Vários estudos têm indicado que os tipos de fontes de energia utilizadas podem ser importante fator na prevenção e severidade do balanço energético negativo, bem como às desordens metabólicas relacionadas. Tais problemas ocorrem devido à falta de nutrientes lipogênicos e glicogênicos.
Em ruminantes, nutrientes de origem lipogênica podem vir da fibra que estimula a produção ruminal de acetato e propionato, a partir da gordura dietética, ou podem ser derivados de reservas corporais. Os nutrientes glicogênicos originam por sua vez do amido que escapa da degradação ruminal ou pela gliconeogenese. Em ordem decrescente de importância, ácido propiônico, aminoácidos glicogênicos e ácido lático são os maiores contribuidores para glicogênese em ruminantes. A contribuição do amido digerido no intestino para glicose é altamente variável, dependendo de fatores incluindo fontes dietéticas resistentes a degradação no rúmen, tratamento tecnológico e nível de ingestão.
Há mais de 40 anos, sabe-se que dietas com baixa depressão da gordura do leite, prioriza a produção de gordura do leite em relação a deposição de reservas corporais. Isso implica que nutrientes lipogênicos que aumentam a gordura do leite, aumentam a partição de energia metabolizável para o leite, e consequentemente, diminui a partição de energia metabolizável para as reservas corporais. Entretanto, o efeito de nutrientes lipogênicos na gordura do leite depende do grau e tipo de saturação da gordura na dieta. Ácidos graxos polinsaturados e intermediários específicos de suas biohidrogenações dentro do rúmen, notadamente C18:2 trans-10, cis-12, deprimem a gordura do leite, em contraste com as fontes de ácidos graxos saturados.
Por outro lado, nutrientes glicogênicos diminuem o teor de gordura do leite e aumentam a insulina plasmática. Estas observações sugerem que nutrientes glicogênicos estimulam a deposição de gordura corporal e a partição de energia metabolizável para os tecidos corporais.
Estes indicativos possibilitam promover o balanço de energia em vacas leiteiras em início de lactação pelo aumento na disponibilidade de nutrientes glicogênicos à custa de nutrientes lipogênicos.
Um estudo desenvolvido na Nova Zelândia com vacas Holandesas com produção acima de 9.500 kg de leite em 305 dias, confrontou duas dietas, uma lipogênica e outra glicogênica. As respectivas dietas estão descritas na Tabela 1.
Tabela1. Ingredientes e composição química dos concentrados e dietas lipogênicas e glicogênicas.

As vacas receberam 1 kg/d dos concentrados experimentais 3 semanas no pré-parto, seguido de 2 kg/d na última semana do pré-parto. No pós-parto, o concentrado foi sendo aumentado em 0,5 kg/d até chegar a 10,0 kg/d, mantendo uma relação concentrado:forragem de 40:60.
As dietas não afetaram o peso vivo corporal, consumo de matéria seca e a produção de leite. Entretanto, o teor de gordura do leite foi maior para as vacas alimentadas com a dieta lipogênica, conforme mostra a Figura 1. Os teores e produções de proteína e lactose não foram alterados. Ocorreu uma interação entre dieta e semanas de lactação para produção de gordura e proteína do leite, embora tenha sido uma interação baixa.
Figura 1. Teor de gordura do leite para vacas alimentadas com dietas lipogênicas (linha tracejada) e dietas glicogênicas (linha cheia).

Vários estudos observaram aumento nos teores de gordura do leite após alimentação com dietas ricas em nutrientes lipogênicos. É importante relatar que , nos estudos onde além da maior proporção de nutrientes lipogênicos, aumentou-se também a densidade energética, aumentou-se a produção de leite.
O aumento na concentração de nutrientes glicogênicos também aumenta a produção de leite, entretanto, geralmente, diminuem o teor de gordura do leite e aumentam o teor de proteína do mesmo.
Considerações finais
Conclui-se então que a partição de energia entre o leite e os tecidos corporais podem ser alterados pelas dietas isocalóricas que diferem quantos aos nutrientes lipogênicos (lipídios e gorduras) e glicogênicos (amido). Embora a energia metabolizável não seja diferente, o teor de gordura e a energia do leite são maiores nas dietas lipogênicas.
Consequentemente, a maior energia do leite resulta em uma tendência para menor energia particionada para o tecidos corporais de vacas alimentadas com dietas lipogênicas, comparadas a dietas glicogênicas.
Assim, se o objetivo é evitar grandes perdas de peso ou recuperar a condição corporal, deve-se balancear a dieta lançando mão de nutrientes preferencialmente glicogênicos. Caso o objetivo seja aumentar a gordura do leite, em se tendo disponibilidade de gorduras, pode-se balancear uma ração utilizando-as como fonte preferencial de nutrientes lipogênicos.