Introdução
Produzir leite competitivamente significa utilizar de forma eficiente os alimentos volumosos, principalmente os produzidos direta e intensivamente pela pastagem. Para isto é necessário manter as vacas no pasto, retirando-as somente no momento das ordenhas ou para outras práticas de manejo, incluindo aí o revezamento entre os piquetes. Diferentemente dos sistemas confinados, este modelo de produção pressupõe percursos freqüentes, tanto entre piquetes, como entre estes e a sala de ordenha, ou mesmo instalações da propriedade.
A movimentação dos animais, sobretudo no caso das vacas em lactação, exige cuidados, principalmente na época chuvosa. Atoleiros, buracos, pedras, lama, erosão, problemas nos cascos, congestionamentos por insuficiência de espaço, gasto de energia, desconforto, são alguns problemas derivados da necessidade de locomoção dos animais na rotina da produção. Merece atenção, portanto, algumas recomendações sobre os espaços utilizados na movimentação dos animais, tanto entre os piquetes, como entre eles e a sala de ordenha: os conhecidos corredores ou carreadores. Estes aqui tratados como corredores, formam a grande rede de movimentação e comunicação entre os diversos pontos de uma propriedade leiteira. Eles existem para facilitar o manejo, mas freqüentemente acabam virando um grande problema para os produtores, quando não lhes é reservada a devida atenção.
É sobre esta questão que serão feitas recomendações, sendo algumas delas adotadas na Nova Zelândia e outras sugeridas por pesquisadores da Embrapa Gado de Leite para as condições brasileiras.
Modelo utilizado na Nova Zelândia
O modelo de corredores, adotado pelos produtores neozelandeses, e perfeitamente recomendados também para as condições brasileiras, preconiza que os cuidados com estes espaços devem iniciar no momento de seu planejamento. O dimensionamento correto deve prever um tamanho suficiente para evitar congestionamentos e danos ao próprio piso. Além disto, devem ser observados os seguintes pontos:
- corredor deve ser dimensionado levando em conta não só a quantidade de animais atual do plantel, mas também prevendo um crescimento futuro;
- deve ser levada em consideração a velocidade de movimentação das vacas no seu percurso. Esta velocidade é alterada de acordo com a presença de ângulos, curvas ou mudanças bruscas de direcionamento do corredor;
- a inclinação do piso do corredor não deve ultraar a relação de 3:1. Este é o limite ideal permitido para movimentação dos animais;
- os corredores devem ter largura suficiente para uma livre movimentação dos animais;
- as porteiras ou colchetes devem possuir a mesma largura dos corredores;
- a largura dos corredores deve ser ligeiramente maior na entrada e na saída das instalações, tais como currais e sala de ordenha;
- a largura média recomendada é função do tamanho do rebanho e deve seguir as especificações do quadro:

Fonte: Dexcel - Partner in profitable darying - FarmFact. Planejamento de corredores de movimentação. Disponível em www.dexcel.co.nz/faarmfacts/view
Construção do corredor
Os pontos a seguir devem ser observados durante a construção do corredor:
- remover toda a cobertura vegetal e a primeira camada de solo;
- preparar, homogeneizar bem e recapear a base com brita fina, que é o material mais adequado para esta finalidade. Na falta dele, utilizar cascalho ou outro produto semelhante;
- recapear parceladamente, em camadas de no máximo 15cm, sucessivamente compactadas. Terminado, o piso deve estar com pelo menos 5cm acima da superfície original do terreno ou pasto ao seu redor;
- na compactação não fazer uso da movimentação de vacas ou de outros animais para evitar danos aos cascos. Ao utilizar veículos no processo, atentar para que todo o leito do corredor fique corretamente acabado;
- no acabamento (última camada), utilizar pelo menos 5cm de material macio, como saibro ou areia grossa;
- escolher os materiais de acordo com os custos;
- para escoamento das águas, manter um gradiente do centro da base para as laterais;
- drenagem ineficiente e acúmulo de água produz lama, erosão, desconforto e problemas nos cascos dos animais;
- vegetação nas laterais evita erosão, depósito de sedimentos nos drenos e a poluição de mananciais;
- drenos protegidos com cercas têm sua durabilidade aumentada;
- carreadores utilizados como malhadouro, ou espaço de descanso dos animais, têm sua vida útil reduzida;
- as vacas não devem se movimentar com muita rapidez sobre os carreadores. Em pisos esburacados, pedregosos e ondulados a velocidade adequada é de 1,5km/h. No caso de superfícies regulares e sem obstáculos que agridem os cascos das vacas, esta velocidade pode chegar a 3,5km/h;
- evitar o movimento de veículos e tratores no carreador. Se inevitável este trânsito, fazê-lo em baixa velocidade.

Unidade de Observação
A Embrapa Gado de Leite está iniciando a avaliação de um modelo de piso para corredor mais econômico e de boa resistência, construído com saibro, cimento e bambus. Trata-se de um processo simples de sobreposição de materiais, formando uma rede, que permite sua fixação com facilidade, sem necessidade de amarrios e, ao mesmo tempo, com boa agregação dos materiais utilizados, conforme ilustrado no desenho abaixo.
O modelo é simples e consiste nos seguintes os:
- Limpeza do solo, homogeneização e compactação da base, mantendo formato e demais detalhes propostos anteriormente, inclusive o gradiente recomendado e os drenos laterais;
- aplicação de uma camada de 6cm de espessura, de uma mistura saibro/cimento, em um traço 10:1;
- no sentido longitudinal do carreador, sobre a mistura recém-aplicada, distribuir e enterrar horizontalmente bambus com cerca de 5 cm de diâmetro, espaçando um do outro de 50cm;
- aplicar uma segunda camada da mistura saibro/cimento, com cerca de 6 cm de espessura;
- repetir outra fileira de bambus, deitados e enterrados sobre esta segunda e última camada de solo/cimento, no mesmo espaçamento, porém em sentido transversal à aplicação anterior, conferindo um formato de rede na seqüência de bambus;
- proteger os drenos laterais com cercas e iniciar a utilização após a argamassa adquirir sua consistência final, fato que ocorre após cinco dias de concluído o processo de aplicação dos materiais.


Custos do corredor
Na estimativa dos custos dos dois modelos, os seguintes serviços e materiais devem ser considerados:
- terraplenagem para limpeza, remoção de materiais, homogeneização do leito e construção do gradiente para as laterais;
- transporte dos materiais utilizados tais como bambus, saibro, areia, brita e cimento;
- mão-de-obra para preparo das misturas, distribuição e acabamento;
- materiais (bambus, saibro, brita, areia grossa e cimento): nos preços podem estar incluídos os fretes
Considerações Finais:
Os valores apresentados são estimativas iniciais. Foram feitos de acordo com preços atuais dos materiais e serviços, seguindo as recomendações preconizadas para a correta construção do corredor. Os dados precisam ser consolidados, com a implantação de Unidade de Observação. No quadro anterior estão apresentados somente os custos da construção do leito do corredor. Não estão incluídos os custos dos drenos laterais e das cercas de proteção. O custo final deverá ser levantado considerando a vida útil dos corredores e o custo de sua manutenção, no decorrer dos anos. Para isso, a Unidade de Observação a ser instalada no Campo Experimental de Coronel Pacheco da Embrapa Gado de Leite permitirá comparar os dois modelos de corredores citados e outras possíveis alternativas que possam ter menor custo.