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Investindo na atividade leiteira sem sucessor

Ao investir na atividade leiteira, o produtor normalmente deseja que um sucessor assuma a propriedade no futuro. Mas será que essa é a regra? Confira!

Publicado em: - 4 minutos de leitura

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A sucessão familiar em propriedades leiteiras é frequentemente debatida, especialmente quando ocorre com sucesso, ou seja, quando a transferência do negócio, ainda que parcial, se concretiza de pais para filhos. No entanto, pouco se discute sobre o que fazer quando essa sucessão não acontece.

Esse é o caso da Chácara Nova Esperança, uma das fazendas que compõem o Top 100 em 2024. Localizada em Arapoti/PR e gerida pelo produtor Marius Cornelis Bronkhorst, a propriedade conta com 500 vacas em lactação em um sistema de confinamento free stall.

Marius, que ingressou na atividade leiteira em 1981 e iniciou a produção no ano seguinte, destaca alguns marcos em sua trajetória. Em 2010, tomou a importante decisão de realizar investimentos significativos na fazenda, renovando toda a infraestrutura, expandindo o plantel, adquirindo novos equipamentos e contratando mais colaboradores. Esse movimento foi fundamental para que a produção saltasse de 6.000 litros para quase 18.000 litros diários.

A sucessão familiar

Marius sempre acreditou que os filhos deveriam seguir seus próprios caminhos, sem imposições para assumir a propriedade. Ele destaca: "Entendemos que, se os filhos tivessem interesse em assumir a atividade, a iniciativa deveria partir deles. Caso contrário, a sucessão não funcionaria". Desde a infância, seus filhos participaram de algumas atividades, como competições com bezerras, mas nunca foram pressionados a se envolverem diretamente com o negócio, tendo liberdade para fazer suas escolhas.

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Para Marius, a produção de leite sempre foi vista como uma empresa. Quando decidiu intensificar os investimentos em 2010, muitos questionaram se seus filhos retornariam para assumir o negócio. Com 54 anos à época, ele refletia: "Devo sempre agir em função de algo ou fazer o que realmente desejo?". Além de querer continuar e expandir a produção, Marius também visava proporcionar uma vida mais estável para a família. "Se eu não tivesse feito essa escolha, não estaríamos onde estamos hoje. O cenário atual prova que, sem evolução, corremos o risco de sair da atividade", afirma.

A visão dos filhos sobre a atividade leiteira

Embora os quatro filhos de Marius irem a atividade leiteira e, quando visitam a fazenda, acompanham o andamento dos setores, nenhum deles demonstrou grande interesse em assumir o negócio. Cada um seguiu seu próprio caminho, de acordo com suas escolhas pessoais. Marius deixa claro que a fazenda continuará ativa enquanto ele estiver à frente, mas que o futuro da propriedade será decidido pelos filhos. "Enquanto eu estiver aqui, seguirei com a atividade. O que acontecer depois será uma decisão deles", enfatiza.

Mas sem um sucessor, o que fazer?

Para assegurar a continuidade da produção, Marius delegou responsabilidades a seus colaboradores e implementou um sistema de gestão por software, onde todos os dados da fazenda são registrados. A propriedade também conta com consultorias técnicas terceirizadas nas áreas de nutrição, reprodução, sanidade animal e criação de bezerras. O acompanhamento nutricional do rebanho é realizado semanalmente, enquanto na área de ordem e qualidade do leite, a fazenda conta com a consultoria especializada de uma zootecnista. Além disso, diversos serviços, como a distribuição de dejetos e o plantio e colheita de milho para silagem, são terceirizados.

Marius planeja manter essa estrutura de gestão, sempre buscando aprimorar processos e cobrar resultados, ao mesmo tempo em que oferece condições para que os colaboradores alcancem os objetivos. Ele ainda é responsável pela estratégia e finanças da propriedade, enquanto as operações diárias ficam a cargo dos colaboradores e dos prestadores de serviços.

Inovações e automação

Como parte das melhorias contínuas, Marius destaca a necessidade de atualizar o software utilizado na gestão da fazenda, tornando os dados mais íveis e visíveis. A automação também vem sendo gradualmente implementada, com a introdução de alimentadores automáticos para bezerras e colares para vacas, que auxiliam na detecção de doenças, cio e monitoramento da atividade. Outro aspecto em que se busca mais eficiência é no controle nutricional, com o objetivo de facilitar a análise e gestão dos dados.

