Com o objetivo de usar características de tipo e de produção para predição precoce de longevidade, correlações genéticas e fenotípicas entre longevidade, características de tipo e de produção foram estimadas por Cruickshank et al., 2002. As correlações genéticas obtidas foram de -0,14 a -0,29 entre longevidade e características corporais, -0,10 a 0,06 entre longevidade e características de pernas e pés e de -0,09 a 0,24 entre longevidade e características de úbere.
O impacto de 13 características lineares de tipo e o escore final para longevidade funcional (dias a partir do primeiro parto até o descarte ou até o final da avaliação, corrigidos para produção de leite) foram analisados por Caraviello et al.(2003), aplicando técnicas de análise de sobrevivência em 268.008 vacas Jersey dos EUA em 2416 rebanhos com primeiro parto entre 1981 e 2000. Longevidade funcional implica na correção para diferenças de produção entre vacas contemporâneas de rebanho, além de todas as correções de fatores de manejo, tentando isolar o efeito de cada característica específica sendo avaliada (isto é, características lineares de tipo e escore final). Cada característica linear de tipo foi dividida em 10 classes, o que, através de metodologias de análise de sobrevivência, permite a detecção do "intermediário ótimo" para certas características. Características de tipo são usadas para predizer a longevidade; desta forma, touros jovens têm provas de longevidade (com menor confiança) mesmo antes de terem tido alguma filha descartada, pois as características de tipo podem ser avaliadas na primeira lactação. Conforme suas filhas começam a serem descartadas, suas provas tornam-se mais confiáveis (Weigel et al., 1998). Características de tipo também têm alta herdabilidade (0,15 - 0,40) quando comparadas com características de longevidade (0,05 - 0,2). Vários estudos têm avaliado o impacto de características de tipo na longevidade em diferentes situações (Short and Lawlor, 1992; Larroque and Ducrocq, 1999; Schneider et al., 1999; Cruickshank et al., 2002). O fato de que características de tipo têm maior herdabilidade do que características de longevidade, devido às suas propriedades genéticas e a metodologia de mensuração (bem estabelecida e aplicada por classificadores experientes), também am esta associação (longevidade + características de tipo) na produção de provas de touros.
Esse trabalho mostrou que as características de tipo com maior impacto na longevidade foram profundidade do úbere, inserção de úbere anterior, colocação de tetos e e de úbere. A figura 1 mostra o risco de descarte para cada classe de características de úbere, onde verificamos que o risco de descarte de vacas com profundidade de úbere com escores de 6 a 10 foi mais de 1,6 vezes do que o de vacas com escores de 21 a 25 para profundidade de úbere e o risco de descarte de vacas com escores de 41 a 45 para profundidade de úbere foi somente 0,7 vezes o de vacas com escores de 21 a 25. Baixos escores lineares para altura de úbere posterior, largura de úbere posterior e colocação de tetos anteriores parecem ter impacto na longevidade de uma maneira decrescente à medida que os escores aumentam, mas não houve grande diferença entre os escores maiores com relação à longevidade.
Figura 1. Risco relativo de descarte por classe de escore linear para características de úbere (Risco relativo para escore 21-25 foi forçado a 1)

