O dilema do prisioneiro
Suponha que você foi acordado às 05:00 horas da manhã, com a Polícia Federal batendo à sua porta. Têm um mandado de prisão. Levam-lhe algemado. Na Delegacia, lhe propõem um acordo - a chamada delação premiada. Qual a sua atitude? Você aceita?
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Vamos aos detalhes. No interrogatório inicial, o Delegado lhe informa que, além de você, outra pessoa de suas relações também foi presa, ambos acusados de cometer um crime em conjunto. Informa, também, que pelo crime que você e seu comparsa (expressão do Delegado) cometeram, vocês merecem ar três anos na cadeia. Mas, como são insuficientes as provas que a Polícia Federal conseguiu juntar, vocês deverão ficar presos cerca de um ano cada. Então, o Delegado lhe propõe um acordo. Se você denunciar o seu amigo, que também está preso, você sai livre e ele pega três anos. O que você faz?
É tentador, não? Se você denuncia o seu cúmplice, você sai livre e ele ficará preso por três anos. Mas, eticamente, será o comportamento indicado? Tudo bem, isso não tem relevância para você. Mas, será que as pessoas do seu circulo de amizades, que também são as mesmas de seu cúmplice, vão apoiar a sua atitude? E que reação terá o seu cúmplice, três anos depois, quando estiver em liberdade novamente? Afinal, você está diante de um dilema: você o denuncia e sai livre, ou fica calado e amarga um ano de prisão?
Mas, de repente, você se dá conta que o Delegado provavelmente vai propor o mesmo para seu cúmplice. Afinal, não há nenhum motivo para ele fazer a proposta da delação premiada somente para você. Você fica apreensivo, não? Quais as conseqüências, caso o seu cúmplice resolva lhe denunciar? É obvio que ele sai livre e você fica três anos preso, se você ficar calado. Será que ele vai agir assim ou vai se manter calado, amargando um ano de prisão, junto com você?
O caso começou a ficar complicado. Afinal, você e ele têm de decidir, de modo independente, se denunciam ou se ficam calados, mas a sua decisão e a dele, embora independentes, influenciam fortemente no destino de cada um. Vamos ver isso.
Se você ficar calado e não o denunciar, e ele agir do mesmo modo, a Polícia Federal terá de se valer somente das poucas provas que juntou. Nesse caso, sem denúncia de ambos e com poucas provas válidas, cada um ficará preso por um ano. Todavia, se você fica calado, ou seja, não denuncia o seu cúmplice, mas ele o denuncia, você fica preso três anos e ele sai livre.
Se você denuncia o seu cúmplice e ele não o denuncia, o inverso ocorre, ou seja, você sai livre e ele fica preso por três anos. Mas, se um denuncia o outro ao mesmo tempo, cada um vai pegar os três anos. Afinal, se ambos são denunciados, qual motivo tem a Polícia de propor um desconto na pena? Mas, ainda assim vocês ganham um desconto. Ao invés de ficarem presos três anos, cada um ficará preso dois anos.
Portanto, você está diante do segundo e verdadeiro dilema. Tem de decidir se denuncia o colega ou se vai se manter calado. Da sua decisão, vai depender o seu futuro. Mas, o seu futuro também depende da decisão do seu colega. Na prática, em função das decisões conjuntas, você poderá sair livre, ficar um, dois ou três anos presos. Qual é a sua decisão? Se você o denuncia, pode ficar livre ou ficar dois anos preso. Se você fica calado, pode fica um ou três anos preso. Você denuncia ou fica calado?
Parece que tudo vai depender da relação de confiança existente entre você e seu colega. Se a confiança é zero, ambos deverão ficar estimulados a denunciar e correm o sério risco de arem dois anos presos. Se o nível de confiança é alto, o risco maior é de prisão de um ano para cada um. Se um confia no outro e o outro não confia no um, um sai livre e o outro amarga três anos.
O que isso tudo tem a ver com o setor lácteo? Não, não estou me referindo ao episódio recente, o chamado escândalo do leite. Esse dilema do prisioneiro foi desenvolvido pelo cientista Von Neumann, que ajudou a desenvolver a bomba-A e inventou o computador digital. Ele desenvolveu, também, a Teoria dos Jogos e do Comportamento Econômico. A idéia é que as empresas atuam como se estivessem num jogo, movida por interesses competitivos, no qual cada uma das empresas envolvidas tenta maximizar seus ganhos. Ocorre que suas decisões não são autônomas, pois são afetadas pelas ações das concorrentes.
A Teoria dos Jogos e do Comportamento Econômico é citada em qualquer curso de estratégia que os executivos das grandes empresas freqüentam. Mas, esse artigo já ficou longo e pesado para uma época tão especial, como esta que vivemos, de fim de ano. Então, vou interrompê-lo por aqui e volto nesse assunto, de modo menos árido, no início do próximo ano. Por enquanto, se você me permite, sugiro que leia-o novamente e analise seu comportamento nos negócios, sua relação com as empresas concorrentes. E reflita sobre isso com base neste artigo.
Até 2008, que já está chegando...
Feliz Natal! Feliz Ano Novo!
Material escrito por:

