Estresse nutricional x qualidade do leite
Devido ao grande interesse demonstrado pelos leitores sobre algumas alterações na qualidade do leite causada por algum tipo de estresse ao animal, iremos falar neste artigo sobre duas síndromes específicas, a SILA e LINA. Segundo pesquisadores cubanos do Centro Nacional de Sanidade Animal (Censa), a SILA como foi definida para descrever uma série de alterações nas propriedades físico-químicas do leite (acidez positivo, prova do álcool positiva), causadas por transtornos fisiológicos, metabólicos e/ou nutricionais, com implicações nos mecanismos de síntese e secreção láctea em nível da glândula mamária, e que levam à perda do valor do leite para o tratamento industrial.
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Devido ao grande interesse demonstrado pelos leitores sobre algumas alterações na qualidade do leite causada por algum tipo de estresse ao animal, iremos falar neste artigo sobre duas síndromes específicas, a SILA e LINA.
Síndrome do leite anormal (SILA)
Segundo pesquisadores cubanos do Centro Nacional de Sanidade Animal (Censa), a SILA como foi definida para descrever uma série de alterações nas propriedades físico-químicas do leite (acidez positivo, prova do álcool positiva), causadas por transtornos fisiológicos, metabólicos e/ou nutricionais, com implicações nos mecanismos de síntese e secreção láctea em nível da glândula mamária, e que levam à perda do valor do leite para o tratamento industrial.
A situação é observada em especial, durante a época da seca, com duas situações que ocorrem concomitantemente: estresse calórico e suplementação com subprodutos de cana.
A SILA caracteriza-se por diminuição nos sólidos do leite, diminuição na sua estabilidade térmica e na sua capacidade tamponante (manter pH do leite) e alterações na aptidão para o processamento industrial.
A síndrome é considerada um fenômeno de causa multifatorial e ainda não muito bem identificado em todos os casos. Os desbalanços em energia e proteína associados às características da ração, com implicações no ambiente ruminal e comprometimento do metabolismo geral (acidose), são os fatores de maior consideração no caso de Cuba. A síndrome aumenta em gado de alto potencial genético e em épocas de estresse nutricional e/ou calórico.
Nos quadros de SILA, as limitações de energia disponível no tecido epitelial mamário afetam a síntese e secreção dos componentes lácteos, fundamentalmente de caseína, lactose e os principais macrominerais implicados nesses processos, basicamente fósforo e magnésio. É provável que esse fenômeno possa ser potencializado por causas genéticas, associadas aos tipos de caseínas e outras proteínas lácteas.
No caso mais geral de Cuba, a diminuição no consumo de carboidratos facilmente fermentáveis, o aumento de forragem verde, o aumento de proteína verdadeira, de preferência by-, e o uso de substâncias reguladoras do ambiente ruminal, produzem uma recuperação entre 7-21 dias após as mudanças na alimentação.
Leite instável não ácido (LINA)
O leite instável não ácido (Lina) é um problema que acomete rebanhos leiteiros e que se caracteriza por apresentar alterações nas características físico-químicas do leite. A principal alteração identificada é a perda da estabilidade da caseína ao teste do álcool, resultando em precipitação positiva, sem haver acidez acima de 18°D (graus Dornic).
O teste do álcool é utilizado pelas indústrias lácteas para avaliar a qualidade do leite nas unidades de produção leiteira, e as amostras de leite positivas são descartadas por não serem consideradas aptas aos processos de beneficiamento. Resultados positivos ao teste do álcool (precipitação) podem ocorrer devido à redução de pH pela fermentação da lactose até a produção de ácido láctico, resultando na instabilidade da proteína, ou, no caso, de Lina.
As causas da instabilidade ainda não estão totalmente esclarecidas. Há indicações de que a instabilidade do leite esteja relacionada com dietas ricas em cálcio, deficiências ou desequilíbrio mineral, mudanças bruscas na dieta, deficiência de energia, subnutrição e genética.
Pode-se concluir que a composição do leite pode ser amplamente afetada pela nutrição da vaca leiteira. A composição da dieta influi na fermentação do rúmen e os produtos dessa fermentação não somente provêem o animal com a energia necessária para o seu metabolismo como também disponibilizam os principais precursores para a síntese da gordura, da proteína e da lactose do leite.
Referência Bibliográfica:
Texto baseado no Seminário apresentado pelo aluno Dari Celestino Alves Filho na disciplina BIOQUÍMICA DO TECIDO ANIMAL, no Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no primeiro semestre de 2005. Professor responsável pela disciplina:Félix H. D. González.
Material escrito por:
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LAGOA DA PRATA - MINAS GERAIS - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS
EM 15/09/2020
Clima,em termo geral manejo sanitário.
Melhorando o manejo sanitário e alimentação irá ter resultado.

