A produção leiteira é marcada por uma dedicação infindável. O que mais se ouve falar é que tirar leite é “de sol a sol”. Não existe final de semana, feriado e quem dirá, férias. A rotina de devoção pela atividade é conhecida e acaba dificultando períodos mais prolongados de descanso.
Foi diante desse cenário que Enzo Samuel Jehle Vieira, de Porto Lucena, Rio Grande do Sul, viu uma oportunidade de trabalho. Com apenas 20 anos, Enzo trabalha nas propriedades para que os produtores possam tirar férias. “Venho de uma família de Zona Urbana, mas eu visitava uma tia minha que tinha algumas vacas. Me lembro até hoje que eu ia ver ela tirar leite e ficava sentado em um banco de madeira do lado dela, até que com cinco anos ela permitiu que tivesse um primeiro contato e depois disso ei a tirar leite sempre. Depois disso, minha relação com o leite só cresceu”.
E foi após uma experiência ainda criança que Enzo teve a ideia do projeto “Férias do Produtor de Leite”. “Eu tinha cerca de 9 anos e já convivia com a família de um amigo de escola que tinha uma pequena propriedade leiteira com 26 vacas. Após 1 ano convivendo com a família desse colega, eles tiveram a confiança de me deixar sozinho com a sobrinha deles cuidando de 26 vacas, enquanto eles foram viajar. Na época, isso era bastante para uma criança de 9 anos. Os anos aram e todas as férias de verão eu continuei cobrindo as férias dessa família e um tempo depois ei a cobrir a de outros vizinhos também”.
Depois dessa experiência ainda jovem, Enzo ainda tentou a vida na maior cidade da região (Santa Rosa), mas não se adaptou. Com o retorno para Porto Lucena em janeiro de 2023, lançou o projeto como fonte de renda. “Decidi voltar a morar com meus pais e lançar o projeto que eu tinha desde os 9 anos quando cuidei da casa dos pais do meu colega. No início foi por falta de escolha, afinal tinha contas para pagar, então dei a cara a tapa. Em pouco tempo estava atendendo alguns produtores da região. Hoje, já cobri férias de mais de 30 propriedades nas mais diferentes cidades”.
O sucesso do projeto foi tanto, que Enzo pensa em expandir os negócios para a área de suinocultura e já contratou um funcionário que ajuda ele a cobrir as férias de mais propriedades, e os planos são de expandir os atendimentos para outro estado. “A meta para o próximo ano é chegar ao Paraná. Em Santa Catarina já tenho várias reservas feitas. A procura é grande, tenho poucas datas disponíveis para o mês de março”.
Essa terceirização de mão-de-obra rural já é uma realidade em países onde o problema da escassez de pessoas na área rural é ainda mais prevalente do que aqui. Também contribui para isso a necessidade ou interesse que os produtores têm de se ausentar da propriedade, seja por outros compromissos ou férias, trazendo mais qualidade de vida, algo fundamental quando se pensa também sob a ótica da sucessão familiar. De certa forma, o trabalho do Enzo e a ordenha robótica, para fazer uma analogia, têm motivações similares: melhor qualidade de vida para os envolvidos na atividade.
Lá fora, há empresas especializadas nesse trabalho, denominado de "Farm staff relief", um termo em inglês que se refere a serviços ou programas que fornecem assistência temporária para funcionários de fazendas ou propriedades rurais. Isso pode incluir a disponibilidade de trabalhadores temporários para ajudar durante períodos de pico, como durante a colheita, ou fornecer cobertura quando os funcionários regulares (ou os proprietários) estão ausentes devido a férias, doença ou outras razões. Esses serviços podem ser especialmente úteis para pequenas propriedades ou fazendas familiares que não têm pessoal em tempo integral para lidar com todas as necessidades sazonais.
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