O confinamento de rebanhos leiteiros apresenta uma série de vantagens e desvantagens importantes a considerar. Entre as vantagens, destaca-se o controle mais eficiente das condições sanitárias e de alimentação dos animais, o que pode resultar em uma produção leiteira mais consistente e de qualidade. Além disso, o confinamento permite um manejo mais preciso da reprodução e da saúde dos animais, facilitando intervenções veterinárias e reduzindo o estresse associado a condições climáticas adversas.
Por outro lado, as desvantagens incluem o aumento dos custos operacionais, especialmente com alimentação e infraestrutura, além da necessidade de gestão mais intensiva para prevenir problemas de saúde como mastite e doenças respiratórias, comuns em ambientes confinados.
Além disso, o confinamento pode limitar o o dos animais à luz solar natural, o que pode impactar negativamente a produção de vitamina D, já que a radiação ultravioleta B (UVB), presente na luz solar, é essencial para a conversão do 7-desidrocolesterol presente na pele dos animais em pré-vitamina D³, que é posteriormente transformada em vitamina D³ ativa no fígado e nos rins.
São muitos os benefícios do confinamento na pecuária leiteira como aumento expressivo na produção até o melhor gerenciamento dos recursos, mas precisamos tomar alguns cuidados em relação a esse sistema, incluindo a carência de Vitamina D.
O que é e para que serve a vitamina D?
A vitamina D é um elemento essencial na dieta dos bovinos, desempenhando um papel crucial no metabolismo do cálcio e do fósforo. Sua função principal é garantir a disponibilização do cálcio na corrente sanguínea, seja aumentando a absorção intestinal, estimulando a reabsorção renal ou promovendo a mobilização óssea através da ativação de células especializadas, como os osteoclastos. Dessa forma, a vitamina D é fundamental para a formação adequada dos ossos em bezerros e para a manutenção da saúde óssea em bovinos adultos, incluindo vacas em lactação.
Popularmente conhecida como a "vitamina antirraquítica", ela é indispensável para a prevenção de distúrbios como o raquitismo e a osteomalácia. Além de seu papel no metabolismo dos minerais, a vitamina D está diretamente associada ao bem-estar e à produtividade dos animais, influenciando positivamente o desenvolvimento e a defesa da glândula mamária, contribuindo para a reprodução ao participar da síntese de hormônios reprodutivos, favorecendo a absorção da vitamina A e desempenhando funções importantes no sistema nervoso e imunológico. Nos bovinos, sua ação imunomoduladora é especialmente relevante no período de transição, ajudando a reduzir a incidência de infecções no pós-parto.
Mas qual a relação da deficiência de vitamina D e o confinamento?
A vitamina D é sintetizada na pele dos mamíferos a partir da exposição à luz solar, sendo também obtida, em menor escala, por meio da dieta. Após sua síntese cutânea, a vitamina D é armazenada no fígado e posteriormente convertida nos rins na sua forma ativa, atuando como um pró-hormônio essencial para a regulação do metabolismo do cálcio e do fósforo.
Em sistemas de confinamento exclusivo, a deficiência de vitamina D pode ocorrer principalmente pela ausência de exposição direta à luz solar, reduzindo drasticamente a síntese da vitamina. Além disso, a utilização intensiva de dietas concentradas, ricas em grãos, pode levar à queda do pH ruminal, prejudicando o ambiente do rúmen e diminuindo a população de microrganismos responsáveis pela fermentação e pela absorção eficiente de nutrientes essenciais. Esses fatores, combinados, aumentam o risco de distúrbios metabólicos, como hipocalcemia e osteomalácia, tornando a suplementação adequada de vitamina D uma prática indispensável em sistemas de confinamento.
Quais as principais doenças que a deficiência de vitamina D predispõe?
Hipocalcemia puerperal: conhecida como “febre do leite”, essa doença atinge principalmente vacas leiteiras de alta produção recém paridas, quando há um aumento súbito na demanda de cálcio para produção de colostro, leite e desenvolvimento fetal, levando a diminuição dos níveis de cálcio circulante. Neste caso a falta de Vitamina D pode ser um fator predisponente. Nessas condições, a vaca apresenta fraqueza, tremores, queda na produção e, em estágios mais graves, apresenta-se caída sem conseguir se levantar.
- Osteomalácia: a baixa absorção de cálcio e fósforo pela pouca vitamina D leva à deposição deficiente de cálcio nos ossos, enfraquecendo-os e tornando suscetíveis a fraturas. É uma doença que acomete bovinos adultos, geralmente os animais apresentam perda de peso, queda na produção, fraturas espontâneas, claudicação e articulações aumentadas de volume.