LAGOA DA PRATA - MINAS GERAIS - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS
EM 15/09/2020

PORTO ALEGRE - RIO GRANDE DO SUL - PESQUISA/ENSINO
EM 04/04/2018
ESTUDANTE
EM 26/03/2018

AVARÉ - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE OVINOS DE CORTE
EM 10/07/2017

LARANJA DA TERRA - ESPÍRITO SANTO - PRODUÇÃO DE LEITE
EM 04/07/2017

AVARÉ - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE OVINOS DE CORTE
EM 02/07/2017
UMA COISA EU GARANTO, É UM PRATO CHEIO PARA OS MÉDICOS QUE INSISTEM EM CONDENAR O CONSUMO DO LEITE...
ITAPEVA - SÃO PAULO - ESTUDANTE
EM 28/11/2016
Gostaria de saber se o LINA na prova do alizarol apresenta a cor amarela indicando acidez, um falso positivo, ou ele apenas precipita??
Obrigada!

BALNEÁRIO CAMBORIÚ - SANTA CATARINA - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
EM 19/04/2016
Das ist alles für heute (isso é tudo por hoje) Auf Wiedersehen!!!! (Até Logo)

PORTO ALEGRE - RIO GRANDE DO SUL - PESQUISA/ENSINO
EM 21/05/2013
Na verdade não há comprovação científica que dietas ricas em cálcio causem maior instabilidade, especialmente pois o que que varia é o teor de cálcio iônico, que por sua vez é influenciado pelo p|H do leite, o qual pode ser afetado pelo status metabólico da vaca.
Mas podemos afirmar que a adequada nutrição reduz substancialmente o problema da instabilidade do leite.
SANTA MARIA - RIO GRANDE DO SUL - PESQUISA/ENSINO
EM 27/01/2009
de cálcio iônico. Houve variação significativa entre o
leite normal e o leite instável com relação aos valores
desse íon, sendo a média de cálcio iônico de 0,11 g L-1
no leite instável e 0,094 g L-1 no leite normal.
Foi identificada uma relação inversa entre o pH e o teor
de cálcio iônico do leite. Neste trabalho, essa variável
não foi determinada; entretanto, o leite dos animais que sofreram restrição apresentou pH mais elevado e menor estabilidade, o que discorda dos resultados de Barros et al. (1999).
Como está no texto que a dieta ricas em cálcio podem contribuir para o LINA? Acredito que nas condições do Brasil seja mais por subnutrição mesmo. É só vocês sairem a campo que verão vacas em estado lamentável de subnutrição.

CAARAPÓ - MATO GROSSO DO SUL - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA A PRODUÇÃO
EM 07/11/2008
Att.
Nivaldo César de Melo.
Gestor de qualidade em tecnologia de Manejo e Nutrição Animal.

