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Queijo Minas Artesanal: regiões produtoras e suas singularidades

Conheça os sabores, tradições e histórias por trás do Queijo Minas Artesanal em regiões como Canastra, Araxá e Cerrado. Leia a matéria completa!

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O Queijo Minas Artesanal (QMA) constitui-se em um produto tradicional e emblemático do Estado de Minas Gerais, sendo reconhecido como patrimônio cultural brasileiro. O QMA é certificado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e, atualmente, encontra-se regulamentado em dez distintas regiões do estado (Santos et al., 2025).

Essas regiões são:

  • Araxá,
  • Campo das Vertentes,
  • Canastra,
  • Cerrado,
  • Diamantina,
  • Entre Serras da Piedade ao Caraça,
  • Serra do Salitre, Serro,
  • Triângulo Mineiro,
  • Serras da Ibitipoca.

A certificação e a regulamentação visam garantir a preservação da qualidade e das características autênticas do produto, além de promover o reconhecimento de sua importância cultural e econômica para a região (Minas Gerais 2002a; Minas Gerais 2002b).

As características sensoriais, como sabor, textura e aroma, dos queijos Minas Artesanais são profundamente influenciadas por uma série de fatores ambientais e biológicos, como:

  • o clima,
  • o tipo de pastagem disponível,
  • a alimentação dos animais,
  • a raça destes, entre outros elementos.

Cada um desses fatores contribui de maneira única para a definição dos atributos sensoriais do produto. No entanto, há uma característica comum a todos os queijos dessa categoria: a utilização de leite proveniente de uma única propriedade (de um único produtor), que não a por processo de padronização, é utilizado de forma crua e, adicionalmente, é fermentado com soro (pingo) da produção anterior (Costa et al., 2022). Este conjunto de práticas tradicionais, com foco na autenticidade e na preservação das características originais do leite, é fundamental para garantir a singularidade e a qualidade sensorial do Queijo Minas Artesanal 

 

Região do Triângulo Mineiro 

Reconhecido como Queijo Minas Artesanal (QMA) desde 2014, os queijos originários desta região são caracterizados por uma casca ligeiramente dura, com uma textura macia e compacta, coloração amarelo-ouro e um sabor suave, levemente ácido. Para ilustrar as particularidades desse queijo, tivemos o privilégio de entrar em contato com a “Queijaria Gomes”, localizada na Fazenda Rio das Pedras, no município de Uberlândia-MG, sob a istração de Inês Gomes Rosa Borges.

Segundo a produtora Inês, "o processo de fabricação do queijo é essencialmente manual, o que garante uma qualidade única e personalizada a cada lote. O leite cru utilizado, proveniente de vacas criadas localmente e alimentadas com pastagens típicas da região, é um dos principais responsáveis pela diferenciação no sabor e nas propriedades sensoriais do produto final. Além disso, o uso do “pingo” — soro proveniente de produções anteriores — e a adição de coalho e sal são fundamentais para a obtenção da textura macia e do sabor suave característicos do queijo".

Outro aspecto importante dessa produção artesanal é o impacto das estações do ano nas características do queijo. No inverno, com temperaturas mais baixas, o leite tende a ser mais gorduroso, resultando em queijos com uma consistência mais seca e de tonalidade mais clara. Já no verão, com a maior incidência de calor, o leite se torna mais fluido, o que confere aos queijos uma coloração mais intensa, variando para tons de amarelo e uma textura mais macia. Esse fenômeno é uma demonstração da adaptabilidade do processo artesanal às mudanças sazonais e à natureza do leite.

Além da riqueza de sabores e texturas, a produção de queijos na região é reconhecida pela sua excelência, tanto no Brasil quanto no exterior. A “Queijaria Gomes”, por exemplo, tem sido premiada em diversos concursos regionais, estaduais e internacionais, reforçando a importância cultural e econômica do Queijo Minas Artesanal como um produto genuíno e de alta qualidade.