Quanto às características de pernas e pés, pernas traseiras vistas de lado parece ser um importante fator para predição de longevidade; vacas com escores de 6 a 10 (pernas traseiras retas) e vacas com escores de 41 a 45 (pernas traseiras curvas) têm risco de descarte de 1,15 e 1,3 vezes o de vacas com escores de 21 a 25, respectivamente. A altura de talão mostrou uma pequena relação com a longevidade, apresentando diferenças significantes entre as classes extremas. No caso de características como altura e profundidade corporal, não importa se o escore é alto ou baixo, a longevidade não é alterada. Força e a caracterização leiteira parecem ter um intermediário ótimo, com relação à longevidade, apesar de altos escores para cada característica terem sido muito mais prejudiciais do que baixos escores. Resultados similares foram obtidos por Bunger e Swalve (1999) onde, após a correção para produção de leite, escores intermediários para caractericação leiteira levaram à maior sobrevivência. O impacto das características de úbere (principalmente profundidade de úbere) é muito maior do que o impacto das características corporais, por exemplo, e o escore final (altamente influenciado pelas características do úbere) também tem um impacto significante na longevidade, após a correção para produção de leite. Características de garupa mostram padrões similares às características corpóreas, com impacto muito pequeno na longevidade. Vacas com menores escores para escore final têm um risco de descarte 1,35 vezes maior do que vacas com escores intermediários e vacas com alto escores têm 0,8 vezes o risco de vacas intermediárias. As características que mostraram correlação muito pequena com longevidade (como estatura ou profundidade corporal) poderiam ser ignoradas quando a meta é aumentar a longevidade.
Uma pesquisa feita pelo Sistema Nacional de Monitoramento de Saúde Animal (National Animal Health Monitoring System - APHIS, 1996) nos EUA, mostrou que os problemas reprodutivos foram responsáveis por 26,7% dos descartes involuntários, seguidos por problemas relacionados ao úbere, com 26,5%, e por problemas de pernas e pés, com 15%. Fatehi et al. (2003) estudaram o papel das pernas e pés sob diferentes ambientes, investigando a interação entre genótipo e ambiente para estas características. Foi observado que as características de pernas e pés em free stalls são geralmente superiores àquelas em tie stalls, provavelmente porque as vacas em free stalls têm mais liberdade para movimentação e mais oportunidade de se exercitar do que em tie stalls. O maior risco de descarte por problemas de pernas e pés em free stalls pode ser parcialmente devido à maior susceptibilidade a doenças infecciosas neste sistema de manejo, devido ao maior nível de umidade (pés em contato com o estrume por mais tempo). Esse estudo tambem mostrou as diferenças obtidas para diferentes tipos de piso usados em free stalls. Como observado por Boettcher e Van Dorp (1999) e por Bergsten e Herlin (1996), pisos de fundo ripado (slatted floors) levam a escores piores para a maioria das características, quando comparados com pisos sólidos (solid floors). Finalmente, vacas com o casco aparado obtiveram escores mais altos do que vacas intactas.
Em outro estudo nos EUA, Caraviello et al.(2003) avaliaram 745.432 vacas holandesas com primeiro parto entre 1993 a 2000. Para estudar as diferenças no impacto das características de tipo na longevidade de acordo com as condições de clima e manejo, o país foi dividido em nove regiões geográficas (dados fornecidos pelo Centro Nacional de Dados Climáticos), de maneira que os Estados que compõe cada região têm características similares de temperatura e umidade. A Tabela 4 mostra os estados que estão incluídos em cada região. Um modelo de análise de sobrevivência similar ao utilizado no estudo com vacas Jersey foi aplicado em cada característica de tipo em cada uma das nove regiões. Este método permite a detecção de diferenças na importância das características de tipo dos grandes rebanhos do oeste do país em relação aos pequenos rebanhos do nordeste, por exemplo, ou de rebanhos de clima frio do noroeste comparados aos rebanhos de clima subtropical do sudeste. Diferentes recomendações de criação podem ser usadas nestas diferentes regiões ou até diferentes índices de seleção poderiam ser aplicados a diferentes regiões e em diferentes sistemas de manejo de rebanhos. Finalmente, países que importam material genético dos EUA poderiam se beneficiar de uma avaliação executada sob diferentes condições de produção, utilizando aquela que se assemelha mais à realidade de cada país.
As tabelas 5, 6, 7, 8 e 9 mostram o risco relativo de descarte involuntário de acordo com a classe de escore para corpo, garupa, pernas e pés, úbere e características de teto em cada região geográfica, dados que servirão para a atualização do TPI (Índice de tipo e produção - Holstein Association). O padrão geral é similar ao observado para a raça Jersey. Características como estatura têm um impacto muito pequeno na longevidade, características como caracterização leiteira e ângulo da garupa apresentam um intermediário ótimo (escores ótimos ao redor de 15, 20 ou 25) e as características de úbere (principalmente profundidade de úbere) são as mais importantes, como foi verificado em estudos anteriores (Larroque and Ducrocq, 1999; Short and Lawlor, 1992; Vollema et al., 2000). Vacas com baixos escores para profundidade do úbere têm cerca de 3 vezes mais risco de serem descartadas do que vacas com escores intermediários para esta característica. Animais na classe de 40 a 45 têm risco de descarte de 0,64 a 0,83 vezes o risco de vacas com escores intermediários em todas as regiões. As outras características de úbere e colocação dos tetos anteriores seguem um padrão similar ao verificado para profundidade de úbere (mas em escala menor), exceto pelo ligamento central de úbere, que tem um impacto significante na longevidade, com altos escores sendo positivamente relacionados à longevidade, mas um platô é verificado para escores acima de 30 (não há diferenças na longevidade, uma vez que este nível é atingido). Comprimento de teto apresentou um impacto menor na longevidade do que outras características mamárias, escores entre 5 a 30 foram ótimos, dependendo da região.
Para estatura foi observado um padrão claro na região oeste, onde vacas altas tiveram menor longevidade. Os escores ótimos para força, largura da garupa e profundidade corporal foram ao redor de 10, 15 e 20, com altos escores sendo negativamente relacionados à longevidade. Intermediário ótimo também foi observado para pernas traseiras vistas de lado (ideal entre 20, 25 e 30 em todas as regiões). Pernas retas ou extremamente curvas foram associadas com risco substancialmente maior de descarte. O problema com pernas curvas foi mais evidente nas regiões onde as vacas gastam mais tempo no concreto (Nordeste, Centro, Norte-Centro-Oeste e Norte-Centro-Leste). Com relação às pernas traseiras vistas por trás e a altura de talão, altos escores (>25) foram positivamente relacionados com a longevidade em todas as regiões. Finalmente, a tabela 9 mostra os resultados do escore final, onde escores de 85 a 90 (depois de arredondamento) foram ideais em todas as regiões. Vacas com baixos escores, principalmente devido à importância das características de úbere no escore final, têm proporções de riscos que são 1,43 a 2,17 vezes maiores do que os de vacas nas classes intermediárias e vacas com escores altos têm risco de descarte entre 0,61 a 0,95 vezes o de vacas com escores intermediários. As regiões Nordeste, Central e Norte-Centro-Oeste foram aquelas onde o escore final mostrou o maior impacto na longevidade. Características de tipo foram piores para predizer a longevidade em regiões como Oeste e Sudoeste (onde os rebanhos são muito maiores) do que nas regiões como Nordeste, Central, Norte-Centro-Leste e Norte-Centro-Oeste. Estas diferenças pode estar refletindo diferenças no padrão de descarte voluntário (rebanhos com menor "pedigree") e diferentes práticas de manejo devido às diferentes condições ambientais. Diferenças nas instalações podem ser outro ponto importante, porque em algumas das regiões, as vacas gastam em média mais tempo no concreto.
Tabela 4. Os estados que estão incluídos em cada uma das nove Regiões Padrões dos EUA para Temperatura e Precipitação.

