Mesmo depois de uma década de implantação da tecnologia do compost barn no Brasil enfrentamos diariamente desafios na compreensão de como deveria ocorrer a correta compostagem de uma cama de compost barn.
A compostagem em confinamentos de vacas leiteiras deve ocorrer de forma dinâmica; isto mesmo, o processo é dinâmico, portanto diferente do que ocorre em estruturas que promovem compostagem de diferentes materiais para transforma-los em humos (adubo). Que é um processo onde não há adição diária de matéria orgânica (esterco e urina de vaca), tão pouco reposição estratégica e regular de substrato a ser compostado (serragem, maravalha, entre outros materiais).
Todos os dias no trabalho de consultoria nos deparamos com dúvidas frequentes em relação ao entendimento de como a compostagem funciona, frente ao fato de que o resultado do confinamento das vacas em relação a cama geralmente não está como o produtor de leite ou o assistente técnico/veterinário gostaria. Está mais úmida, mais fria, muito baixa, as vacas estão levemente sujas, ocasionalmente existem pequenos casos de mastites e para completar, muitas vezes o desafio para conseguir reposição de material só aumenta.
Além disso, há a incessante dúvida que vem a tona todo santo dia, qual o melhor material para utilizar na cama do compost barn das vacas? Maravalha, serragem, pó de serra (que em muitas regiões é tudo a mesma coisa, de acordo com entendimento das pessoas envolvidas) ou materiais alternativos e talvez mais baratos tais como, casca de café, casca de arroz, vagem de amendoim ou até mesmo capim picado e quem sabe bagaço de cana, e aí fazer o que?
Nossa colega conteudista do Milkpoint Karen Dal Magro Frigeri nos traz alguns fatores que devem ser considerados para a escolha do material que será utilizado na cama, buscando uma compostagem ideal, sendo eles:
- Características físico químicas dos materiais, com o intuito de acelerar o desenvolvimento de microrganismos e o processo de compostagem;
- Ter boa relação carbono e nitrogênio para que a compostagem se inicie o mais rápido possível e permaneça ativa;
- O material da cama deve permitir conforto aos animais, visto que as vacas ficam deitas na maior parte do tempo;
- Os materiais devem apresentar tamanho médio de no máximo 3 a 5 cm de comprimento e 2 a 3 mm de espessura (para auxiliar no crescimento microbiano e não compactar a cama);
- Os materiais devem apresentar boa capacidade de absorção de umidade;
- Para a escolha do material a ser utilizado na cama, a relação custo-benefício é um dos fatores primordiais. Esta relação está totalmente direcionada a disponibilidade e ao custo do material que será utilizado.
No entanto, devido ao crescimento da adoção do sistema de confinamento do modelo compost barn no Brasil (tanto para vacas em lactação, como para outras categorias), resultou no aumento da demanda de materiais para a cama, que por consequência, aumentou o custo de aquisição e impacto na disponibilidade dos materiais, principalmente maravalha e serragem em grande parte do país. Assim, alternativas de materiais começaram a serem questionadas. A tabela 1 apresenta os principais materiais utilizados na cama e materiais alternativos que possam serem utilizados pelos produtores.
Tabela1. Principais materiais utilizados em cama de compost barn.
Materiais para a cama |
Características |
Observação |
Maravalha |
Apresenta bom grau de absorção de umidade. |
Disponibilidade de acordo com cada região. Material mais utilizado para a cama no Brasil (principalmente, no sul e no sudeste do país). |
Serragem |
Composto de pequenas partículas de madeira. Boa capacidade de absorver umidade. |
Boa disponibilidade de aquisição (principalmente no sul e no sudeste do país). |
Pó de serragem |
É um resíduo da indústria da madeira. Material macio e que absorve bem a umidade. Pode causar problemas respiratórios nos animais, devido o tamanho da partícula, além de possuir alto grau de compactação. |
Grande disponibilidade na região sudeste, sul e norte do Brasil. |
Casca de amendoim |
Possui grande capacidade de absorção de umidade. É um material com degradação acelerada, exigindo reposição constante. |
Grande disponibilidade em São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais e Mato Grosso. |
Casca de arroz |
Possui baixa capacidade de absorção de umidade e elevado teor de sílica, dificultando sua degradação pelos microrganismos. Além disso, sua estrutura é abrasiva, o que pode causar ferimentos na região do úbere e reduzir o tempo de descanso dos animais. |
Grande disponibilidade no Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Minas Gerais, Maranhão, Santa Catarina, Goiás, Tocantins, São Paulo e Mato Grosso do Sul. |
Casca de café |
A casca de café deve ser bem seca para ser utilizada na cama, caso contrário, torna-se inadequado sua utilização. |
Grande disponibilidade em São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo. |
Palhadas |
É importante que seja misturada com outros materiais (exemplo: maravalha, serragem) para facilitar o revolvimento da cama e a capacidade de absorção de umidade. |
Possui disponibilidade em quase todo o país. Este material pode se tornar inviável caso manejado inadequadamente, dificultando o revolvimento e causando torrões na cama. |
Capins e ou bagaço de cana |
Podem ser utilizados desde que triturados, secos ao sol antes de serem utilizados, misturados com outros materiais (exemplo: maravalha, serragem) |
Possui disponibilidade em quase todo o país. Devem ser utilizados somente após um excelente planejamento de produção e utilização levando em conta vários fatores. |
Após observarmos um pouco da variabilidade de materiais possíveis de serem utilizados nos, percebemos que quanto mais aumentam as possibilidades, mais aumentam as dúvidas de como obter melhor resultado de utilização destes diferentes materiais, já que ainda enfrentamos desafios com os mais utilizados, que são os resíduos produzidos diretamente do processamento de madeira (serragem ou maravalha) então o que fazer?
