Mudanças estruturais têm acontecido na cadeia leiteira do Brasil nos últimos anos. Segundo Marcelo Pereira de Carvalho, CEO da MilkPoint Ventures, o setor leiteiro é o que mais enfrenta transformações dentre todas as cadeias do agronegócio atualmente. Um dos aspectos mais evidentes dessas mudanças é a concentração da produção de leite.
De acordo com o levantamento “Quem produz o leite brasileiro” de 2023, realizado pela MilkPoint Ventures, 1,7% dos produtores foram responsáveis por aproximadamente 28,1% do leite produzido no Brasil, com uma produção diária superior a 5.000 litros. Em contraste, 60,7% dos produtores brasileiros produziram apenas 11,3% do leite nacional, com uma produção diária inferior a 200 litros, conforme é possível observar no gráfico abaixo.
Gráfico 1. Estratificação do número de produtores e do volume de leite.
*Para 2023: Dados agregados de 39 empresas participantes (2 empresas não enviaram informações de estratificação da produção) Fonte: MilkPoint Mercado.
Ainda, o MilkPoint Mercado realiza mensalmente o levantamento IPL - Índice de Produção de Leite, a partir de informações enviadas por laticínios com análises dos mesmos grupos de produtores, desde 2022. O levantamento revela que, em comparação com o mesmo período do ano anterior (2023), o recebimento de leite no estrato acima de 1.000 litros tem evoluído, conforme ilustra o gráfico abaixo. Ao contrário do estrato de produção abaixo de 200 litros, que tem apresentado uma queda considerável, indicando que os produtores dessa faixa de produção estão saindo da atividade ou mesmo reduzindo a produção.
Gráfico 2. Recebimento de leite nos laticínios por estrato de produção.
Fonte: MilkPoint Ventures.
Além disso, a produção dos 100 maiores produtores de leite do país em 2023 alcançou uma média diária de 28.739 litros, representando um aumento de 7,55% frente ao ano anterior e uma evolução de aproximadamente 340% em comparação ao primeiro levantamento realizado, em 2001.
Com a mudança evidente em curso no setor leiteiro, surge a dúvida: como o pequeno e médio produtor garantem seu espaço na cadeia do leite?
O pequeno e médio produtor frente às mudanças do setor
Apesar da tendência observada, Carvalho afirma que o pequeno e médio produtor possuem sim espaço no setor. Entretanto, ele destaca a necessidade da participação ativa de fortes estruturas de apoio, como Sebrae, Senar, cooperativas e laticínios, além de uma gestão cada vez mais eficiente da atividade. Ele também destaca a sucessão familiar como um fator importante para a continuidade desses produtores na cadeia. A exploração de nichos de mercado, como a produção de produtos diferenciados de origem familiar e artesanal também pode ser uma oportunidade viável para pequenos e médios produtores.
Um exemplo de pequeno produtor que precisou aprimorar a gestão da propriedade, é o de Eder Mariano de Aleluia, produtor de leite na Fazenda Aborrecido, localizada em São Miguel do a Quatro/GO, que, com o apoio técnico de Rodrigo de Paula, Diretor Responsável Técnico em assistência agropecuária e supervisor de bovinocultura do Senar de Goiás, alcançou sucesso em sua propriedade de 41 hectares. O caso de sucesso foi apresentado por Eder e Rodrigo, no Interleite Brasil 2024, em Goiânia/GO.
Desde que assumiu parte das operações da propriedade em 2016, junto com seu pai Geraldo, Eder iniciou um processo de melhoria na atividade. Ele conta que as principais iniciativas para iniciar essa transformação foram a busca por conhecimento, por meio de cursos e palestras, além da assistência técnica em sua propriedade. Através dessas iniciativas, Eder focou os esforços para aprimorar a gestão, nutrição e genética do rebanho, infraestrutura da propriedade e adoção de estratégias sustentáveis.
Os primeiros os para a evolução da atividade
Em relação a nutrição do rebanho, a principal evolução foi que o concentrado que anteriormente era adquirido pronto, ou a ser produzido na propriedade através de formulações com as matérias primas. Da mesma forma, a silagem de milho, que era produzida em pequena quantidade e não supria toda a demanda do rebanho, ou a ser integralmente produzida na propriedade. Com isso, houve redução dos custos com a compra do produto de terceiros.
Além da produção estratégica de alimentos dentro da propriedade, o produtor de leite também reconheceu a importância de investir em genética para elevar os índices produtivos. Com o melhoramento genético, que incluiu a aquisição de novos animais, a adoção de inseminação artificial e a transferência de embriões do rebanho, a produção foi elevada de uma média de 11 litros/dia/vaca com animais mestiços para 28 litros/vaca, com a raça holandesa. Atualmente, a propriedade conta com 35 vacas em lactação.
Indo muito além das melhorias convencionais de uma fazenda leiteira, Éder adotou práticas sustentáveis na propriedade, como a formação de cobertura do solo para melhorar a saúde e qualidade das lavouras de milho para silagem e grãos, assim como a construção de esterqueira, a instalação de biodigestores, painéis solares e o uso de biofertilizantes.
Mesmo com um trabalho intenso para a evolução da atividade na propriedade, Eder comenta que há desafios como pequeno produtor. “Os principais desafios para uma pequena propriedade, como é o meu caso, são os investimentos necessários para continuar. Todos os investimentos necessários na produção possuem um alto custo de aquisição. Para nós pequenos, é mais difícil já que não temos uma grande disponibilidade de recursos próprios”.
Para Rodrigo, consultor técnico da propriedade de Eder, os pequenos produtores precisam se profissionalizar, caso contrário, há um grande risco de sair da atividade. “Ele precisa buscar, dentro da realidade dele, ser mais eficiente. E talvez o primeiro o que ele precisa dar é a busca por conhecimento” destacou Rodrigo. Ele ainda ressalta que a atividade leiteira está alcançando um nível de profissionalização tal que, se os produtores não acompanharem essa evolução, podem se marginalizar, podendo afetar o interesse das futuras gerações. Além disso, o consultor reforça a importância da consultoria e da assistência técnica no desenvolvimento do produtor, auxiliando desde a reprodução até a gestão de dados da fazenda
Eder reconhece o trabalho da assistência e complementa que, sem essas iniciativas, não teria alcançado o sucesso atual. "Foi a busca por conhecimento e a assistência técnica que me permitiram evoluir na atividade." Rodrigo complementa: "É inspirador acompanhar a trajetória de Eder, um pequeno produtor como muitos outros no Brasil, que hoje tem maior qualidade de vida e oferece boas condições para sua família. Ele ampliou sua produção diária de 200 para 1.000 litros e melhorou a eficiência de 300 litros/hectare para 8.000 litros/hectare. Isso demonstra uma mentalidade focada na evolução e aprimoramento contínuos."
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