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O Melhoramento Genético de Vacas Leiteiras em Três Tempos - Parte 1

Até pouco tempo atrás os programas mais importantes no melhoramento genético de bovinos leiteiros, em geral internacionais, tinham como foco o aumento da produção leiteira, e realizaram grandes contribuições para esta característica, mas em detrimento da capacidade reprodutiva. No mesmo caminho, técnicas estatísticas e computacionais, junto à mensuração adequada das características fenotípicas, aumentaram a capacidade de identificação dos melhores genótipos.

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Essa discussão é fundamentada em artigos da literatura internacional.

Resumo

Até pouco tempo atrás os programas mais importantes no melhoramento genético de bovinos leiteiros, em geral internacionais, tinham como foco o aumento da produção leiteira, e realizaram grandes contribuições para esta característica, mas em detrimento da capacidade reprodutiva. No mesmo caminho, técnicas estatísticas e computacionais, junto à mensuração adequada das características fenotípicas, aumentaram a capacidade de identificação dos melhores genótipos. Adicionalmente, as tecnologias em genômica têm enorme potencial em oferecer num futuro próximo apoio ao melhoramento genético da produtividade e lucro. No entanto, a exploração eficiente destas tecnologias só pode ser maximizada se a cadeia produtiva for observada num amplo contexto.

Introdução

A produtividade leiteira nacional pode ser melhorada se os aspectos dentro e fora da porteira da fazenda forem considerados. Em países desenvolvidos, a indústria processadora tem uma grande influência na definição do genótipo usado por seus fornecedores, especialmente em relação à qualidade e à sazonalidade com que o leite é fornecido, incluindo a fixação de preços de leite e esquemas de garantia de qualidade.

Assim, qualquer discussão sobre genética apropriada para um determinado sistema de produção leiteira deveria reconhecer seu impacto sobre a indústria processadora, o mercado consumidor, além de aspectos macroeconômicos, pois podem afetar o lucro do produtor.

As características alvo para melhoramento genético devem considerar a capacidade da fazenda e da indústria processadora em segmentar a produção de leite e produtos para nichos especiais, assim como se adequar em médio prazo às repercussões percebidas pelo consumidor e/ou de sustentabilidade da cadeia.

Finalmente, a produtividade e lucro devem ser definidos considerando a cadeia como um todo. Por exemplo, o melhoramento genético para seleção de características relacionadas ao rendimento de queijo deve considerar a proporção do estoque de leite processado em queijo, a perda potencial em ganho genético, entre outros fatores, que podem afetar o lucro e o processo de transferência de material genético entre os rebanhos.

A presente discussão pretende resumir a contribuição do melhoramento genético para a produtividade e lucro, citar e comentar sobre as ferramentas genéticas que têm seu uso recente ou que logo poderão tornar-se viáveis em promover aumento da produtividade e lucro, dentro e fora da propriedade leiteira.
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Ontem

As tendências em produtividade e lucro da fazenda leiteira foram uma combinação das mudanças em manejo, por exemplo, o nutricional, e as condições de saúde, além de adequação genética do rebanho. A tendência em produção de proteína do gado leiteiro dos EUA nos últimos 35 anos (http://aipl.arsuda.gov) revela que o ganho em mérito genético para produção de proteína é a metade do índice de ganho em produção de proteína.

No entanto, o lucro não é governado apenas por renda, mas também por custos sociais, ambientais e econômicos de produção, incluindo entre outros, saúde e bem-estar animal, fertilidade, sobrevivência e tamanho corporal. Por exemplo, a mudança em fertilidade de vacas Holandesas nos EUA entre 1957 e 2000, é indicativa de que o índice de queda em mérito genético para taxa de prenhez é 0,87 vezes o índice de perda para taxa de concepção, em outras palavras, uma considerável proporção da deterioração na taxa de concepção pode ser atribuída ao acúmulo de genótipos deletérios na população.

