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A importância da interação genótipo-ambiente na bovinocultura leiteira - Parte I

A variação nas características economicamente importantes nos animais domésticos é controlada pela herança genética, pelo ambiente, mas também pela ação conjunta destes dois efeitos, denominada interação genótipo-ambiente. A expressão genética nestas características está sob a influência de um grande número de genes que constituem o genótipo de indivíduo, no entanto, a ação dos mesmos está condicionada pelo conjunto de efeitos contidos no ambiente.

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A variação nas características economicamente importantes nos animais domésticos é controlada pela herança genética, pelo ambiente, mas também pela ação conjunta destes dois efeitos, denominada interação genótipo-ambiente. A expressão genética nestas características está sob a influência de um grande número de genes que constituem o genótipo de indivíduo, no entanto, a ação dos mesmos está condicionada pelo conjunto de efeitos contidos no ambiente.

Com isso, o modelo básico do desempenho animal (1) define a expressão fenotípica da característica na soma dos efeitos genéticos, de ambiente e da interação entre eles, ou seja, o fenótipo dos indivíduos é o resultado de seu genótipo, manifestado segundo o ambiente em que este indivíduo está exposto. Assim, a interação genótipo-ambiente é caracterizada quando as diferenças fenotípicas entre diferentes genótipos são desiguais de um ambiente para outro.

(1) P = G + E + GxE

Em que P é o fenótipo; G é o genótipo; E é o ambiente e GxE é a interação genótipo-ambiente.

A existência da interação genótipo-ambiente adquire importância se há diferenças entre os ambientes de seleção e de produção, o que pode implicar em desempenho diferenciado e, por conseguinte, resposta à seleção significativamente inferior àquela esperada. No tocante ao processo de seleção, isto implica que os animais identificados como melhoradores em um determinado ambiente não serão necessariamente os de melhor desempenho, se transferidos para um ambiente diferenciado ou se sua progênie for criada em condições diferentes do ambiente no qual esses animais foram selecionados, sobretudo se este ambiente for de pior qualidade ambiental ou condições significativamente adversas.
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Vale ressaltar que as interações podem ser: (i) alterações de ordem de classificação dos genótipos, de acordo com o desempenho de cada um em determinado ambiente ou (ii) alterações na magnitude das diferenças entre os desempenhos dos genótipos, como ilustrado na Figura 1.

Figura 1
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Adaptado de Corrêa et al. (2007)
Figura 1. Ilustração da interação genótipo-ambiente, (1) a ordem dos genótipos se mantém, mas a magnitude da diferença não, (2) o ordenamento dos genótipos é diferente de acordo com o ambiente.

Quanto mais distantes forem as diferenças entre genótipos e/ou os ambientes, mais acentuado e fácil de identificar será o efeito dessa interação. Essa interação pode se expressar de diferentes formas e com diferentes intensidades (Tabela 1), sendo que a expressão mais extrema pode ser representada pela inversão de posicionamento de um determinado genótipo com sua mudança para outro ambiente diferente daquele em que foi obtido o primeiro posicionamento. Para melhor entendimento, considere o seguinte exemplo: supondo-se que um teste de avaliação comparativa entre duas raças, A e B, tenha sido desenvolvido em dois ambientes distintos representados pelas letras X e Y. Os resultados revelaram que enquanto a raça A foi superior à raça B no ambiente X, a raça B superou a raça A no ambiente Y (Figura 1).

Espera-se que ocorra interação GxE quando as diferenças entre os genótipos e entre os ambientes forem grandes.

Tabela 1. Situações possíveis de interação genótipo-ambiente.

Figura 2
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A primeira situação ocorre quando há grandes diferenças nos patamares genéticos e ambientais. No caso de bovinos, o exemplo típico é a comparação da produtividade de diferentes raças em ambientes contrastantes, como a comparação entre raças europeias (Ex. Holandesa) e zebuínas (ex. Gir Leiteiro) em ambiente tropical e temperado. A ocorrência deste tipo de interação implica em conhecer qual a combinação ótima entre genótipos e ambientes, em busca da maximização da produção.

