Em um rebanho leiteiro, o manejo alimentar e os índices nutricionais são de extrema importância. Mas devemos saber que existem particularidades para cada fase da curva de lactação. E estas são fundamentais para o sucesso na produção leiteira, garantindo, assim, alta produtividade e lucratividade em seu rebanho.
Consumo de Matéria Seca
É de suma importância na nutrição, pois estabelece quantidade de nutrientes disponíveis para a saúde, mantença e produção do animal. Sendo assim, é um dado indispensável na formulação de dietas. Para que se possa prevenir o fornecimento insuficiente ou excessivo de nutrientes.
- Baixo Consumo de MS: o animal não irá expressar seu potencial máximo e sua saúde será comprometida.
- Excessivo Consumo de MS: os custos com alimentação vão se elevar, terá um excesso de excreção de nutrientes no meio ambiente e também uma possibilidade de que o excesso de alimentos cause uma toxicidade aos animais.
Equação para predição do CMS em vacas leiteiras
- CMS: Consumo de Matéria Seca em kg/dia
- PLC4%G: Produção de Leite corrigida para 4% de gordura
- PV: Peso Vivo
- E: Número Neperiano (2,71828)
- Sem: semana de lactação
Exemplo:
Calcule o CMS predito de um lote de vacas com 650 kg PV, produzindo 30kg de leite/dia, com 3,5% de gordura, aos 140 dias de lactação.
- PL: 30 kg/dia - %G: 3,5% - PLC4%G: 27,75 kg/dia - PV: 650 kg - Sem: 140 dias = 20 semanas
*CMS: 22,54 kg MS/dia
Ou, podemos calcular de uma forma mais simples:
Temperatura Ambiental x Consumo de Matéria Seca
O consumo de MS, principalmente em raças europeias, é notoriamente afetado pelas altas temperaturas ambientais. Segundo Holter et al., (1997), vacas holandesas multíparas prenhes no terço final da lactação diminuem 22% a ingestão de matéria seca e as primíparas 9%. Consequentemente, se o consumo de MS do animal diminui, a produção de leite também irá diminuir.
Limites térmicos para cada raça
- Holandesa 21°C - Pardo-Suiço 24°C - Jersey 27 °C - Zebuínas 31°C
Curvas de Lactação x Consumo de Matéria Seca
O pico de lactação (entre o 1º e o 2º mês) não bate com o pico de ingestão de MS (entre o 3º e o 4º mês) do animal. Justamente por este motivo, há um período em que a vaca está sujeita a entrar no que chamamos de balanço energético negativo, ou seja, a vaca come menos do que precisa no início da lactação. Vacas com alta produção de leite utilizam suas reservas corporais para produzir. Assim, estão sujeitas a ar pelo período do BEN.
Escore de Condição Corporal
Este indicador serve para monitorar o grau de mobilização e perda de reservas corporais. Varia de 1 a 5 pontos.
Fonte: diversos autores
- Parto: se um animal parir com um escore abaixo de 3, vai estar com poucas reservas e pode não demonstrar todo o seu potencial produtivo no pico da lactação. Por outro lado, se esse animal parir com um escore acima de 3,5, que é incorreto, ele vai ter um menor consumo de MS no pós-parto. Assim, terá uma maior incidência de enfermidades metabólicas, principalmente cetose e fígado gorduroso.
- Início de Lactação: é o período de maior produção de leite. O escore pode cair até 2,5, e isso é normal. Isso ocorre, principalmente em vacas de alto potencial produtivo. Se o ECC for menor que 2,5, há chances do desempenho reprodutivo deste animal ser prejudicado e, consequentemente, o período de serviço e intervalo entre partos serão estendidos.
- O período correto de recuperar o ECC é no meio da lactação, e não no período seco.
Eficiência Leiteira
Vacas de maior consumo, não são necessariamente as mais eficientes. Sabendo disso, como eu consigo predizer qual a eficiência leiteira do meu rebanho?
- Basta calcular:
- de 1,3 a 1,5 = normal - > 1,5 = excelente; alta eficiência - < 1,3 = preocupante
Fatores que diminuem a eficiência de produção
- Acidose: vacas com acidose ou outro distúrbio metabólico apresentam menor eficiência leiteira.
