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Conhecimento de precisão: minimizando gastos e incrementando a produção

Produção leiteira baseada em Pecuária de Precisão, Agricultura 4.0 e outros termos: o que eles significam? Saiba como minimizar gastos com esses processos.

Publicado em: - Atualizado em: - 9 minutos de leitura

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Muito se fala na produção leiteira dos últimos anos em Agricultura de Precisão, Pecuária de Precisão, Agricultura 4.0, Agricultura 5.0 e muitos outros termos ainda mais complexos.

Mas afinal, o que é isso e para que serve? São sistemas de gerenciamento e enfoques produtivos baseados na coleta e utilização de informações (precisas) a fim de se obter melhores resultados socioeconômicos e ambientais na produção agrícola e pecuária.

Em termos mais simples, são formas de produção baseadas em “Conhecimento de Precisão” dos sistemas produtivos que inclui o histórico de uso das áreas, a situação atual e prognósticos futuros.

Apesar de sua utilização ser, na maioria das vezes associada à alta tecnologia, maquinários, softwares e demais equipamentos digitais / robóticos sofisticados, seu custo pode ser muito mais baixo do que se imagina e o resultado surpreendente.

Nesse foco, mostraremos como economizar sem a necessidade de aquisição de equipamentos e softwares caros: somente com diagnóstico e planejamento técnico adequado por meio do uso de tecnologia digitais, dispensando, em um primeiro momento, até mesmo idas a campo. Isso não depende da localização da propriedade e se aplica a áreas de 5 ha ou de 500 ha (ou mais), que desenvolvam somente a atividade leiteira, ou que tenham várias atividades, integradas ou não (Fig. 1).

 

Figura 1: Possibilidades de melhoria da atividade leiteira em diferentes arranjos produtivos.

Figura 1
Fonte: RegenerAgri, 2022

 

O desafio de economizar sem diminuir a produção

Como você procederia, como produtor rural ou consultor técnico, diante de uma possibilidade de investimento?

Para começar:

  • Levantaria os preços e condições de mercado?
  • Procuraria a opinião de alguém de confiança?
  • Faria uma análise aprofundada da real necessidade / oportunidade desta despesa, da estratégia de desembolsos e da existência ou não de alternativas mais vantajosas que possam substituí-la?

Pois bem, se você tender para uma análise mais detalhada do investimento, uma possibilidade é iniciar pelo processamento de mapas e imagens de satélites. Uma análise espacial abrangente traz elementos novos sobre a propriedade, até mesmo para quem “conhece as áreas como a palma da mão”, devido à sua visualização como um todo, facilitando a melhoria de aspectos que ainda não tinham sido considerados.

 

Um mundo de informações gratuitas a serviço da produção de alimentos.

Atualmente existem diferentes sites e softwares gratuitos, que permitem desde a visualização das propriedades rurais até a demarcação / medição de áreas de interesse a partir de seu contorno ou de fotos / pontos georreferenciados contidos nas mesmas.

Infelizmente, muitos produtores ainda não dispõem de mapas e análises de suas áreas, dificultando a tomada de decisões tecnicamente embasadas, tornando-as muito arriscadas, pelo fato de terem como única base opiniões e hábitos consolidados.

Nesse caso, o primeiro o é verificar se as áreas estão registradas no Cadastro Ambiental Rural (CAR). Se estiverem inscritas nesse cadastro, é possível baixar os contornos e desenhar piquetes, corredores, lagos, açudes e áreas sem potencial produtivo para determinar as áreas efetivas de pastagens, lavouras e de vegetação florestal / arbustiva (Fig. 2).

 

Figura 2: Determinação de áreas efetivas de pastagens, lavouras e vegetação florestal / arbustiva.

Figura 2
Fonte: Elaborado pelos autores com base no Cadastro Ambiental Rural e imagens Google Earth.

Se não houver registros no CAR, a alternativa é obter os contornos das áreas, a partir de dados cartográficos antigos, descrições do produtor ou por levantamento in loco (se houver necessidade de informação mais precisa).

