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A importância da interação genótipo-ambiente na bovinocultura leiteira - Parte II

No artigo anterior foram comentadas as situações em que há interação genótipo-ambiente e a sua respectiva importância na produção animal. Dando sequência ao assunto, trataremos agora de como ela é estudada, mencionando alguns artigos encontrados na literatura nacional e internacional.

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No artigo anterior foram comentadas as situações em que há interação genótipo-ambiente e a sua respectiva importância na produção animal. Dando sequência ao assunto, trataremos agora de como ela é estudada, mencionando alguns artigos encontrados na literatura nacional e internacional.

Falconer (1952) propôs a utilização da correlação genética para descrever a interação genótipo-ambiente ao determinar a mensuração da mesma característica em dois ambientes com características distintas, como por exemplo, quando o sêmen de um reprodutor de um país é exportado para outro país. Diferenças extremas de ambiente podem afetar a expressão dos valores genotípicos, produzindo correlação genética significativamente diferente da unidade.

Estudos consideram que a interação genótipo-ambiente tem importância quando a correlação genética é menor que 0,80. Quando a correlação genética para a mesma característica avaliada em dois ambientes é significativamente pequena, sugere-se que a classificação dos animais baseada nos valores genéticos preditos para cada ambiente pode não ser a mesma. Outro tipo de interação ocorre quando a correlação genética é alta, porém a magnitude das diferenças entre os valores genéticos dos animais é diferente entre ambientes, sendo a heterogeneidade de variâncias indicada como causa desta forma de interação genótipo-ambiente.

Para a produção de leite, os animais da raça holandesa apresentam genótipo para maior potencial produtivo, porém, esse potencial só é alcançado em boas condições de manejo. Nas propriedades em que o manejo não é favorável, esse potencial fica aquém do esperado, sendo os animais mestiços ou até mesmo zebuínos (ex. Gir Leiteiro) mais produtivos em tais condições. Outra relação importante envolvendo genótipo e ambiente surge quando há tratamento diferenciado dado a determinados indivíduos, ou genótipos, como por exemplo, de vacas leiteiras de alta produção que recebem suplementação alimentar de concentrados em função do nível de produção.
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Para esclarecer a questão da interação genótipo-ambiente em gado leiteiro, e sua importância, numerosos trabalhos de pesquisa têm sido realizados, estimando a correlação genética entre o desempenho das filhas de um mesmo reprodutor em diferentes condições de ambiente. Os valores encontrados para as estimativas dos coeficientes de correlação genética, nos trabalhos mais recentes, podem ser visualizados na Tabela 2, abaixo:
Tabela 2. Correlações genéticas (rg) para valores genéticos de touros em diferentes ambientes.

Figura 1

Tomando-se como referência o valor de 0,80 para as estimativas de correlação genética dos estudos da tabela acima, mudanças significativas na classificação entre os valores genéticos dos touros entre os ambientes citados devem ter ocorrido. Certamente as práticas de manejo e alimentação são mais semelhantes entre regiões ou grupos de rebanhos em um país que entre países. É também esperado que tais práticas sejam mais similares entre países da região temperada que entre países de regiões temperadas e tropicais. A expressão das diferenças genéticas entre reprodutores serão maiores onde as condições de ambientes são mais favoráveis para a expressão fenotípica do potencial leiteiro. Desse modo, o ambiente tropical pode limitar o desenvolvimento e desempenho produtivo de bovinos das raças leiteiras especializadas.

Quando se observa a interação entre diferentes grupos genéticos e níveis de manejo, percebe-se que a mesma é significativa para a maioria das características estudadas (Tabela 3). Os grupos 1/4, 1/2 e 5/8 apresentaram baixa resposta em produção de leite; os grupos 3/4 e 7/8 aumentaram substancialmente a produção de leite e exibiram alterações moderadas na duração da lactação. O grupo Holandês (HF) apresentou maiores diferenças em produção de leite e duração da lactação. Os 1/2 geralmente apresentam maior produção de leite, mas essa vantagem diminui em relação aos grupos com maior porcentagem de genes europeus com a melhoria do manejo.

Assim, a heterose parece ser mais importante em condições mais estressantes.

Tabela 3. Características de primeira lactação de animais de seis grupos genéticos, originados de cruzamentos Holandês:Zebu, em fazendas classificadas em dois níveis de manejo.

