As duas primeiras coisas que vêm à cabeça quando se pensa em intensificar algum setor da atividade leiteira são: tecnologia nova e quanto isso vai custar. Ao invés de pensar no final (o que fazer e quanto vai custar), é preciso pensar no início, refletir sobre algumas questões para que, a partir daí, seja possível chegar a um planejamento de intensificação específico para cada tipo de propriedade.
A reflexão começa com a definição do objetivo em intensificar. A intensificação é útil para desmamar a bezerra mais cedo porque o bezerreiro é pequeno e não a a quantidade de bezerros que estar por vir, ou também, porque o produtor quer reduzir a idade ao primeiro parto pois a recria está inchada - entre vários outros objetivos.
Definido o objetivo principal, existem duas linhas de pensamento: intensificar porque é necessário e intensificar para aumentar a eficiência da atividade leiteira. A intensificação necessária é aquela que tem que ser feita, ou seja, a ação de intensificar se justifica por si só. Como no exemplo citado acima, o objetivo é desmamar as bezerras mais cedo pois não há espaço físico suficiente para receber as bezerras dos nascimentos previstos, assim a justificativa para investir em tal intensificação é que se ela não for feita, não haverá lugar adequado para colocar as bezerras que virão.
A intensificação usada para melhorar a eficiência da fazenda precisa ser justificada, ou seja, o benefício da ação deve justificar o dinheiro investido, e não somente isso, é preciso encontrar o ponto ótimo entre investimento e retorno, ou seja, cada real investido deve ter retorno máximo. Não se trata simplesmente de aumentar a quantidade de alimentos para as novilhas para que elas ganhem peso mais rápido e emprenhem logo (por exemplo), mas, se trata de saber qual o ponto máximo de retorno do investimento.
Se o objetivo principal for aumentar a eficiência da atividade, o segundo o da reflexão é o diagnóstico dos setores de cria e recria da fazenda. Uma ferramenta básica que pode ser utilizada é a tabela a seguir:
Se entende como boas estruturas físicas, estruturas funcionais e em bom estado de conservação, não necessariamente estruturas tecnológicas, concretadas e/ou caras. Para avaliação das estruturas basta acompanhar a rotina do setor e o comportamento dos animais e se questionar se são estruturas funcionais e se os animais estão ativos, estão tendo o à comida e à água de qualidade, ao sol e à sombra, e assim por diante.
Com relação ao manejo, há duas formas de avaliar. Na primeira forma a avaliação é mais fiel à realidade, é quando o técnico ou proprietário já conhecem as taxas de mortalidade e incidência de doenças nos setores, e com base nesses índices, é possível saber se o manejo está bom ou ruim. A segunda forma é mais subjetiva, quando não existe nenhum tipo de índice do setor e a avaliação é feita visualmente, ou seja, observar se as bezerras e as novilhas estão saudáveis, com boa aparência e bom escore de condição corporal.
Com o diagnóstico inicial em mãos é possível fazer o planejamento e o plano de ação direcionados ao setor que precisa ser intensificado. A seguir um exemplo de como o planejamento e o plano de ação podem ser feitos:
Exemplo
Objetivo principal: emprenhar novilhas mais cedo
Idade média à primeira concepção atual: 18 meses
Idade média à primeira concepção desejada: 14 meses
Diagnóstico inicial: estruturas físicas de cria e recria boas e manejos bons
Planejamento
O planejamento deve conter seis perguntas:
- o que temos?
- o que podemos mudar?
- é viável?
- qual o ponto ótimo de benefício custo?
- quais as vantagens?
- quais os riscos?
O que temos: novilhas que recebem 1,5 kg de ração e 10 kg de silagem por cabeça por dia. Têm sombra e água de boa qualidade. Entram para reprodução quando atingem o peso e dão o primeiro cio. O que podemos mudar: aumentar a quantidade de ração e silagem fornecidas.
É viável?: a viabilidade está correlacionada à capacidade de aplicação, aos possíveis resultados e ao dinheiro que precisa ser investido. Nesse exemplo, a aplicação é viável, pois a fazenda tem quantidade de silagem e ração suficiente. A forma mais eficaz de verificar os resultados (idade a primeira concepção) é fazer pequenos grupos com manejos diferentes e avaliar as respostas.
