Torna-se cada vez mais importante o debate sobre uma questão existente no meio rural: a dificuldade de sucessão familiar na produção leiteira.
O que é sucessão familiar?
A sucessão familiar é a capacidade de um ou mais membros da família em dar continuidade ao trabalho feito pela geração anterior, de modo que a propriedade do conhecimento, trabalho, habilidades, gestão, controle e atividades familiares am de uma geração para outra. Pode ocorrer quando as gerações mais velhas estão em processo de aposentadoria ou venham a óbito.
Comparando os dois últimos Censos Agropecuários do IBGE, cerca de 175 mil estabelecimentos que produziam leite no Brasil encerraram suas atividades entre os anos de 2006 e 2017. Entre os inúmeros fatores que culminaram nessa drástica diminuição do quantitativo de sistemas produtivos leiteiros, está a não sucessão dos estabelecimentos.
Mas, o que tem acontecido que muitos produtores não têm conseguido atrair o interesse de seus filhos pela produção de leite?
A diferença de condições entre os agricultores, é a base para a compreensão do fator mais importante na hora de se buscar a permanência dos jovens trabalhadores no campo. A pesquisa científica tem proposto atributos como condições de trabalho, renda, infraestrutura e lazer como importantes motivadores para a tomada de decisão dos jovens entre permanecer, ou não, no meio rural.
Outro fator importante a ser levado em consideração é o ato de ensinar e preparar o jovem para o controle do negócio. Em alguns casos, a falta de participação do jovem nas tomadas de decisão da propriedade, faz com que ele não desenvolva as habilidades técnicas e gerenciais necessárias para permanecer na atividade, gerando desinteresse.
Como todos sabemos, as áreas urbanas oferecem um amplo leque de oportunidades e alguns jovens trabalhadores sentem que as áreas rurais não atendem suas necessidades. Para a geração mais jovem, continuar a realizar atividades familiares no campo não é fácil. A escolha de continuar ou interromper as atividades da geração anterior pode estar relacionada a questões sociais, culturais e principalmente econômicas e financeiras.
Muitos jovens não querem continuar a se envolver nas atividades familiares por não terem incentivos às atividades agrícolas. Em termos sociais e culturais, os potenciais sucessores têm cada vez menos interesse em assumir a empresa familiar, preferindo encontrar oportunidades de trabalho, estudo e lazer no centro da cidade. Dessa forma, os projetos e realizações dos jovens se sobrepõem aos interesses coletivos da família.
Uma desvantagem dos jovens que vivem no meio rural em relação aos jovens que vivem no meio urbano, é a carga de trabalho intensa.
Na produção de leite, por exemplo, os finais de semana, feriados e férias são, muitas vezes, abdicados, já que as vacas requerem cuidados e precisam ser ordenhadas todos os dias. Atividades como alimentação dos animais, manejo e higiene da ordenha, reparos nas instalações e cuidados com as pastagens, demandam tempo e grande esforço físico. Além da carga de trabalho pesada, em muitos casos, os filhos observam que os resultados financeiros dos pais com a atividade são aquém do esperado, o que também desestimula uma possível sucessão.
Nesse sentido uma infraestrutura que permita fácil o ao meio urbano, como, estradas em bom estado de conservação, qualidade de comunicação e o à internet, pode ser um fator chave para o estímulo a sucessão. Os filhos mais dispostos em dar continuidade ao trabalho dos pais, são aqueles que possuem autonomia e incentivos monetários, com condições financeiras para melhorar a qualidade produtiva e adquirindo bens materiais.
É importante destacar que a sucessão familiar se torna mais penosa para os agricultores familiares, pois quando a relação com os pais é rompida, este estabelecimento também se desvia da categoria familiar. Algo que também deve ser levado em consideração é que a população que hoje gera a produção leiteira, possui alta faixa etária e, em breve, esses gestores irão encerrar suas atividades.
Considerando que a produção de leite é uma das principais fontes de renda de alguns produtores familiares, e tendo em vista que a concentração e a especialização da produção podem inviabilizar a atividade, é necessário encontrar novas opções para o sistema leiteiro.
Sendo assim, há possibilidade de êxodo rural, caso a produção de leite não dê condições econômicas e financeiras e nem perspectivas para as sucessões. É preciso a criação de políticas públicas de incentivos a permanência de jovens no campo. Para tanto, é necessário conhecer os possíveis motivos das dificuldades de permanência desses jovens no campo e propor soluções ou ações no sentido de amenizar esse fenômeno social relacionado ao abandono do meio rural.