Continua depois da publicidade

Eventuais esclarecimentos e discussões de resultados iniciais podem ser feitos virtualmente. Assim, é possível obter informações suficientes para as tomadas de decisão que poderão resultar em economias surpreendentes, muito rapidamente e sem precisar se deslocar. Como resultado de uma reflexão mais elaborada, a conclusão pode ser algo como: “...não será necessário realizar parte dos gastos com reformas de áreas de pastagens, estimados inicialmente”.

Com essas informações em mãos, pode-se partir para o uso de dados altimétricos, que informam sobre a facilidade de condução dos animais nas áreas, a eficiência produtiva, o grau de dificuldade da realização de subdivisões, o risco de erosão, a necessidade de construção de terraços, cordões vegetados etc. (Fig. 3). Dependendo da necessidade, diferentes softwares de informação geográfica podem ser utilizados a fim de se obter um maior ou menor detalhamento.
 

Figura 3: Representação planialtimétrica e 3D com vistas à otimização do uso das áreas produtivas e da mão-de-obra.

Figura 3
Fonte: Elaborado pelos autores por meio do software QGIS® a partir de imagens do Google Earth e do modelo de elevação Alos Palsar - Alaska Sattelite Facility, Fairbanks University of Alaska Geophysical Institute, 12,5 m de resolução espacial.
 

De posse da caracterização espacial das áreas, o segundo o é a determinação da produção de biomassa ao longo do último ciclo produtivo, para conhecer o que ocorreu nas áreas nesse período e identificar potencialidades e reais necessidades de intervenção (Fig. 4).

 

Figura 4: Produção de biomassa vegetal entre julho e novembro estimada por NDVI.

Figura 4
Fonte: Elaborada pelos autores por meio da aplicação EOS - Crop Monitoring, com base em imagens Sentinel-2 - Copernicus Service Information, 10 m de resolução espacial.

 

Analisando o histórico da produção de biomassa dos últimos meses, é possível perceber diferenças de cobertura vegetal, formas de cultivo e potencial produtivo entre as áreas a fim de evidenciar a ocorrência de:

  • Áreas mais produtivas, consolidadas e manejadas em plantio direto, que não demandam maiores investimentos em fertilidade do solo;
  • Áreas com preparo frequente de solo, cujo manejo deve ser ajustado, sem necessidade a priori de correção da fertilidade;
  • Áreas menos produtivas, degradadas ou em formação, para as quais é necessário direcionar investimentos.

Note-se que, no exemplo apresentado na Figura 4, as áreas de menor potencial representam menos da metade da área produtiva total da propriedade (250 ha). Se considerarmos, um custo de reforma de R$ 2 mil/ha (baixo, no panorama atual de preços), a provável economia gerada pela análise realizada seria de mais de R$ 1 mil para cada hectare de área produtiva (R$ 250 mil, no caso referido), considerando somente os gastos com correção de fertilidade do solo.

Esse conjunto de informações, que evidentemente não dispensa a necessidade de realização de análises de solo para precisar as quantidades de fertilizantes e corretivos necessários, fornece um “norte” rápido, precioso por sua utilidade e, sobretudo, abrangente. Com ele é possível reavaliar as subdivisões existentes, o uso das áreas (para pastejo, produção de feno, silagem e grãos) e, até mesmo, a localização de bebedouros, abrigos e instalações de ordenha e alimentação. Tem-se assim, a possibilidade adicional de melhorar a eficiência de utilização das pastagens e o conforto dos animais, assim como, de reduzir seu gasto energético.

A transformação desse “norte” em tomada de decisão demanda, no entanto, uma visão de mais longo prazo. Assim, o terceiro o é a determinação do histórico de uso e produção da área nos últimos anos / décadas (Fig. 5) para poder projetar com maior acurácia seu uso futuro e as perspectivas de agregação de valor do sistema produtivo.

