Ordenhas freqüentes no início de lactação: vale a pena?
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Quando se pensa em aumentar o número de ordenhas, há uma série de questões de manejo que devem ser avaliadas, além da necessidade de mão-de-obra extra e do novo esquema de trabalho na sala de ordenha. É preciso pensar na formulação das dietas e no manejo da alimentação, dentre outros. E um detalhe muito importante é quando ordenhar as vacas com mais freqüência, em toda a lactação ou só nas primeiras semanas?
Da mesma forma que outras fêmeas mamíferas, vacas ordenhadas mais vezes ao dia produzem mais leite. Como o volume de leite produzido depende do número de células secretoras presentes e da atividade metabólica dessas células, é lógico se esperar que a remoção mais freqüente do leite de dentro dos alvéolos mamários favoreça a atividade secretora. No entanto, em qual período do ciclo lactacional esse efeito é mais significativo? Isso ainda não está claro.
O esquema tradicional de 2 ordenhas diárias parece ter sido adotado por proporcionar uma excelente relação entre a eficiência de uso da mão-de-obra e o volume de leite produzido. È inquestionável que fazer 2 ordenhas é melhor do que fazer apenas 1, e essa vantagem é tanto maior, quanto maior for a média de produção do rebanho. Apesar de não haver muitos trabalhos mostrando a queda de produção quando se faz apenas 1 ordenha, em relação a 2, acredita-se que seja bem acima dos 20%.
Na literatura científica encontramos um número muito maior de trabalhos comparando 2 vs 3 ordenhas do que trabalhos comparando 1 vs 2 ordenhas, em condições de manejo intensivo. Em sua palestra o Dr. Dahl afirma que, na média, esses trabalhos apontam para um ganho médio de até 3,6 kg leite/vaca/dia em toda a lactação com 3 ordenhas em relação a 2 ordenhas diárias. Não é recomendável estabelecer ganhos percentuais em produção, decorrentes do aumento no número de ordenhas, pois isso poderia acarretar em superestimativa da expectativa desse ganho, bem como em estimativas erradas da necessidade de alimentação suplementar para ar essa resposta produtiva.
Mas uma possibilidade estudada mais recentemente, e que tem se mostrado promissora é o aumento na freqüência de ordenha apenas nas primeiras semanas pós-parto. O Dr. Dahl cita um estudo feito num rebanho em que se faz normalmente 3 ordenhas diárias, no qual algumas vacas aram a ser ordenhadas 6 vezes ao dia, até 21 dias de lactação, e depois voltaram à rotina normal de 3 ordenhas. Observou-se que este grupo produziu cerca de 900 kg leite a mais que as demais vacas no resto da lactação. Efeitos semelhantes foram observados em rebanhos que fazem duas ordenhas diárias e aram a fazer 4 ordenhas nos primeiros 21 dias de lactação. É importante ressaltar que esse ganho de produção não se deve apenas ao período em que as vacas foram ordenhadas mais frequentemente, mas ao efeito residual dessa prática ao longo de toda a lactação.
Além da possibilidade do ganho direto em aumento de produção, aumentar a freqüência de ordenhas, pelo menos no início da lactação, pode produzir outros benefícios. Há trabalhos que associam o aumento na freqüência de ordenhas com melhor sanidade do úbere, representada por menores CCS (contagem de células somáticas) no leite. Há evidências de que realizar ordenhas mais freqüentes no início da lactação pode reduzir a CCS em toda a lactação, e não só no período em que as vacas estão sendo ordenhadas mais vezes, e isso pode ser uma vantagem significativa quando se recebe por qualidade do leite.
Além disso o Dr. Dahl também cita outros possíveis benefícios menos mensuráveis e perceptíveis dessa prática, como o "treinamento" mais rápido das vacas primíparas na rotina de ordenha. As visitas mais freqüentes à sala de ordenha também permitem que as vacas sejam observadas mais vezes ao dia, o que pode facilitar a identificação de problemas sanitários que podem ser resolvidos com mais rapidez, a um custo mais baixo. No entanto, antes de pensar em aumentar a freqüência de ordenhas, mesmo que por algumas semanas, é preciso considerar os custos envolvidos nesse processo, tais como necessidade de mão-de-obra extra, aumento no consumo de alimentos e no gasto de materiais de ordenha, energia elétrica, manutenção de máquinas, etc.
