Além da baixa produtividade, para tratar do problema muitas vezes tem-se a necessidade da utilização de medicamentos, os quais levam ao descarte do leite dos animais doentes, e, menor vida útil da vaca. As lesões levam, inclusive, a redução da taxa reprodutiva das vacas doentes, uma vez que as mesmas permanecem mais tempo em balanço energético negativo que as demais no período pós-parto, em que o animal está gastando mais energia para a produção de leite, e não consegue ingerir a quantidade de alimento suficiente para repor este gasto. Assim, não conseguem voltar ao escore corporal adequado para reiniciar o ciclo reprodutivo no mesmo tempo das demais, aumentando o intervalo entre partos.
Os sistemas de produção estabulados, ou seja, intensivos, são os que mais sofrem com o problema, uma vez que as afecções estão diretamente ligadas ao fornecimento de alimentos concentrados, como no caso da laminite (em decorrência da acidose láctica ruminal), mas, sobretudo, com o tipo de piso em que ficam, na maioria abrasivos, que ferem os cascos. A maior incidência se dá justamente em estabulações com grande quantidade de material orgânico acumulado, umidade excessiva e, portanto, higiene precária.
A maioria dos galpões para alojamento das vacas leiteiras possuem piso de concreto, por ser mais barato, de fácil higienização e fornecer maior estabilidade para os animais; no entanto, são suficientemente abrasivos para o casco. Alguns criadores optam por colocar pisos emborrachados, os quais não são duros e abrasivos como o concreto, reduzindo as lesões no casco; porém, se tornam mais difíceis de serem limpos, e dificultam a locomoção dos animais, especialmente durante a limpeza, quando tornam-se extremamente escorregadios com água. Recomenda-se, em qualquer tipo de piso, que o mesmo seja limpo e que os animais só retornem quando ele esteja seco.
O problema pode ser visto em sistemas semi-intensivos ou até mesmo extensivos, em que o deslocamento dos animais por terrenos pedregosos e íngremes,ou com muito barro, favorece o desenvolvimento das lesões, especialmente se os aprumos dos membros locomotores, mais especificamente do casco, não estiverem corretos.
Existe uma predisposição genética que favorece as afecções em animais mais especializados para produção leiteira, e de raças taurinas. A raça holandesa é a mais acometida dentre todas, sendo seguida pelas raças Jersey, Pardo Suíço e, com menor prevalência, a raça Girolanda. Em estudo feito por Souza et al (2006) observou-se prevalência de 55% em vacas holandesas e Dias Junior et al. (2010) verificaram 18% de vacas Girolandas com as afecções podais. Os relatos de altos índices relacionados a raça holandesa também foram realizados por Smits et al. (1992), com 83,1% de animais acometidos na Holanda e Vermunt e Greenough (1996) com 77% de animais doentes, ambos citados por Sturion et al. Cerca de 70% das afecções se localizam nos membros pélvicos, ou posteriores, e em vacas adultas prenhes ou em lactação. Dificilmente bezerros são acometidos, mas todas as faixas etárias podem apresentam o problema.
Muitas propriedades adotam, com relativa eficiência, os pedilúvios preventivos de infecções podais. Neste caso, é importante colocar um lava-pés, com água, na entrada da sala de ordenha, o qual tem o objetivo de remover as sujidades dos pés dos animais, melhorando a higiene do local, e posicionar um pedilúvio na saída da sala de ordenha, este sim, com substâncias antissépticas para reduzir os microorganismos no casco.
É importante que este pedilúvio fique na saída para que os produtos adicionados não corroam os utensílios da sala de ordenha, tampouco contaminem o leite ordenhado. A construção do pedilúvio, segundo Borges e Garcia (2002) deve ser de 2,0 a 2,5 m de comprimento e largura de 0,7 m, com profundidade de 0,3m. A lâmina d'água deve ter a altura de 0,15m, ou seja, não deve ultraar a coroa do casco dos animais. O fundo deve ser de superfície rugosa, e tanto a saída quanto a entrada do pedilúvio devem ter inclinação de 10 a 20°graus. As substâncias mais utilizadas são o formol e o sulfato de cobre. O formol, utilizado na proporção de 2 a 5%, age matando as bactérias e tornando o casco mais endurecido, dando maior resistência. O sulfato de cobre é um excelente germicida, sendo utilizado na porcentagem de 3%. A utilização de ambos, em dias alternados, seria o ideal.