Figura 1. Queijos Minas Artesanais produzidos pela “Queijaria Gomes” 

Figura 1
 

Região do Cerrado 

Em termos de produção, a região do Cerrado Mineiro se destaca como o maior produtor de Queijo Minas Artesanal (QMA) do Estado, com uma produção anual superior a 9,5 mil toneladas. Os queijos provenientes dessa região são notáveis por sua textura macia e suave, sabor adocicado, com nuances ácidas discretas, e casca enrugada, fina e delicada, que conferem uma identidade única a esse produto.

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Para representar essa tradicional produção, tivemos o privilégio de conversar com o Sr. Antônio Lino, proprietário da "Fazenda Sapecado", localizada no município de Patrocínio, em Minas Gerais. Durante nossa conversa, o Sr. Antônio compartilhou que a produção de queijo em sua propriedade remonta a quase um século, sendo uma prática que vem sendo mantida e aprimorada desde os tempos de seus avós.

Os queijos produzidos na Fazenda Sapecado possuem características distintivas, particularmente em relação à acidez, que é notavelmente baixa, e ao sabor, que é agradável e suave. Este perfil sensorial pode variar de acordo com uma série de fatores ambientais e alimentares, como a umidade do ar, o clima local, o tipo de pastagem, a utilização de silagem e a alimentação dos animais. Tais variáveis influenciam diretamente a qualidade e as nuances do queijo, o que torna cada lote uma expressão singular do ambiente e das práticas tradicionais que perduram na região.

Figura 2. Queijos Minas Artesanais produzidos pela “Fazenda Sapecado” 

Figura 2

 

Região da Canastra 

O Queijo da Serra da Canastra é amplamente reconhecido como um verdadeiro ícone da culinária brasileira, sendo sua produção oficialmente registrada pelo IPHAN desde 2008. Este queijo se distingue por sua casca amarelada, seu interior macio e por uma textura inconfundível que se desmancha na boca, proporcionando uma experiência sensorial única.

Para obter informações mais detalhadas sobre os queijos dessa renomada região, estabelecemos contato com Rafael Soares de Faria Junior e Flávia Cássia de Freitas Faria, proprietários da "Fazenda Beira da Serra", situada no município de São Roque de Minas – MG. 

Flávia, com grande precisão, descreveu os queijos da propriedade, enfatizando o sabor suave e a textura macia e amanteigada, que são marcas registradas de sua produção. Ela também mencionou a variação natural entre os lotes, que resulta de uma combinação de fatores como as estações do ano, o clima, a temperatura e a umidade. Segundo Flávia, "os queijos produzidos no verão apresentam uma coloração mais intensa, com interior macio e uma formação de casca externa proveniente de uma maturação acelerada, decorrente de processos bioquímicos mais rápidos. Já os queijos produzidos no inverno am por uma maturação mais lenta, o que resulta em uma consistência mais seca e firme, com características igualmente distintas"

Figura 3. Queijos Minas Artesanais produzidos pela  "Fazenda Beira da Serra" 

Figura 3

 

Região da Serra do Salitre

Os queijos produzidos na Serra do Salitre podem apresentar uma camada de proteção resinada, que confere uma maturação mais lenta e resulta em uma variedade de cores estéticas, incluindo tons de amarelo, marrom, preto, roxo e vermelho, características que são empregadas não apenas com fins funcionais, mas também para aprimorar a apresentação visual do produto.

Na Serra do Salitre, tivemos a oportunidade de conversar com o produtor Vanderlino Reis Moreira, da “Fazenda Chicão” e da "Queijaria Reis Moreira", que nos detalhou o processo singular adotado em sua produção. 

A resina utilizada em seus queijos é especificamente formulada para uso alimentar, garantindo que sua aplicação seja segura e adequada ao consumo humano. Segundo ele, "O objetivo principal do uso da resina é minimizar o crescimento de fungos, reduzir a perda de umidade dos queijos e evitar a movimentação excessiva das peças durante o processo de cura". Essa abordagem cuidadosa e detalhada evidencia a preocupação com a preservação das características sensoriais e a garantia da excelência do produto final.