Para o tipo de interação da segunda situação, pode-se exemplificar o caso dos plantéis de seleção localizados nas melhores regiões temperados ou subtropicais, em que são utilizadas práticas de manejo e programas alimentares e nutricionais bem acima da média. Os reprodutores produzidos nestes plantéis são então distribuídos para serem usados nos mais variados ambientes. O conhecimento da importância dessa interação permite, em alguns casos, definir as condições de ambiente em que os animais deverão ser selecionados.

A terceira situação pode ocorrer quando, por exemplo, diversas raças são criadas numa determinada área. Neste caso, a comparação do desempenho dos animais é importante, pois as interações possivelmente estarão presentes, mas não terão importância, desde que os resultados sejam usados para àquela situação de ambiente.

A quarta e última situação pode ocorrer, por exemplo, quando um grupo de indivíduos é transferido de condições favoráveis para um ambiente ruim, alterando-se o comportamento relativo dos indivíduos, para uma dada característica. Tipicamente observável em grupos de animais importados de países temperados.
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Aline Zampar

Aline Zampar

Zootecnista, Mestre em Zootecnia (FZEA/USP) e Doutora em Ciência Animal e Pastagens (ESALQ/USP), na área de Melhoramento Genético de Bovinos de Leite. Atualmente, professora adjunta da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), em Chapecó (SC)

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Gerson Barreto Mourão

Gerson Barreto Mourão

Professor de Genética e Melhoramento Animal na ESALQ/USP. Publicou mais 80 artigos científicos. É editor associado da Scientia Agricola, da revista Visão Agrícola e bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq

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Mateus Izequias Magumo
MATEUS IZEQUIAS MAGUMO

MOCAMBIQUE - MÍDIA ESPECIALIZADA/IMPRENSA

EM 08/07/2014

Os meus parabens pelo tema realçado.

Veridico que em programas de melhoramento o conhecimento e a influencia do ambiente torna-se inprescidivel
Mateus Izequias Magumo
MATEUS IZEQUIAS MAGUMO

MOCAMBIQUE - MÍDIA ESPECIALIZADA/IMPRENSA

EM 08/07/2014

Ola os meus maiores parabens .



O ambiente conta muito em programas de melhoramento
Aline Zampar
ALINE ZAMPAR

CHAPECÓ - SANTA CATARINA - PESQUISA/ENSINO

EM 16/03/2010

Prezado Eder Ghedini,

Realmente observamos que raças européias têm seu potencial produtivo suprimido quando expostos a altas temperaturas. Uma das "saídas" pode ser a utilização de animais mais adaptados ao ambiente em que serão criados ou a utilização de cruzamentos. Fundamentalmente, o principal objetivo deste tipo de cruzamento é utilizar-se da expressão da heterose e da complementaridade de raças divergentes para a obtenção de animais mais adaptados e produtivos em ambientes tropicais.

Atenciosamente,
Aline Zampar
Eder Ghedini
EDER GHEDINI

TAPEJARA - RIO GRANDE DO SUL

EM 22/02/2010

Olá, inicialmente cumprimento-os pelo assunto tão bem elucidado. O ambiente transforma sem dúvida nenhuma, qualquer ser com potencialidades diversas em um mero codjuvante ou vice versa. Um ser geneticamente possuidor de determinada aptidão, acaba não dando o retorno esperado, se a ele for imposto situação ambiental adversa. Pois bem, a cada dia que a ouvimos e debatemos com o chamado "bem estar animal", vejo principalmente este ano, com o extremo da temperatura, principalmente as raças de origem européia "sufocadas". Com a teoria de que teremos que conviver com o aquecimento global, parece-me que teremos que adotar medidas drásticas quanto essa situação, na qual nossos animais fortemente aptos a produzirem leite, acabem reduzindo drasticamente sua produção em função do ambiente. Pergunto-lhes, além de todo o manejo indispensável para a diminuição do estresse térmico, qual seria a melhor opção hoje neste sentido? O fator genética vai bem, obrigado, mas e a questão estresse térmico, proporcionado pelo ambiente, nos deixará desnudos ou haverá uma saída?Obrigado pelo espaço, desejando-lhes um cordial abraço!
Qual a sua dúvida hoje?
A importância da interação genótipo-ambiente na bovinocultura leiteira - Parte I | MilkPoint

