O Planejamento e Controle da Produção (P) é um sistema de gestão utilizado nas indústrias de laticínios para traçar estratégias de otimização dos processos produtivos e alocação de recursos.
Em várias conversas com proprietários ou gestores de laticínios de pequeno porte é comum escutar, ao perguntar como é feito o planejamento, o jargão “aqui a gente mata um leão por dia”, não dá tempo de planejar. Nesses locais, a importância do P é ignorada, seja pela falta de tempo evocada no jargão ou mesmo pela falta de conhecimento sobre o assunto.
Porém, é justamente em empresas de pequeno porte como os laticínios que o P pode fazer a diferença quando se trata de atendimento dos consumidores, redução de desperdícios e aumento da lucratividade. De acordo com Slack et al. (2002) o propósito do P é permitir que os processos da produção sejam eficazes e que sejam produzidos produtos e serviços conforme o desejo dos consumidores.
Mais além, o P vai de encontro às necessidades atuais das indústrias do setor lácteo com relação à entrega de produtos de qualidade superior, no momento certo e no local desejado. O atendimento às exigências do mercado consumidor é fator imperativo para que as empresas consigam aumentar a parcela de mercado ou mesmo se manter nele.
Além disso, atualmente, as empresas se veem obrigadas a usar técnicas e ferramentas gerenciais que permitam a redução de custos, o aumento de produtividade e consequentemente maiores ganhos. Assim, por meio da utilização do P as empresas podem se planejar de forma estratégica para competir nesse ambiente tão concorrido.
As peculiaridades das indústrias de laticínios, que são caracterizadas por trabalharem com uma matéria-prima altamente perecível, sazonal e com variações na qualidade; por produzirem produtos intermediários utilizados na fabricação de outros produtos e por fabricarem produtos, geralmente, com pequeno tempo de vida útil, exigem o emprego de técnicas e métodos de gerenciamento eficazes e de alocação ótima dos recursos.
Neste contexto, o P parte de uma análise ampla para gerenciar processos, garantindo eficiência e atendimento do mercado. A partir dele a indústria irá determinar:
- O que será produzido? — quais produtos (em quais tamanhos, com quais sabores e com que tipo de embalagem?)
- Quanto será produzido? — qual o tamanho do lote?
- Como será produzido? — qual método de processamento/tecnologia será utilizado(a)?
- Onde? — em qual sala/área do ambiente fabril?
- Quem? — qual funcionário será responsável pela produção?
- Quando? — em que momento/turno?
Como exemplo:
A indústria pode processar 100 litros/dia de iogurte de morango — quanto, em unidades de 1 litro, embalados em garrafa PET — o que será produzido, pela fermentação do leite por bactérias láticas —como será produzido, na sala 2 — onde, pelo funcionário João — quem, no turno da noite — quando.
Para responder a estas perguntas, a indústria terá que analisar:
- Processo produtivo
- Estoques de matéria-prima, insumos e produtos finais
- Análise do mercado no qual os produtos serão vendidos
- Rotina industrial
- Processos de compra
- Gerenciamento de recursos humanos
A partir destas informações, por meio do P serão traçadas estratégias para a utilização eficiente seus recursos possibilitando entregar ao mercado o produto desejado no momento e no local certos.
Níveis do P
- Nível 1: Planejamento global de produção - Quanto?
Abrange um plano de produção estratégico, traçado de acordo com os objetivos organizacionais. Normalmente é anual, sendo caracterizado por ser um plano de produção agregado, ou seja, é definida a quantidade a ser produzida, sem especificar os produtos.
- Nível 2: Plano diretor de produção - Quanto, O quê?
Inclui o plano de produção em caráter tático/operacional. Normalmente é mensal ou semanal, sendo um plano de produção desagregado, no qual se define o quê e quanto produzir, ou seja, define-se o mix de produção. Neste plano, que tem relação direta com o estoque de produtos, os pedidos são transformados em ordens de produção.
- Nível 3: Planejamento de materiais - Como?
Também tem caráter tático/operacional; nele são detalhadas todas as necessidades de materiais. O plano é função basicamente da lista de materiais por produto e dos leads times de aquisição — tempo que decorre entre o pedido e a entrega do material —. Este plano tem relação direta com o estoque de materiais e insumos, visando minimizar estoques e cumprir prazos de entrega.
- Nível 4: Programação e controle - Onde, Quem, Quando?
Engloba o programa de execução da produção propriamente dita, ou seja, aqui são definidos quais os equipamentos e linhas de processamento serão usados e quais os funcionários e turnos de produção de cada produto. Além disso, serão efetuados os registros e controles do que ocorre durante o processo.
Vantagens do P
- Laticínios de pequeno porte
Permite traçar um norte e visualizar os caminhos que deve seguir para alcançar os resultados pretendidos, principalmente, no que diz respeito ao atendimento dos consumidores e aumento de lucratividade.
A falta de tempo para planejar e a dedicação apenas ao “executar” darão lugar ao planejamento estratégico, evitando, assim, desperdícios de recursos, às vezes, escassos, propiciando redução de custos e maior produtividade, permitindo competir com os laticínios mais arrojados de forma mais equânime.
- Laticínios de grande porte
É improvável que estas consigam gerenciar a quantidade de produtos que produzem, o grande número de funcionários, o alto volume de estoques e, consequentemente, maior volume de negociações, sem a utilização de um sistema arrojado de P.
Para este porte de indústria, o P possibilitará traçar estratégias para aumentar ou mesmo manter a parcela de mercado e competir com os grandes players em condições de igualdade.
Referências
SLACK, Nigel; CHAMBERS, Stuart; JOHNSTON, Robert. istração da Produção. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
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