As primeiras semanas de vida são essenciais para a sobrevivência e para o desenvolvimento da bezerra. É preciso definir estratégias para garantir a sanidade das bezerras e com isso a eficiência da produção garantindo um bom futuro da propriedade.
Em primeiro lugar, o portal EMBRAPA afirma que “a bezerra precisa mamar pelo menos 10% (dez por cento) do seu peso vivo nas primeiras seis horas após o nascimento”. O colostro é a primeira secreção da glândula mamária produzida no pós parto, rica em imunoglobulinas (anticorpos), nutrientes, fatores de crescimento e substâncias bioativas, que tem como funções principais eliminação do mecônio, nutrição do neonato e transferência de imunidade.
Ao nascer, as bezerras são imunologicamente imaturas, pois em bovinos os anticorpos maternos não atravessam a barreira placentária durante a gestação. Assim, dependem exclusivamente do colostro para adquirir imunidade iva, o que as protege contra doenças nas primeiras semanas de vida. O colostro de boa qualidade também fornece energia e nutrientes essenciais, como proteínas, gorduras, vitaminas e minerais, que são vitais para o crescimento saudável e a adaptação ao ambiente externo.
A colostragem adequada em bezerras de leite é um dos os mais importantes para garantir a saúde, o desenvolvimento e o desempenho futuro desses animais, especialmente considerando que elas são criadas para se tornarem parte do rebanho de reposição. É importante avaliar se após o nascimento a bezerra irá mamar por conta própria e rapidamente, por isso é importante que a instalação da baia/piquete maternidade esteja próxima facilitando a observação e o manejo e que seja adequada, para não obstaculizar esse momento.
Mantida em baia, o ideal é que a bezerra receba o colostro o mais rápido possível após o nascimento, preferencialmente nas primeiras duas horas de vida, pois a capacidade de absorção intestinal de imunoglobulinas diminui rapidamente, sendo reduzida drasticamente após 24 horas. Nesse período, a quantidade istrada também é essencial, recomenda-se que o volume de colostro seja equivalente a 10% do peso corporal do animal, dividido em duas ou mais istrações, para garantir uma absorção adequada.
Para que a colostragem seja eficaz, é fundamental que seja feita corretamente e com colostro de boa qualidade. A qualidade do colostro pode ser avaliada utilizando-se o colostrômetro ou o refratômetro de Brix, instrumentos que medem a concentração de imunoglobulinas no colostro. Um bom colostro deve apresentar uma leitura mínima de 50 mg/mL no colostrômetro ou de 22% no refratômetro Brix. Se a qualidade não for adequada, é recomendável utilizar colostro de outra vaca ou acrescentar um substituto comercial, colostro em pó, por exemplo, para melhorar a qualidade.
A higiene durante o manejo do colostro é outro fator determinante para o sucesso da colostragem. O colostro deve ser coletado em condições higiênicas, evitando contaminação com bactérias que podem comprometer a saúde da bezerra. Se o colostro não for istrado imediatamente, ele deve ser refrigerado (até 24 horas) ou congelado para preservar sua qualidade e, antes de ser oferecido à bezerra, o colostro deve ser aquecido ou descongelado em banho maria a uma temperatura que não ultrae os 55°C, evitando superaquecimento, que pode destruir as imunoglobulinas.
Além disso, é importante monitorar as bezerras para confirmar que a transferência de imunidade foi eficaz. Isso pode ser feito por meio de exames de sangue, com a mensuração da concentração de proteínas séricas após 24 a 48 horas da ingestão de colostro. O procedimento consiste em coletar uma amostra de sangue da bezerra, geralmente da veia jugular, utilizando uma seringa e agulha estéreis. O sangue deve ser armazenado em tubos específicos. Para essa avaliação é conveniente que se use tubos sem anticoagulante, podendo ser o com gel separador (tubo da tampa amarela) ou sem gel separador (tubo da tampa vermelha). Os tubos com a tampa amarela requerem menos tempo para separação de soro do sangue e facilitam a coleta, em média levam de 5-30 minutos para conclusão do processo.