Figura 4. Queijos Minas Artesanais produzidos pela “Queijaria Reis Moreira" 

Figura 4

 

Região de Araxá

O Queijo Minas Artesanal (QMA) produzido na região do Alto Paranaíba se destaca por suas características sensoriais distintas. Sua casca é fina, de coloração amarelo-claro, e o interior apresenta uma textura macia, ligeiramente compacta, que se torna mais pronunciada com o tempo de maturação. O sabor é delicadamente ácido, com sutis notas lácteas, sendo que sua intensidade se aprimora conforme o processo de cura, resultando em um perfil de sabor mais complexo e refinado à medida que o queijo envelhece.

Reinaldo Lima e Dalva de Oliveira Lima, proprietários do “Sítio Real”, localizado na região do Alto Paranaíba – MG, dedicam-se à produção de queijos utilizando exclusivamente vacas da raça Jersey, reconhecida pela alta qualidade do leite que produz.

Em entrevista, os proprietários enfatizaram que a combinação de técnicas tradicionais de produção, aliada a cuidados rigorosos, dedicação e um imenso carinho pela atividade, são fatores imprescindíveis para o reconhecimento do trabalho desenvolvido e, por conseguinte, para a excelência dos queijos produzidos. A aplicação meticulosa desses princípios garante a produção de queijos que refletem a qualidade superior da matéria-prima e a preservação das tradições regionais, características que conferem um valor agregado ao produto e à marca do “Sítio Real” 

Figura 5. Queijos Minas Artesanais produzidos pelo "Sítio Real" 

Figura 5

 

Consideração final

Em conclusão, a análise das características únicas dos queijos produzidos nas distintas regiões de Minas Gerais, como o Triângulo Mineiro, Araxá, Canastra, Cerrado e Serra do Salitre, evidencia a riqueza sensorial e cultural do Queijo Minas Artesanal (QMA).

Cada região, com suas práticas tradicionais, influências ambientais e características próprias de produção, contribui para a diversidade de sabores, texturas e aromas que tornam esse produto único. A preservação dessas particularidades, aliada ao reconhecimento formal por órgãos como o IPHAN, não só valoriza o patrimônio cultural de Minas Gerais, mas também reforça a importância do QMA como um símbolo de identidade e qualidade, com impacto significativo tanto no cenário nacional quanto internacional.

A continuidade da investigação e valorização dessas práticas é fundamental para garantir que as futuras gerações possam vivenciar e desfrutar da autenticidade e excelência do Queijo Minas Artesanal.

Referências bibliográficas

Costa, R. G. B., et al. “Os queijos Minas artesanais – uma breve revisão”. Research, Society and Development, (2022), 11(8), Article e16911830012.

Minas Gerais (2002a). Dispõe sobre o processo de produção do Queijo Mias Artesanal e dá outras providências. Diário Oficial do Estado de Minas Gerais, Diário do Executivo Belo Horizonte (2002) MG, 01/02/2002, pág. 3, col. 2. Disponível em:https://www.almg.gov.br/legislacaomineira/LEI/14185/2002.

Minas Gerais. (2002b). Decreto n° 42.645 de 05 de junho de 2002. Aprova o Regulamento da Lei nº 14.185, de 31 janeiro de 2002, que dispõe sobre o processo de produção de Queijo Minas Artesanal. Diário Oficial do Estado de Minas Gerais, Diário do Executivo, Belo Horizonte, MG, 06/06/2002, pág. 18, col. 2. Disponível em: https://www.almg.gov.br/legislacao-mineira/texto/DEC/42645/2002/?cons=1.

Santos, A. R. A. et al. "Associations among production systems, identity aspects, microbiological results and physical-chemical traits as revealed by official analyses of Minas Artisanal Cheese (QMA, Queijo Minas Artesanal)." Food Control 171 (2025): 111112.

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Clarice Cunha Carvalho

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Discente do curso de Ciência e Tecnologia de Alimentos do Instituto Federal Sudeste de Minas Gerais - Campus Rio Pomba.

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Letícia de Araújo Cabral

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Discente do curso de Ciência e Tecnologia de Alimentos do Instituto Federal Sudeste de Minas Gerais - Campus Rio Pomba.