Figura 2

Assim, ao selecionar o reprodutor a ser utilizado no rebanho, o produtor deve considerar as condições de ambiente que os animais gerados terão durante sua vida produtiva, uma vez que se isso não for ponderado suas expectativas de aumento de produção podem ser frustradas.

Dessa forma, tanto o ambiente como o genótipo têm papel importante na manifestação fenotípica da característica. De nada vale o genótipo superior (obtido no ambiente favorável) quando o ambiente de criação das filhas é desfavorável, como também não adianta melhorar o ambiente se o genótipo não é adequado. Por isso, a necessidade de se conduzir os programas de melhoramento nas condições mais próximas possíveis das quais os descendentes encontrarão para o seu crescimento e desenvolvimento.

Referências:

CORRÊA, M.B.B.; DIONELLO, N.J.L; CARDOSO, F.F. R. BRAS. AGROCIÊNCIA, v.13, n.2, p.153-159, 2007.
COSTA, C.N. Interação genotipo/ambiente. In.: VALENTE, J.; DURÃES, M.C.; MARTINEZ, M.L.; TEIXEIRA, M.N. Melhoramento genético de bovinos de leite. Juiz de Fora: EMBRAPA, 2001, Cap 9. p. 151-179.
KONIG, S., DIETL, G., RAEDER,I. et al., J. Dairy Sci. v. 88, p.4087-4096, 2005.
MADALENA, F.E., LEMOS, A.M., TEODORO, R. L. et al., J Dairy Sci. v.73, p.1872-1886, 1990.
RORATO, P.R.N., VERNEQUE, R.S., MARTINEZ, M.L. et al., Ciência Rural, v. 29, n. 4, p. 717-720, 1998.
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Material escrito por:

Aline Zampar

Aline Zampar

Zootecnista, Mestre em Zootecnia (FZEA/USP) e Doutora em Ciência Animal e Pastagens (ESALQ/USP), na área de Melhoramento Genético de Bovinos de Leite. Atualmente, professora adjunta da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), em Chapecó (SC)

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Gerson Barreto Mourão

Gerson Barreto Mourão

Professor de Genética e Melhoramento Animal na ESALQ/USP. Publicou mais 80 artigos científicos. É editor associado da Scientia Agricola, da revista Visão Agrícola e bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq

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Gerson Barreto Mourão
GERSON BARRETO MOURÃO

PIRACICABA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 08/02/2010

Prezados Hildebrando de Campos Bicudo e Tiago Moraes Ferreira,

Suas observações são bem importantes, além de pertinentes.
No entanto, quando discutimos cruzamentos, não existe a raça que contribuiu mais ou menos na obtenção do mestiço, e sim, quais qualidades estes podem agregar ao combinado genético que se está produzindo.
Sendo assim, a medida que as raças puras, como a Gir, são melhoradas, o resultado dos cruzamentos também são alterados no mesmo sentido.
E mais, a raça Girolando por exemplo, que advem de cruzamentos das raças Gir e Zebu, tem e continuará se beneficiando destes processos, à medida que for mantida com a identificação e introdução de animais melhoradores em sua população.
Atenciosamente,

Prof. Gerson
caioguimaraesribeiro
CAIOGUIMARAESRIBEIRO

VARGINHA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 30/01/2010

gostaria de saber se o touro quando está com brucelose transmite a doença para as vacas com quem ele tem relação sexual?
Tiago Moraes Ferreira
TIAGO MORAES FERREIRA

UBERLÂNDIA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 14/01/2010

Hoje a realidade é outra os animais da raça Girolando tem uma base leiteira muito mais consistente. Por isso que eu acredito na raça e tenho certeza que será a próxima " bola da vez".

Um abraço Corinthiano.
Hildebrando de Campos Bicudo
HILDEBRANDO DE CAMPOS BICUDO

ARCEBURGO - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 13/01/2010

Eu gostaria apenas de fazer uma observação, apesar da importância do inegavel trabalho do Prof. Madalena, ele foi feito a 15 anos atras, quando se usava boi sem provas para fazer o girolando, e a volta para o Gir ou Zebú era chamada geração do sacrificio.Acredito que se repetido o mesmo experimento hoje com touros Gir leiteiro provados o resultado poderia ser bem diferente.
Qual a sua dúvida hoje?