Esta deterioração em fertilidade e saúde da vaca leiteira em países desenvolvidos é devida predominantemente à forte seleção genética para aumento da produção de leite, que na atualidade é atribuída ao antagonismo genético com a saúde e a fertilidade em bovinos leiteiros. Além disso, a seleção intensa para um único objetivo, usando a teoria genética quantitativa, reduz a diversidade genética populacional, com conseqüentes aumentos nos níveis de endogamia, os quais impactam principalmente sobre a saúde animal, fertilidade e sobrevivência.

Adicionalmente, a deterioração observada em saúde e fertilidade não tem implicações apenas sobre os custos na fazenda, mas também afeta a qualidade do leite, como por exemplo, aumentando a contagem de células somáticas, e com isso maior risco de resíduos de antibióticos, além da sazonalidade do leite fornecido ao processador, assim como o impacto sobre a percepção do consumidor a respeito dos sistemas modernos da fazenda leiteira, ainda pouco valorizado na pecuária leiteira nacional.

Como uma estratégia de cessar e/ou reduzir a perda em saúde e fertilidade da vaca leiteira, os programas de melhoramento precisam utilizar objetivos mais amplos, que incluam características não produtivas associadas com a funcionalidade e a sobrevivência do animal. Embora a inclusão de tais características possa reduzir o ganho genético em produção de leite devido às correlações genéticas antagônicas, aumentos na lucratividade total são esperados.

Hoje

Atualmente, obter estimativas de valores genéticos a partir de conjuntos de dados multinacionais, usando modelo animal em características múltiplas é computacionalmente possível, inclusive em avaliações genéticas internacionais, substituindo o modelo touro. Com o uso do modelo animal, o qual utiliza as relações de parentesco entre os animais e, é capaz de considerar o efeito de seleção dentro da população e os acasalamentos preferenciais, obtêm-se estimativas de mérito genético para todos os animais. É possível ainda fornecer o mérito genético para sobrevivência, mesmo quando alguns animais ainda estão vivos, pelo uso de censura, aumentando ao máximo a utilização de dados disponíveis de fenótipo.

Mais recentemente, técnicas como os modelos de regressão aleatória foram incorporadas em avaliações genéticas, pois estes utilizam melhor os dados disponíveis, facilitam a quantificação mais confiável de diferenças genéticas entre animais, especialmente fêmeas e touros jovens sob avaliação, e fornecem estimativas de mérito genético em cada ponto ao longo de uma trajetória (por exemplo: idade ou dias de lactação específicos) independentemente se todos os dados estão disponíveis.

Tais estimativas de mérito genético ao longo da trajetória facilitam, em conjunto com análises econômicas, a seleção de animais diferindo em curvas de lactação para produção de leite, peso corporal, contagem de células somáticas, consumo e para escore de condição corporal. A seleção para curvas de lactação mais persistentes em vacas leiteiras, especialmente em sistemas de produção a pasto, assegurará que o leite seja produzido de forma mais econômica que sob sistemas baseados em alimentação concentrada, assim como um maior estoque de leite aos processadores.

O interesse em sistemas de cruzamentos como uma alternativa estratégica aos programas de melhoramento tem sido aumentado em sistemas de produção de gado leiteiro, embora sejam amplamente e eficientemente usados na bovinocultura de corte e outros setores pecuários.

Os poucos exemplos de cruzamentos, em bovinos leiteiros, sobretudo em climas mais moderados, era porque animais cruzados geralmente não conseguiam superar a raça Holandesa em volume de produção de leite, que era o principal componente dos programas de melhoramento animal. Um caso interessante é o da Nova Zelândia, que tem oferecido material genético de touros leiteiros mestiços, sob a forma de inseminação artificial (IA) para uso em rebanhos leiteiros em programas de melhoramento.