Para acelerar o processo de separar o soro do sangue, caso a fazenda tenha, pode se fazer o uso de centrífugas. Após a separação do soro, este pode ser analisado com um refratômetro clínico. Uma concentração de proteínas séricas total superior a 5,5 g/dL indica sucesso na transferência de imunidade iva, enquanto valores inferiores apontam falha na colostragem, exigindo ações corretivas no manejo.
Investir em uma colostragem bem-feita resulta em inúmeros benefícios para a bezerra e, consequentemente, para o rebanho como um todo. Bezerras que recebem colostro de qualidade e na quantidade adequada apresentam menores taxas de mortalidade, melhor desempenho no crescimento, maior eficiência alimentar e maior produção de leite na vida adulta. Além disso, são menos suscetíveis a doenças respiratórias e diarreias, que são comuns nos primeiros meses de vida e podem comprometer seu desenvolvimento.
Após o nascimento também é preciso realizar a desinfecção do cordão umbilical. A correta cura do umbigo de bezerras em propriedades leiteiras é uma prática fundamental para garantir a saúde e o desenvolvimento adequado dos animais. O umbigo, também conhecido como cordão umbilical, é uma estrutura vital no período gestacional, mas, após o nascimento, torna-se uma porta de entrada para microrganismos patogênicos que podem causar infecções graves, como onfalite (infecção umbilical), septicemia e até a morte do animal, já que é uma rota direta para a corrente sanguínea do animal, especialmente nas primeiras horas após o nascimento, enquanto o cordão umbilical ainda está aberto e úmido. Por isso, o manejo correto do umbigo é essencial para prevenir essas complicações e assegurar o sucesso no desenvolvimento das bezerras.
A imersão em solução de tintura de iodo de concentração mínima de 7% (ideal de 10%), imergindo o cordão umbilical até a sua base por aproximadamente 30 segundos, irá desidratar o umbigo evitando que os patógenos se desenvolvam. Esse processo deve ser realizado de duas a três vezes ao dia durante os três primeiros dias de vida, pois o umbigo demora alguns dias para secar e cicatrizar completamente. O manejo correto do umbigo é uma prática simples, mas indispensável, que deve ser incorporada ao protocolo de manejo de bezerras em qualquer propriedade leiteira.
Durante o período de cura, é crucial que a bezerra seja mantida em um ambiente limpo, seco e livre de excesso de umidade e sujeira. Cama de boa qualidade, feita com materiais como maravalha ou palha seca, reduz a exposição a agentes infecciosos. O umbigo deve ser inspecionado regularmente para identificar sinais de infecção, como inchaço, vermelhidão, calor, presença de secreção purulenta ou odor desagradável. Caso esses sinais apareçam, deve-se iniciar um tratamento veterinário imediatamente.
Infecções umbilicais afetam diretamente o desempenho das bezerras, levando a perda de peso, atrasos no crescimento e maior vulnerabilidade a outras doenças. Além disso, tratá-las pode gerar custos adicionais com medicamentos e mão de obra, além de comprometer a viabilidade econômica da criação de bezerras como futuras vacas de reposição. Bezerras que am por uma cura do umbigo eficiente têm maiores chances de atingir todo o seu potencial genético e produtivo, tornando-se vacas saudáveis e produtivas no futuro.
Outro o significativo é a identificação e pesagem da bezerra. A identificação para que se tenha o controle zootécnico auxilia no acompanhamento da evolução do animal e, são importantes para a organização da propriedade. É necessário armazenar as informações do filhote, em especial para acompanhar o ganho de peso e anotar as vacinas realizadas, já iniciando o controle sanitário nos primeiros dias de vida, , além de facilitar a tomada de decisões relacionadas à nutrição, saúde e desempenho produtivo das futuras vacas.