A importância da interação genótipo-ambiente na bovinocultura leiteira - Parte II

No artigo anterior foram comentadas as situações em que há interação genótipo-ambiente e a sua respectiva importância na produção animal. Dando sequência ao assunto, trataremos agora de como ela é estudada, mencionando alguns artigos encontrados na literatura nacional e internacional.

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No artigo anterior foram comentadas as situações em que há interação genótipo-ambiente e a sua respectiva importância na produção animal. Dando sequência ao assunto, trataremos agora de como ela é estudada, mencionando alguns artigos encontrados na literatura nacional e internacional.

Falconer (1952) propôs a utilização da correlação genética para descrever a interação genótipo-ambiente ao determinar a mensuração da mesma característica em dois ambientes com características distintas, como por exemplo, quando o sêmen de um reprodutor de um país é exportado para outro país. Diferenças extremas de ambiente podem afetar a expressão dos valores genotípicos, produzindo correlação genética significativamente diferente da unidade.

Estudos consideram que a interação genótipo-ambiente tem importância quando a correlação genética é menor que 0,80. Quando a correlação genética para a mesma característica avaliada em dois ambientes é significativamente pequena, sugere-se que a classificação dos animais baseada nos valores genéticos preditos para cada ambiente pode não ser a mesma. Outro tipo de interação ocorre quando a correlação genética é alta, porém a magnitude das diferenças entre os valores genéticos dos animais é diferente entre ambientes, sendo a heterogeneidade de variâncias indicada como causa desta forma de interação genótipo-ambiente.

Para a produção de leite, os animais da raça holandesa apresentam genótipo para maior potencial produtivo, porém, esse potencial só é alcançado em boas condições de manejo. Nas propriedades em que o manejo não é favorável, esse potencial fica aquém do esperado, sendo os animais mestiços ou até mesmo zebuínos (ex. Gir Leiteiro) mais produtivos em tais condições. Outra relação importante envolvendo genótipo e ambiente surge quando há tratamento diferenciado dado a determinados indivíduos, ou genótipos, como por exemplo, de vacas leiteiras de alta produção que recebem suplementação alimentar de concentrados em função do nível de produção.
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Para esclarecer a questão da interação genótipo-ambiente em gado leiteiro, e sua importância, numerosos trabalhos de pesquisa têm sido realizados, estimando a correlação genética entre o desempenho das filhas de um mesmo reprodutor em diferentes condições de ambiente. Os valores encontrados para as estimativas dos coeficientes de correlação genética, nos trabalhos mais recentes, podem ser visualizados na Tabela 2, abaixo:
Tabela 2. Correlações genéticas (rg) para valores genéticos de touros em diferentes ambientes.

Figura 1

Tomando-se como referência o valor de 0,80 para as estimativas de correlação genética dos estudos da tabela acima, mudanças significativas na classificação entre os valores genéticos dos touros entre os ambientes citados devem ter ocorrido. Certamente as práticas de manejo e alimentação são mais semelhantes entre regiões ou grupos de rebanhos em um país que entre países. É também esperado que tais práticas sejam mais similares entre países da região temperada que entre países de regiões temperadas e tropicais. A expressão das diferenças genéticas entre reprodutores serão maiores onde as condições de ambientes são mais favoráveis para a expressão fenotípica do potencial leiteiro. Desse modo, o ambiente tropical pode limitar o desenvolvimento e desempenho produtivo de bovinos das raças leiteiras especializadas.

Quando se observa a interação entre diferentes grupos genéticos e níveis de manejo, percebe-se que a mesma é significativa para a maioria das características estudadas (Tabela 3). Os grupos 1/4, 1/2 e 5/8 apresentaram baixa resposta em produção de leite; os grupos 3/4 e 7/8 aumentaram substancialmente a produção de leite e exibiram alterações moderadas na duração da lactação. O grupo Holandês (HF) apresentou maiores diferenças em produção de leite e duração da lactação. Os 1/2 geralmente apresentam maior produção de leite, mas essa vantagem diminui em relação aos grupos com maior porcentagem de genes europeus com a melhoria do manejo.