Estratégias de cruzamento podem ser desenvolvidas para aumentar ao máximo o uso da heterose, sobretudo em cruzamentos subseqüentes, sendo ajudada por avaliações genéticas entre raças que subseqüentemente comparam animais de raças alternativas na mesma escala.

As estimativas de heterose são geralmente maiores para características associadas com a preparação e a viabilidade. Numa pesquisa recente nos EUA, fazendeiros leiteiros citaram melhoras na fertilidade, facilidade de parto, longevidade e na qualidade do leite, como razões para se realizar cruzamentos.

A provisão de avaliações genéticas internacionais pode permitir que criadores de bovinos leiteiros possam avaliar objetivamente ao redor do mundo os touros num formato comparável como realizado com touros avaliados regionalmente. Existem expectativas de aumento no ganho genético em bovinos leiteiros de até 20% com o uso de seleção global comparada à seleção dentro de país.

Com a exceção de gordura do leite, proteína, contagem de células somáticas e a concentração de lactose do leite, poucos criadores leiteiros selecionam para a melhoria da qualidade de leite apesar de seus benefícios para o laticínio, como uma ferramenta de marketing para produtos lácteos e como benefícios potenciais à saúde humana.

As razões para a falta de interesse em seleção para melhoria da qualidade de leite são a ausência de incentivos financeiros dos processadores (sobre e acima dos macro-componentes), assim como a incapacidade em quantificar a qualidade de leite na fazenda e estimar diferenças genéticas entre touros. A técnica de espectrometria por infravermelho (MIR) atualmente pode ser usada para medir os teores de gordura do leite, proteína e a concentração de lactose no leite bovino devido ao seu potencial alto e facilidade de uso com custo relativamente baixo.

Existem equações de calibração disponíveis para predizer a caseína do leite, a uréia e ácidos graxos voláteis. Em pesquisa recente documentou-se o potencial da MIR em predizer a concentração de ácidos graxos voláteis no leite, assim como concentração de lactoferrina.

A herdabilidade no sentido é uma estatística que descreve a proporção de diferenças fenotípicas atribuível às diferenças genéticas aditivas entre os animais. A herdabilidade estimada em vacas leiteiras para a gordura, proteína e concentrações de lactose no leite variam de 0,25 a 0,35, enquanto estimativas de herdabilidade para contagem de células somáticas são de aproximadamente 0,10. A herdabilidade estimada para os vários ácidos graxos no leite de bovinos variam de 0,05 a 0,40, enquanto as estimativas para concentração de uréia são de 0.10 a 0.25. A estimativa de herdabilidade para a concentração de lactoferrina é da ordem de 0,20.
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Gerson Barreto Mourão

Gerson Barreto Mourão

Professor de Genética e Melhoramento Animal na ESALQ/USP. Publicou mais 80 artigos científicos. É editor associado da Scientia Agricola, da revista Visão Agrícola e bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq

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Aline Zampar

Aline Zampar

Zootecnista, Mestre em Zootecnia (FZEA/USP) e Doutora em Ciência Animal e Pastagens (ESALQ/USP), na área de Melhoramento Genético de Bovinos de Leite. Atualmente, professora adjunta da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), em Chapecó (SC)

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Gerson Barreto Mourão
GERSON BARRETO MOURÃO

PIRACICABA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 20/11/2008

Prezados André e Daniel, agradeço muito pelos comentários. Particularmente, fico feliz em tê-los compartilhando nossa visão. Abraços.
daniel de oliveira carvalho
DANIEL DE OLIVEIRA CARVALHO

SÃO JOSÉ DE UBÁ - RIO DE JANEIRO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 06/10/2008

O direcionamento do melhoramento genetico a por mudanças significativas, como o foco apenas na produção. O que nos fica claro é que o tipo tem importancia igual ou maior do que produção. Caracteristicas como pernas e pés, vigor corporal, saude de úbere e fertilidade é de fundamental importancia no processo de melhoramento. O que importa é fazer vacas que produzam leite mais barato sustentavelmente.
André Gonçalves Andrade
ANDRÉ GONÇALVES ANDRADE

ROLIM DE MOURA - RONDÔNIA - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 18/09/2008

Muito sensato.
Melhorar a genética pensando de forma ampla, com foco na produção mas não deixando de lado os fatores econômicos, na transformação e no consumo tendo em vista eficiência e segurança alimentar.
Parabéns Prof. Gerson. A propósito salve engano fomos contemporâneos na época de EAFM. Um grande abraço.
Qual a sua dúvida hoje?