A identificação das bezerras deve ser realizada logo após o nascimento, garantindo que cada animal seja reconhecido de forma única dentro do rebanho. Existem diversos métodos para realizar essa identificação, sendo os mais comuns os brincos de identificação, etiquetas plásticas fixadas na orelha da bezerra, contendo informações como número, data de nascimento, linhagem ou código individual; tatuagem, utilizando-se um alicate específico para marcar números ou códigos na parte interna da orelha da bezerra; microchips para identificação eletrônica inseridos sob a pele ou colares e etiquetas temporárias, úteis como identificação inicial antes da aplicação de métodos permanentes.
Independentemente do método escolhido, a identificação deve ser realizada de forma higiênica, utilizando equipamentos esterilizados para prevenir infecções. É importante também manter registros detalhados de cada animal em um sistema de gestão, seja manual ou digital.
A partir da identificação única da bezerra, inicia-se o monitoramento do ganho de peso, fundamental para avaliar se a bezerra está crescendo conforme o esperado. O peso inicial da bezerra deve ser registrado logo após o nascimento, utilizando uma balança apropriada. Após isso, o acompanhamento deve ser realizado periodicamente, com medições semanais ou mensais. Existem diferentes formas de medir o peso, balanças específicas para animais, fitas de pesagem ou sistemas automatizados que registram o peso dos animais automaticamente em bebedouros ou comedouros equipados com balanças.
A identificação e o acompanhamento do ganho de peso são ferramentas de gestão indispensáveis para maximizar a eficiência e produtividade do rebanho. A identificação adequada facilita a individualização do manejo, permitindo monitorar a saúde, rastrear a linhagem genética e tomar decisões informadas sobre reprodução, nutrição e descarte. Os dados coletados de peso devem ser comparados com curvas de crescimento padrão para a raça e o sistema de produção. As bezerras leiteiras devem dobrar seu peso de nascimento nos primeiros 60 dias e atingir 55-60% do peso adulto ao final do período de recria.
O crescimento inadequado pode ser sinal de problemas nutricionais, doenças ou falhas no manejo, exigindo intervenções rápidas. Bezerras que não atingem os marcos de crescimento adequados têm maior risco de atrasos na idade ao primeiro parto, menor produção de leite na vida adulta e maior probabilidade de serem descartadas precocemente.
Além disso, o monitoramento do peso permite avaliar a eficiência dos protocolos de manejo, como qualidade da colostragem, programas de alimentação com sucedâneos ou leite, e suplementação sólida. Com esses dados, é possível ajustar estratégias para otimizar o desempenho das bezerras e reduzir custos. Em longo prazo, a identificação precisa e o acompanhamento sistemático do ganho de peso contribuem para a formação de um rebanho mais produtivo, saudável e economicamente viável.
Entretanto, mesmo se a colostragem e a cura do umbigo forem feitas de forma correta, instalações inadequadas prejudicam o desenvolvimento das bezerras. As instalações onde as bezerras arão os primeiros dias de vida devem ser em locais bem planejados para promover conforto, reduzir o estresse e prevenir doenças, além de facilitar o manejo diário. Bezerras que crescem em ambientes inadequados estão mais sujeitas a problemas como doenças respiratórias, diarreias e atrasos no crescimento, comprometendo sua capacidade de se tornarem vacas produtivas.
Bezerras são particularmente sensíveis a variações de temperatura e condições climáticas extremas, como frio excessivo, calor intenso, chuva e vento, visto que elas apresentam baixa reserva de gordura e com isso perdem calor com facilidade. Instalações bem estruturadas devem oferecer proteção contra esses fatores, garantindo conforto térmico. Isso inclui o uso de materiais isolantes no teto, ventilação adequada para evitar acúmulo de calor e umidade, e barreiras contra ventos frios. O conforto térmico reduz o consumo energético da bezerra para manter a temperatura corporal, permitindo que mais energia seja direcionada para o crescimento.
