De tempos em tempos somos desafiados por novos conceitos. Revolução verde, globalização e sustentabilidade são bons exemplos. Mais do que palavras, conceitos são novas formas de enxergar o mundo, novos paradigmas que fazem sentido para uma grande parcela da população.
A sustentabilidade surgiu como resposta à crescente pressão ambiental que o setor produtivo e a urbanização impam ao meio ambiente com a concomitante percepção e preocupação do público em geral com o tema. De fato, esta degradação inicia-se de forma mais clara no século XIX com a Revolução Industrial, mas a compreensão de seus impactos e o envolvimento social com o tema foi mais tardio, cerca de um século depois.
Inicialmente o conceito de sustentabilidade provocou muita discordância, pois, como toda alteração de paradigma, implicava em mudança. Em outras palavras, ele foi gerado como resultado do debate entre instituições e pessoas com visões de mundo diferentes ou mesmo antagônicas.
Em linhas gerais, podemos definir sustentabilidade como a capacidade de uma instituição, processo ou sistema em continuar a exercer suas atividades ao longo do tempo. Assim, não podemos restringir este conceito ao meio ambiente. Ele relaciona-se também ao potencial humano e econômico no longo prazo e está ligado à capacidade de planejamento.
O que dizer, por exemplo, de uma propriedade leiteira muito distante do laticínio ou cujo o a propriedade em dias chuvosos é deficiente? O custo logístico pode ser aceitável hoje, mas se o preço do combustível aumentar ou se sua produção diminuir muito, a situação pode se tornar insustentável. Ou então, imagine um laticínio que inicia sua operação em uma dada área sem o devido planejamento e em pouco tempo instala-se no mesmo local um concorrente mais atrativo para os seus fornecedores? São situações como estas que podem fazer com que a sustentabilidade econômica dos empreendimentos fique comprometida.
Nas áreas ambiental e social, um outro exemplo: importantes regiões de produção intensiva de leite têm sido implicadas na contaminação por nitrogênio da água de consumo da população. São empreendimentos que ambientalmente podem tornar-se insustentáveis, apesar de condições econômicas favoráveis. Ou ainda, podemos citar as dificuldades de fixação do jovem no campo como um forte limitante da sustentabilidade, estrangulando a oferta da mão-de-obra no longo prazo.
Compreendemos mais claramente o conceito ao observarmos que ele não diz respeito ao presente. Uma empresa ou propriedade rural que apresente um ótimo desempenho financeiro durante um certo período é tentada a imaginar que as vacas gordas vão se repetir ano a após ano, é tentada a imaginar que finalmente encontrou o cenário de produção e lucro perfeito. O empreendimento sustentável, em tal situação favorável, fará o melhor uso de seus recursos no médio e longo prazo, enquanto aquele que não planeja apenas comemorará e estará sujeito à própria sorte na próxima safra ou ciclo produtivo.
Planejamento, conhecimento e visão de longo prazo são os pilares da sustentabilidade. Embora qualquer tentativa de prever o futuro seja, por natureza, sujeita à incerteza e ao erro, os sistemas produtivos sustentáveis demonstram maior resiliência e capacidade de recuperação quando desafiados, bem como antecipam o futuro aproveitando oportunidades que ainda são desconhecidas para a maioria de seus concorrentes.
Por fim, os cases de sucesso no agronegócio demostram como os empreendimentos mais exitosos tendem a construir alicerces sociais, econômicos, ambientais e de gestão de pessoas de longo prazo, em detrimento ao lucro imediato a qualquer custo e que pode produzir efeitos colaterais que acabam por minar o futuro do próprio empreendimento.
Ser sustentável é a palavra de ordem em um ambiente de instabilidade, elevando o patamar de profissionalização e inovação do campo e inspirando as gerações futuras. No próximo artigo debateremos como o tema tem sido tratado no sistema produtivo leiteiro da Nova Zelândia.
*Diego Rodrigues é Auditor Fiscal Federal Agropecuário do Mapa, Doutorando em Epidemiologia Aplicada às Zoonoses/USP e pesquisador temporário na Massey University/NZ.
Gostou do conteúdo? Deixe seu like e seu comentário! Quer escrever para nós? Envie um e-mail para contato@milkpoint.com.br.