O Queijo Minas Artesanal é um produto tradicional da culinária brasileira, especialmente associado ao estado de Minas Gerais, sendo reconhecido por seu sabor único e textura macia. Produzido de maneira artesanal, sem o uso de grandes maquinários industriais, o queijo é feito com leite de vaca e a por um processo de maturação que pode variar de acordo com a técnica e o tempo de cura.
Cada produtor utiliza suas próprias práticas, o que torna o sabor e as características do queijo distintos de uma produção para outra. Além disso, o queijo Minas Artesanal pode ser encontrado em diferentes formas e variações, como o fresco e o curado. (Carvalho et al., 2024).
A importância do Queijo Minas Artesanal vai além do seu sabor delicioso. Ele é parte essencial da cultura e identidade gastronômica de Minas Gerais, representando um elo entre as tradições rurais e a modernidade.
Além disso, sua produção fortalece a economia local, gerando emprego e promovendo a agricultura familiar. A preservação da produção artesanal também é fundamental para a manutenção de métodos sustentáveis e ecológicos de fabricação, sem a dependência de processos industriais. O queijo Minas Artesanal também possui relevância cultural, sendo um símbolo da culinária brasileira que continua a ser valorizado por sua qualidade, autenticidade e pela conexão com as raízes do interior do país (Bastos, Consone & Mesquita, 2024).
Região de Diamantina
A região de Diamantina, amplamente reconhecida pela excelência na produção do Queijo Minas Artesanal (QMA), abrange diversos municípios que são fundamentais para a preservação dessa tradição que remonta às origens da cultura queijeira mineira.
A produção do queijo nesta área é marcada por características sensoriais distintas, refletindo as práticas artesanais e o cuidado dos produtores locais. O queijo Minas Artesanal originário dessa região é conhecido por apresentar uma acidez média, que confere um equilíbrio no sabor, e uma massa que se fragmenta com facilidade, denotando sua textura delicada. Sua casca, de consistência firme e não espessa, complementa a sua aparência, enquanto seu aroma floral se destaca. Em algumas variantes do queijo, também é possível observar a presença de olhaduras.
Conforme relatado pelo produtor Ewerton Almeida, responsável pelo "Queijo Braúnas", localizado na cidade de Diamantina, a produção de queijos reconhecidos se baseia exclusivamente em quatro ingredientes principais: leite cru, coalho, pingo e sal. Estes ingredientes são fundamentais para preservar as características autênticas do queijo, respeitando as tradições locais e garantindo a qualidade do produto final.
Além disso, o sucesso da produção está diretamente vinculado a cuidados rigorosos com a alimentação e a sanidade dos animais, assim como à utilização de insumos e produtos de alta qualidade ao longo de toda a cadeia produtiva
É relevante destacar a considerável variação de sabor e características observada entre os diferentes lotes de queijos artesanais. Esta variação não está relacionada a falhas no controle de qualidade, mas sim à ausência de processos sistemáticos bem como a falta de padronização na manipulação do leite.
Esses fatores, que são comuns na produção artesanal, resultam em características sensoriais únicas em cada lote, o que, por um lado, confere um caráter distintivo ao produto, mas, por outro, torna difícil estabelecer uma uniformidade plena no sabor e na textura dos queijos produzidos na região.
Outro aspecto importante é a manutenção da tradição familiar na fabricação dos queijos. Ewerton Almeida relata que sua família sempre fez queijo e que ele faz parte da terceira geração. Entretanto, inicialmente com produção apenas para o consumo próprio. Em 2016, ao observar a evolução no mercado de queijos artesanais, Ewerton criou a sua marca “Queijo Braúnas”, ampliou sua produção para a comercial, participou de concursos de queijos e abriu as portas da sua fazenda para o marketing de experiência.
Figura 1. Queijo Braúnas
Fonte: Fonte: Imagens cordialmente cedidas pelos produtores
Entre 2018 e 2024, Ewerton Almeida conquistou importantes prêmios com seus queijos artesanais, como medalhas de ouro, prata e bronze no Prêmio Queijo Brasil e no Mundial de Queijos em Araxá. Em 2024, também recebeu o Troféu do Instituto Eduardo Frieiro, destacando seu papel na valorização da culinária mineira. Para Ewerton, esses reconhecimentos refletem seu compromisso com a qualidade e a tradição familiar. Ele celebra o renascimento do queijo Minas Artesanal, que ou de um produto negligenciado no século XX a patrimônio cultural imaterial da humanidade, símbolo da identidade mineira e brasileira.
Região do Serro
O método de produção do queijo artesanal da Região do Serro é reconhecido pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA-MG) desde o ano de 2002. Trata-se do primeiro bem cultural a ser registrado como patrimônio imaterial no Brasil, o qual, ao longo dos anos, tem adquirido crescente visibilidade e destaque (Figura 2).
Figura 2. Linha do tempo do reconhecimento da Região do Serro
Fonte: Dos autores, 2025.
Em 2008, a região foi reconhecida em âmbito nacional pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Em 2022, foi solicitada ao IPHAN, e aprovada por seu Conselho Consultivo, a apresentação da candidatura dos Modos de Fazer o Queijo Minas Artesanal à UNESCO, com o objetivo de sua inclusão na Lista Representativa do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Com a revalidação do registro pelo IPHAN, em 2021, o título deste bem cultural foi alterado para "Modos de Fazer o Queijo Minas Artesanal", ampliando o território de abrangência do registro.
Os queijos desta região são classificados como semiduros, untuosos, de cor branca amarelada, com acidez acentuada, aroma cítrico e, em alguns casos, apresentam olhaduras internas (Figura 3).