Pisos com boa drenagem evitam o acúmulo de urina e fezes, enquanto camas secas e limpas reduzem o risco de infecções, como as causadas por bactérias presentes no ambiente. A ventilação eficiente diminui a concentração de gases nocivos, como amônia, e o risco de doenças respiratórias, que são uma das principais causas de mortalidade em bezerras. Outro aspecto importante das instalações é a organização do manejo alimentar. Espaços bem estruturados devem incluir locais específicos para o fornecimento de colostro, leite ou sucedâneos, além de concentrados, forragens e água limpa. O o fácil e confortável aos alimentos estimula o consumo, promovendo um crescimento saudável. Comedouros e bebedouros devem ser projetados para evitar o desperdício e a contaminação dos alimentos.
Bezerras criadas em instalações confortáveis apresentam menores níveis de estresse, o que contribui para o fortalecimento do sistema imunológico e para melhores taxas de ganho de peso. Baias individuais nos primeiros dias de vida permitem que o manejo seja realizado de forma mais controlada, enquanto o alojamento em grupos pequenos, após a fase inicial, estimula o comportamento social e melhora o bem-estar. No entanto, é importante que as instalações ofereçam espaço suficiente para evitar competição excessiva por alimentos e água.
Além disso, as instalações devem ser planejadas para facilitar a separação entre animais doentes e saudáveis, reduzindo a transmissão de doenças contagiosas. A quarentena de bezerras recém-nascidas ou doentes pode ser feita em baias específicas, contribuindo para o controle sanitário.
Para os trabalhadores da propriedade, instalações bem estruturadas também são essenciais. Ambientes organizados e funcionais tornam as tarefas diárias, como alimentação, limpeza e monitoramento da saúde, mais eficientes e seguras. Isso resulta em economia de tempo e redução de custos com mão de obra, além de permitir maior atenção ao bem-estar das bezerras.
Em resumo, os cuidados com o bezerro são de extrema importância para garantir sua sobrevivência, saúde e desenvolvimento adequado. Colostragem eficiente, avaliação da imunidade, desinfecção do cordão umbilical, identificação e monitoramento do ganho de peso e instalações adequadas são estratégias para reduzir a mortalidade entre as bezerras e promover a sanidade do rebanho. Bezerras bem manejadas desde o nascimento não apenas garantem seu bem-estar, mas têm maior probabilidade de se tornarem vacas saudáveis e produtivas, garantindo a sustentabilidade econômica e a produtividade da propriedade.
Autores:
Mylena Santana Coelho - Discente do curso de Medicina Veterinária e Membros LiBovis-UFRRJ
Carolina Polido - Discente do curso de Medicina Veterinária e Membros LiBovis-UFRRJ
Ana Paula Lopes Marques -Orientadora
Leitura complementar:
BITTAR, Carla Maris Machado; MIQUEO, Evangelina. Manejo e alimentação de bezerras
e novilhas leiteiras. Curitiba: SENAR AR-PR, 2019. 133p. Disponível em:
<https://www.sistemafaep.org.br/wp-content/s/2021/11/PR.0340-Manejo-e-
Alimentacao-de-Bezerras_web.pdf >. o em: 17 dez. 2024.
DE GODOI OLIVEIRA, Isabella Cristina et al. Primeiros cuidados com bezerros recém-
nascidos: Revisão Bibliográfica. Vita et Sanitas, v. 17, n. 2, p. 82-96, 2023. Disponível em:
<https://unigoyazes.edu.br/revistas/index.php/VitaetSanitas/article/view/357>. o em: 02
dez. 2024.
DE SENA OLIVEIRA, Márcia Cristina. Cuidados com bezerros recém-nascidos em
rebanhos leiteiros. Circular Técnica n. 68, São Carlos: Embrapa, 2012. 7p. Disponível em:
<https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/922530/1/Circular68.pdf>. o
em: 22 nov. 2024.
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