Assim, a heterose parece ser mais importante em condições mais estressantes.

Tabela 3. Características de primeira lactação de animais de seis grupos genéticos, originados de cruzamentos Holandês:Zebu, em fazendas classificadas em dois níveis de manejo.

Figura 2

Assim, ao selecionar o reprodutor a ser utilizado no rebanho, o produtor deve considerar as condições de ambiente que os animais gerados terão durante sua vida produtiva, uma vez que se isso não for ponderado suas expectativas de aumento de produção podem ser frustradas.

Dessa forma, tanto o ambiente como o genótipo têm papel importante na manifestação fenotípica da característica. De nada vale o genótipo superior (obtido no ambiente favorável) quando o ambiente de criação das filhas é desfavorável, como também não adianta melhorar o ambiente se o genótipo não é adequado. Por isso, a necessidade de se conduzir os programas de melhoramento nas condições mais próximas possíveis das quais os descendentes encontrarão para o seu crescimento e desenvolvimento.

Referências:

CORRÊA, M.B.B.; DIONELLO, N.J.L; CARDOSO, F.F. R. BRAS. AGROCIÊNCIA, v.13, n.2, p.153-159, 2007.
COSTA, C.N. Interação genotipo/ambiente. In.: VALENTE, J.; DURÃES, M.C.; MARTINEZ, M.L.; TEIXEIRA, M.N. Melhoramento genético de bovinos de leite. Juiz de Fora: EMBRAPA, 2001, Cap 9. p. 151-179.
KONIG, S., DIETL, G., RAEDER,I. et al., J. Dairy Sci. v. 88, p.4087-4096, 2005.
MADALENA, F.E., LEMOS, A.M., TEODORO, R. L. et al., J Dairy Sci. v.73, p.1872-1886, 1990.
RORATO, P.R.N., VERNEQUE, R.S., MARTINEZ, M.L. et al., Ciência Rural, v. 29, n. 4, p. 717-720, 1998.
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Zootecnista, Mestre em Zootecnia (FZEA/USP) e Doutora em Ciência Animal e Pastagens (ESALQ/USP), na área de Melhoramento Genético de Bovinos de Leite. Atualmente, professora adjunta da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), em Chapecó (SC)

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Gerson Barreto Mourão

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Professor de Genética e Melhoramento Animal na ESALQ/USP. Publicou mais 80 artigos científicos. É editor associado da Scientia Agricola, da revista Visão Agrícola e bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq

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Gerson Barreto Mourão
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PIRACICABA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 08/02/2010

Prezados Hildebrando de Campos Bicudo e Tiago Moraes Ferreira,

Suas observações são bem importantes, além de pertinentes.
No entanto, quando discutimos cruzamentos, não existe a raça que contribuiu mais ou menos na obtenção do mestiço, e sim, quais qualidades estes podem agregar ao combinado genético que se está produzindo.
Sendo assim, a medida que as raças puras, como a Gir, são melhoradas, o resultado dos cruzamentos também são alterados no mesmo sentido.
E mais, a raça Girolando por exemplo, que advem de cruzamentos das raças Gir e Zebu, tem e continuará se beneficiando destes processos, à medida que for mantida com a identificação e introdução de animais melhoradores em sua população.
Atenciosamente,

Prof. Gerson
caioguimaraesribeiro
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VARGINHA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 30/01/2010

gostaria de saber se o touro quando está com brucelose transmite a doença para as vacas com quem ele tem relação sexual?
Tiago Moraes Ferreira
TIAGO MORAES FERREIRA

UBERLÂNDIA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 14/01/2010

Hoje a realidade é outra os animais da raça Girolando tem uma base leiteira muito mais consistente. Por isso que eu acredito na raça e tenho certeza que será a próxima " bola da vez".

Um abraço Corinthiano.
Hildebrando de Campos Bicudo
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EM 13/01/2010

Eu gostaria apenas de fazer uma observação, apesar da importância do inegavel trabalho do Prof. Madalena, ele foi feito a 15 anos atras, quando se usava boi sem provas para fazer o girolando, e a volta para o Gir ou Zebú era chamada geração do sacrificio.Acredito que se repetido o mesmo experimento hoje com touros Gir leiteiro provados o resultado poderia ser bem diferente.
Qual a sua dúvida hoje?