Figura 3. Imagens dos queijos da Região do Serro
Fonte: Fonte: Dos autores, 2025
Região entre Serras da Piedade ao Caraça
O reconhecimento dessas regiões proporciona uma série de benefícios tanto para os produtores locais quanto para a economia em geral, uma vez que a certificação não apenas assegura a qualidade dos produtos, mas também eleva o valor agregado dos queijos, ampliando sua aceitação e competitividade no mercado.
Além disso, o o ao Selo Arte possibilita que os produtores comercializem seus queijos em todo o território nacional, fortalecendo suas operações e abrindo novas oportunidades para conquistar novos consumidores.
Quanto às suas características, os queijos apresentam casca naturalmente untuosa, sabor caracterizado por acidez pronunciada, aromas que variam entre o vegetal e o floral, e olhaduras mecânicas bem definidas.
Serras de Ibitipoca
Os queijos dessa região apresentam uma massa firme, caracterizada pela presença de olhaduras bem definidas, conferindo-lhes uma textura distintiva. Seu aroma é sutil e delicado. A casca, de baixa untuosidade, proporciona uma textura seca e menos oleosa, contrastando com a maciez interna. A acidez é leve e equilibrada. A maturação desses queijos varia conforme as condições climáticas da região, refletindo as influências do ciclo sazonal.
Durante o período das águas, caracterizado pelo inverno, os queijos apresentam sabores mais suaves e delicados, com maturações que podem se estender por até 90 dias. Já na estação seca, os queijos adquirem um sabor mais intenso e uma textura mais firme, exigindo maturações mais rápidas, com um tempo aproximado de 22 dias, além de cuidados adicionais para evitar o aparecimento de rachaduras na casca.
Em nossa conversa com a produtora Maria Elisa de Almeida, proprietária do Sítio Primavera, localizado em Lima Duarte – MG, ela compartilhou a experiência de sua propriedade, que além da comercialização de queijos elaborados a partir do leite de vaca Jersey, também se destaca pela abertura ao público, oferecendo uma oportunidade única de contato direto com a natureza e com uma tradição milenar.
Figura 4. Queijos do Sítio Primavera
Fonte: Imagens cordialmente cedidas pelos produtores
Campo das Vertentes
A região do Campo das Vertentes, notável por abrigar cidades históricas como Tiradentes e São João del-Rei, é uma das mais visitadas em Minas Gerais, atraindo um significativo fluxo turístico. Esse cenário contribui para a valorização da produção de queijos artesanais, que se destacam pela casca semidura, coloração amarelo-palha e sabor levemente ácido.
Outro aspecto relevante da região é a criação da “Rota do Queijo Terroir Vertentes”, um circuito turístico, com o intuito de proporcionar aos visitantes uma imersão nas principais fazendas e queijarias produtoras da região.
Figura 5. Trilha dos Inconfidentes, onde está localizada a “Rota do Queijo Terroir Vertentes”.
Fonte: Adaptado de FREITAS, 2016.
Nesta região, é imperativo destacar a produção de queijos artesanais elaborados a partir de leite de cabra, uma vez que Minas Gerais ocupa a posição de segunda maior bacia leiteira de cabra do Brasil. Em 2019, um marco importante para a produção local foi a premiação do primeiro queijo de cabra brasileiro a receber o Prêmio Internacional no Mondial du Fromage. O queijo em questão foi o "Névoa Valençuai", produzido no capril "Rancho das Vertentes".
Figura 6. Queijo “Névoa Valençuai” com selo de ouro do Prêmio Internacional no Mondial Du Fromage
Fonte: Imagens cordialmente cedidas pelos produtores
Considerações finais
O Queijo Minas Artesanal é mais que um alimento saboroso — é parte da cultura e da identidade de Minas Gerais e do Brasil. Produzido por gerações de famílias, ele mantém técnicas tradicionais que garantem qualidade e autenticidade. Regiões como Diamantina, Serro, Ibitipoca e Campo das Vertentes se destacam pela produção artesanal, que também impulsiona a economia local e o turismo rural.
A certificação e o reconhecimento como patrimônio cultural ajudam a valorizar e preservar essas tradições. Cada região imprime características únicas ao queijo, influenciadas pelo clima e pelo cuidado dos produtores.
O sucesso dos queijos premiados e rotas como a “Rota do Queijo Terroir Vertentes” mostram que o Queijo Minas Artesanal é uma experiência cultural completa. Ele fortalece a economia, promove a sustentabilidade e preserva um legado que a de geração em geração. O reconhecimento internacional comprova seu valor como um verdadeiro tesouro do Brasil para o mundo.
Referências bibliográficas
BASTOS, L. D. S., Consoni, F. L., & Mesquita, F. C. (2024). Crescimento e sofisticação produtiva do Queijo Minas Artesanal da Canastra: uma leitura a partir dos processos inovativos em recursos naturais. Sociedade & Natureza, 36, e69754.
CARVALHO, G. D. O., Carvalho, G. R., dos os, F. A. E., CARVALHO, C. D. O., & DOS OS, F. A. E. (2024). Queijo Minas Artesanal (QMA): resgate de experiências e encontro de saberes na construção de novos conhecimentos.
FREITAS, S. Circuito trilha dos inconfidentes: 16 anos impulsionando o turismo, 2016.
RANCHO DAS VERTENTES. Nossos produtos: principais características, utilização e conservação.
TÔ NA TRILHA - ASSOCIAÇÃO DO CIRCUITO TURÍSTICO TRILHA DOS INCONFIDENTES. Rota do queijo.