A importância da interação genótipo-ambiente na bovinocultura leiteira - Parte I

A variação nas características economicamente importantes nos animais domésticos é controlada pela herança genética, pelo ambiente, mas também pela ação conjunta destes dois efeitos, denominada interação genótipo-ambiente. A expressão genética nestas características está sob a influência de um grande número de genes que constituem o genótipo de indivíduo, no entanto, a ação dos mesmos está condicionada pelo conjunto de efeitos contidos no ambiente.

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A variação nas características economicamente importantes nos animais domésticos é controlada pela herança genética, pelo ambiente, mas também pela ação conjunta destes dois efeitos, denominada interação genótipo-ambiente. A expressão genética nestas características está sob a influência de um grande número de genes que constituem o genótipo de indivíduo, no entanto, a ação dos mesmos está condicionada pelo conjunto de efeitos contidos no ambiente.

Com isso, o modelo básico do desempenho animal (1) define a expressão fenotípica da característica na soma dos efeitos genéticos, de ambiente e da interação entre eles, ou seja, o fenótipo dos indivíduos é o resultado de seu genótipo, manifestado segundo o ambiente em que este indivíduo está exposto. Assim, a interação genótipo-ambiente é caracterizada quando as diferenças fenotípicas entre diferentes genótipos são desiguais de um ambiente para outro.

(1) P = G + E + GxE

Em que P é o fenótipo; G é o genótipo; E é o ambiente e GxE é a interação genótipo-ambiente.

A existência da interação genótipo-ambiente adquire importância se há diferenças entre os ambientes de seleção e de produção, o que pode implicar em desempenho diferenciado e, por conseguinte, resposta à seleção significativamente inferior àquela esperada. No tocante ao processo de seleção, isto implica que os animais identificados como melhoradores em um determinado ambiente não serão necessariamente os de melhor desempenho, se transferidos para um ambiente diferenciado ou se sua progênie for criada em condições diferentes do ambiente no qual esses animais foram selecionados, sobretudo se este ambiente for de pior qualidade ambiental ou condições significativamente adversas.
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Figura 1. Ilustração da interação genótipo-ambiente, (1) a ordem dos genótipos se mantém, mas a magnitude da diferença não, (2) o ordenamento dos genótipos é diferente de acordo com o ambiente.

Quanto mais distantes forem as diferenças entre genótipos e/ou os ambientes, mais acentuado e fácil de identificar será o efeito dessa interação. Essa interação pode se expressar de diferentes formas e com diferentes intensidades (Tabela 1), sendo que a expressão mais extrema pode ser representada pela inversão de posicionamento de um determinado genótipo com sua mudança para outro ambiente diferente daquele em que foi obtido o primeiro posicionamento. Para melhor entendimento, considere o seguinte exemplo: supondo-se que um teste de avaliação comparativa entre duas raças, A e B, tenha sido desenvolvido em dois ambientes distintos representados pelas letras X e Y. Os resultados revelaram que enquanto a raça A foi superior à raça B no ambiente X, a raça B superou a raça A no ambiente Y (Figura 1).

Espera-se que ocorra interação GxE quando as diferenças entre os genótipos e entre os ambientes forem grandes.

Tabela 1. Situações possíveis de interação genótipo-ambiente.