PELOTAS - RIO GRANDE DO SUL - PESQUISA/ENSINO
EM 10/01/2008
Sou uma das pesquisadoras do LINA, do Sul do país, e gostaria de fazer alguns comentários a respeito das tuas observações.
Está correto o teu comentário de que o SILA e o LINA tem caracterísitcas semelhantes. Na verdade no ínicio dos trabalhos nosso objetivo era diagnosticar a ocorrência de SILA. Entretanto, notamos que existem algumas diferenças que são peculiares de cada país. Por exemplo: segundo o Pastor Ponce Ceballo, O SILA se caracteriza por instabilidade da proteína (igual ao LINA) e acidez titulável menor que 13 Dornic (leite alcalino; no caso do LINA a maior parte das amostras ocorre com acidez normal 14-18D).
Além disso, o SILA ocorre em animais de raça especializada e altas produções (no nosso caso, o LINA já foi diagnosticado em animais das Raças Holandês, Jersey e até mesmo mestiços, e inclusive em animais de baixa produção), além de outras diferenças na alimentação dos animais.
Na verdade, essa diferença de nomenclatura não é importante, inclusive já existem trabalhos em parceria sendo feito entre os pesquisadores dos diversos países (Brasil, Cuba e Uruguai). O importante são os reflexos que esse leite instável causa para a cadeia produtiva do leite, principalmente para os produtores.
Sobre as tuas dúvidas, os trabalhos feitos até agora com indução de animais e tratamento do LINA, demonstraram uma grande relação com desequilíbrio nutricional.
O que fazer com o LINA? Na verdade a maior parte do LINA está sendo utilizado pelos laticínios. Os trabalhos de incidência realizados no sul do país (e que agora estão sendo feitos em outras regiões), demostram ocorrências em torno de 50% do leite que está sendo recebido. É importante destacar que o LINA não é leite ácido, e além disso ele não representa problemas para a saúde pública.
Os estudos demonstram até então que ele pode ser pasteurizado, e no caso de UHT a legislação permite o uso de citrato de sódio pela indústria (estabilizante). No caso do produtor, nenhum produto pode ser adicionado ao leite. É importante saber que nível de álcool/alizarol está sendo usado no diagnóstico! Concentrações altas resultam em maior incidência de LINA e podem levar a uma penalização e ao descarte do leite de forma injustificada.
Como controlar o problema? O fornecimento de uma dieta balanceada e em quantidade adequada é a principal solução. Além disso, secar vacas com lactação prolongada, separar os animais com mastite e não fazer o teste do álcool logo após a ordenha são pontos importantes.
Sugiro que leias o artigo: Leite Instável Não Ácido e composição do leite de vacas Jersey sob restrição alimentar. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.41, n.5, p.835-840, maio 2006.
Maira Balbinotti Zanela
PORTO ALEGRE - RIO GRANDE DO SUL - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
EM 27/12/2007
Daí surge o problema, pois o leite da vaca subnutrida é mais sensível ao álcool e reage como se fosse "ácido", sendo então condenado. É o que Fischer e colaboradores aqui no RS denominaram de "LINA", leite instável (ao álcool) não ácido. Portanto, nesses casos, o teste de estabilidade térmica através da prova do álcool não é um procedimento adequado.
Entretanto, mesmo que tal teste venha a ser substituído, o fato da vaca estar numa situação de subnutrição continuará persistindo, e não por falta de tecnologia, pois hoje há o conhecimento que permite o cálculo correto de qualquer dieta. O que falta é o fornecimento adequado de alimentos principalmente durante a lactação, buscando otimizar a produção e mantendo a saúde e a capacidade reprodutiva do animal.
Na prática, constata-se muito empirismo na alimentação do gado leiteiro, sofrendo a vaca em lactação as consequências mais graves. E a situação pode até se agravar com o uso de sêmen de touros cada vez mais "melhoradores" da produção de leite, o que não deixa de ser um contra-senso.
Acontece que o avanço genético para maior secreção de leite não vem sendo acompanhado pelo melhoramento concomitante da alimentação. Isto se torna mais crítico no início da lactação, pois para o organismo de uma fêmea lactante a cria tem toda prioridade, ou seja, se uma vaca foi "melhorada" para produzir 40 litros ao dia, o metabolismo do animal direciona-se prioritariamente para essa demanda, por força da natureza. Em outras palavras, o organismo do animal procura trabalhar para que a "cria" receba seus 40 litros diários! Assim, mesmo mal alimentada, a vaca de alto potencial tenta realizar aquilo para o qual foi "programada", porém sem consegui-lo e às custas de sua saúde: perdendo condição corporal, padecendo de distúrbios digestivos e metabólicos e anulando a sua capacidade reprodutiva.
É obvio que a sustentabilidade desse tipo de "exploração" fica comprometida e a condição corporal da vaca torna-se a de um animal famélico.
Por outro lado, a margem estreita da atividade, onde a alimentação representa 50% do custo de produção, e a propalada "vocação" do Brasil para a produção "a pasto" (sem considerar a "genética" de cada rebanho e o efeito do clima sobre a disponibilidade de forragem) e a alegação de que tal sistema permite a diminuição do custo operacional de produção (sem considerar o efeito sobre o custo total) são "meias verdades" que quando levianamente generalizadas agravam ainda mais a situação.
Há que se considerar ainda o aspecto ético. Será que o consumidor mais bem informado aceitaria um produto proveniente de um animal famélico?

RIO VERDE - GOIÁS - MÉDICO VETERINÁRIO
EM 21/12/2007
Ambas têm caractererísticas comuns: a caseína é instável ao teste do álcool e os fatores predisponentes são semelhantes, tais como mudança, falha ou desequilíbrio na dieta. O que diferencia as duas são outras variáveis que foram observadas e analisadas em contextos diferentes e pesquisadores distintos.
Portanto, como se trata de uma síndrome cujas causas ainda não foram bem definidas e que carece de muito estudo, fica a oportunidade de novas pesquisas. Por favor, me corrija se eu estiver enganado e me ajude com as seguintes dúvidas: o que fazer com o leite - LINA? Qual o tratamento da vaca ou quais medidas de controle? Pode adicionar algum estabilizante ao leite?
<b>Resposta da autora:</b>
Vantuil,
Foram ótimas as suas colocações. Na minha opinião não devemos nos preocupar em reverter o quadro pensando no produto - leite - e sim trabalhar no sentido de evitar a origem do problema, com menos estresse animal possível.
Quanto ao leite - LINA - não posso afirmar com certeza o seu devido destino, sugiro que entre em contato com pessoas que trabalhem diretamente com o processamento do leite. Se tiver interesse, na ESALQ em Piracicaba (SP), existe a Clínica do Leite, que poderá te dar mais informações.
Rafaela