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Comportamento no período de transição como indicador de saúde

Monitorar comportamento no pós-parto pode evitar perdas e antecipar diagnósticos. Clique aqui e entenda!

Publicado por: MilkPoint

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É de amplo conhecimento que o período entre o pré-parto e o pós-parto, conhecido também como período de transição, é o momento com o maior desafio em sanidade do ciclo produtivo de uma vaca leiteira. Classicamente, este período é compreendido entre os 21 dias antes e após o parto.

Essencialmente, todas as vacas leiteiras am por um balanço energético negativo (BEN) nesta fase, devido ao baixo consumo de alimentos no terço final da gestação e a alta demanda por nutrientes no pós-parto. O nível de severidade do BEN poderá proporcionar resultados negativos à saúde, desempenho e bem-estar. 

Distúrbios metabólicos e digestivos, como deslocamento de abomaso, cetose e hipocalcemia, são os mais comuns no período de transição, e os que mais promovem o descarte involuntário precoce durante o início da lactação.

Desta forma, a maioria das propriedades leiteiras desenvolve programas de monitoramento sistemático dos animais em transição, mensurando por exemplo, pH de urina no pré-parto e corpos cetônicos no pós-parto. Tais monitoramentos acabam tendo custos relativamente elevados, e dependendo do número de animais na propriedade leiteira podem ser trabalhosos e demorados, e principalmente necessitando de mão-de-obra treinada para a sua realização.

 

Monitoramento no período de transição

Os avanços tecnológicos na bovinocultura de leite na última década vieram de encontro com as mudanças na cadeia produtiva, ocorridas pela necessidade de maior eficiência das propriedades, redução de custos e escassez de mão-de-obra.

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Tais avanços veem se difundindo rapidamente no Brasil, proporcionando um maior número de animais manejados por unidade de mão de obra. Sendo exemplo, o uso de sensores acoplados a colares ou brincos, para monitoramento de parâmetros comportamentais dos bovinos, como ruminação, atividade e ócio, com a finalidade de auxiliar na detecção de situações envolvendo a reprodução e sanidade dos animais.

Neste sentido, a utilização do monitoramento animal pode reduzir a necessidade de uma alta demanda por mão-de-obra, executando protocolos sistemáticos de avaliação dos animais em transição, e realizar a detecção de distúrbios precocemente, beneficiando os animais, melhorando as respostas aos tratamentos e o desempenho destes nas propriedades.

Visando a utilização de sistemas de monitoramento, um grupo de pesquisadores da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos da América (EUA), avaliou o desempenho de um sistema automatizado de saúde (colares), observando ruminação, atividade física e produção leiteira para identificar vacas com distúrbios de saúde no pós-parto (RIAL et al., 2024)

O estudo comparou a eficácia de um programa de monitoramento de saúde que utilizava alertas automatizados com um programa que se baseava exclusivamente na observação visual de sinais clínicos de doença.

Os pesquisadores utilizaram um rebanho de aproximadamente 1.204 vacas holandesas, no estado de Nova York, EUA. Esses animais recebiam o sensor de monitoramento acoplado a uma coleira no pescoço durante o pré-parto, mantendo até o final do período pós-parto. Os resultados demonstraram que o sistema automatizado, ao gerar alertas com base em indicadores como ruminação, atividade física e produção de leite, foi mais eficiente na identificação de animais com distúrbios clínicos, que os próprios funcionários da fazenda, alertando antes da observação de distúrbio de saúde.

Isso resultou em maior produção de leite acumulada no período pós-parto, devido à antecipação ao diagnóstico e tratamento do distúrbio de saúde do animal. Porém, a realidade da maioria das propriedades leiteiras do Brasil é diferente dos EUA. Aqui, em sua maioria as propriedades e rebanhos são menores. Porém, essas características não excluem a possibilidade de utilizar sistemas de monitoramento para ajudar o produtor rural, e, de ter pesquisas desenvolvidas nestas realidades para validar resultados e contribuir com a produção técnica e científica.

Então a seguir, serão descritas duas destas pesquisas, desenvolvidas dentro do Programa de Pós-graduação em Zootecnia da UDESC, que trabalharam na mesma temática.

 

Primeira pesquisa: análise da “saúde” do fígado e o que as coleiras podem nos dizer

Um dos trabalhos foi realizado em propriedade com rebanho comercial de vacas da raça Jersey, com aproximadamente 100 animais em lactação, no Oeste estado de Santa Catarina, Brasil. As vacas foram monitoradas por meio de colares, desde seu período de transição.

Assim, no período da pesquisa, 23 vacas puderam ser monitoradas. Todas as informações obtidas por meio dos colares, foram associadas à parâmetros sanguíneos e bioquímicos dos animais, a saber albumina, colesterol e bilirrubina, coletadas no terceiro e no vigésimo oitavos dias pós-parto. Esses parâmetros geraram valores que determinaram o índice de funcionalidade hepática (LFI), o qual reflete o desafio metabólico sobre o fígado das vacas nesse pós-parto. Valores de LFI positivos e mais próximos de zero, indicam menor desafio metabólico, ao o que LFI negativos indicam maior desafio ao animal.

