Como quase toda atividade em expansão, as propriedades leiteiras demandam investimentos para aumentar a produção e se tornarem mais eficientes. Captar recursos de maneira estratégica é fundamental para que a atividade leiteira se desenvolva de forma sustentável e competitiva. No entanto, um planejamento financeiro sólido é essencial para evitar que o endividamento se torne um fardo e coloque o negócio em risco.
Conhecer os níveis aceitáveis de endividamento e monitorar indicadores chaves de desempenho são os fundamentais para tomar decisões seguras e equilibradas, permitindo que o produtor invista com segurança e cresça de maneira responsável. Esse foi o tema central da segunda aula do Curso MilkPoint Experts Gestão Financeira, ministrada pelo Gerente istrativo e financeiro da Agropecuária Melkstad, Júlio Meirelles.
Quais pontos o banco procura considerar para concessão do crédito?
Para o produtor de leite ter o ao crédito, o banco tem um papel fundamental nesse processo. Como primeiro aspecto importante, Júlio destaca que antes de conceder crédito, o banco analisa minuciosamente o risco associado ao setor e à atividade. Entender o risco é um fator chave para a aprovação do financiamento e, para isso, é fundamental que o objetivo do crédito seja claramente definido. O produtor deve demonstrar como o recurso será aplicado, como a operação será quitada e quais são os resultados esperados em termos de geração de caixa e aumento da eficiência da atividade.
Júlio ressalta também que o estabelecimento de uma relação com diversas instituições financeiras pode aumentar a confiança no negócio, além de ampliar as opções de crédito disponíveis. Essa diversificação demonstra solidez e reduz a dependência de uma única fonte de financiamento, permitindo que o produtor explore alternativas mais vantajosas para o seu negócio.
O segundo ponto destacado por Júlio é a reciprocidade: os bancos analisam frequentemente a presença de seguros, consórcios e outras garantias. Compreender que há custos associados à liberação do crédito permite ao produtor adotar uma postura estratégica, como contratar seguros para maquinários ou participar de consórcios que possam apoiar a operação, alinhando esses compromissos de forma a fortalecer a relação com o banco.
Como terceiro ponto analisado pelo banco, o banco observa o desempenho do negócio e avalia o nível de profissionalismo e transparência da gestão. Aspectos como número de colaboradores, crescimento da renda e demais indicadores de desempenho da atividade são considerados. O produtor precisa demonstrar conhecimento profundo sobre seu negócio, apresentando um planejamento estratégico que inclui mapeamento de riscos e medidas para mitigá-los. Esse nível de detalhamento reforça a confiança do banco, mostrando que o produtor está preparado para gerenciar tanto os recursos quanto os desafios associados ao crédito solicitado.
Análise dos produtores sobre o crédito: quais pontos o produtor precisa considerar?
Para solicitar crédito, os produtores devem considerar vários fatores, como a modalidade do crédito, o valor financiado, o custo, os prazos e as garantias.
1. Modalidade do crédito:
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Tipo de financiamento (investimento ou capital de giro): idealmente, o produtor deve optar por créditos destinados a investimentos, visando à rentabilidade, geração de lucro e acumulação de capital para giro próprio. Ao contratar capital de giro, é importante que ele seja aplicado exclusivamente em cobrir custos de produção, evitando seu uso em outras finalidades.
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Tipo de amortização (Price ou SAC): na modalidade price, o valor das parcelas e da taxa de juros será o mesmo até o fim do financiamento. No SAC, as parcelas são calculadas de forma que a amortização seja constante ao longo do período de pagamento, enquanto os juros são calculados com base no saldo devedor.
2. Valor: é imprescindível avaliar o valor total do crédito em relação ao investimento planejado e à capacidade de pagamento. Júlio destaca que um fator importante nesse processo é financiar até 70% do valor total do item, reduzindo a pressão sobre a necessidade de rentabilizar o investimento rapidamente. Assim, em caso de dificuldades financeiras, o lucro gerado poderá cobrir o valor da parcela. Adicionalmente, o período de acumulação dos 30% restantes permite estruturar um plano de negócios robusto para o investimento.
3. Custo: para ar o crédito de forma mais vantajosa, recomenda-se que o produtor, com um projeto de financiamento bem estruturado, priorize as linhas de crédito subsidiadas pelo governo, normalmente oferecidas por meio do Plano Safra. Além disso, em períodos de altas taxas de juros, é importante evitar opções de juros prefixados, optando preferencialmente por juros pós-fixados, que podem proporcionar maior flexibilidade.
4. Prazo: idealmente o produtor deve evitar empréstimos de curto prazo. Financiamentos de médio prazo (de 3 a 7 anos, ou até superiores a 7 anos) são ideais, pois a margem operacional do setor de leite tende a se manter estável ao longo dos anos, mesmo com oscilações de preços
Júlio utiliza um exemplo hipotético onde o produtor possui uma margem de 15% e um preço de R$3,00 por litro de leite, dessa forma, o lucro é de R$0,45 por litro. Em um cenário futuro em que o preço do leite suba para R$6,00, a mesma margem geraria um lucro de R$0,90 por litro. Em financiamentos de longo prazo, o processo inflacionário facilita o pagamento das últimas parcelas.
5. Garantias: é importante avaliar os critérios de garantia do financiamento. O cenário ideal é que a garantia seja por meio de aval ou uma aplicação já existente no banco.
Alternativamente, o próprio bem financiado pode ser utilizado como garantia, ou, como terceira opção, rebanhos e produção agrícola. Por fim, a opção menos recomendada é ofertar uma garantia real
O gerente istrativo da agropecuária Melkstad ainda enfatiza sobre a importância de ter a análise do balanço patrimonial, focando na relação entre dívidas e ativos do negócio. Para isso, Júlio cita três indicadores:
- Endividamento geral: indica a proporção da dívida em relação ao patrimônio total do negócio.
- Composição do endividamento: avalia a proporção das dívidas de curto prazo em relação ao endividamento total.
- Liquidez Seca: mede a proporção de recursos imediatamente disponíveis para a quitação de dívidas de curto prazo.
Por fim, Júlio traz outra análise importante de indicadores, a análise do demonstrativo de resultados do exercício (DRE) para definir qual o tamanho da dívida em relação aos resultados do negócio. Ele cita 3 indicadores a serem mensurados para tal: EBITDA e Margem EBITDA, cobertura de Juros e dívida Líquida/EBITDA.
Tomar decisões fundamentadas e estratégicas permite que os produtores em recursos de forma segura e equilibrada, evitando o risco de endividamento. O setor leiteiro, em constante evolução, exige que as pessoas envolvidas dominem cada vez mais as práticas de gestão para acompanhar as transformações do mercado. A captação estratégica de recursos é fundamental para o crescimento da produção nas propriedades leiteiras, sendo essencial saber quando e como captar investimentos e ter objetivos claros para garantir o uso eficiente desses recursos. Você quer dar esse grande e importante o para garantir o sucesso na atividade leiteira? Inscreva-se no curso MilkPoint Experts Gestão Financeira!