O soro de leite, um subproduto da indústria de laticínios, é gerado em grandes quantidades, especialmente na produção de queijo. Sua composição contém nutrientes e carga orgânica elevada faz com que seu descarte inadequado se torne uma questão preocupante do ponto de vista ambiental. No entanto, o soro de leite também apresenta oportunidades valiosas quando manejado de forma correta, especialmente em práticas sustentáveis que podem beneficiar tanto o meio ambiente quanto a economia dos pequenos e grandes produtores (DANTAS et al., 2020).
A alta carga orgânica presente no soro de leite, principalmente devido à concentração elevada de proteínas, lactose e gorduras, o torna um poluente significativo quando não tratado adequadamente; a presença dessas substâncias contribui para a elevada Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO), que, quando despejada diretamente em corpos d'água ou no solo, pode provocar a eutrofização de ambientes aquáticos e a contaminação do lençol freático. Esse desequilíbrio ambiental afeta diretamente a biodiversidade local, comprometendo a qualidade da água e os ecossistemas.
O crescente volume de soro de leite gerado pela indústria de laticínios desafia as capacidades de tratamento de pequenos produtores, os quais muitas vezes não possuem infraestrutura ou recursos financeiros suficientes para realizar o tratamento adequado desse resíduo. Isso leva ao descarte inadequado em áreas rurais e urbanas, intensificando os problemas ambientais, ao mesmo tempo, a falta de conscientização e o alto custo de tratamento fazem com que a reutilização e o reaproveitamento desse subproduto sejam subestimados, mesmo havendo alternativas economicamente viáveis e ambientalmente sustentáveis para o seu uso (BERTOLO et al., 2023).
A disposição do soro de leite pode ocorrer de várias maneiras, como o lançamento em terras agrícolas e pastagens, o bombeamento para cursos d'água, o tratamento em lagoas ou em sistemas de tratamento de efluentes, devido à alta carga orgânica presente no soro de leite, seu descarte inadequado pode gerar sérios problemas ambientais.
Esses impactos são especialmente graves quando pequenos laticínios descartam o soro de leite diretamente no solo, rios ou em redes de esgoto sem qualquer tratamento prévio. Isso ocorre porque a implementação de tecnologias adequadas para o tratamento desse resíduo pode não ser economicamente viável para esses pequenos produtores. Além disso, o funcionamento eficaz desses sistemas de tratamento depende de uma quantidade mínima de soro processado, a qual varia conforme o tamanho da indústria (TEIXEIRA, 2020).
O descarte incorreto do soro de leite, além de ser prejudicial ao meio ambiente, contribui para o desenvolvimento excessivo de biomassa, que consome oxigênio dissolvido nos corpos d'água, causando grandes desequilíbrios ecológicos. Uma das soluções sugeridas seria a cooperação entre laticínios próximos para viabilizar o tratamento adequado do soro, o que poderia reduzir a DBO em até 90%. Uma outra alternativa seria o uso do soro na alimentação de animais, como suínos e bovinos.
Além dos danos ambientais, o descarte indevido de grandes quantidades de soro de leite é também uma questão social e econômica. Ao desperdiçar um subproduto que poderia ser reutilizado em diferentes processos, como na alimentação humana ou animal, perde-se a oportunidade de reduzir os custos de tratamento e minimizar os impactos ambientais. O reaproveitamento adequado do soro de leite poderia, portanto, mitigar esses problemas de forma significativa (BERTOLO et al., 2023).
O soro de leite também pode ser utilizado como fertilizante, uma vez que contém nutrientes valiosos e não apresenta compostos indesejáveis. Isso torna essencial o desenvolvimento de alternativas para a reutilização desse subproduto. Com o preço crescente dos fertilizantes no mercado, o uso do soro de leite na agricultura poderia ser uma solução viável, atuando como condicionador do solo e fonte de nutrientes para as plantas. Para os laticínios, essa prática se apresentaria como uma maneira mais barata e eficiente de eliminar o resíduo de maneira ambientalmente correta, sem causar danos graves ao meio ambiente.
Quando aplicado de forma correta em pastagens e culturas agrícolas, em concentrações adequadas, o soro de leite pode aumentar a produtividade agrícola e, ao mesmo tempo, prevenir impactos negativos ao meio ambiente. Esse processo promove a sustentabilidade, já que, ao ser incorporado ao solo, parte dos elementos presentes no soro é devolvida à atmosfera na forma de gases, outra parte é absorvida por microrganismos e decomposta, e o restante é assimilado pelas plantas. Apenas uma pequena fração pode ser perdida por lixiviação (DE ASSUNÇÃO et al., 2022).
Dessa forma, o reaproveitamento e o manejo correto do soro de leite surgem como alternativas eficientes e sustentáveis para resolver tanto os problemas ambientais quanto os econômicos associados à sua produção.
Porém a disposição de soro de leite no solo é regulamentada, no Brasil através da Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) nº 430/2011, que dispõe sobre o lançamento de efluentes em corpos hídricos, estipulando parâmetros de qualidade para evitar a contaminação, além disso, a Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/1998) prevê sanções para o descarte inadequado de resíduos que prejudiquem o meio ambiente.
Embora a legislação nacional não estabeleça diretamente limites específicos para o descarte de soro de leite no solo, a prática é controlada com base em normas gerais de descarte de efluentes industriais e resíduos orgânicos. Em algumas regiões, regulamentações estaduais ou municipais determinam valores máximos de resíduos permitidos no solo, priorizando práticas de manejo sustentável e o aproveitamento do soro em processos industriais, como alimentação animal ou produção de biogás, para reduzir o impacto ambiental.
A disposição do soro de leite no solo é permitida em alguns casos específicos, desde que obedeça a normas de segurança ambiental. Por exemplo, o soro pode ser utilizado como fertilizante agrícola, mas com restrições, para evitar sobrecarga orgânica e problemas de lixiviação que contaminem lençóis freáticos. A Embrapa orienta que o uso agrícola do soro de leite seja controlado, com doses adequadas que não excedam a capacidade de absorção do solo e respeitem o ciclo das culturas, protegendo o solo e a água subterrânea contra contaminações.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERTOLO, M. R. V., JUNIOR, O. C. C., DA SILVA, G. B., OGRO, P., & D’BÃO, Q. Estudo de Caso: Soro: Do lixo ao luxo. Estudos de Caso-Abordagem para o Ensino de Química, 125. 2023.
DANTAS, C. C. D. S., FRANÇA, A. F. O. D., Lima, G. G. N., & Vieira, V. R. Suplementação de leucina e proteína isolada do soro do leite na diminuição da sarcopenia em idosos: uma revisão, 2020.
DE ASSUNÇÃO, C. C. O., CAMPOS, C. M. S., CASTRO, M. S. R., & DE FREITAS CASTRO, W. Perfil da destinação do soro de leite na cidade de Barbacena e microrregião-Minas Gerais. Research, Society and Development, 11(14), e224111435344-e22411135344. 2022.
MANTOVANI, J. R., CARRERA, M., LANDGRAF, P. R., & MIRANDA, J. M. Soro ácido de leite como fonte de nutrientes para o milho. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, 19, 324-329. 2015.
TEIXEIRA, P. Aspectos ambientais e agronômicos da disposição de efluente de laticínios no solo. 2020.