- Final da lactação: vacas neste estágio de lactação apresentam menor eficiência leiteira, pois estão recuperando escore e mobilizando nutrientes para a formação do feto.
- Vacas primíparas: apresentam menor eficiência leiteira, já que ainda estão crescendo e precisam de nutrientes para o seu desenvolvimento.
- Estresse por calor: vacas que estão em estresse térmico apresentam menor eficiência leiteira, pois os nutrientes são enviadas para dissipar o excesso de calor.
- Vacas a pasto: apresentam menor eficiência leiteira do que animais confinados, pois suas exigências de manutenção são de 20 a 50% maiores.
Fatores que aumentam a eficiência de produção
- Volume de produção: altas produções de leite, aumentam a eficiência leiteira.
- Perda de peso: vacas que perdem peso apresentam maior eficiência leiteira, pois estão emprestando nutrientes do seu organismo para dar e para a produção de leite mais alta.
- Digestibilidade da dieta: forragem de maior qualidade aumenta a eficiência leiteira, já que apresentam maior digestibilidade e taxa de agem.
Nitrogênio Ureico no Leite (NUL)
O NUL pode ser utilizado para monitorar a condição nutricional das vacas. O ideal é que tenhamos valores como 10-14 mg/dL. Seo valor de NUL estiver alterado, devemos ver se as dietas estão de acordo para a produção de leite do rebanho, se as vacas estão produzindo as quantidades esperadas, se a dieta foi corretamente formulada ou se as forragens foram recentemente analisadas.
Os valores de NUL variam de acordo com o nível de produção, ou seja, é comum encontrar valores maiores em um rebanho ou lote de maior produção.
Fonte: Khon (2002)
- Alto NUL: pode ser indicador de proteína em excesso para o respectivo nível de produção do animal. Estudos tem relacionado a proteína em excesso com o desempenho reprodutivo do animal.
- Baixo NUL: deve ser fiscalizado se as forragens foram danificadas pelo calor, se as vacas tiveram o as dietas formuladas ou até mesmo se esses animais conseguiram selecionar os alimentos fornecidos.
Sobras no Cocho e Tamanho de Partícula
O escore de cocho é um indicador importante para saber o quanto os seus animais estão comendo e qual a qualidade do alimento fornecido. O ideal é que o escore seja 1 de sobra (de 3 a 5%). Se o cocho estiver vazio por mais de 2 horas antes da ordenha, é sinal de que faltou comida e a produção de leite está abaixo do potencial das vacas. Outro problema de não ter sobra no cocho é que não conseguimos identificar se as vacas estão ou não selecionando a dieta por tamanho de partícula. Principalmente quando o alimento não é bem processado.
Fonte: EducaPoint
Deve-se evitar que as vacas selecionem alimentos mais concentrados, misturando bem os alimentos fornecidos. Além disso, elas podem selecionar partículas de forragem com 5 cm ou mais de comprimento. Para que não haja seleção, é importante que as partículas estejam entre 2,5 a 5 cm de comprimento.
Acidose Ruminal
É uma situação em que o pH do rúmen está inferior a 5,8. Os principais sinais clínicos de acidose ruminal são:
- Consumo e produção de leite muito irregulares, variando muito de um dia pro outro;
- Queda nos teores de gordura do leite;
- Falta de ruminação: 1 a 2 horas após o trato, 50% das vacas deveriam estar ruminando;
- Consumo voluntário de bicabornato;
- Fezes com aspecto inconsistente;
- Aumento na incidência de laminite;
- Quantidade de partículas inteiras nas fezes.
Fonte: EducaPoint e Arquivo Pessoal
Considerações Finais
Os indicadores nutricionais são de suma importância para fiscalizarmos se o nosso manejo alimentar está correto. Devemos nos preocupar com cada um deles, já que nossa produção depende totalmente da nutrição do rebanho. Dessa forma, fica claro que, para o sucesso produtivo e lucrativo, o manejo alimentar e os índices nutricionais do rebanho devem estar sendo supervisionados diariamente.
Este artigo foi escrito por membros do UFLALEITE - Grupo de Apoio à Pecuária Leiteira. Para saber mais, e @uflaleite.