O Melhoramento Genético de Vacas Leiteiras em Três Tempos - Parte 1

Até pouco tempo atrás os programas mais importantes no melhoramento genético de bovinos leiteiros, em geral internacionais, tinham como foco o aumento da produção leiteira, e realizaram grandes contribuições para esta característica, mas em detrimento da capacidade reprodutiva. No mesmo caminho, técnicas estatísticas e computacionais, junto à mensuração adequada das características fenotípicas, aumentaram a capacidade de identificação dos melhores genótipos.

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Essa discussão é fundamentada em artigos da literatura internacional.

Resumo

Até pouco tempo atrás os programas mais importantes no melhoramento genético de bovinos leiteiros, em geral internacionais, tinham como foco o aumento da produção leiteira, e realizaram grandes contribuições para esta característica, mas em detrimento da capacidade reprodutiva. No mesmo caminho, técnicas estatísticas e computacionais, junto à mensuração adequada das características fenotípicas, aumentaram a capacidade de identificação dos melhores genótipos. Adicionalmente, as tecnologias em genômica têm enorme potencial em oferecer num futuro próximo apoio ao melhoramento genético da produtividade e lucro. No entanto, a exploração eficiente destas tecnologias só pode ser maximizada se a cadeia produtiva for observada num amplo contexto.

Introdução

A produtividade leiteira nacional pode ser melhorada se os aspectos dentro e fora da porteira da fazenda forem considerados. Em países desenvolvidos, a indústria processadora tem uma grande influência na definição do genótipo usado por seus fornecedores, especialmente em relação à qualidade e à sazonalidade com que o leite é fornecido, incluindo a fixação de preços de leite e esquemas de garantia de qualidade.

Assim, qualquer discussão sobre genética apropriada para um determinado sistema de produção leiteira deveria reconhecer seu impacto sobre a indústria processadora, o mercado consumidor, além de aspectos macroeconômicos, pois podem afetar o lucro do produtor.

As características alvo para melhoramento genético devem considerar a capacidade da fazenda e da indústria processadora em segmentar a produção de leite e produtos para nichos especiais, assim como se adequar em médio prazo às repercussões percebidas pelo consumidor e/ou de sustentabilidade da cadeia.

Finalmente, a produtividade e lucro devem ser definidos considerando a cadeia como um todo. Por exemplo, o melhoramento genético para seleção de características relacionadas ao rendimento de queijo deve considerar a proporção do estoque de leite processado em queijo, a perda potencial em ganho genético, entre outros fatores, que podem afetar o lucro e o processo de transferência de material genético entre os rebanhos.

A presente discussão pretende resumir a contribuição do melhoramento genético para a produtividade e lucro, citar e comentar sobre as ferramentas genéticas que têm seu uso recente ou que logo poderão tornar-se viáveis em promover aumento da produtividade e lucro, dentro e fora da propriedade leiteira.
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As tendências em produtividade e lucro da fazenda leiteira foram uma combinação das mudanças em manejo, por exemplo, o nutricional, e as condições de saúde, além de adequação genética do rebanho. A tendência em produção de proteína do gado leiteiro dos EUA nos últimos 35 anos (http://aipl.arsuda.gov) revela que o ganho em mérito genético para produção de proteína é a metade do índice de ganho em produção de proteína.

