Os animais destinados à produção de leite possuem uma zona de conforto térmico relativamente estreita, situada entre 7°C e 21°C. No entanto, grande parte do território brasileiro está localizada em regiões onde as temperaturas globais figuram entre as mais elevadas do mundo, tornando a criação de vacas leiteiras no país um desafio.
Apesar disso, existem alternativas viáveis para garantir condições adequadas a esses animais. É importante ressaltar, entretanto, que os cuidados necessários variam de acordo com o sistema de produção adotado, seja ele extensivo ou intensivo.
- Sistemas Extensivos: no sistema extensivo de criação a pasto, as vacas leiteiras estão mais expostas às intempéries climáticas, como chuvas, ventos, sol intenso e parasitas, como carrapatos. Essa maior exposição torna o manejo mais desafiador. No entanto, é possível implementar estratégias que minimizem ou até mesmo eliminem os efeitos adversos desses fatores ambientais, proporcionando maior bem-estar aos animais.
- Sistemas Intensivos: no sistema intensivo, os animais são mantidos em galpões cobertos, com os modelos mais utilizados no Brasil sendo o Compost Barn e o Free Stall. Esses galpões de confinamento são projetados para reduzir a incidência direta de insolação, permitindo que apenas uma pequena parte da radiação seja refletida para o interior das instalações. Essa estrutura proporciona maior controle ambiental, favorecendo o conforto térmico e o desempenho produtivo dos animais.
Em condições ideais, com galpões projetados e planejados adequadamente, o ambiente nos sistemas de confinamento tende a ser mais confortável para as vacas. Contudo, eventuais falhas no planejamento podem comprometer esse conforto, demonstrando que apenas manter os animais confinados não é suficiente para atender às suas necessidades de bem-estar.
Quais são os principais fatores a serem observados para garantir o conforto das vacas em confinamento?
Quatro aspectos fundamentais devem ser considerados para assegurar o bem-estar das vacas em sistemas confinados:
Estresse térmico: o estresse térmico é uma questão amplamente debatida, e com razão, dado seu impacto nas fazendas leiteiras em muitas regiões, praticamente ao longo de todo o ano.
É essencial manter o ambiente o mais próximo possível, ou idealmente dentro, da faixa de conforto térmico das vacas. O estresse causado pelo calor reduz a ingestão de matéria seca (MS), o que resulta em queda na produção de leite. Além disso, esse estresse compromete a imunidade dos animais, aumentando a incidência de doenças.
Ventilação: intimamente relacionada ao estresse térmico, a ventilação é indispensável nos sistemas de confinamento, especialmente no Compost Barn, onde também desempenha um papel importante no manejo da cama.
Embora a ventilação não reduza diretamente a temperatura do ar, ela melhora a sensação térmica para os animais, promovendo maior conforto. Adicionalmente, o uso de sistemas de aspersão pode ajudar a mitigar o calor. No entanto, é fundamental que a aspersão seja instalada exclusivamente em áreas com piso de concreto, como a linha de cochos e a sala de espera, para evitar o comprometimento da cama ou do ambiente.
Tempo de descanso: o tempo de descanso é outro fator crítico para o bem-estar das vacas. Animais em condições ambientais adequadas am, em média, 12 horas por dia deitados.
Os fatores relacionados ao estresse térmico e à ventilação impactam diretamente o tempo de descanso das vacas. Sob condições de estresse térmico, as vacas tendem a permanecer mais tempo em pé, buscando dissipar o calor corporal, o que reduz o tempo disponível para repouso.
Qualidade da cama e lotação: a qualidade da cama e o espaço disponível no galpão são fatores diretamente relacionados ao tempo de descanso das vacas e, consequentemente, ao bem-estar animal.
No Compost Barn, a qualidade da cama é determinante para o sucesso do sistema. O manejo adequado, como o revolvimento constante, é essencial para evitar compactações excessivas, promover a aeração e reduzir a umidade da cama. Esse manejo adequado contribui para a limpeza dos animais, diminuindo os níveis de sujidade e prevenindo contaminações por agentes causadores de mastite.
Além disso, as vacas necessitam de espaço adequado para descanso, seja no Compost Barn ou no Free Stall. No caso do Free Stall, atenção especial deve ser dada ao espaço necessário para os movimentos de deitar e levantar, que requerem mais área em comparação ao espaço ocupado pelo animal quando já está deitado. Por isso, o planejamento das camas individuais e do galpão é fundamental para evitar restrições.
No Compost Barn, a lotação também influencia diretamente na qualidade da cama. Em situações de alta lotação, a cama tende a apresentar maior umidade e compactação. As recomendações de espaço por animal são:
- Vacas em lactação: 10 m²/vaca;
- Novilhas: 5,0 a 6,0 m²/novilha;
- Vacas secas: 6,0 a 8,0 m²/vaca;
- Vacas no pré-parto: 15 m²/vaca.
O que fazer para garantir conforto aos animais?
A adoção de manejos básicos no confinamento é imprescindível para proporcionar as melhores condições às vacas, considerando os quatro fatores mencionados anteriormente.
-
Fornecimento de água fresca: o o a água limpa e em quantidade adequada é uma necessidade primordial. Os bebedouros devem estar estrategicamente posicionados no galpão, garantindo fácil e livre o para todos os animais.
-
Ventilação: a ventilação é essencial para melhorar a sensação térmica dos animais. O sistema deve ser projetado para atender todas as áreas de descanso, cobrindo adequadamente todo o espaço ocupado pelos animais no galpão.
-
Controle da insolação: em galpões mal projetados, que recebem insolação direta nas áreas de descanso ou na linha de cocho, o plantio de vegetação ao redor da instalação pode ser uma alternativa eficaz para bloquear a entrada dos raios solares. Além disso, a orientação ideal do galpão é no sentido leste-oeste, reduzindo a exposição ao sol.
-
Distância entre sala de ordenha e galpão: a redução da distância entre a sala de ordenha e o galpão de confinamento ajuda a minimizar o estresse térmico. Complementarmente, a instalação de sistemas de ventilação ou aspersão na sala de espera é altamente recomendada.
-
Planejamento da instalação: ao projetar o galpão, é fundamental considerar as projeções de crescimento da propriedade. Dessa forma, evita-se que um aumento no número de vacas comprometa a qualidade da cama ou o espaço disponível para descanso, garantindo o bem-estar do rebanho.
A implementação de sistemas de confinamento, seja no modelo Compost Barn ou Free Stall, é um processo complexo que exige planejamento e manejo adequados. Embora existam muitos outros fatores que determinam o sucesso do confinamento, os quatro pontos destacados oferecem um direcionamento essencial para proporcionar maior conforto às vacas.
Fonte consultada: Comportamento e bem-estar de vacas leiteiras em compost barn. Flavio Damasceno, EducaPoint.