- Raquitismo: seguindo o mesmo princípio das osteomalácias em bovinos, o raquitismo acomete bezerros que estão em sua fase de crescimento. A falta de cálcio e fósforo prejudica o desenvolvimento ósseo, levando a claudicação, arqueamento dos ossos longos e aumento de volume nas articulações, principalmente das costocondrais deixando um “padrão em rosário” no gradil costal.
Como prevenir a deficiência de vitamina D em confinamento exclusivo?
Para prevenir a deficiência de vitamina D em ruminantes criados em confinamento exclusivo, a suplementação nutricional feita por um especialista se torna uma estratégia essencial. Como os animais mantidos nesses sistemas têm o limitado à luz solar, o que dificulta a síntese natural de vitamina D na pele, a principal abordagem para garantir níveis adequados da vitamina é incluir vitamina D³ nas dietas.
A vitamina D³ possui alta atividade biológica, ou seja, é mais eficiente do que outras formas, como a vitamina D², no organismo dos bovinos. Ela pode ser fornecida de diferentes maneiras, seja por meio de suplementos minerais, rações balanceadas ou pré-misturas vitamínicas que são formuladas especificamente para atender às necessidades do rebanho.
É importante notar que, durante as fases críticas da produção animal, como gestação, pré-parto e pico de lactação, a demanda por vitamina D aumenta consideravelmente. Nesses períodos, os ajustes na quantidade de vitamina D suplementada precisam ser feitos de forma cuidadosa para garantir que o animal tenha o suficiente a essa vitamina.
Além da suplementação, é fundamental realizar um monitoramento regular da condição corporal e do desempenho produtivo dos animais, especialmente em rebanhos em confinamento. Isso pode ser feito observando parâmetros como ganho de peso, qualidade do leite, taxas de fertilidade e até a saúde geral dos animais.
Em algumas situações, quando possível, também é útil medir a concentração de metabólitos da vitamina D no sangue dos animais. A medição dos níveis de 25-hidroxivitamina D (a forma armazenada) e 1,25-diidroxivitamina D (a forma ativa) pode ajudar a verificar se a suplementação está sendo eficaz, permitindo ajustes conforme necessário.
Esse monitoramento contínuo é crucial para evitar a deficiência de vitamina D, garantindo que os animais estejam recebendo o equilíbrio adequado para otimizar sua saúde e produtividade.
Por que se recomenda algumas horas de exposição solar no confinamento?
Além da síntese de vitamina D, a exposição moderada ao sol também contribui para o bem-estar dos animais, ajudando na regulação da temperatura corporal, no ritmo circadiano e na redução do estresse, especialmente quando combinada com áreas de sombra para descanso. Assim, em projetos de confinamento, é recomendável prever espaços com o controlado à luz solar direta, sempre garantindo que os animais possam escolher entre áreas sombreadas e ensolaradas, evitando exposição excessiva ao calor.
Algumas medidas para que haja exposição dos animais ao sol podem ser introduzidas:
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Áreas externas de descanso com sombra parcial: piquetes ou pátios externos adjacentes ao galpão com cobertura parcial;
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Telhados translúcidos ou aberturas no galpão (painéis basculantes ou aberturas laterais ajustáveis) que direcionem a luz solar para o ambiente interno por algumas horas do dia;
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Portas automáticas ou manejos que permitam o o dos animais ao sol nos horários mais frescos do dia, como manhã (antes das 10h) ou final da tarde (após as 16h);
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Divisão do lote para alternar entre sombra e sol, alternando ao longo do dia.
Com exposição ao sol, será necessário combinar aspersores, ventiladores ou cortinas d’água com essas áreas parcialmente ensolaradas, evitando superaquecimento, além de monitorar a temperatura de conforto térmico para garantir que a exposição solar não cause estresse por calor.
A deficiência de vitamina D pode comprometer a função imunológica, a mineralização óssea e a produção de leite, portanto, o controle da suplementação e da saúde do rebanho é a chave para garantir resultados positivos no manejo de bovinos leiteiros em confinamento.
Fabricio Bonfim de Souza1;
Camila Groetaers Stohler1;
Ana Paula Lopes Marques2
¹Discentes do curso de Medicina Veterinária e Membros LiBovis-UFRRJ;
²Orientadora
Referências bibliográficas
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