruturantes, que para levar a resultados concretos pode-se levar anos, o mesmo não ocorre. Veja o exemplo da qualidade e segurança do leite. Há quanto tempo ouvimos falar em fraudes e que a qualidade do leite precisa melhorar? Todos diagnósticos feitos priorizam esse problema. Na verdade houve melhoras sim nos últimos 15 anos a partir da criação do PNQL e com este a implantação das IN 51 e posteriormente a IN 62 do MAPA, mas ainda estamos muito longe da realidade necessária. Apenas para exemplificar, o leite UHT produzido por aqui e colocado em refrigeração após aberto dura dias, enquanto o leite pasteurizado produzido nos USA ou na Europa dura semanas. O que fazer?
Um caminho seguro seria desenvolver Planos para Modernização da Pecuária de Leite por região do país. Estes seriam um conjunto de ações inovadoras de longo prazo para modernizar a pecuária de leite, resultante de projetos cooperativos estabelecidos através de Parcerias Público-Privadas (PPP). Para se chegar a essas ações não seriam necessários novos diagnósticos, basta levantar os existentes e priorizá-los, pois os desafios são do conhecimento do setor.
Os Planos poderiam viabilizar aperfeiçoamentos nos sistemas intensivos de produção de leite, com vistas a uma pecuária moderna, sustentável e competitiva. Na medida em que sejam necessárias novas pesquisas finalísticas ou apenas organizar o conhecimento, tais aperfeiçoamentos permitiriam o esclarecimento de inúmeros equívocos dos produtores. Assim, os Planos estariam sendo concebidos como de referência tecnológica regional fazendo a diferença para o aumento da rentabilidade e sustentabilidade da atividade. A sua implantação iria requer, portanto, o estabelecimento de uma parceria de cooperação técnica e financeira entre o setor produtivo público e privado, aliado à criação de um fundo com a participação de entidades de fomento à pesquisa, transferência de tecnologia e assistência técnica.
Nesse contexto, poderia se ter soluções para os grandes desafios nacionais, por exemplo, um setor leiteiro competitivo e com excedentes de leite com qualidade e segurança para se exportar 5% da produção. Para isso é preciso concluir os deveres de casa, vencer barreiras sanitárias, erradicando zoonoses que insistem em persistir, como a brucelose e a tuberculose, melhorando a qualidade do leite, seja por pesquisa em cooperação, seja por ações de marketing para estimular os consumidores a exigirem mais qualidade, forçando assim as indústrias de laticínios a se adequarem para tal, remunerando o produtor pela qualidade do produto a nível nacional.
O setor leiteiro nacional já deu sinais no ado de que pode oferecer excedente exportável e temos razões suficientes para isso porque há disponibilidade de terras e tecnologias. A pergunta que fica é: por que não continua a oferecer? Para ser exportador líquido de lácteos, como foi colocado, o dever de casa está incompleto, não há competitividade, não se consegue fidelizar os nossos compradores de leite e o rol de compradores é limitado em todos os aspectos, inclusive o de poder econômico, como os países africanos e alguns latinoamericanos, que apesar de pouco exigentes em qualidade do produto, a maioria depende do preço do petróleo para comprar lácteos. Assim, ampliar e perenizar o rol de países importadores de lácteos é importante. Rússia e China batem a nossa porta e quem sabe em breve a União Europeia!
Com os deveres completados e com ações de incentivo à modernização do setor, sem a necessidade de novos diagnósticos, o país poderá ser competitivo e deixar o quadro cíclico de anos bons seguido de ruim. Para isso é preponderante a formulação de políticas públicas com Planos duradouros e parece que a Ministra Katia Abreu está sensível e esse apelo.
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Material escrito por:

Duarte Vilela
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JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO
EM 23/06/2015

PALMAS - TOCANTINS
EM 23/06/2015
Não entendemos como ainda nenhuma ação proavita após um desses inúmeros diagnósticos serem publicados.
Qual a solução?
No meu entender o que falta é organizar melhor a Cadeia Produtiva do Leite, inclusive iniciando pela própria Embrapa. Por que ficar situada em Juiz de Fora e não em várias regiões do Brasil? A pecuária leiteira é organizada no Paraná, graças a Extensão Rural, a Pesquisa privada e governamental e continua avançando. Mas a pecuária de leite, se organizou, a tal ponto que se não se caracteriza como um Cluster está muito próximo.
O que falta no meu modesto entender é uma aproximação feérica e contundente (no bom sentido) junto às duas Confederações: CNA e CNI (setor leite) e começar a andar. Pesquisas, levantamentos, estudos são válidos sim. Vamos aproveitar para sair desse marasmo e dar uma demonstração de que o corte umbilical com alguns pontos governamentais vai acontecer ou já está acontecendo.
Atenciosamente.
Médico Veterinário Romão Miranda Vidal
JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO
EM 23/06/2015

BRASÍLIA - DISTRITO FEDERAL - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
EM 22/06/2015
JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO
EM 22/06/2015
Cito o exemplo da Residência Zootécnica em parceria Embrapa e MDA que há 15 anos disponibiliza técnicos para o setor leiteiro após 10 meses de aulas práticas e teóricas. O aprender fazendo na pecuária de leite. Esse seria um exemplo bem sucedido que deveria ser copiado em todo o país, mas no lugar preferem criar outros programas para satisfazer vaidades pessoais. Existem muitos casos assim pelo Brasil afora, é só procurar.

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - INSTITUIÇÃO PÚBLICA
EM 19/06/2015
Parabéns pelo excelente artigo. Chega de diagnósticos e mãos a obra! Para os problemas recorrentes já existem soluções, mas faltam vontade politica e ações continuadas. Mudanças de governos, muito normal nas democracias, não podem interromper o funcionamento das instituições nem paralisar ações corretas em andamento. Concordo também com a importância da sucessão no campo. A Nova Zelândia resolveu esta questão com o sistema "share milkers", parceria na produção de leite entre jovens e produtores aposentados. Os jovens, geralmente casais, entram com a mão de obra e o produtor com terra e animais. Temos vários jovens saindo dos IFET's em busca de emprego que poderiam se associar aos produtores aposentados e tocarem o trabalho com participação nos custos variáveis e nas receitas. Quanto ao controle das principais zoonoses (brucelose e tuberculose) tem que se criar um fundo com recursos públicos e privados para indenização dos animais abatidos, caso contrário não acabaremos com elas. Cordiais saudações.

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS
EM 19/06/2015
Sem um programa de cunho nacional e de execução local/regional, vai avançar a os muito lentos e desarticulados. O governo certamente tem papel relevante, mas as indústrias precisam liderar o avanço, pois é o elo orientador da cadeia.
A questão da sucessão a pela questão econômica do sistema de produção. Se o sistema for rentável, não haverá problema na sucessão. O jovem, mesmo que não conheça o conceito de custo de oportunidade, compara suas alternativas e escolha a que melhor lhe acena.

SÃO CARLOS - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO
EM 19/06/2015
JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO
EM 19/06/2015

ARACÊ - ESPÍRITO SANTO - PRODUÇÃO DE LEITE
EM 19/06/2015
Saudações