Os resultados indicaram que vacas com menor LFI, ou seja, que possuíram um desafio metabólico sobre o fígado maior durante o pós-parto, tiveram menor tempo médio diário de atividade física e maior tempo médio diário de ócio durante o pós-parto. Tais resultados demostram o impacto deletérios de distúrbios metabólicos sobre o comportamento e consequentemente sobre o desempenho destes animais no período pós-parto. 

 

Segunda pesquisa: desenvolvimento de modelos preditivos de comportamento associados ao BEN, em condições de produção no Sul do Brasil

A correta sinalização ao produtor rural que utiliza colares de monitoramento em seus animais, depende diretamente da criação de ferramentas que “traduzam” o comportamento das vacas, baseados em observações realizadas a campo. Uma destas ferramentas é a criação de modelos preditivos, ou modelos de predição. Eles são fundamentais para transformar os dados coletados pelas coleiras em informações precisas a serem entregues ao produtor e seus profissionais assistentes.

Para aprofundar a compreensão desse tema, outro estudo foi realizado em rebanho comercial de vacas Holandesas. O objetivo era criar um modelo de predição baseado em dados de ruminação, ingestão alimentar e tempo de ócio, coletados por colares de monitoramento e relacionar esses dados com a intensidade de mobilização de gordura corporal das vacas após o parto. Este estudo foi pioneiro ao propor um modelo preditivo para identificar vacas com alto e baixo BEN, utilizando variáveis comportamentais medidas por sensores automatizados. Apesar do tamanho limitado da amostra, o modelo alcançou 100% de precisão na distinção entre animais com alto e baixo BEN.

Sabe-se que a cetose é um distúrbio metabólico de mais fácil mensuração, e que já existem relações comprovadas entre cetoses subclínicas ou clínicas e o comportamento animal monitorado por coleiras. Porém, os exemplos trazidos aqui mostraram que:

  • LFI: ajuda a avaliar a saúde hepática das vacas, especialmente durante períodos críticos como o pós-parto, quando a demanda energética é alta e o risco de lipidose hepática aumenta, o que só reitera que a saúde hepática tem relação direta com o comportamento animal.
  • Pesquisas brasileiras também demonstram o grande potencial do monitoramento comportamental na detecção precoce de desafios metabólicos no pós-parto de vacas leiteiras.

Essa detecção precoce permite aos produtores a antecipação ao diagnóstico e tratamento destes distúrbios, a fim de minimizar os impactos negativos na produção, reprodução e bem-estar dos animais, tornando o sistema produtivo mais eficiente.


Autores 

Taiomar Mascarello¹
e Lucas Henrique Bavaresco¹, Rogério Ferreira² e Ana Luiza Bachamnn Schogor²

¹ Mestrandos do Programa de Pós-graduação em Zootecnia da UDESC;

² Professores do Programa de Pós-graduação em Zootecnia da UDESC

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Essencialmente, todas as vacas leiteiras am por um balanço energético negativo (BEN) nesta fase, devido ao baixo consumo de alimentos no terço final da gestação e a alta demanda por nutrientes no pós-parto. O nível de severidade do BEN poderá proporcionar resultados negativos à saúde, desempenho e bem-estar. 

Distúrbios metabólicos e digestivos, como deslocamento de abomaso, cetose e hipocalcemia, são os mais comuns no período de transição, e os que mais promovem o descarte involuntário precoce durante o início da lactação.

Desta forma, a maioria das propriedades leiteiras desenvolve programas de monitoramento sistemático dos animais em transição, mensurando por exemplo, pH de urina no pré-parto e corpos cetônicos no pós-parto. Tais monitoramentos acabam tendo custos relativamente elevados, e dependendo do número de animais na propriedade leiteira podem ser trabalhosos e demorados, e principalmente necessitando de mão-de-obra treinada para a sua realização.

 

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Neste sentido, a utilização do monitoramento animal pode reduzir a necessidade de uma alta demanda por mão-de-obra, executando protocolos sistemáticos de avaliação dos animais em transição, e realizar a detecção de distúrbios precocemente, beneficiando os animais, melhorando as respostas aos tratamentos e o desempenho destes nas propriedades.

Visando a utilização de sistemas de monitoramento, um grupo de pesquisadores da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos da América (EUA), avaliou o desempenho de um sistema automatizado de saúde (colares), observando ruminação, atividade física e produção leiteira para identificar vacas com distúrbios de saúde no pós-parto (RIAL et al., 2024)

O estudo comparou a eficácia de um programa de monitoramento de saúde que utilizava alertas automatizados com um programa que se baseava exclusivamente na observação visual de sinais clínicos de doença.