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Tarcísio Florentino de Oliveira Júnior

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Discente do curso de Ciência e Tecnologia de Alimentos do Instituto Federal Sudeste de Minas Gerais - Campus Rio Pomba.

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Tatiane Teixeira Tavares

Tatiane Teixeira Tavares

Bolsista de pesquisa nível I do Instituto de Laticínios Cândido Tostes - EPAMIG-ILCT.

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Rafaela Teixeira Rodrigues do Vale

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Eng. de Alimentos (UFCG), Mestre e Doutora em C&TA (UFV-DTA), Profª coordenadora do Núcleo de Estudos em Queijos (NEQue) do IF Sudeste MG Rio Pomba.

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O Queijo Minas Artesanal (QMA) constitui-se em um produto tradicional e emblemático do Estado de Minas Gerais, sendo reconhecido como patrimônio cultural brasileiro. O QMA é certificado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e, atualmente, encontra-se regulamentado em dez distintas regiões do estado (Santos et al., 2025).

Essas regiões são:

  • Araxá,
  • Campo das Vertentes,
  • Canastra,
  • Cerrado,
  • Diamantina,
  • Entre Serras da Piedade ao Caraça,
  • Serra do Salitre, Serro,
  • Triângulo Mineiro,
  • Serras da Ibitipoca.

A certificação e a regulamentação visam garantir a preservação da qualidade e das características autênticas do produto, além de promover o reconhecimento de sua importância cultural e econômica para a região (Minas Gerais 2002a; Minas Gerais 2002b).

As características sensoriais, como sabor, textura e aroma, dos queijos Minas Artesanais são profundamente influenciadas por uma série de fatores ambientais e biológicos, como:

  • o clima,
  • o tipo de pastagem disponível,
  • a alimentação dos animais,
  • a raça destes, entre outros elementos.

Cada um desses fatores contribui de maneira única para a definição dos atributos sensoriais do produto. No entanto, há uma característica comum a todos os queijos dessa categoria: a utilização de leite proveniente de uma única propriedade (de um único produtor), que não a por processo de padronização, é utilizado de forma crua e, adicionalmente, é fermentado com soro (pingo) da produção anterior (Costa et al., 2022). Este conjunto de práticas tradicionais, com foco na autenticidade e na preservação das características originais do leite, é fundamental para garantir a singularidade e a qualidade sensorial do Queijo Minas Artesanal 

 

Região do Triângulo Mineiro 

Reconhecido como Queijo Minas Artesanal (QMA) desde 2014, os queijos originários desta região são caracterizados por uma casca ligeiramente dura, com uma textura macia e compacta, coloração amarelo-ouro e um sabor suave, levemente ácido. Para ilustrar as particularidades desse queijo, tivemos o privilégio de entrar em contato com a “Queijaria Gomes”, localizada na Fazenda Rio das Pedras, no município de Uberlândia-MG, sob a istração de Inês Gomes Rosa Borges.

Segundo a produtora Inês, "o processo de fabricação do queijo é essencialmente manual, o que garante uma qualidade única e personalizada a cada lote. O leite cru utilizado, proveniente de vacas criadas localmente e alimentadas com pastagens típicas da região, é um dos principais responsáveis pela diferenciação no sabor e nas propriedades sensoriais do produto final. Além disso, o uso do “pingo” — soro proveniente de produções anteriores — e a adição de coalho e sal são fundamentais para a obtenção da textura macia e do sabor suave característicos do queijo".

Outro aspecto importante dessa produção artesanal é o impacto das estações do ano nas características do queijo. No inverno, com temperaturas mais baixas, o leite tende a ser mais gorduroso, resultando em queijos com uma consistência mais seca e de tonalidade mais clara. Já no verão, com a maior incidência de calor, o leite se torna mais fluido, o que confere aos queijos uma coloração mais intensa, variando para tons de amarelo e uma textura mais macia. Esse fenômeno é uma demonstração da adaptabilidade do processo artesanal às mudanças sazonais e à natureza do leite.