 

Figura 5: Histórico de uso (a) e de produção de biomassa (b) entre 1985 e 2020.

Figura 5

Fonte: Elaborada pelos autores por meio da plataforma Google Earth Engine, com base em imagens Landsat 5, 7 e 8, coleção 2, nível-2, <5% de cobertura de nuvens, 30 m de resolução espacial - US Geological Survey, agrupadas (valores médios) por períodos de cinco anos, exceto 2021-2022. Representação: (a) em RGB (cor natural); (b) em NDVI (verde = maior produção de biomassa).
 

Aqui o uso de imagens de satélite e softwares específicos não substituem as informações fornecidas pelo produtor e demais pessoas que conheçam as áreas a mais tempo, mas permitem uma visão mais ampla, incluindo conversões de uso, realocações de instalações e efeitos diversos (devidos a infraestruturas e outras atividades).

Os procedimentos envolvidos são semelhantes aos anteriores, demandam mais tempo e a utilização de recursos computacionais um pouco mais sofisticados (também gratuitos), mas, permitem a determinação do potencial produtivo das áreas ao longo dos anos, sua evolução e legalidade ambiental.

Essa maior riqueza de informações, além de eliminar o efeito de eventos de curto prazo (secas, enchentes, crises econômicas), pode servir de base para procedimentos de certificação e agregação de valor. Surgem assim, maiores possibilidades: além da simples economia nos investimentos, tem-se novas perspectivas de remuneração, o a mercados e redução de riscos.
 

A era do “Conhecimento de Precisão”: desafios e possibilidades

Para se usufruir de novas tecnologias na produção de leite não são necessários equipamentos e recursos de informática de alto custo. É necessária, isto sim, uma mudança de mentalidade no sentido de valorizar mais o conhecimento, os processos e as interações naturais, e menos os equipamentos e demais recursos tecnológicos modernos.

O grande e eterno “processo tecnológico de ponta” é a fotossíntese das plantas que, em seu ciclo virtuoso, retira carbono (C) da atmosfera, alimenta a vida e devolve C ao solo, contribuindo para o aumento da matéria orgânica que é fonte de nutrientes para diferentes organismos..., e tudo recomeça, numa ótica regenerativa (Fig. 6).

 

Figura 6: Princípios fundamentais da Agropecuária / Agricultura Regenerativa.

Figura 6

Fonte: Elaborada pelos autores, com base no entendimento geral do enfoque “regenerativo”.
 

Neste sentido, a produção de leite em pastagens tem lugar de destaque: incentiva a cobertura do solo, permite sua mínima mobilização e a manutenção de raízes vivas o ano todo, promove a diversidade de cultivos e demais organismos, e facilita a redução do uso de agrotóxicos.

Em meio a esta diversidade de aspectos, a possibilidade de monitorar processos e potencializá-los com base em conhecimento de alto nível consiste na grande revolução das últimas décadas.

O conhecimento detalhado de áreas produtivas e demais processos gera a oportunidade de economizar centenas de reais em horas ou dias, sem precisar de maquinários caros. A descrição de seu histórico de longo prazo gera novas oportunidades presentes e futuras. Para isso, o setor precisa cada vez mais de produtores e técnicos capazes de gerar, utilizar, analisar e interpretar dados.

Faça sua parte! Prepare-se!

Colabore para a grandeza da produção agropecuária que o futuro nos reserva!

 

Sobre o Instituto de Agricultura Regenerativa

O Instituto de Agricultura Regenerativa é uma associação privada, sem fins lucrativos, engajada na consolidação de um novo paradigma: a produção de alimentos saudáveis, ricos em nutrientes e sem resíduos de substâncias tóxicas pode promover a restauração de processos e relações naturais, gerando benefícios socioeconômicos e ambientais. Como tal, seus efeitos se assemelham ao que ocorre em ambientes naturais, onde os diferentes indivíduos interagem, de forma sinérgica e complementar.

