O experimento foi conduzido na fazenda escola das Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU), durante o 3º Concurso Leiteiro Natural, realizado em agosto de 2015. Foram avaliadas 17 vacas zebuínas Puro de Origem (PO), com lactação entre 30 e 120 dias. Na categoria vaca jovem ficaram compreendidos os animais entre 36 e 48 meses de idade, e na categoria vaca adulta aqueles com mais de 48 meses de idade.
O período total do experimento foi de 20 dias sendo, 15 dias de adaptação e 5 dias de concurso efetivo. As matrizes foram mantidas em piquetes com fornecimento de silagem de milho e feno de tifton, como volumoso suplementar. Durante o experimento, elas receberam concentrado comercial, específico para vacas em lactação, na razão de um quilo de concentrado para cada três quilos de leite produzido.
As vacas foram ordenhadas duas vezes ao dia, às 6h e 18h, sendo realizadas as pesagens de 10 ordenhas manuais. O leite ou por análise de células somáticas, gordura, proteína, SNG (sólidos não gordurosos), lactose e sais. Também foi realizada a genotipagem dos animais para a determinação dos alelos A1 e A2.
A colheita de amostras para análise do polimorfismo foi feita no primeiro dia do experimento, por meio da retirada dos pelos da vassoura da cauda do animal, os quais foram colocados em envelopes, identificados e armazenado em temperatura ambiente até o envio para o laboratório responsável, para a extração do DNA.
Dos 17 animais avaliados, 7 apresentaram heterozigose (A1A2), enquanto que a maioria (10 animais) apresentou homozigose para o alelo A2. Dentro do grupo dos animais com genótipo A1A2, 3 animais pertenciam à categoria vaca adulta e 4 animais pertenciam à categoria vaca jovem. No grupo dos animais homozigotos, com genótipo A2A2, foram 6 e 4 animais, respectivamente. Olensky et al (2010) afirmam que antes da eliminação do alelo A1 em um rebanho, realizada pela seleção de animais, pesquisas deverão ser desenvolvidas para determinar as influências sobre as características de desempenho e qualidade do leite. A frequência do alelo A1 pode variar em diferentes raças, sendo que algumas delas têm uma predisposição menor para este alelo, predominando assim o alelo A2. Os dados referentes ao desempenho e composição do leite estão apresentados na Tab. 1.
Foi observada interação significativa entre categoria e genótipo para todas as características avaliadas. No grupo das vacas jovens, não foi observada diferença estatística quanto à produção de leite (P>0,05) entre os animais A1A2 e A2A2, porém, os mesmos animais apresentaram maior percentual de gordura (P=0,0129), de proteína (P=0,0642), de lactose (P=0,0945) e de sais (P=0,0738), resultando em percentual de SNG (P= 0,0791).
Tabela 1 - Variáveis analisadas dentro do desdobramento de vaca jovem e vaca adulta.
Nilsen et al. (2009) analisaram a associações da beta caseína A2 com a produção de leite. Uma das conclusões deste experimento foi que o alelo variante da proteína A2 é um marcador efetivo para rendimento de proteína no leite. Os autores sugeriram que essa possibilidade foi decorrente da seleção de tais animais para produção. Estudos atuais afirmam que a diminuição da frequência do alelo A1 na população não vai diminuir a produção de leite. O efeito do alelo A2 sobre a produção de proteína parece acontecer sem distinção de raça.
O efeito do alelo A2 foi economicamente avaliado por Kearney et al. (2005), usando touros com o genótipo A2A2, por meio da inseminação artificial. Os autores encontraram bons resultados sobre a produção e qualidade do leite, levando a um valor agregado de £ 160 (libras) a mais de uma vaca A2A2 comparada com uma não A2A2.
No grupo das vacas adultas, foi observada diferença significativa para as variáveis produção de leite (P=0,0234) e tempo de ordenha (P=0,051). Nesse caso, os animais A1A2 produziram mais leite (P=0,0234) que os animais A2A2 resultando em maior tempo de ordenha. Tais resultados divergiram dos encontrados por Ikonen et al. (2001), que observaram maior produção de leite para o genótipo A2A2.
Os resultados de correlação entre as variáveis produtivas estão expostos na Tab. 2. Foi observada correlação significativa (P<0,05), positiva e de alta magnitude (0,67311) entre gordura e proteína, concordando com os resultados observados por Peres (2001), já que o autor afirmou que o percentual de proteína do leite está positivamente correlacionado com o percentual de gordura. Alves Filho (2005) relatou que alterações no teor de gordura podem informar sobre a fermentação no rúmen, as condições de saúde da vaca e o funcionamento do manejo alimentar. Por exemplo, e, por consequência, o teor de proteína também é afetado, mas, em menor grau, enquanto que o teor de lactose é o menos influenciado.
De maneira incomum, foi observada correlação significativa (P<0,05), positiva e de alta magnitude entre lactose e os sólidos gordura e proteína apresentando coeficientes de correlação de 0,63315 e 0,9978, respectivamente. De acordo com Peres (2001) a lactose apresenta baixíssima amplitude de variação, o que se deve ao fato de a lactose estar relacionada à regulação de pressão osmótica na glândula mamária.
Os resultados do presente experimento diferem daqueles encontrados por Ribeiro et al (2009) que avaliando ordem de parto com qualidade do leite, não observaram diferença significativa (p>0,05) no teor de proteína das matrizes com ordem de parto diferente. Porém, os teores de proteína foram superiores (p<0,05) e não houve diferença significativa (p>0,05) no teor de lactose das matrizes Gir com diferentes ordens de parto.
Tabela 2 – Coeficientes de correlação de Pearson entre variáveis de qualidade do leite, produção e tempo de ordenha.
Conclusão
Os animais jovens A2A2 apresentaram tendência em produzir leite com maiores teores de gordura e proteína - sólidos esses diretamente relacionados com rendimento industrial. Novos estudos sobre o polimorfismo A1/A2 deverão ser realizados com o objetivo de avaliar o seu efeito sobre parâmetros produtivos antes de efetivá-lo como marcador em programas de seleção genética.
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