Renata de Oliveira Souza Dias
Já está comprovada a grande associação entre a nutrição e o sistema imunológico do animal. O balanço energético negativo, que ocorre no início da lactação, contribui para a redução da atividade de defesa dos neutrófilos contra as infecções que podem ocorrer durante o parto e pós-parto (Gráfico 1). Os neutrófilos são células de defesa do organismo que atuam como a primeira "frente de batalha" contra seres invasores.
Outro fator que contribui para a imunossupressão da vaca são as mudanças hormonais que ocorrem no período do parto. O estrógeno, hormônio que aumenta drasticamente no final da gestação, atua como um supressor das células mediadoras da imunidade.
Quando uma vaca está sob estresse, o sistema imune "consome" uma maior quantidade de nutrientes para combater os seres invasores. A energia, em particular, deve ser a primeira preocupação de quem balanceia a dieta das vacas no puerpério pois representa o principal fator limitante. Além disso, quando uma vaca é afetada por uma doença, ocorre um maior gasto de proteína; o sistema imune apresenta o "turnover" de proteína mais rápido de todo o organismo. Quando estes fatores acontecem e o programa nutricional não está bem feito, o animal pode desencadear vários problemas de saúde e reduzir a produção leiteira. A falta de "combustível" pode diminuir a capacidade do sistema imunológico de produzir anticorpos, reduzir a velocidade de resposta a um insulto e atrapalhar a realização de funções básicas da imunidade (Gráfico 2). Além da proteína e da energia, a falta de vitaminas e minerais pode também contribuir para o mal funcionamento dos mecanismos de defesa no organismo.
Um exemplo da inter-relação da dieta e do sistema de defesa do organismo aconteceu numa fazenda na Pennsylvania (EUA). Certa vez, 8 vacas recém paridas contraíram pneumonia e todas as oitos morreram. Técnicos foram chamados para investigar o que havia acontecido (suspeitava-se de BRSV). Entretanto, foi descoberto que o problema tinha sua origem numa acidose ruminal advinda, por sua vez, de uma dieta de transição mal feita. A explicação deste fato é que nas vacas em acidose os microrganismos do rúmen produzem toxinas gram negativas, que podem interferir na função dos macrófagos, células brancas de defesa do organismo que procuram e digerem bactérias e vírus invasores. Neste caso, os macrófagos não tinham condições de proteger adequadamente o pulmão do animal e o vírus causador da pneumonia se alastrou. A correção da dieta de transição diminuiu a acidose dos animais no pós-parto e minimizou os problemas da propriedade.
Este exemplo serve para alertar que nem sempre os problemas de saúde numa vaca são resolvidos com uma adequada vacinação ou com o uso de antibióticos. Aliás, os problemas de saúde da vaca no período do pós-parto são muitas vezes relativos a problemas metabólicos. E, para resolvê-los, os esforços devem ser direcionados para o manejo e para a nutrição. Quando uma vaca apresenta uma boa condição corporal na secagem, um bom programa nutricional durante o período seco e durante a transição, ela terá grandes chances de ar pelo parto sem desenvolver problemas metabólicos e, também, de evitar os problemas secundários advindos destes distúrbios.
Por fim, deve ficar o alerta que os níveis nutricionais de energia, proteína, vitaminas e minerais na dieta, durante o período seco e de transição, podem ajudar a vaca leiteira a conseguir um melhor desempenho durante a lactação com redução dos problemas de saúde. Observe os gráficos abaixo que justificam por si só esta afirmação.
Gráfico 1
Gráfico 2. Capaciade das células brancas de identificar, capturar e fagocitar organismos invasores
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fonte: Dairy Herd Management, abril 1999