Sem deixar de reconhecer a contribuição de práticas como o preparo mínimo do solo e o uso de culturas de cobertura em substituição aos agrotóxicos como contribuições efetivas da agricultura orgânica, a agricultura regenerativa dá um o à frente: incorpora uma abordagem holística da produção agrícola, embasada em princípios de hierarquia ecológica e práticas conservacionistas. Com isso, regeneração, manutenção e aumento da resiliência da produção de alimentos se aliam à melhoria da qualidade de vida de produtores e consumidores de alimentos, tanto do meio rural como de grandes aglomerações urbanas.

Mais informações, e o site.
 

Colaboraram para esta publicação

Marcelo Abreu da Silva - Engenheiro Agrônomo, Mestre e Doutor em Ecoetologia.
Milene Dick - Médica Veterinária, Mestre em Agronegócios e Doutora em Zootecnia.
Rickiel Rodrigues Franklin da Silva - Engenheiro Agrônomo, Mestre em Agronomia.
Sebastião Ferreira de Lima - Engenheiro Agrônomo, Mestre em Agronomia e Doutor em Fitotecnia.
Cícero Célio de Figueiredo - Engenheiro Agrônomo, Mestre e Doutor em Agronomia
Homero Dewes - Farmacêutico, Mestre e Doutor em Biologia.

 

Referências:

Cadastro Ambiental Rural, 2022. Disponível em: https://www.car.gov.br

Copernicus Service Information, 2022. Disponível em: https://www.copernicus.eu/en/access-data/dias

RegenerAgri, 2022. Planejamento Integrado de Sistemas de Produção. Disponível em: https://www.regeneragri.com/servi%C3%A7os/planejamento-integrado

US Geological Survey, 2022. Disponível em: https://www.usgs.gov/landsat-missions/landsat-data-access

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Material escrito por:

Instituto de Agricultura Regenerativa

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MundoAgro_MS
MUNDOAGRO_MS

CAMPO GRANDE - MATO GROSSO DO SUL - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 29/04/2022

Fantástico este artigo.
Prova da capacidade do Homem de perpetuar seu legado (com pouco gasto), enquanto alguns desembolsam $ bilhões na busca de condições de vida em outros planetas.
Obrigado pelas informações e pelo exemplo de defesa da "terrinha amada" e da produção agropecuária.
Instituto de Agricultura Regenerativa
INSTITUTO DE AGRICULTURA REGENERATIVA

ELDORADO DO SUL - RIO GRANDE DO SUL - PESQUISA/ENSINO

EM 29/04/2022

Obrigado pelo gentil comentário. É isso aí: em um planeta como o nosso, buscar lugares alternativos para viver, ao invés de concentrar esforços para valorizar o que temos, não parece muito lógico. Continuem conosco na luta pela vida, pela valorização dos produtores rurais e por um mundo melhor. Um mundo onde nossos filhos possam beber a água dos rios da região onde moram.
Qual a sua dúvida hoje?

Conhecimento de precisão: minimizando gastos e incrementando a produção

Produção leiteira baseada em Pecuária de Precisão, Agricultura 4.0 e outros termos: o que eles significam? Saiba como minimizar gastos com esses processos.

Publicado em: - Atualizado em: - 9 minutos de leitura

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Muito se fala na produção leiteira dos últimos anos em Agricultura de Precisão, Pecuária de Precisão, Agricultura 4.0, Agricultura 5.0 e muitos outros termos ainda mais complexos.

Mas afinal, o que é isso e para que serve? São sistemas de gerenciamento e enfoques produtivos baseados na coleta e utilização de informações (precisas) a fim de se obter melhores resultados socioeconômicos e ambientais na produção agrícola e pecuária.

Em termos mais simples, são formas de produção baseadas em “Conhecimento de Precisão” dos sistemas produtivos que inclui o histórico de uso das áreas, a situação atual e prognósticos futuros.

Apesar de sua utilização ser, na maioria das vezes associada à alta tecnologia, maquinários, softwares e demais equipamentos digitais / robóticos sofisticados, seu custo pode ser muito mais baixo do que se imagina e o resultado surpreendente.

