A produção a pasto representa uma importante parcela dentre os sistemas utilizados pelos produtores de leite brasileiros para a produção de leite. Esse sistema também possui benefícios para a saúde dos cascos por oferecer solo não abrasivo e maior bem-estar aos animais.
Contudo, um dos desafios presentes em algumas propriedades que adotam este sistema é o caminho a ser percorrido pelos animais do piquete até a sala de ordenha pelo menos duas vezes ao dia (ida e volta), de forma que um período considerável do dia das vacas seja despendido para se locomover entre estes dois pontos.
Além de restringir o tempo de descanso, alimentação e ruminação destes animais, a longa caminhada aumenta os riscos de lesão de cascos e outras doenças relacionadas a eles, fator diretamente relacionado à diminuição do bem estar destes animais no sistema de produção.
Em adição, o risco de lesões de casco não está associado somente à longitude, mas também à via que os animais vão transitar: se é cimentada, asfaltada ou possui pedregulhos, que são ainda mais prejudiciais. Ou seja: os potenciais benefícios relacionados à saúde dos cascos e bem-estar animal proporcionados pelo sistema a pasto não são totalmente usufruídos nestes casos.
Um estudo mostrou que o aumento da distância percorrida pelas vacas aumentou o tempo pastando, diminuiu o tempo ruminando e não alterou o tempo de descanso dos animais. Essas observações indicam que provavelmente o maior tempo gasto no pastejo acontece devido a maior necessidade energética para realizar o longo trajeto.
O dado mais interessante é que o aumento da distância percorrida não afetou a produção de leite, porém, o aumento do tempo longe do piquete levou a diminuição da produção de leite pelos animais e a diminuição do tempo de descanso.
Portanto, este estudo sinaliza uma relação importante entre a distância percorrida até o local da ordenha, o período longe do pasto e o comportamento apresentado pelos animais. Dessa forma, o estudo aponta a importância em diminuir a distância caminhada pelos animais diariamente e o tempo despendido para realizar a ordenha, e, portanto, o tempo das vacas longe do pasto.
Este mesmo estudo mostrou que o uso de veículos para tocar os animais entre sala de ordenha e pasto aumentou as lesões de casco, pois animais apressados prestam menos atenção no caminho e não conseguem evitar os perigos presentes na via, como locais pontiagudos, buracos, entre outros. Apontou também o potencial prejuízo dos caminhos longos para o aumento da taxa de claudicação dos animais.
Outro ponto deve ser levado em consideração quando o assunto é aumento do risco de lesões nos cascos: o peso do úbere. Este fator está diretamente relacionado ao volume de leite presente na glândula mamária, cujo pico acontece em dois momentos: no período do dia de maior acúmulo de leite no úbere (momento prévio à ordenha), e no pico de lactação (período do ciclo produtivo de maior produção leiteira), que coincide com o pico de casos de claudicação nas propriedades.
Além disso, já foi identificado que quase 90% do peso do úbere é ado pelos membros pélvicos, que são os mais acometidos com lesão de casco. Ou seja, é exatamente no momento em que as vacas precisam se deslocar até a ordenha que o peso do úbere está maior, aumentando a sobrecarga nos membros e cascos, principalmente os pélvicos.
A propriedade deve ser planejada, portanto, de acordo com os manejos a serem conduzidos no local, levando em consideração a distância entre os piquetes usufruídos pelas vacas em lactação e a sala de ordenha.
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Referências
Distância caminhada pelos animais como um desafio na produção de leite à pasto: o longo caminho para a claudicação (https://research.wur.nl/en/publications/the-long-road-to-lameness-considering-walking-distance-as-a-chall)
Influência da distância caminhada e tempo longe do pasto no comportamento de vacas e na produção de leite em vacas a pasto (https://www.mdpi.com/2076-2615/11/10/2903/htm)