Recomenda-se a realização de casqueamento periódico dos animais, para remover excessos de tecidos córneos do casco, o que obriga os animais a pisarem de maneira incorreta, lesionando as estruturas do casco. Este procedimento normalmente deve ser realizado a cada seis meses, tanto em vacas com lesões no casco, e pode-se aproveitar para fazer o tratamento das lesões, quanto em animais sadios, para a correção dos aprumos. Assim, haverá redução na incidência das afecções podais pelo desequilíbrio no apoio. Em boa parte das afecções podais, tem-se a necessidade da intervenção cirúrgica da lesão, procedimento este que deve ser feito por um médico veterinário, pois somente ele pode avaliar cada caso para saber qual o tratamento correto.
Um estudo realizado por Silva et al (2009) aponta um medicamento fitoterápico, o barbatimão, como poderoso cicatrizante das lesões podais. No experimento, foram realizadas intervenções cirúrgicas em bovinos nelores com dermatite interdigital, divididos em três grupos, e para cicatrização pós-cirúrgica foi utilizado o barbatimão como extrato da casca da planta em um grupo, e em outro grupo, a mesma planta utilizada como unguento; o terceiro grupo foi tratado somente com limpeza dos cascos em água.
Os dois grupos que receberam barbatimão tiveram recuperação de 72,5% com extrato da planta e 67,5% como unguento, respectivamente; o grupo que não utilizou barbatimão teve recuperação somente de 12,5% dos animais, demonstrando diferença estatística, ou seja, o barbatimão realmente contribuiu para a cicatrização dos tecidos. Não houve diferença estatística entre os grupos que utilizaram barbatimão, mas aparentemente o produto na forma de extrato tem melhor poder de ação, o que indica que possivelmente ele possa ter boa ação também como pedilúvio, o que tornaria sua aplicação mais fácil em animais com lesões o casco já tratadas, ou de pequena dimensão. Sua ação está ligada a alta quantidade de taninos presentes na planta, que é uma substância adstringente, reduzindo a quantidade de água no local, favorecendo a cicatrização da ferida. É importante lembrar que a planta está associada a intoxicações em bovinos, quando ingerida em grandes quantidades.
Deve-se lembrar que o manejo alimentar deve ser feito de maneira correta para minimizar o aparecimento de acido ruminal subaguda, a qual é responsável pelo alto índice de laminite. Para obter maiores informações sobre este manejo alimentar, consultar o artigo "Acidose láctica ruminal subaguda e as perdas na produção de tempo", nesta mesma sessão (Sanidade - Milkpoint).
Para finalizar, de nada adianta tratar os animais doentes se não houver uma adequação da propriedade para reduzir as afecções. Para isto, deve-se ajustar o manejo, tanto alimentar quanto de casqueamento e limpeza do piso, bem como proceder a instalação de pedilúvio para reduzir a incidência da doença.

Figura 1: úlcera de talão, frequente na unha lateral de membros pélvicos de vacas leiteiras. Fonte: Arquivo pessoal

Figura 2: Barbatimão, utilizado como cicatrizante. Fonte: http://bit.ly/e0dLJw
Referências:
BORGES, J.R.J.; GARCIA, M. Guia Bayer de podologia bovina. 2002. Disponível em: http://www. mgar.com.br/podologia/default.asp o em 18 de março de 2011.
DIAS JUNIOR, J.C.P.; HELAYEL, M.A.; NASCIMENTO, F.G. 2010. Frequencia e etiologia de afecções podais em bovinos mestiços de diferentes idades no município de Rio Preto-MG. Disponível em: < http://www.inicepg.univap.br/cd/INIC_2009/anais/arquivos/RE_1121_1390_01.pdf> o em 18 de março de 2011.
SILVA, L.A.F.; MOURA, M.I. et al. Extrato da casca do barbatimão (Stryphnodendron barbatiman Martius) associado ao tratamento cirúrgico e toalete dos cascos na recuperação de bovinos da raça nelore com dermatite digital. Ciência Animal Brasileira. Suppl 1., p.373-378, 2009.
SOUZA, R.C.; FERREIRA, P.M. et al. Perdas econômicas ocasionadas por afecções podais em vacas leiteiras confinadas em sistema Free-stall. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia. v.58, n.6, p. 982-987, 2006.
STURION, D.J.; STURION, M.A.T.; OKANO, W.; COELHO, L.F.C.; STURION, T.T. Tratamento de úlceras de sola em 30 bovinos. Dusponível em: < http://www.cienciaanimal.com.br/VD0024.htm> o em 18 de março de 2011.