A equipe de trabalho

A baixa rotatividade entre os colaboradores é um dos pontos positivos destacados por Marius. Os colaboradores mais antigos desempenham um papel fundamental na gestão da fazenda, trazendo experiência e conhecimento para as operações. Embora sem formação superior, os colaboradores são altamente competentes na linha de frente, contribuindo diretamente para os bons resultados da propriedade. "Eles já estão conosco há muito tempo e conhecem bem o funcionamento da fazenda", comenta Marius.

Ele acredita que o segredo para o sucesso está em delegar responsabilidades gradualmente, cobrar resultados e oferecer e para que os colaboradores atinjam os objetivos. Outro ponto relevante é o incentivo ao pensamento crítico e à visão empresarial. "Se estou ou não na fazenda, sei que as coisas vão acontecer. Problemas, como a morte de bezerras ou vacas, fazem parte, mas precisamos entender as causas e como evitá-los", afirma. O proprietário da Chácara Nova Esperança também compartilha que dividiu a fazenda em setores e que cada setor tem uma pessoa responsável, o que tem feito as atividades e gestão de cada setor funcionarem.

Por fim, Marius ressalta que este foi, sem dúvida, o melhor caminho a seguir, afirmando que seria injusto agir de outra forma. "Aos 68 anos, eu poderia vender tudo e me retirar da atividade, mas reconheço a responsabilidade social que tenho em gerar empregos. Esse é o meu ponto de vista: se eu puder continuar assim, com a liberdade de sair e chegar quando desejar, e ver as coisas funcionando bem, estarei satisfeito. No entanto, a atividade precisa ser financeiramente viável, e os colaboradores têm plena consciência disso”

A Chácara Nova Esperança que começou a fazer parte do Top 100 desde 2005, na 81° posição, com 5.282 litros por dia em média, atualmente está 78° no ranking com uma média de produção diária de 17.231 litros.

 

 

As informações e foto da capa foram cedidas por Marius Cornelis Bronkhorst à equipe MilkPoint.

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Material escrito por:

Fernanda Antunes

Fernanda Antunes

Engenheira Agrônoma pela Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC/CAV.

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A sucessão familiar em propriedades leiteiras é frequentemente debatida, especialmente quando ocorre com sucesso, ou seja, quando a transferência do negócio, ainda que parcial, se concretiza de pais para filhos. No entanto, pouco se discute sobre o que fazer quando essa sucessão não acontece.

Esse é o caso da Chácara Nova Esperança, uma das fazendas que compõem o Top 100 em 2024. Localizada em Arapoti/PR e gerida pelo produtor Marius Cornelis Bronkhorst, a propriedade conta com 500 vacas em lactação em um sistema de confinamento free stall.

Marius, que ingressou na atividade leiteira em 1981 e iniciou a produção no ano seguinte, destaca alguns marcos em sua trajetória. Em 2010, tomou a importante decisão de realizar investimentos significativos na fazenda, renovando toda a infraestrutura, expandindo o plantel, adquirindo novos equipamentos e contratando mais colaboradores. Esse movimento foi fundamental para que a produção saltasse de 6.000 litros para quase 18.000 litros diários.

A sucessão familiar

Marius sempre acreditou que os filhos deveriam seguir seus próprios caminhos, sem imposições para assumir a propriedade. Ele destaca: "Entendemos que, se os filhos tivessem interesse em assumir a atividade, a iniciativa deveria partir deles. Caso contrário, a sucessão não funcionaria". Desde a infância, seus filhos participaram de algumas atividades, como competições com bezerras, mas nunca foram pressionados a se envolverem diretamente com o negócio, tendo liberdade para fazer suas escolhas.

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Para Marius, a produção de leite sempre foi vista como uma empresa. Quando decidiu intensificar os investimentos em 2010, muitos questionaram se seus filhos retornariam para assumir o negócio. Com 54 anos à época, ele refletia: "Devo sempre agir em função de algo ou fazer o que realmente desejo?". Além de querer continuar e expandir a produção, Marius também visava proporcionar uma vida mais estável para a família. "Se eu não tivesse feito essa escolha, não estaríamos onde estamos hoje. O cenário atual prova que, sem evolução, corremos o risco de sair da atividade", afirma.

