O ectima contagioso é uma enfermidade cosmopolita causada por um DNA vírus da família Roxviridae do gênero Parapoxvírus. Acomete caprinos e ovinos, principalmente entre o terceiro e sexto mês de idade. Após a introdução da doença nos rebanhos a enfermidade se torna endêmica, pela persistência do vírus por longos períodos no ambiente ou pela presença de animais com infecções persistentes.
Infecções incidentais também ocorrem em humanos, bovinos e cães. Em humanos a doença tem caráter ocupacional, sendo os médicos veterinários uma classe mais propensa à infecção pelo contato próximo com animais contaminados.
A engorda intensiva com alimentos concentrados é também um fator de risco para o desenvolvimento da doença devido o aparecimento de feridas abrasivas em volta da boca, fruto do regime alimentar.
No Brasil há poucas referências da doença em caprinos e ovinos. Há relatos de surtos em rebanhos de ovinos no Rio Grande do Sul (Salles et al. 1992) e em São Paulo (Langoni et al. 1995, Catroxo et al. 2002). No nordeste, desde a década de 1930, a enfermidade é um dos principais problemas sanitários da exploração caprina, por acometer cerca de 60% das criações (Torres 1939, 1943). No Ceará, lesões vesiculares de pele, semelhantes às de ectima contagioso, foram encontradas em 35,4% das propriedades estudadas (Pinheiro et al. 2000).
Em ovinos, a morbidade geralmente é alta, podendo atingir 100%, já a mortalidade é baixa, aproximadamente 1%, sendo que infecções secundárias ou miíases podem elevá-la para até 50%.
Sinais clínicos
No início da doença há formação de pápulas, vesículas e pústulas, seguidas de crostas espessas que recobrem uma área elevada na pele. As crostas das feridas e pedaços de lesões revelam-se infectantes durante meses e até mesmo anos. É possível que o vírus se conserve viável e infectante de um ano para outro nas pastagens, nos utensílios ou nos cochos, o que favorece o surgimento de surtos, além da existência de portadores crônicos da doença que a disseminam.
As lesões são mais comumente observadas nas zonas frias do corpo tais como as camadas superficiais da pele. Locais como volta da face e membros são mais habituais para o desenvolvimento da doença e nos casos mais graves, a infecção se estende até as gengivas, narinas, olhos, úbere, língua, vulva, região perianal, espaços interdigitais e coroas dos cascos.
Figura 1 - Ectima em animais.
O ectima é uma zoonose altamente contagiosa e pode provocar lesões nas mãos dos tratadores e veterinários, portanto é indispensável a utilização de luvas durante o tratamento, vacinação e manipulação dos animais.
Figura 2 – Ectima contagioso em humanos.
Diagnóstico
O diagnóstico é feito por exame clínico dos animais afetados. Em alguns animais pode ocorrer simultaneamente dermatofilose e ectima contagioso. As doenças íveis de ser confundidas com o ectima contagioso são a dermatofilose, infecções bacterianas da pele e a fotosensibilização.
Tratamento e Controle
Não há tratamento específico, a maioria dos animais se recupera espontaneamente com auxílio de tratamentos tópicos a base de anti-sépticos, após um curso clínico de uma a quatro semanas.
É imprescindível que os animais afetados sejam isolados do restante do rebanho. O controle da doença pode ser feito através da vacinação, porém esta só deve ser empregada após a introdução da doença no rebanho.
A auto-hemoterapia tem sido utilizada com resultados positivos, consiste da retirada de sangue venoso e sua aplicação intramuscular no próprio doador. O sangue, tecido orgânico, em contato com o músculo, tecido extra-vascular, desencadeia uma reação imunológica que estimula o sistema retículo epitelial S.R.E.
Conclusão
Apesar de ter sua mortalidade baixa, os criadores têm que se atentar aos prejuízos econômicos dessa enfermidade, pois devido às lesões, os animais não se alimentam o suficiente, perdendo peso e atrasando o crescimento. Não é porque a doença não mata que podemos descuidar dela!
Referências bibliográficas:
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Catroxo M.H.B., Curi N.A., Pituco E.M., Garcia M., Okuda L.H., Porto A.C.R. & Stefano E. 2002. Ocorrência de ectima contagioso em ovinos criados em Itatiba, estado de São Paulo, Brasil. Arqs Inst. Biol., São Paulo, 69 (Supl.):37.
KLEMPARSKAYA, N.N.; SHALNOVA, G.A.; ULANOVA, A.M.; KUZMINA, T.D.; CHUHORV,A.V. Immunomodulating effect of autohaemotherapy (a literature review). J Hyg Epidemiol Microbiol Immunol, v. 30, n. 3, p. 331-336, 1986.