Estratégias de gestão: a maioria das pessoas que lideram empresas sequer sabe o que isso significa. Já a outra parte, que até entende o conceito, muitas vezes não o coloca em prática — por diversos motivos. A filosofia dominante parece ser simplesmente “sobreviver mais um dia”. Prova disso, ao meu ver, é que 90% dos gerentes em atividade não conseguem priorizar suas tarefas diárias; acabam sendo arrastados por problemas e imprevistos.
Dias atrás, me deparei com uma situação em uma fazenda onde os baldes de água das bezerras não puderam ser lavados. Havia chovido muito, e a mina que abastecia o local foi inundada por uma forte enxurrada, deixando a água barrenta. Como resultado, as bezerras ficaram sem água por um bom tempo.
Em outro caso, houve um problema com a empresa fornecedora de insumos, que não conseguiu entregar o farelo de soja como previsto. A justificativa foi a quebra de uma carreta, e, por causa disso, as vacas ficaram três dias sem receber o produto.
Anos atrás, durante a visita a uma fazenda bem conceituada em termos de gestão — com confinamento do tipo free-stall —, notei que as camas estavam praticamente sem areia. Os casos de problemas de casco e mastite haviam disparado. A justificativa era plausível: havia 18 dias chovendo torrencialmente, e não era possível que um caminhão de areia chegasse até a propriedade. De fato, não havia estrada para veículos de porte grande.
Nos três casos, percebo um ponto em comum: quando as coisas se tornam difíceis, a conta costuma ser reada para as vacas — ou, no primeiro caso, para as bezerras. Quem vive a atividade sabe que isso é, de fato, muito comum. Plagiando o grande professor Elias Facury, o Prof. Lobão, da UFMG: sim, situações como essas são bastante frequentes, mas não podemos tratá-las como normais.
Estratégicamente, um bom gerente precisa ter uma solução viável para cada situação. Uma delas é antecipar e monitorar os processos, como a entrega do farelo de soja, para estar ciente da realidade dos fatos com antecedência. O que geralmente causa os maiores danos são as falsas informações, como “o caminhão já saiu, amanhã cedo estará aí”, enquanto, na verdade, o problema sequer foi resolvido.
Quanto às intempéries, sabemos que o Brasil possui duas estações bem distintas na maior parte do território, e situações como uma invernada de 15 dias de chuva podem, de fato, acontecer. Às vezes, até se espera que isso aconteça para reforçar as águas fluviais. Portanto, o importante é se preparar, criar soluções ou adaptá-las, mas, definitivamente, a última opção não pode ser rear a conta para as vacas.
Direção e assistência técnica também podem e devem participar para evitar que casos como esses se tornem “normais” na cabeça de quem tem a responsabilidade de resolver. Eles precisam ser convencidos de que temos três opções para lidar com os problemas: adotar uma solução, adaptar a situação ou até criar uma nova abordagem. Porém, toda vez que arrumamos explicações, estamos apenas reando a conta — geralmente um prejuízo — para alguém pagar. E, repito, isso não podem ser as vacas a pagar pelas ineficiências das atitudes.