Além da riqueza de sabores e texturas, a produção de queijos na região é reconhecida pela sua excelência, tanto no Brasil quanto no exterior. A “Queijaria Gomes”, por exemplo, tem sido premiada em diversos concursos regionais, estaduais e internacionais, reforçando a importância cultural e econômica do Queijo Minas Artesanal como um produto genuíno e de alta qualidade.

Figura 1. Queijos Minas Artesanais produzidos pela “Queijaria Gomes” 

Figura 1
 

Região do Cerrado 

Em termos de produção, a região do Cerrado Mineiro se destaca como o maior produtor de Queijo Minas Artesanal (QMA) do Estado, com uma produção anual superior a 9,5 mil toneladas. Os queijos provenientes dessa região são notáveis por sua textura macia e suave, sabor adocicado, com nuances ácidas discretas, e casca enrugada, fina e delicada, que conferem uma identidade única a esse produto.

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Para representar essa tradicional produção, tivemos o privilégio de conversar com o Sr. Antônio Lino, proprietário da "Fazenda Sapecado", localizada no município de Patrocínio, em Minas Gerais. Durante nossa conversa, o Sr. Antônio compartilhou que a produção de queijo em sua propriedade remonta a quase um século, sendo uma prática que vem sendo mantida e aprimorada desde os tempos de seus avós.

Os queijos produzidos na Fazenda Sapecado possuem características distintivas, particularmente em relação à acidez, que é notavelmente baixa, e ao sabor, que é agradável e suave. Este perfil sensorial pode variar de acordo com uma série de fatores ambientais e alimentares, como a umidade do ar, o clima local, o tipo de pastagem, a utilização de silagem e a alimentação dos animais. Tais variáveis influenciam diretamente a qualidade e as nuances do queijo, o que torna cada lote uma expressão singular do ambiente e das práticas tradicionais que perduram na região.

Figura 2. Queijos Minas Artesanais produzidos pela “Fazenda Sapecado” 

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Região da Canastra 

O Queijo da Serra da Canastra é amplamente reconhecido como um verdadeiro ícone da culinária brasileira, sendo sua produção oficialmente registrada pelo IPHAN desde 2008. Este queijo se distingue por sua casca amarelada, seu interior macio e por uma textura inconfundível que se desmancha na boca, proporcionando uma experiência sensorial única.

Para obter informações mais detalhadas sobre os queijos dessa renomada região, estabelecemos contato com Rafael Soares de Faria Junior e Flávia Cássia de Freitas Faria, proprietários da "Fazenda Beira da Serra", situada no município de São Roque de Minas – MG. 

Flávia, com grande precisão, descreveu os queijos da propriedade, enfatizando o sabor suave e a textura macia e amanteigada, que são marcas registradas de sua produção. Ela também mencionou a variação natural entre os lotes, que resulta de uma combinação de fatores como as estações do ano, o clima, a temperatura e a umidade. Segundo Flávia, "os queijos produzidos no verão apresentam uma coloração mais intensa, com interior macio e uma formação de casca externa proveniente de uma maturação acelerada, decorrente de processos bioquímicos mais rápidos. Já os queijos produzidos no inverno am por uma maturação mais lenta, o que resulta em uma consistência mais seca e firme, com características igualmente distintas"

Figura 3. Queijos Minas Artesanais produzidos pela  "Fazenda Beira da Serra" 

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Região da Serra do Salitre

Os queijos produzidos na Serra do Salitre podem apresentar uma camada de proteção resinada, que confere uma maturação mais lenta e resulta em uma variedade de cores estéticas, incluindo tons de amarelo, marrom, preto, roxo e vermelho, características que são empregadas não apenas com fins funcionais, mas também para aprimorar a apresentação visual do produto.

Na Serra do Salitre, tivemos a oportunidade de conversar com o produtor Vanderlino Reis Moreira, da “Fazenda Chicão” e da "Queijaria Reis Moreira", que nos detalhou o processo singular adotado em sua produção. 