Nesse foco, mostraremos como economizar sem a necessidade de aquisição de equipamentos e softwares caros: somente com diagnóstico e planejamento técnico adequado por meio do uso de tecnologia digitais, dispensando, em um primeiro momento, até mesmo idas a campo. Isso não depende da localização da propriedade e se aplica a áreas de 5 ha ou de 500 ha (ou mais), que desenvolvam somente a atividade leiteira, ou que tenham várias atividades, integradas ou não (Fig. 1).

 

Figura 1: Possibilidades de melhoria da atividade leiteira em diferentes arranjos produtivos.

Figura 1
Fonte: RegenerAgri, 2022

 

O desafio de economizar sem diminuir a produção

Como você procederia, como produtor rural ou consultor técnico, diante de uma possibilidade de investimento?

Para começar:

  • Levantaria os preços e condições de mercado?
  • Procuraria a opinião de alguém de confiança?
  • Faria uma análise aprofundada da real necessidade / oportunidade desta despesa, da estratégia de desembolsos e da existência ou não de alternativas mais vantajosas que possam substituí-la?

Pois bem, se você tender para uma análise mais detalhada do investimento, uma possibilidade é iniciar pelo processamento de mapas e imagens de satélites. Uma análise espacial abrangente traz elementos novos sobre a propriedade, até mesmo para quem “conhece as áreas como a palma da mão”, devido à sua visualização como um todo, facilitando a melhoria de aspectos que ainda não tinham sido considerados.

 

Um mundo de informações gratuitas a serviço da produção de alimentos.

Atualmente existem diferentes sites e softwares gratuitos, que permitem desde a visualização das propriedades rurais até a demarcação / medição de áreas de interesse a partir de seu contorno ou de fotos / pontos georreferenciados contidos nas mesmas.

Infelizmente, muitos produtores ainda não dispõem de mapas e análises de suas áreas, dificultando a tomada de decisões tecnicamente embasadas, tornando-as muito arriscadas, pelo fato de terem como única base opiniões e hábitos consolidados.

Nesse caso, o primeiro o é verificar se as áreas estão registradas no Cadastro Ambiental Rural (CAR). Se estiverem inscritas nesse cadastro, é possível baixar os contornos e desenhar piquetes, corredores, lagos, açudes e áreas sem potencial produtivo para determinar as áreas efetivas de pastagens, lavouras e de vegetação florestal / arbustiva (Fig. 2).

 

Figura 2: Determinação de áreas efetivas de pastagens, lavouras e vegetação florestal / arbustiva.

Figura 2
Fonte: Elaborado pelos autores com base no Cadastro Ambiental Rural e imagens Google Earth.

Se não houver registros no CAR, a alternativa é obter os contornos das áreas, a partir de dados cartográficos antigos, descrições do produtor ou por levantamento in loco (se houver necessidade de informação mais precisa).

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Com essas informações em mãos, pode-se partir para o uso de dados altimétricos, que informam sobre a facilidade de condução dos animais nas áreas, a eficiência produtiva, o grau de dificuldade da realização de subdivisões, o risco de erosão, a necessidade de construção de terraços, cordões vegetados etc. (Fig. 3). Dependendo da necessidade, diferentes softwares de informação geográfica podem ser utilizados a fim de se obter um maior ou menor detalhamento.
 

Figura 3: Representação planialtimétrica e 3D com vistas à otimização do uso das áreas produtivas e da mão-de-obra.

Figura 3
Fonte: Elaborado pelos autores por meio do software QGIS® a partir de imagens do Google Earth e do modelo de elevação Alos Palsar - Alaska Sattelite Facility, Fairbanks University of Alaska Geophysical Institute, 12,5 m de resolução espacial.
 

De posse da caracterização espacial das áreas, o segundo o é a determinação da produção de biomassa ao longo do último ciclo produtivo, para conhecer o que ocorreu nas áreas nesse período e identificar potencialidades e reais necessidades de intervenção (Fig. 4).