A fazenda possui no total 30 novilhas entre 8 e 12 meses. Três grupos de animais foram divididos: o grupo controle, com 20 animais recebendo a dieta de 1,5 kg de ração e 10 kg de silagem; o grupo 1 de 5 novilhas recebendo 3 kg de ração e 20 kg de silagem (grupo 1) e o grupo 2 de 5 novilhas recebendo 4 kg de ração e 20 kg de silagem (grupo 2).
O grupo controle, em média, emprenha com 18 meses de idade, e o custo da dieta é de R$ 1,90 por cabeça por dia (R$ 0,80 o quilo da ração e R$ 0,07 o quilo da silagem). Os grupos 1 e 2 ainda não sabemos a idade à primeira concepção, mas sabemos que os custos por cabeça por dia são R$ 3,80 para o grupo 1 e R$ 4,60 para o grupo 2.
Após o período de teste, foi possível concluir que o grupo 1 emprenhou em média com 15 meses de idade e o grupo 2 com 14,5 meses. Então podemos concluir que o fornecimento 4 kg de ração por dia e 20 kg de silagem é o ponto ótimo de intensificação dessa fazenda? NÃO!
Ponto ótimo benefício custo: temos que fazer os cálculos de qual manejo temos o maior retorno com o menor investimento. A seguir temos duas tabelas que foram desenvolvidas para calcular o benefício custo da intensificação em questão:
Ao avaliarmos as tabelas, temos que no manejo utilizando 3 kg de ração e 20 kg de silagem (grupo 1), as novilhas produzem 90 dias de leite a mais que o grupo controle (concepção média aos 18 meses de idade) e o retorno (benefício custo) é de R$ 4,70 para cada real investido.
Já no grupo 2, em que o manejo alimentar foi de 4 kg de ração e 20 kg de silagem, as novilhas produzem 105 dias de leite a mais em comparação ao grupo controle e a relação benefício custo foi de R$ 3,66 de retorno para cada real investido. Logo, se concluiu que a melhor intensificação para a fazenda do exemplo foi aumentar o fornecimento da dieta de 1,5 kg para 3 kg de ração e de 10 kg para 20 kg de silagem, por cabeça/dia.
Quais as vantagens:
1 – Fêmeas bovinas holandesas puras que parem entre 22 e 24 meses de idade têm mais condições de expressar seu potencial genético de produção.
2 – Novilhas são fontes de despesas imediatas com retorno financeiro a longo prazo, enquanto que vacas são fontes de despesa e retorno imediatos. O quanto antes fizermos as novilhas se tornarem vacas, mais rápido teremos o retorno do capital investido nelas.
Quais os riscos:
1 – A reprodução da fazenda é eficiente? Tem boa observação de cio? Faz protocolo em novilha? Não adianta investir em alimentação para a novilha chegar 3 meses antes para reprodução e não aproveitar.
2 – Depois que a novilha emprenhar ela vai continuar no cocho e o seu crescimento vai ser monitorado? Emprenhar novilhas mais cedo requer maiores cuidados no monitoramento do seu crescimento. A novilha precisa estar com pelo menos 85% do seu peso adulto para que consiga parir bem.
3 – Disponibilidade de comida. A fazenda vai ter condições de manter o fornecimento da dieta para as novilhas pelo tempo necessário para que elas atinjam o tamanho ideal para parir?
Conclusões:
1. Intensificar não quer dizer só gastar muito dinheiro implantando tecnologias de alto custo. Intensificar pode ser também uma mudança de manejo, a contratação de um serviço especializado ou a contratação de mais mão de obra, por exemplo;
2. Investir sempre será um bom negócio quando há reflexão e planejamento;
3. O melhor benefício custo nem sempre é o melhor índice zootécnico. O melhor benefício custo, é o melhor índice associado ao ótimo econômico;
4. Cria e recria, até que ponto é viável intensificar? Faça sua reflexão e seu planejamento e nos conte. Cada fazenda é um universo a parte, por isso o importante não é compartilhar a fórmula mágica e sim o raciocínio para se chegar a melhor fórmula para cada realidade.
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