A resina utilizada em seus queijos é especificamente formulada para uso alimentar, garantindo que sua aplicação seja segura e adequada ao consumo humano. Segundo ele, "O objetivo principal do uso da resina é minimizar o crescimento de fungos, reduzir a perda de umidade dos queijos e evitar a movimentação excessiva das peças durante o processo de cura". Essa abordagem cuidadosa e detalhada evidencia a preocupação com a preservação das características sensoriais e a garantia da excelência do produto final.

Figura 4. Queijos Minas Artesanais produzidos pela “Queijaria Reis Moreira" 

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Região de Araxá

O Queijo Minas Artesanal (QMA) produzido na região do Alto Paranaíba se destaca por suas características sensoriais distintas. Sua casca é fina, de coloração amarelo-claro, e o interior apresenta uma textura macia, ligeiramente compacta, que se torna mais pronunciada com o tempo de maturação. O sabor é delicadamente ácido, com sutis notas lácteas, sendo que sua intensidade se aprimora conforme o processo de cura, resultando em um perfil de sabor mais complexo e refinado à medida que o queijo envelhece.

Reinaldo Lima e Dalva de Oliveira Lima, proprietários do “Sítio Real”, localizado na região do Alto Paranaíba – MG, dedicam-se à produção de queijos utilizando exclusivamente vacas da raça Jersey, reconhecida pela alta qualidade do leite que produz.

Em entrevista, os proprietários enfatizaram que a combinação de técnicas tradicionais de produção, aliada a cuidados rigorosos, dedicação e um imenso carinho pela atividade, são fatores imprescindíveis para o reconhecimento do trabalho desenvolvido e, por conseguinte, para a excelência dos queijos produzidos. A aplicação meticulosa desses princípios garante a produção de queijos que refletem a qualidade superior da matéria-prima e a preservação das tradições regionais, características que conferem um valor agregado ao produto e à marca do “Sítio Real” 

Figura 5. Queijos Minas Artesanais produzidos pelo "Sítio Real" 

Figura 5

 

Consideração final

Em conclusão, a análise das características únicas dos queijos produzidos nas distintas regiões de Minas Gerais, como o Triângulo Mineiro, Araxá, Canastra, Cerrado e Serra do Salitre, evidencia a riqueza sensorial e cultural do Queijo Minas Artesanal (QMA).

Cada região, com suas práticas tradicionais, influências ambientais e características próprias de produção, contribui para a diversidade de sabores, texturas e aromas que tornam esse produto único. A preservação dessas particularidades, aliada ao reconhecimento formal por órgãos como o IPHAN, não só valoriza o patrimônio cultural de Minas Gerais, mas também reforça a importância do QMA como um símbolo de identidade e qualidade, com impacto significativo tanto no cenário nacional quanto internacional.

A continuidade da investigação e valorização dessas práticas é fundamental para garantir que as futuras gerações possam vivenciar e desfrutar da autenticidade e excelência do Queijo Minas Artesanal.

Referências bibliográficas

Costa, R. G. B., et al. “Os queijos Minas artesanais – uma breve revisão”. Research, Society and Development, (2022), 11(8), Article e16911830012.

Minas Gerais (2002a). Dispõe sobre o processo de produção do Queijo Mias Artesanal e dá outras providências. Diário Oficial do Estado de Minas Gerais, Diário do Executivo Belo Horizonte (2002) MG, 01/02/2002, pág. 3, col. 2. Disponível em:https://www.almg.gov.br/legislacaomineira/LEI/14185/2002.

Minas Gerais. (2002b). Decreto n° 42.645 de 05 de junho de 2002. Aprova o Regulamento da Lei nº 14.185, de 31 janeiro de 2002, que dispõe sobre o processo de produção de Queijo Minas Artesanal. Diário Oficial do Estado de Minas Gerais, Diário do Executivo, Belo Horizonte, MG, 06/06/2002, pág. 18, col. 2. Disponível em: https://www.almg.gov.br/legislacao-mineira/texto/DEC/42645/2002/?cons=1.

Santos, A. R. A. et al. "Associations among production systems, identity aspects, microbiological results and physical-chemical traits as revealed by official analyses of Minas Artisanal Cheese (QMA, Queijo Minas Artesanal)." Food Control 171 (2025): 111112.

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