 

Figura 4: Produção de biomassa vegetal entre julho e novembro estimada por NDVI.

Figura 4
Fonte: Elaborada pelos autores por meio da aplicação EOS - Crop Monitoring, com base em imagens Sentinel-2 - Copernicus Service Information, 10 m de resolução espacial.

 

Analisando o histórico da produção de biomassa dos últimos meses, é possível perceber diferenças de cobertura vegetal, formas de cultivo e potencial produtivo entre as áreas a fim de evidenciar a ocorrência de:

  • Áreas mais produtivas, consolidadas e manejadas em plantio direto, que não demandam maiores investimentos em fertilidade do solo;
  • Áreas com preparo frequente de solo, cujo manejo deve ser ajustado, sem necessidade a priori de correção da fertilidade;
  • Áreas menos produtivas, degradadas ou em formação, para as quais é necessário direcionar investimentos.

Note-se que, no exemplo apresentado na Figura 4, as áreas de menor potencial representam menos da metade da área produtiva total da propriedade (250 ha). Se considerarmos, um custo de reforma de R$ 2 mil/ha (baixo, no panorama atual de preços), a provável economia gerada pela análise realizada seria de mais de R$ 1 mil para cada hectare de área produtiva (R$ 250 mil, no caso referido), considerando somente os gastos com correção de fertilidade do solo.

Esse conjunto de informações, que evidentemente não dispensa a necessidade de realização de análises de solo para precisar as quantidades de fertilizantes e corretivos necessários, fornece um “norte” rápido, precioso por sua utilidade e, sobretudo, abrangente. Com ele é possível reavaliar as subdivisões existentes, o uso das áreas (para pastejo, produção de feno, silagem e grãos) e, até mesmo, a localização de bebedouros, abrigos e instalações de ordenha e alimentação. Tem-se assim, a possibilidade adicional de melhorar a eficiência de utilização das pastagens e o conforto dos animais, assim como, de reduzir seu gasto energético.

A transformação desse “norte” em tomada de decisão demanda, no entanto, uma visão de mais longo prazo. Assim, o terceiro o é a determinação do histórico de uso e produção da área nos últimos anos / décadas (Fig. 5) para poder projetar com maior acurácia seu uso futuro e as perspectivas de agregação de valor do sistema produtivo.

 

Figura 5: Histórico de uso (a) e de produção de biomassa (b) entre 1985 e 2020.

Figura 5

Fonte: Elaborada pelos autores por meio da plataforma Google Earth Engine, com base em imagens Landsat 5, 7 e 8, coleção 2, nível-2, <5% de cobertura de nuvens, 30 m de resolução espacial - US Geological Survey, agrupadas (valores médios) por períodos de cinco anos, exceto 2021-2022. Representação: (a) em RGB (cor natural); (b) em NDVI (verde = maior produção de biomassa).
 

Aqui o uso de imagens de satélite e softwares específicos não substituem as informações fornecidas pelo produtor e demais pessoas que conheçam as áreas a mais tempo, mas permitem uma visão mais ampla, incluindo conversões de uso, realocações de instalações e efeitos diversos (devidos a infraestruturas e outras atividades).

Os procedimentos envolvidos são semelhantes aos anteriores, demandam mais tempo e a utilização de recursos computacionais um pouco mais sofisticados (também gratuitos), mas, permitem a determinação do potencial produtivo das áreas ao longo dos anos, sua evolução e legalidade ambiental.

Essa maior riqueza de informações, além de eliminar o efeito de eventos de curto prazo (secas, enchentes, crises econômicas), pode servir de base para procedimentos de certificação e agregação de valor. Surgem assim, maiores possibilidades: além da simples economia nos investimentos, tem-se novas perspectivas de remuneração, o a mercados e redução de riscos.
 