Se as vacas produzirem mais com essa prática, naturalmente vão precisar de mais comida, seja para dar e direto à produção, seja para repor maior quantidade de reservas corporais depois do pico de lactação, e isso representa um aperto no fluxo de caixa da fazenda. Mas talvez as maiores dificuldades em se implementar essa prática sejam o custo da mão-de-obra e o manejo operacional para realizar mais ordenhas. O ganho em produção tem que cobrir todos esses custos adicionais e ainda deixar um saldo positivo para se justificar.
Outro ponto que deve ser observado é que quanto mais tempo as vacas arem na sala de ordenha, menos tempo elas terão para se alimentar e descansar, atividades fundamentais para manter níveis elevados de produção. Por exemplo, se a distância a ser percorrida para chegar à sala de ordenha for muito grande, além do tempo, pode haver um aumento significativo nas exigências de manutenção das vacas, o que fatalmente vai reduzir a eficiência de alimentação.
Finalmente o último ponto a ser analisado é a capacidade operacional da sala de ordenha. Há tempo para realizar mais ordenhas, mesmo que seja só nas vacas recém-paridas? Se a sala de ordenha já estiver sendo operada no limite de sua capacidade, vai ser complicado.
Pelo que foi exposto fica claro que a decisão pela realização de mais ordenhas não é fácil. Tudo indica que o benefício exista, mas a fazenda está preparada para implementar essa operação? O ganho vai cobrir os custos adicionais? Não há uma resposta, e seria muito bom ouvir a opinião de técnicos e produtores. Desde já convido os leitores deste radar a mandar suas cartas!!!
Esse radar foi baseado no artigo original do Dr. Geoffrey E. Dahl, "Frequent Milking in early lactation: considerations for implementation" publicado na 42nd Florida Dairy Production Conference, 2005.
Comentário do autor do radar: Todos os estudos mencionados foram realizados em rebanhos confinados, com produção média elevada. Não há comparações feitas com rebanhos a pasto, onde entendo que essa prática seja de adoção mais difícil.
Material escrito por:
Alexandre M. Pedroso
Doutor em Ciência Animal e Pastagens, CowSignals Expert, especialista em nutrição, manejo e bem-estar de bovinos leiteiros.
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Vale lembrar que nos períodos pré e pós-parto as vacas diminuem a ingestão de matéria seca, e se ocorre um aumento na produção, a exigência energética aumenta, pois a síntese do leite é a atividade que exige a maior quantidade de energia da vaca, isso poderia acentuar o balanço energético negativo dessas vacas, o qual poderia retardar o início a atividade reprodutiva no pós parto, levando assim a diminuição da eficiência reprodutiva desses animais.
Mesmo que não tenha sido feito referências sobre esse tema no referido trabalho, gostaria de saber a sua opinião.
Obrigado,
João Paulo
Resposta do autor:
João Paulo,
Na revisão do Dr. Dahl, não há considerações sobre a reprodução. Em minha opinião, problemas podem acontecer sim, se as vacas tiverem que mobilizar maior quantidade de gordura corporal para compensar um eventual aumento de produção decorrente do maior número de ordenhas.
A expectativa é que as vacas aumentem um pouco o consumo com essa prática, e o produtor tem que prever isso, aumentando o fornecimento para o grupo que será ordenhado mais vezes.
A maior parte dos estudos comparando 2 com 3 ordenhas diárias - há vários na literatura científica - não mostra aumento significativo de consumo com mais ordenhas, mas a quase totalidade desses trabalhos é de curta duração, sendo que o período de observação não se estende ao longo da lactação, o que seria importante para se detectar alterações de consumo.
Com isso podemos inferir que as vacas ordenhadas mais frequentemente no início da lactação mobilizam mais reservas nesse período, e possivelmente apresentem maior consumo do meio para o final da lactação, a fim de repor essas reservas. Se isso acontece, e se o aumento de produção for significativo com o aumento no número de ordenhas, é possível que haja um efeito negativo sobre a reprodução. Mas acredito que isso terá um impacto significativo somente em animais de produção muito elevada.
Abraços,
Alexandre