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A primeira situação ocorre quando há grandes diferenças nos patamares genéticos e ambientais. No caso de bovinos, o exemplo típico é a comparação da produtividade de diferentes raças em ambientes contrastantes, como a comparação entre raças europeias (Ex. Holandesa) e zebuínas (ex. Gir Leiteiro) em ambiente tropical e temperado. A ocorrência deste tipo de interação implica em conhecer qual a combinação ótima entre genótipos e ambientes, em busca da maximização da produção.

Para o tipo de interação da segunda situação, pode-se exemplificar o caso dos plantéis de seleção localizados nas melhores regiões temperados ou subtropicais, em que são utilizadas práticas de manejo e programas alimentares e nutricionais bem acima da média. Os reprodutores produzidos nestes plantéis são então distribuídos para serem usados nos mais variados ambientes. O conhecimento da importância dessa interação permite, em alguns casos, definir as condições de ambiente em que os animais deverão ser selecionados.

A terceira situação pode ocorrer quando, por exemplo, diversas raças são criadas numa determinada área. Neste caso, a comparação do desempenho dos animais é importante, pois as interações possivelmente estarão presentes, mas não terão importância, desde que os resultados sejam usados para àquela situação de ambiente.

A quarta e última situação pode ocorrer, por exemplo, quando um grupo de indivíduos é transferido de condições favoráveis para um ambiente ruim, alterando-se o comportamento relativo dos indivíduos, para uma dada característica. Tipicamente observável em grupos de animais importados de países temperados.
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Zootecnista, Mestre em Zootecnia (FZEA/USP) e Doutora em Ciência Animal e Pastagens (ESALQ/USP), na área de Melhoramento Genético de Bovinos de Leite. Atualmente, professora adjunta da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), em Chapecó (SC)

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Professor de Genética e Melhoramento Animal na ESALQ/USP. Publicou mais 80 artigos científicos. É editor associado da Scientia Agricola, da revista Visão Agrícola e bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq

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Mateus Izequias Magumo
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EM 08/07/2014

Os meus parabens pelo tema realçado.

Veridico que em programas de melhoramento o conhecimento e a influencia do ambiente torna-se inprescidivel
Mateus Izequias Magumo
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Ola os meus maiores parabens .



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EM 16/03/2010

Prezado Eder Ghedini,

Realmente observamos que raças européias têm seu potencial produtivo suprimido quando expostos a altas temperaturas. Uma das "saídas" pode ser a utilização de animais mais adaptados ao ambiente em que serão criados ou a utilização de cruzamentos. Fundamentalmente, o principal objetivo deste tipo de cruzamento é utilizar-se da expressão da heterose e da complementaridade de raças divergentes para a obtenção de animais mais adaptados e produtivos em ambientes tropicais.

Atenciosamente,
Aline Zampar
Eder Ghedini
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EM 22/02/2010

Olá, inicialmente cumprimento-os pelo assunto tão bem elucidado. O ambiente transforma sem dúvida nenhuma, qualquer ser com potencialidades diversas em um mero codjuvante ou vice versa. Um ser geneticamente possuidor de determinada aptidão, acaba não dando o retorno esperado, se a ele for imposto situação ambiental adversa. Pois bem, a cada dia que a ouvimos e debatemos com o chamado "bem estar animal", vejo principalmente este ano, com o extremo da temperatura, principalmente as raças de origem européia "sufocadas". Com a teoria de que teremos que conviver com o aquecimento global, parece-me que teremos que adotar medidas drásticas quanto essa situação, na qual nossos animais fortemente aptos a produzirem leite, acabem reduzindo drasticamente sua produção em função do ambiente. Pergunto-lhes, além de todo o manejo indispensável para a diminuição do estresse térmico, qual seria a melhor opção hoje neste sentido? O fator genética vai bem, obrigado, mas e a questão estresse térmico, proporcionado pelo ambiente, nos deixará desnudos ou haverá uma saída?Obrigado pelo espaço, desejando-lhes um cordial abraço!
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