A era do “Conhecimento de Precisão”: desafios e possibilidades

Para se usufruir de novas tecnologias na produção de leite não são necessários equipamentos e recursos de informática de alto custo. É necessária, isto sim, uma mudança de mentalidade no sentido de valorizar mais o conhecimento, os processos e as interações naturais, e menos os equipamentos e demais recursos tecnológicos modernos.

O grande e eterno “processo tecnológico de ponta” é a fotossíntese das plantas que, em seu ciclo virtuoso, retira carbono (C) da atmosfera, alimenta a vida e devolve C ao solo, contribuindo para o aumento da matéria orgânica que é fonte de nutrientes para diferentes organismos..., e tudo recomeça, numa ótica regenerativa (Fig. 6).

 

Figura 6: Princípios fundamentais da Agropecuária / Agricultura Regenerativa.

Figura 6

Fonte: Elaborada pelos autores, com base no entendimento geral do enfoque “regenerativo”.
 

Neste sentido, a produção de leite em pastagens tem lugar de destaque: incentiva a cobertura do solo, permite sua mínima mobilização e a manutenção de raízes vivas o ano todo, promove a diversidade de cultivos e demais organismos, e facilita a redução do uso de agrotóxicos.

Em meio a esta diversidade de aspectos, a possibilidade de monitorar processos e potencializá-los com base em conhecimento de alto nível consiste na grande revolução das últimas décadas.

O conhecimento detalhado de áreas produtivas e demais processos gera a oportunidade de economizar centenas de reais em horas ou dias, sem precisar de maquinários caros. A descrição de seu histórico de longo prazo gera novas oportunidades presentes e futuras. Para isso, o setor precisa cada vez mais de produtores e técnicos capazes de gerar, utilizar, analisar e interpretar dados.

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Sobre o Instituto de Agricultura Regenerativa

O Instituto de Agricultura Regenerativa é uma associação privada, sem fins lucrativos, engajada na consolidação de um novo paradigma: a produção de alimentos saudáveis, ricos em nutrientes e sem resíduos de substâncias tóxicas pode promover a restauração de processos e relações naturais, gerando benefícios socioeconômicos e ambientais. Como tal, seus efeitos se assemelham ao que ocorre em ambientes naturais, onde os diferentes indivíduos interagem, de forma sinérgica e complementar.

Sem deixar de reconhecer a contribuição de práticas como o preparo mínimo do solo e o uso de culturas de cobertura em substituição aos agrotóxicos como contribuições efetivas da agricultura orgânica, a agricultura regenerativa dá um o à frente: incorpora uma abordagem holística da produção agrícola, embasada em princípios de hierarquia ecológica e práticas conservacionistas. Com isso, regeneração, manutenção e aumento da resiliência da produção de alimentos se aliam à melhoria da qualidade de vida de produtores e consumidores de alimentos, tanto do meio rural como de grandes aglomerações urbanas.

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Cícero Célio de Figueiredo - Engenheiro Agrônomo, Mestre e Doutor em Agronomia
Homero Dewes - Farmacêutico, Mestre e Doutor em Biologia.

 

Referências:

Cadastro Ambiental Rural, 2022. Disponível em: https://www.car.gov.br

Copernicus Service Information, 2022. Disponível em: https://www.copernicus.eu/en/access-data/dias

RegenerAgri, 2022. Planejamento Integrado de Sistemas de Produção. Disponível em: https://www.regeneragri.com/servi%C3%A7os/planejamento-integrado

US Geological Survey, 2022. Disponível em: https://www.usgs.gov/landsat-missions/landsat-data-access

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Obrigado pelas informações e pelo exemplo de defesa da "terrinha amada" e da produção agropecuária.
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EM 29/04/2022

Obrigado pelo gentil comentário. É isso aí: em um planeta como o nosso, buscar lugares alternativos para viver, ao invés de concentrar esforços para valorizar o que temos, não parece muito lógico. Continuem conosco na luta pela vida, pela valorização dos produtores rurais e por um mundo melhor. Um mundo onde nossos filhos possam beber a água dos rios da região onde moram.
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