A visão dos filhos sobre a atividade leiteira

Embora os quatro filhos de Marius irem a atividade leiteira e, quando visitam a fazenda, acompanham o andamento dos setores, nenhum deles demonstrou grande interesse em assumir o negócio. Cada um seguiu seu próprio caminho, de acordo com suas escolhas pessoais. Marius deixa claro que a fazenda continuará ativa enquanto ele estiver à frente, mas que o futuro da propriedade será decidido pelos filhos. "Enquanto eu estiver aqui, seguirei com a atividade. O que acontecer depois será uma decisão deles", enfatiza.

Mas sem um sucessor, o que fazer?

Para assegurar a continuidade da produção, Marius delegou responsabilidades a seus colaboradores e implementou um sistema de gestão por software, onde todos os dados da fazenda são registrados. A propriedade também conta com consultorias técnicas terceirizadas nas áreas de nutrição, reprodução, sanidade animal e criação de bezerras. O acompanhamento nutricional do rebanho é realizado semanalmente, enquanto na área de ordem e qualidade do leite, a fazenda conta com a consultoria especializada de uma zootecnista. Além disso, diversos serviços, como a distribuição de dejetos e o plantio e colheita de milho para silagem, são terceirizados.

Marius planeja manter essa estrutura de gestão, sempre buscando aprimorar processos e cobrar resultados, ao mesmo tempo em que oferece condições para que os colaboradores alcancem os objetivos. Ele ainda é responsável pela estratégia e finanças da propriedade, enquanto as operações diárias ficam a cargo dos colaboradores e dos prestadores de serviços.

Inovações e automação

Como parte das melhorias contínuas, Marius destaca a necessidade de atualizar o software utilizado na gestão da fazenda, tornando os dados mais íveis e visíveis. A automação também vem sendo gradualmente implementada, com a introdução de alimentadores automáticos para bezerras e colares para vacas, que auxiliam na detecção de doenças, cio e monitoramento da atividade. Outro aspecto em que se busca mais eficiência é no controle nutricional, com o objetivo de facilitar a análise e gestão dos dados.

A equipe de trabalho

A baixa rotatividade entre os colaboradores é um dos pontos positivos destacados por Marius. Os colaboradores mais antigos desempenham um papel fundamental na gestão da fazenda, trazendo experiência e conhecimento para as operações. Embora sem formação superior, os colaboradores são altamente competentes na linha de frente, contribuindo diretamente para os bons resultados da propriedade. "Eles já estão conosco há muito tempo e conhecem bem o funcionamento da fazenda", comenta Marius.

Ele acredita que o segredo para o sucesso está em delegar responsabilidades gradualmente, cobrar resultados e oferecer e para que os colaboradores atinjam os objetivos. Outro ponto relevante é o incentivo ao pensamento crítico e à visão empresarial. "Se estou ou não na fazenda, sei que as coisas vão acontecer. Problemas, como a morte de bezerras ou vacas, fazem parte, mas precisamos entender as causas e como evitá-los", afirma. O proprietário da Chácara Nova Esperança também compartilha que dividiu a fazenda em setores e que cada setor tem uma pessoa responsável, o que tem feito as atividades e gestão de cada setor funcionarem.

Por fim, Marius ressalta que este foi, sem dúvida, o melhor caminho a seguir, afirmando que seria injusto agir de outra forma. "Aos 68 anos, eu poderia vender tudo e me retirar da atividade, mas reconheço a responsabilidade social que tenho em gerar empregos. Esse é o meu ponto de vista: se eu puder continuar assim, com a liberdade de sair e chegar quando desejar, e ver as coisas funcionando bem, estarei satisfeito. No entanto, a atividade precisa ser financeiramente viável, e os colaboradores têm plena consciência disso”

A Chácara Nova Esperança que começou a fazer parte do Top 100 desde 2005, na 81° posição, com 5.282 litros por dia em média, atualmente está 78° no ranking com uma média de produção diária de 17.231 litros.

 

 

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