Os pesquisadores utilizaram um rebanho de aproximadamente 1.204 vacas holandesas, no estado de Nova York, EUA. Esses animais recebiam o sensor de monitoramento acoplado a uma coleira no pescoço durante o pré-parto, mantendo até o final do período pós-parto. Os resultados demonstraram que o sistema automatizado, ao gerar alertas com base em indicadores como ruminação, atividade física e produção de leite, foi mais eficiente na identificação de animais com distúrbios clínicos, que os próprios funcionários da fazenda, alertando antes da observação de distúrbio de saúde.

Isso resultou em maior produção de leite acumulada no período pós-parto, devido à antecipação ao diagnóstico e tratamento do distúrbio de saúde do animal. Porém, a realidade da maioria das propriedades leiteiras do Brasil é diferente dos EUA. Aqui, em sua maioria as propriedades e rebanhos são menores. Porém, essas características não excluem a possibilidade de utilizar sistemas de monitoramento para ajudar o produtor rural, e, de ter pesquisas desenvolvidas nestas realidades para validar resultados e contribuir com a produção técnica e científica.

Então a seguir, serão descritas duas destas pesquisas, desenvolvidas dentro do Programa de Pós-graduação em Zootecnia da UDESC, que trabalharam na mesma temática.

 

Primeira pesquisa: análise da “saúde” do fígado e o que as coleiras podem nos dizer

Um dos trabalhos foi realizado em propriedade com rebanho comercial de vacas da raça Jersey, com aproximadamente 100 animais em lactação, no Oeste estado de Santa Catarina, Brasil. As vacas foram monitoradas por meio de colares, desde seu período de transição.

Assim, no período da pesquisa, 23 vacas puderam ser monitoradas. Todas as informações obtidas por meio dos colares, foram associadas à parâmetros sanguíneos e bioquímicos dos animais, a saber albumina, colesterol e bilirrubina, coletadas no terceiro e no vigésimo oitavos dias pós-parto. Esses parâmetros geraram valores que determinaram o índice de funcionalidade hepática (LFI), o qual reflete o desafio metabólico sobre o fígado das vacas nesse pós-parto. Valores de LFI positivos e mais próximos de zero, indicam menor desafio metabólico, ao o que LFI negativos indicam maior desafio ao animal.

Os resultados indicaram que vacas com menor LFI, ou seja, que possuíram um desafio metabólico sobre o fígado maior durante o pós-parto, tiveram menor tempo médio diário de atividade física e maior tempo médio diário de ócio durante o pós-parto. Tais resultados demostram o impacto deletérios de distúrbios metabólicos sobre o comportamento e consequentemente sobre o desempenho destes animais no período pós-parto. 

 

Segunda pesquisa: desenvolvimento de modelos preditivos de comportamento associados ao BEN, em condições de produção no Sul do Brasil

A correta sinalização ao produtor rural que utiliza colares de monitoramento em seus animais, depende diretamente da criação de ferramentas que “traduzam” o comportamento das vacas, baseados em observações realizadas a campo. Uma destas ferramentas é a criação de modelos preditivos, ou modelos de predição. Eles são fundamentais para transformar os dados coletados pelas coleiras em informações precisas a serem entregues ao produtor e seus profissionais assistentes.

Para aprofundar a compreensão desse tema, outro estudo foi realizado em rebanho comercial de vacas Holandesas. O objetivo era criar um modelo de predição baseado em dados de ruminação, ingestão alimentar e tempo de ócio, coletados por colares de monitoramento e relacionar esses dados com a intensidade de mobilização de gordura corporal das vacas após o parto. Este estudo foi pioneiro ao propor um modelo preditivo para identificar vacas com alto e baixo BEN, utilizando variáveis comportamentais medidas por sensores automatizados. Apesar do tamanho limitado da amostra, o modelo alcançou 100% de precisão na distinção entre animais com alto e baixo BEN.

Sabe-se que a cetose é um distúrbio metabólico de mais fácil mensuração, e que já existem relações comprovadas entre cetoses subclínicas ou clínicas e o comportamento animal monitorado por coleiras. Porém, os exemplos trazidos aqui mostraram que:

  • LFI: ajuda a avaliar a saúde hepática das vacas, especialmente durante períodos críticos como o pós-parto, quando a demanda energética é alta e o risco de lipidose hepática aumenta, o que só reitera que a saúde hepática tem relação direta com o comportamento animal.
  • Pesquisas brasileiras também demonstram o grande potencial do monitoramento comportamental na detecção precoce de desafios metabólicos no pós-parto de vacas leiteiras.

Essa detecção precoce permite aos produtores a antecipação ao diagnóstico e tratamento destes distúrbios, a fim de minimizar os impactos negativos na produção, reprodução e bem-estar dos animais, tornando o sistema produtivo mais eficiente.


Autores 

Taiomar Mascarello¹
e Lucas Henrique Bavaresco¹, Rogério Ferreira² e Ana Luiza Bachamnn Schogor²

¹ Mestrandos do Programa de Pós-graduação em Zootecnia da UDESC;

² Professores do Programa de Pós-graduação em Zootecnia da UDESC

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