No entanto, o lucro não é governado apenas por renda, mas também por custos sociais, ambientais e econômicos de produção, incluindo entre outros, saúde e bem-estar animal, fertilidade, sobrevivência e tamanho corporal. Por exemplo, a mudança em fertilidade de vacas Holandesas nos EUA entre 1957 e 2000, é indicativa de que o índice de queda em mérito genético para taxa de prenhez é 0,87 vezes o índice de perda para taxa de concepção, em outras palavras, uma considerável proporção da deterioração na taxa de concepção pode ser atribuída ao acúmulo de genótipos deletérios na população.

Esta deterioração em fertilidade e saúde da vaca leiteira em países desenvolvidos é devida predominantemente à forte seleção genética para aumento da produção de leite, que na atualidade é atribuída ao antagonismo genético com a saúde e a fertilidade em bovinos leiteiros. Além disso, a seleção intensa para um único objetivo, usando a teoria genética quantitativa, reduz a diversidade genética populacional, com conseqüentes aumentos nos níveis de endogamia, os quais impactam principalmente sobre a saúde animal, fertilidade e sobrevivência.

Adicionalmente, a deterioração observada em saúde e fertilidade não tem implicações apenas sobre os custos na fazenda, mas também afeta a qualidade do leite, como por exemplo, aumentando a contagem de células somáticas, e com isso maior risco de resíduos de antibióticos, além da sazonalidade do leite fornecido ao processador, assim como o impacto sobre a percepção do consumidor a respeito dos sistemas modernos da fazenda leiteira, ainda pouco valorizado na pecuária leiteira nacional.

Como uma estratégia de cessar e/ou reduzir a perda em saúde e fertilidade da vaca leiteira, os programas de melhoramento precisam utilizar objetivos mais amplos, que incluam características não produtivas associadas com a funcionalidade e a sobrevivência do animal. Embora a inclusão de tais características possa reduzir o ganho genético em produção de leite devido às correlações genéticas antagônicas, aumentos na lucratividade total são esperados.

Hoje

Atualmente, obter estimativas de valores genéticos a partir de conjuntos de dados multinacionais, usando modelo animal em características múltiplas é computacionalmente possível, inclusive em avaliações genéticas internacionais, substituindo o modelo touro. Com o uso do modelo animal, o qual utiliza as relações de parentesco entre os animais e, é capaz de considerar o efeito de seleção dentro da população e os acasalamentos preferenciais, obtêm-se estimativas de mérito genético para todos os animais. É possível ainda fornecer o mérito genético para sobrevivência, mesmo quando alguns animais ainda estão vivos, pelo uso de censura, aumentando ao máximo a utilização de dados disponíveis de fenótipo.

Mais recentemente, técnicas como os modelos de regressão aleatória foram incorporadas em avaliações genéticas, pois estes utilizam melhor os dados disponíveis, facilitam a quantificação mais confiável de diferenças genéticas entre animais, especialmente fêmeas e touros jovens sob avaliação, e fornecem estimativas de mérito genético em cada ponto ao longo de uma trajetória (por exemplo: idade ou dias de lactação específicos) independentemente se todos os dados estão disponíveis.

Tais estimativas de mérito genético ao longo da trajetória facilitam, em conjunto com análises econômicas, a seleção de animais diferindo em curvas de lactação para produção de leite, peso corporal, contagem de células somáticas, consumo e para escore de condição corporal. A seleção para curvas de lactação mais persistentes em vacas leiteiras, especialmente em sistemas de produção a pasto, assegurará que o leite seja produzido de forma mais econômica que sob sistemas baseados em alimentação concentrada, assim como um maior estoque de leite aos processadores.

O interesse em sistemas de cruzamentos como uma alternativa estratégica aos programas de melhoramento tem sido aumentado em sistemas de produção de gado leiteiro, embora sejam amplamente e eficientemente usados na bovinocultura de corte e outros setores pecuários.