Como sugestão, devemos primeiro determinar qual será o material base do confinamento em função de disponibilidade e custo benefício em relação onde a propriedade está inserida; realizar e por em prática um planejamento de fornecimento de cama para o inicio do projeto e ter disponível em casa pelo menos duas a três reposições totais para não ser pego de surpresa com falta de material para reposição em função de desafios de logística de fornecimento.
Importante ressaltar que diferentes materiais am diferentes períodos e condições de armazenagem, que o volume e frequência de reposição pode variar de acordo com a época do ano e ter sempre em mente sempre que: Se precisamos de reposição o material deve estar disponível para uso, não podemos esperar ele chegar.
Iniciar o alojamento das vacas com as características ideias para o bom desenvolvimento da compostagem tais como, altura de cama correta, metragem quadrada disponível por vaca na cama de acordo com peso, produção de dejetos e classe de animais, levando em conta qual material será utilizado desde o primeiro dia e nas reposições é decisivo para que o conjunto de todos os fatores e ações deem certo.
Estabelecer um plano de manejo que leve em conta o material, equipamento a ser utilizado para revolver e injetar ar na cama, mas principalmente estabelecer uma rotina diária que respeite o ciclo de desenvolvimento da compostagem e isto envolve regularidade de horário e de ações dentro da cama; é melhor manejar bem a cama duas vezes ao dia com horários regulares do que manejar de forma errada mais vezes no dia, lembre-se que se olharmos para as vacas o ideal seria ordenha-las a cada 12 horas, o porque que na compostagem deveria ser diferente?
Materiais com a mesma relação C/N mas com granulometria diferente compostam de formas diferentes, a madeira por exemplo pode nos fornecer três materiais distintos, serragem, maravalha e pó de serra todas vindas da mesma madeira, sendo assim o que muda é a forma física a qual são incluídas no ambiente da compostagem, uma partícula maior vai demandar uma população bacteriana maior para promover o processo, ao o que com uma superfície menor precisamos de um numero de indivíduos microrganismos menor para o mesmo processo, ou se a carga de microbiana é a mesma em uma partícula menor, o processo se dá com mais velocidade, já se deram conta disto?
Quando utilizamos cascas, palhadas e ou capins como alternativa, a atenção especial é de manejo rápido de inclusão destes materiais no sistema. É importante que sejam misturados o mais rápido possível para que as vacas não fiquem tentadas a consumir tais materiais, e sim, elas gostam de comer estes materiais até mesmo na curiosidade.
Além da atenção a velocidade de compostagem destas alternativas, que demanda uma estratégia de utilizar pequenas quantidades em uma frequência maior de reposição para evitar consumo, é comum também que a cama aqueça muito na superfície fazendo com que as vacas não deitem por um bom período pós reposição, e isto não é desejável. Lembrando que a atenção em relação ao tamanho das partículas também se aplica a estes materiais.
Todas estas e outras possibilidades podem ser utilizadas com sucesso e ou níveis de atenção mais ou menos intensivos, precisamos transformar informação e conhecimento, e isto se consegue com uma boa consultoria, experiências já vividas. Aprender com o equívocos já cometidos trás economia de tempo e dinheiro, ter um planejamento focado em resultado para cama, para as vacas e para os donos das vacas, ou seja, cama que funciona bem previne problemas sanitários, promove conforto para as vacas, otimiza produção e trás resultados dentro do compost barn e depois de sua retirada, independente de qual material fora utilizado no processo, mas o depois já é uma outra oportunidade.
O que temos de ter consciência hoje é que: é muito fácil fazer certo na primeira vez.
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