Normalmente, o que se espera é que o primeiro trimestre apresente os preços bem comportados, os mais baixos do ano, com pequeno início de elevação, tendência que acaba se consolidando no segundo trimestre. Tem sido assim nos últimos anos. Mas, este ano, não foi o que ocorreu.
No mercado de insumos, a equipe de economia da Embrapa Gado de Leite apurou que, entre março de 2006 e março de 2007, o preço do farelo de algodão se elevou 22,9% acima do preço recebido pelo produtor de leite. Nesse mesmo período, a ração para vaca em lactação subiu 15,6% acima do preço do leite ao produtor.
A decisão do Governo americano de estimular a produção de etanol via milho já começa a ter efeito no mercado brasileiro. Os dados do Instituto de Economia Agrícola mostram que o milho no mercado interno teve uma elevação de preços de 42,4% nos últimos doze meses. Já a soja teve seu preço elevado em 23,8%, em igual período. Portanto, está mais caro alimentar os animais.
Também os laticínios estão com custos mais elevados, pois estão comprando leite mais caro. Ainda de acordo com o Instituto de Economia Agrícola, os laticínios estão comprando o produto neste mês a preços 4,3% mais caros que nos últimos trinta dias. Isso é onze vezes mais que a inflação dos últimos trinta dias, que ficou em 0,37%, de acordo com o IBGE. Como produtora de leite, a Embrapa Gado de Leite produz em suas fazendas, distribuídas em três estados (Minas Gerais, Rio de Janeiro e Goiás), e é testemunha do fenômeno, pois está recebendo preços acima do padrão para esse período, crescendo todos os meses.
Também no atacado, os preços começam a se elevar. A Embrapa Gado de Leite e o Cepea produzem um boletim de monitoramento quinzenal do mercado no atacado, denominado SimLeite. Na primeira quinzena de fevereiro em relação a janeiro, os primeiros soluços começaram a ser registrados. Por exemplo, teve praça de comercialização que chegou a registrar 10% de elevação de preços para o Leite em Pó. Já entre a segunda quinzena de fevereiro em relação à primeira, ocorreram registros de praças com preços para essa commodity se elevando em até 18,6%.
Nas quinzenas subseqüentes, valores próximos a elevação de até 3% em cada quinzena foram registrados, o que é muito para uma quinzena. É muito até para um mês. Afinal, os preços médios da economia tem se mantido bem comportados. Como os efeitos da elevação de preços ns mercados interno e externo começam a ser totalmente incorporados, o que se percebe é que praças de comercialização começam claramente a revelar aumentos no atacado, em patamares elevados. E o Leite em Pó é o produto que sofre o impacto mais claro, pois uma importante fonte dessa elevação vem do mercado internacional, como veremos mais à frente.
Também no varejo a elevação de preços do Leite em Pó já é visível. De acordo com o IPCA, que é o Índice que o Governo considera para monitorar a inflação, este ano o custo de vida subiu 1,3%, enquanto o Leite em Pó já subiu 5,0%, como média do Brasil, conforme o gráfico 1.
Gráfico 1. Variação do IPCA e do Preço do Leite em Pó. Brasil. Dez/2006 a Mar/2007.

Fonte: IBGE
Mas, é no mercado internacional que os preços estão com tendência altista mais nítida. Na Oceania, os preços se elevaram 20% em dólar, no primeiro trimestre deste ano, enquanto na Europa a variação ficou muito próxima, ou seja, 19%, conforme tabela 2. E, tudo leva a crer que o céu é o limite. Afinal, o ministério da Agricultura dos EUA informa que já há negócios em tonelada de Leite em Pó sendo comercializado a US$ 4,4 mil, neste mês de abril.
Gráfico 2. Preço do Leite em Pó na Europa e Oceania em ton./US$. Dez/2006 a Mar/2007.

Fonte: Banco de Dados MilkPoint.
Redução brusca dos subsídios, na Europa para o Leite em Pó; seca na Oceania; crescimento do consumo nos países em desenvolvimento, motivado por crescimento do PIB, são variáveis que ajudam a entender este fenômeno altista de preço no mercado internacional. Elevação de preços de insumos e crescimento do consumo, motivado por uma pequena onda de euforia no mercado interno, são variáveis que ajudam a explicar o fenômeno por estas bandas tupiniquins. Ademais, há o produtor ressabiado, com o trauma de 2005, que está pensando muito se deve ou não aumentar sua produção. Além disso, há a feroz disputa entre as empresas de laticínios, em busca de leite, que pressiona o preço ao produtor para cima.
Nesse cenário, é muito pouco provável que os preços caiam neste início do segundo trimestre. Ou você acha o contrário?