Paulo do Carmo Martins
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ARROIO DO MEIO - RIO GRANDE DO SUL
EM 20/08/2009

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE
EM 16/06/2008

GOIÂNIA - GOIÁS - PRODUÇÃO DE LEITE
EM 16/06/2008
Os elos da cadeia esquecem que o produtor de leite teve que fazer silagem, a custos elevados, e ainda mais, tiveram que financiar a lavoura; chegaremos no final da safra com lucratividade menor que zero, e a angustia nos leva a desistir da atividade.
Não adianta ficar batendo boca, se não der ração balanceada e de qualidade; a vaca não dará leite; dizer que a cana dá resultados é balela, pois os custos também são elevados. Conheço tantos que abandonaram o barco, certos de que a atividade é inável.
Este continuará sendo um país de poucos, a esperança está em coma profundo!

CURITIBA - PARANÁ - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA LATICÍNIOS
EM 01/04/2008
JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE
EM 01/03/2008
Um abraço,
GUILHERME ALVES DE MELLO FRANCO
FAZENDA SESMARIA - OLARIA - MG

FORTALEZA - CEARÁ - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS
EM 07/01/2008
Deveremos portanto, analisar o histórico de cada jogador para escolhermos uma estratégia ótima para cada situação.

SÃO FRANCISCO DE SALES - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE
EM 04/01/2008
Será que um dia teremos um mundo onde possamos ver em nosso semelhante a nossa imagem ! Talvez em sonhos ...
Saudações.

PATOS DE MINAS - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE OVINOS DE CORTE
EM 19/12/2007
No país onde a impunidade, a inconsequência, e a falta de carater é uma constante, o artigo acima mais me parece uma história de ficção, pois que eu saiba, nos antigos, recentes e contemporâneos escandalos, falcatruas, conchavos, não houve consequência a ninguém.
De modo que, nos simples mortais, temos que ficar firmes, para que consigamos ao menos ar as nossas gerações futuras, um mínimo de nocão de caráter e de bons costumes. Vamos parar com o assistencialismo e ar mais a providências e atitudes concretas, tais como melhoramos o nível do ensino, etc,etc,etc......
Abraços,
Sérgio Savassi

RIO DE JANEIRO - RIO DE JANEIRO - PRODUÇÃO DE LEITE
EM 18/12/2007
Compreendi perfeitamente o dilema, mas no caso em tela, quem está fazendo o papel de Polícia, das empresas para as quais os produtores rurais fornecem matéria prima, é o CADE, que está mais desmoralizado que guarda municipal. Consequentemente, o cartel deles é forte, coeso, e não cede ante as ameaças do poder de polícia. Eles estão para a analogia utilizada pelo autor do texto, como mafiosos de alto escalão, tem tantos advogados quanto cartões de crédito, e não saem de casa sem eles.
Já os produtores rurais, que competem para ver quem fornece por menos, não temos com o que nos preocupar. Porque na ótica da analogia usada, roubar galinha não dá nem um ano de prisão.
Entretanto, se o Doutor quiser utilizar uma analogia mais adequada, ao tratamento que nos é dispensado pelas empresas para as quais fornecemos materia prima, prefiro a estória do cavalo do inglês. O senhor deve conhecer, é aquela lenda do inglês que ganhou um cavalo, mas o mão-de-vaca queria economizar no trato do animal, e foi reduzindo a ração gradativamente até que um dia o bicho morreu de fome.
Pois é assim que nossos compradores nos tratam, tem sempre uma desculpa para reduzir o preço de oferta, se estamos na safra é que tem excesso de produto em oferta, se estamos na seca é porque o mercado está estocado de produto importado.
Enfim, a idéia é empobrecer os fornecedores, desestabilizá-lo economicamente para mantê-lo fornecedor cativo e grato.
Porém, se a máfia continuar jogando com o mercado desta forma, vai ter muito fornecedor preferindo arrendar suas terras para plantio de cana, e ir para a cidade trabalhar de empregado. O que na minha analogia, é a morte do cavalo do inglês, que a partir deste ponto ará a andar à pé.

MUTUM - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
EM 18/12/2007
Onde o produtor tivesse confiaça na industria, a industria por sua vez no produtor e estes no consumidor, que por sua vez confiasse na industria e no produtor, para uma transação comercial limpa, sem quer levar vantagem com fidelidade. Eu te vendo um produto de qualidade, você me paga um preço justo pelo produto, e o consumidor por sua vez compraria o produto pelo preço justo, com qualidade e quantidade realmente expressa na embalagem, e indicando para seus amigos que também o comprasse.
Feliz Natal e que 2008 seja muito melhor que foi em 2007, e que em nosso país nós tenhamos mais respeito com nossos semelhantes, mais amor e mais respeito pela vida de nossos semelhantes.
Nelsomar Pereira Fonseca