Os poucos exemplos de cruzamentos, em bovinos leiteiros, sobretudo em climas mais moderados, era porque animais cruzados geralmente não conseguiam superar a raça Holandesa em volume de produção de leite, que era o principal componente dos programas de melhoramento animal. Um caso interessante é o da Nova Zelândia, que tem oferecido material genético de touros leiteiros mestiços, sob a forma de inseminação artificial (IA) para uso em rebanhos leiteiros em programas de melhoramento.

Estratégias de cruzamento podem ser desenvolvidas para aumentar ao máximo o uso da heterose, sobretudo em cruzamentos subseqüentes, sendo ajudada por avaliações genéticas entre raças que subseqüentemente comparam animais de raças alternativas na mesma escala.

As estimativas de heterose são geralmente maiores para características associadas com a preparação e a viabilidade. Numa pesquisa recente nos EUA, fazendeiros leiteiros citaram melhoras na fertilidade, facilidade de parto, longevidade e na qualidade do leite, como razões para se realizar cruzamentos.

A provisão de avaliações genéticas internacionais pode permitir que criadores de bovinos leiteiros possam avaliar objetivamente ao redor do mundo os touros num formato comparável como realizado com touros avaliados regionalmente. Existem expectativas de aumento no ganho genético em bovinos leiteiros de até 20% com o uso de seleção global comparada à seleção dentro de país.

Com a exceção de gordura do leite, proteína, contagem de células somáticas e a concentração de lactose do leite, poucos criadores leiteiros selecionam para a melhoria da qualidade de leite apesar de seus benefícios para o laticínio, como uma ferramenta de marketing para produtos lácteos e como benefícios potenciais à saúde humana.

As razões para a falta de interesse em seleção para melhoria da qualidade de leite são a ausência de incentivos financeiros dos processadores (sobre e acima dos macro-componentes), assim como a incapacidade em quantificar a qualidade de leite na fazenda e estimar diferenças genéticas entre touros. A técnica de espectrometria por infravermelho (MIR) atualmente pode ser usada para medir os teores de gordura do leite, proteína e a concentração de lactose no leite bovino devido ao seu potencial alto e facilidade de uso com custo relativamente baixo.

Existem equações de calibração disponíveis para predizer a caseína do leite, a uréia e ácidos graxos voláteis. Em pesquisa recente documentou-se o potencial da MIR em predizer a concentração de ácidos graxos voláteis no leite, assim como concentração de lactoferrina.

A herdabilidade no sentido é uma estatística que descreve a proporção de diferenças fenotípicas atribuível às diferenças genéticas aditivas entre os animais. A herdabilidade estimada em vacas leiteiras para a gordura, proteína e concentrações de lactose no leite variam de 0,25 a 0,35, enquanto estimativas de herdabilidade para contagem de células somáticas são de aproximadamente 0,10. A herdabilidade estimada para os vários ácidos graxos no leite de bovinos variam de 0,05 a 0,40, enquanto as estimativas para concentração de uréia são de 0.10 a 0.25. A estimativa de herdabilidade para a concentração de lactoferrina é da ordem de 0,20.
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EM 20/11/2008

Prezados André e Daniel, agradeço muito pelos comentários. Particularmente, fico feliz em tê-los compartilhando nossa visão. Abraços.
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EM 06/10/2008

O direcionamento do melhoramento genetico a por mudanças significativas, como o foco apenas na produção. O que nos fica claro é que o tipo tem importancia igual ou maior do que produção. Caracteristicas como pernas e pés, vigor corporal, saude de úbere e fertilidade é de fundamental importancia no processo de melhoramento. O que importa é fazer vacas que produzam leite mais barato sustentavelmente.
André Gonçalves Andrade
ANDRÉ GONÇALVES ANDRADE

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EM 18/09/2008

Muito sensato.
Melhorar a genética pensando de forma ampla, com foco na produção mas não deixando de lado os fatores econômicos, na transformação e no consumo tendo em vista eficiência e segurança alimentar.
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