Uma descoberta notável: leite em pó integral fabricado na Nova Zelândia em 1907 e transportado para a Antártida com exploradores em busca do Polo Sul foi encontrado após mais de um século. A descoberta permitiu que pesquisadores da área de laticínios respondessem à pergunta: o leite que consumimos hoje é diferente do leite consumido por gerações adas?
Publicada no Journal of Dairy Science, um novo estudo comparativo olhou para o ado e demonstrou que — apesar dos avanços na seleção genética e mudanças nas práticas agrícolas — o leite do ado e o leite de hoje compartilham mais semelhanças do que diferenças e continuam sendo fundamentais para a nutrição humana.
No dia 1º de janeiro de 1908, o explorador Ernest Shackleton e sua tripulação, partiram de Lyttelton, na Nova Zelândia, em uma missão para serem os primeiros a pisarem no Polo Sul. Enquanto o cais estava repleto de pessoas se despedindo, o navio estava carregado de produtos lácteos: 450 quilogramas de leite em pó integral desidratado, 90 de manteiga e 2 caixas de queijo. Shackleton e sua tripulação chegaram mais ao sul do que qualquer pessoa antes deles.
Um século depois, um recipiente restante de leite em pó da marca Defiance foi descoberto durante o projeto de restauração do Antarctic Heritage Trust (AHT - Instituição que preserva e promove a história humana na Antártica, restaurando locais históricos, estruturas e artefatos, em conformidade com os princípios do Tratado da Antártica), tendo permanecido congelado por mais de 100 anos.
O principal investigador, Skelte Anema, cientista principal do Fonterra Research and Development Centre (FRDC) em Palmerston North, Nova Zelândia, explicou o significado da descoberta: “O leite desidratado de Shackleton é possivelmente a amostra mais bem preservada fabricada durante os primeiros anos da produção comercial de leite em pó, e sua descoberta nos dá uma oportunidade única de entender as semelhanças e diferenças entre o leite em pó produzido por secagem por rolos há mais de 100 anos e dos modernos leites em pó spray-dried.”
Anema destacou: “Antes de termos a evaporação assistida por vácuo, os leites em pó no início do século XX eram fabricados por um processo de secagem por rolos, envolvendo leite fervente sendo despejado entre dois cilindros aquecidos por vapor para que a água evaporasse, deixando uma fina camada de leite seco que seria moída e peneirada.” Sabemos que esses primeiros leites em pó não eram tão sofisticados quanto os atuais, mas que outras diferenças existiam?
Com a ajuda do AHT, Anema e uma equipe interdisciplinar de cientistas do FRDC puderam estudar alguns gramas do leite Defiance e se propam a compará-lo com duas amostras modernas de leite em pó integral. A análise envolveu a comparação da composição dos principais componentes, composição mineral, composição proteica, composição de ácidos graxos, composição de fosfolipídios, propriedades microestruturais, análise de cor e análise de componentes voláteis das diferentes amostras.
Os resultados foram surpreendentes e contrários às alegações de mudanças no leite ao longo do tempo. “Apesar de mais de um século entre as amostras, a composição dos componentes principais e dos componentes detalhados de proteínas, gorduras e outros componentes menores não mudou drasticamente ao longo dos anos”, disse Anema. A composição dos ácidos graxos, fosfolipídios e proteínas, incluindo variações genéticas da caseína e das proteínas do soro, foram, em geral, semelhantes.
Os principais componentes minerais também eram semelhantes entre as amostras, exceto pelos altos níveis de chumbo, estanho, ferro e outros minerais traços encontrados no leite em pó de Shackleton — provavelmente provenientes da lata de estanho em que foi armazenado e dos equipamentos e fornecimento de água da época. “Esses problemas foram essencialmente eliminados nos leites em pó modernos através do uso de aço inoxidável e serviços de água de qualidade”, completou o pesquisador.
Outra diferença notável foi a presença de compostos voláteis relacionados à oxidação nas amostras de Shackleton, “talvez devido à coleta e armazenamento não ideais do leite cru antes da secagem” adicionou, “mas é muito mais provável que — mesmo em condições congeladas — o fato de estar armazenado em uma lata aberta por um século tenha levado à oxidação contínua.”
Apesar das semelhanças notáveis, a equipe destacou que os leites em pó spray-dried modernos eram substancialmente superiores em termos de qualidade do pó — particularmente no que se refere à aparência e à facilidade de dissolução em água.
No geral, esta cápsula do tempo antártica oferece uma visão rara e importante sobre a evolução da produção de alimentos lácteos e destaca as melhorias feitas pelo setor de laticínios, além de sua influência duradoura. “As amostras de Shackleton são um testemunho da importância dos produtos lácteos — que são ricos em proteínas e energia, além de serem flexíveis o suficiente para serem desidratados para fácil transporte, preparo e consumo”, observou Anema.
Seja no início do século XX ou hoje, esses resultados ressaltam o fato de que os produtos lácteos continuam a ser uma base essencial para a nutrição humana — alimentando nossas descobertas adas e presentes.
As informações são do The Cattle Site, traduzidas e adaptadas pela equipe MilkPoint.