Este conceito é falho, pois não considera a diferença de valor nutritivo entre forrageiras. Uma forrageira de baixa qualidade não induz uma resposta produtiva similar à de uma forrageira de alta qualidade e, portanto, necessitaria ter menor inclusão dietética quando da formulação de dietas idênticas nutricionalmente. A relação entre forragens e concentrados também não considera o processamento físico das forragens. O conceito não consegue diferenciar a resposta ao fornecimento de um feno com longo tamanho de partícula da resposta à mesma forrageira moída finamente, por exemplo. Outra falha seria a não consideração da natureza dos concentrados. Concentrados ricos em subprodutos fibrosos não são idênticos a concentrados ricos em amido ou outro carboidrato de degradação rápida no rúmen.
O balanceamento de carboidratos evoluiu para o uso da Fibra em Detergente Neutro (FDN) e dos Carboidratos não Fibrosos (CNF) na formulação. A FDN representa todo o carboidrato dietético de degradação lenta e que ocupa espaço no rúmen. Quimicamente é representada majoritariamente por hemicelulose, celulose e lignina. A Fibra em Detergente Ácido (FDA) seria a FDN subtraída da hemicelulose. O teor dietético de FDA tem pouco valor prático na formulação de dietas, tendo valor na predição do conteúdo de energia de forrageiras.
Os ruminantes requerem um teor mínimo de FDN na dieta para manter a fisiologia ruminal e a saúde do animal. Em dietas formuladas com concentrados ricos em amido e com farelo de soja se recomenda no mínimo 250 gramas de FDN total (a soma da FDN oriunda de forragens com a FDN oriunda de concentrados) por kg de matéria seca dietética, desde que a dieta contenha no mínimo 190 gramas de FDN oriundo de forragens por kg de matéria seca (FDNF). Esta recomendação foi originalmente proposta pelo NRC (1989) e foi mantida no NRC (2001). Entretanto, dietas formuladas com concentrados ricos em fibra poderiam ter menor conteúdo de FDNF, pois a fibra nos concentrados tem cerca de 50% da efetividade da fibra em forrageiras (Armentano & Pereira. 1997. Journal of Dairy Science 80:1416). Baseado em uma revisão da literatura utilizo o fator de efetividade 0,45 para toda FDN oriunda de concentrados, 1 para caroço de algodão e boas forragens e fatores variando de 1 a 1,2 para forrageiras muito fibrosas e com longo tamanho de partícula.
Considero que dietas com conteúdo de FDN efetiva (eFDN) acima de 22% da matéria seca e com pelo menos 16% de FDNF são adequadas para manter a saúde de vacas de alta produção. A origem do número 22 é muito mais prática do que científica. Dietas com 25% de FDN total e 19% de FDNF têm sido utilizadas com sucesso por anos. Considerando que o fator de efetividade da FDN nas forrageiras é 1 e em concentrados seu valor é 0,5, esta dieta contém exatamente 22% de eFDN. (19 x 1) + [(25-19) x 0,5] = 22. No exemplo abaixo está o exemplo de duas dietas que atendem a exigência mínima de eFDN.

O controle da porcentagem de FDNF é uma maneira não perfeita, mas prática, de balanceamento do tamanho de partícula da dieta. Este conceito seria teoricamente melhor representado por um balanceamento pela efetividade física da fibra (Armentano & Pereira, 1997). No entanto, o conceito da efetividade física não é utilizado na formulação, distintamente do conceito de eFDN. O balanceamento da fração fibrosa pode ser feito por fixação de uma exigência mínima de FDNF e de uma exigência, também mínima, da porcentagem de eFDN. A relação entre forragens e concentrados será aquela mais econômica na condição vigente de preços de forragens e concentrados fibrosos. Nem sempre a dieta de custo mínimo será aquela com a máxima inclusão de forrageiras. No entanto, se forragens de qualidade são produzidas a custo compatível, a formulação utilizando programação linear e objetivando custo mínimo por unidade de matéria seca, maximizará a porcentagem de forragens na dieta.
É preciso compreender que o ruminante é biologicamente eficiente em qualquer dieta rica em FDN, pois mamíferos não possuem as enzimas necessárias para a digestão de carboidratos fibrosos. A digestão da fibra sempre será uma função dos herbívoros, graças à existência da simbiose entre o animal e os microorganismos do trato digestivo. A disponibilidade de subprodutos fibrosos, resíduos da indústria de alimentos humanos, é enorme no planeta. Pode-se afirmar que esta é uma função da vaca na natureza, transformar resíduos alimentares industriais ricos em fibra em um dos alimentos mais nobres existentes, o leite. A decisão sobre a origem da fibra dietética, se proveniente de forragens ou de concentrados fibrosos, é puramente financeira.