José Roberto Peres
O caroço de algodão é um subproduto largamente utilizado em fazendas leiteiras. Sua principal vantagem, está no alto teor de energia (2,2 Mcal de Ell/kg), embora ainda possua teor médio de proteína bruta (23%); e de fibra - 44% de FDN e 34% de FDA, sendo que esta fibra tem efetividade relativamente alta, estimulando a ruminação e a manutenção do funcionamento ruminal.
No entanto, este alto nível de energia do caroço é oriundo de seu alto teor em óleos insaturados que, em contrapartida, podem prejudicar a fermentação ruminal da fração fibrosa da dieta. Em função disso, a recomendação geral é que não se utilize mais que 15% da matéria seca da dieta na forma de caroço de algodão. Este nível de inclusão, no entanto, foi determinado em pesquisas americanas, que tinham como volumoso principal a alfafa. Em função disso foi realizado um experimento na ESALQ/USP, para avaliar diferentes níveis de caroço de algodão em dietas com silagem de milho como volumoso.
Foram utilizadas 5 vacas holandesas, canuladas no rúmen e no duodeno proximal, que receberam dietas isoprotéicas a base se silagem de milho, milho moído, farelo de soja, uréia, suplemento mineral e níveis crescentes de caroço de algodão como segue: tratamento controle, sem caroço de algodão (CA), além dos tratamentos com 6% de CA; 12% de CA; 18% de CA e 24% de CA.
A adição de caroço de algodão na dieta proporcionou uma tendência de redução linear (P=0,078) no consumo de matéria seca (MS) (Tabela 1). A digestibilidade aparente da MS apresentou um efeito linear (P<0,05), decrescendo de acordo com o aumento de CA na dieta (Tabela 2). Esse efeito também foi observado com a digestibilidade da fibra detergente ácido (FDA), provavelmente responsável pela diminuição da digestibilidade da MS. O decréscimo da digestibilidade da FDA devido ao aumento do teor de CA na dieta é conseqüência do aumento do teor de gordura.
Tabela 1: Efeito do caroço de algodão (CA) no desempenho de vacas leiteiras
Em contrapartida a digestibilidade aparente do extrato etéreo sofreu um aumento linear (P<0,05) à medida que se acrescentou CA na dieta (Tabela 2).
Não foram encontradas diferenças entre os tratamentos em produção de leite, produção de leite corrigida para 3,5% de gordura, embora tenha sido detectado um aumento linear da porcentagem de gordura do leite, com adição do CA (Tabela 1). Este mesmo efeito foi encontrado por outros pesquisadores que explicam esse aumento no teor de gordura pela transferência direta de gordura do caroço de algodão para o leite.
Tabela 2: Efeito do caroço de algodão (CA) na digestibilidade dos nutrientes
Comentário MilkPoint: O caroço de algodão é uma excelente alternativa, especialmente quando a densidade energética da dieta é fator limitante. No entanto, devido ao seu alto teor de óleos insaturados, seu uso fica a quantias de 2 a 3 kg por vaca.dia-1. Outros autores já constataram este "efeito associativo negativo" das sementes oleaginosas na digestibilidade da fibra da dieta. Como pode ser observado nos dados deste experimento, maiores teores de caroço na dieta, mesmo que economicamente viáveis, provavelmente resultariam em queda acentuada de produção, pois o incremento energético proporcionado pelo caroço seria negativamente compensado pela menor digestibilidade da fração fibrosa da dieta. Os autores não mencionam se foi testada a existência de um efeito quadrático nos dados de produção, mas aparentemente (numericamente), ocorreu uma queda bastante brusca na produção a partir do nível de 18% de caroço de algodão, denotando um possível limite para a interferência do óleo na fermentação ruminal da fibra. Maiores incrementos de caroço a partir deste ponto provavelmente provocariam quedas ainda mais acentuadas no desempenho.
fonte: FERNANDES, J.J.R., et alii, 2000. Efeitos de Níveis de Caroço de Algodão na Dieta de Vacas Holandesas em Lactação. In: XXXVII Reunião da SBZ, Viçosa - MG.