Introdução
O carcinoma de células escamosas (CCE) é um tumor maligno dos queratinócitos. Também conhecido como carcinoma de células espinhosas, carcinoma espinocelular ou carcinoma epidermóide.
Vários fatores estão associados ao desenvolvimento desta patologia, incluindo a exposição prolongada a luz ultravioleta, falta de pigmento na epiderme, perda de pêlos ou pouca cobertura de pêlos nos locais afetados. São neoplasias comuns em todas as espécies e podem ocorrer em animais jovens, mas a incidência aumenta com a idade.
Devido à condenações de carcaças em abatedouros, tratamentos e redução na vida reprodutiva, causam grandes perdas econômicas à pecuária. Uma vez que se origina do epitélio escamoso estratificado e tendo como célula de origem o ceratinócito, especialmente as áreas despigmentadas e/ou hipopigmentadas sofrem ação dos componentes ultravioleta presentes na luz solar associados a predisposição genética.
Epidemiologia
O tumor pode ocorrer em diferentes localizações e em diferentes espécies. Vários fatores ligados à raça, como o grau de pigmentação periocular e córneo escleral, podem favorecer o aparecimento dessa neoplasia. Lesões em focinho, orelha e vagina também são frequentes. Fatores ambientais, como a incidência de raios ultravioleta, são responsáveis pelo maior número de casos observados em baixas latitudes, onde há maior exposição direta aos raios solares. (ANDERSON & BADZIOCH, 1991;RADOSTITS, 2002; BLOWEY & WEAVER, 2006).
Nos equinos e bovinos os carcinomas de células escamosas ocorrem primariamente nas junções muco-cutâneas, particularmente nas pálpebras. Nas ovelhas as orelhas são os sÃtios mais afetados. As fêmeas são afetadas com maior frequência.
Metástases são raras e geralmente observadas em animais com tumores maiores. Nesses casos, êmbolos de células neoplásicas inicialmente atingem os linfonodos da cabeça antes de alcançarem à circulação sanguÃnea através do ducto torácico. Além dos linfonodos regionais (BLOWEY & WEAVER, 2006), metástases têm sido observadas nos pulmões, no coração, na pleura, no fÃgado e nos rins (CORDY,1990; DUBIELZIG, 2002). à comum a invasão de tecidos vizinhos, porém somente em alguns casos e somente no estágio terminal da doença ocorre metástase (RADOSTITS, 2002). A invasão intracraniana por carcinoma de células escamosas é raramente relatada (BARROS et al, 2006).
Sinais ClÃnicos
Inicia com uma dermatose solar, ocorrendo nas junções mucocutâneas ou na pele que está com pouco pêlo e sem pigmentação. Ocorre eritema, edema e descamação que são seguidos por formação de crostas e com subsequente ulceração. Conforme o tumor invade a derme, a área tumoral fica mais firme. Com o tempo as úlceras aumentam de tamanho e profundidade e as infecções bacterianas secundárias resultam em um exsudato purulento na superfÃcie da massa tumoral.
Inicialmente o carcinoma de células escamosas exibe uma hiperplasia dérmica, hiperqueratose, paraqueratose, acantose, aumento da rede dérmica e displasia dos queratinócitos. Os tumores podem ocorrer de duas formas: produtivos ou erosivos. Os produtivos possuem aspecto papilar de tamanho variável com semelhança a um couve-flor, normalmente com superfÃcie ulcerada e que sangram com facilidade. Os erosivos são os mais comuns e formados por úlceras cobertas com crostas, que se tornam profundas e formam crateras.
Figura 1 e 2 - CCE produtivo CCE com infecção e miÃase. Fotos de Luiz Mertens.
Diagnóstico
O diagnóstico deve ser realizado com base nas evidências clÃnicas e epidemiológicas relacionadas com esta neoplasia. O diagnóstico confirmatório é realizado por meio de biópsia e detalhado exame histopatológico de uma amostra adequada da lesão.
Tratamento e controle
O tratamento baseia-se na remoção cirúrgica da lesão com uma boa margem e quanto antes for feito o diagnóstico e cirurgia melhor a chance de preservar as estruturas. Quando o carcinoma é inicial e não é muito invasivo, pode-se optar também para a criocirurgia, que na maioria dos casos apresenta ótimos resultados, porém com um custo alto e profissional especializado.
Figura 3 e 4 - Enucleação do globo ocular afetado e pós cirúrgico 30 dias após a enucleação. Foto: Luiz Mertens.
Figura 5 e 6 - Remoção cirúrgica do Carcinoma Sutura da cirurgia, preservando as estrutura. Foto: Luiz Mertens.
Conclusão:
O carcinoma de células escamosas é um tumor que afeta todas as espécies e um dos mais comuns nos animais. Deve-se realizar o diagnóstico e tratamento o mais breve possÃvel devido o seu poder de invasão e tendências a infecções secundárias , afim de preservar as estruturas como olho, vagina, ânus, orelhas e focinhos. Devido a sua etiologia multifatorial requer estudos epidemiológicos, com o objetivo de determinar os diversos fatores que causam esse neoplasma.
E os seus animais? Já tiveram problema com essa enfermidade?
Referências Bibliográficas:
ANDERSON, D.E.; BADZIOCH M. Association between solar radiation and ocular squamous cell carcinoma in cattle. American Journal of Veterinary Research,v.52, p.784-788, 1991.
RADOSTITS, O. M., GAY, C. C., BLOOD, D. C., HINCHCLIFF, K. W. ClÃnica Veterinária: Um Tratado de Doenças dos Bovinos, Ovinos, Caprinos e Eqüinos. 9.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, p.1641-1642. 2002.
BLOWEY, R. W., WEAVER, A. D. Color atlas of diseases and disorders of cattle. 2.ed. Philadelphia: Elsevier, p.132-133. 2006.
CORDY, D.R. Tumors of nervous system and eye. In: MOULTON, D.J. Tumors of domestic animals. 3.ed. Berkeley; University of California, 1990. Cap.14, p.640-65.
BARROS, R. R., RECH, R. R., VIOTT, A. M. BARROS, C. S. L. Ocular squamous cell carcinoma in a cow with cerebral invasion through cranial nerves. Ciência Rural, Santa Maria, v.36, n.5, p.1651-1654, set-out, 2006.