Tabela 5. Risco relativo de descarte para diferentes escores para cada uma das características para longevidade funcional em cada uma das nove Regiões Padrões dos EUA para Temperatura e Precipitação. Os riscos relativos de descarte foram comparados a um animal médio (escore=25) dentro de cada região e de características de tipo.

Tabela 6. Risco relativo de descarte para diferentes escores para cada característica de garupa para longevidade funcional em cada uma das nove Regiões Padrões dos EUA para Temperatura e Precipitação. Os riscos relativos de descarte foram comparados a um animal médio (escore=25) dentro de cada região e de características de tipo.

Tabela 7. Risco relativo de descarte para diferentes escores de cada uma das características de pernas e pés, e escore final para longevidade funcional em cada uma das nove Regiões Padrões dos EUA para Temperatura e Precipitação. Os riscos relativos de descarte foram comparados a um animal médio (escore=25) dentro de cada região e de características de tipo.

Tabela 8. Risco relativo de descarte para diferentes escores em cada uma das características de úbere para longevidade funcional em cada uma das Regiões Padrões dos EUA para Temperatura e Precipitação. Os riscos relativos de descarte foram comparados a um animal médio (escore=25) dentro de cada região e de características de tipo.

Tabela 9. Risco relativo de descarte para diferentes escores de cada uma das cinco principais características e final para longevidade funcional em cada uma das nove Regiões Padrões dos EUA para Temperatura e Precipitação. Os riscos relativos de descarte foram comparados a um animal médio (escore=25) dentro de cada região e de características de tipo.

Referências
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