A seleção para longevidade em gado de leite tem o potencial de melhorar a performance de diversos setores da atividade, pois leva à redução nos custos de reposição, ao aumento da proporção de animais adultos (com mais de duas lactações) no rebanho e proporciona mais oportunidade para descarte voluntário. O aumento na proporção de animais adultos é interessante porque a produção de vacas de leite aumenta com a idade do animal. O descarte voluntário, caracterizado pela venda de animais que, apesar de estarem em perfeito estado de saúde, apresentam produtividade inferior à do resto do rebanho, é parte fundamental do processo de seleção, pois o nível genético e, conseqüentemente, a produção de leite dos animais da fazenda melhoram em média. Além disso, os animais descartados têm maior valor de mercado por estarem em perfeitas condições de saúde, o que não acontece no caso de descarte involuntário.
A realidade do mercado de inseminação artificial no Brasil ainda exige que sêmen importado, grande parte proveniente da América do Norte e Europa, seja utilizado em larga escala. A adaptação de provas de touros realizadas em países de clima temperado para a situação específica de umidade e temperatura de cada região e o perfil de manejo de cada fazenda no Brasil, nem sempre é tarefa fácil, podendo levar a erros na seleção de touros, que são notados anos mais tarde na produtividade, longevidade e valor de mercado dos produtos obtidos.
A taxa de progresso genético para uma característica em particular é altamente determinada pela sua herdabilidade. Características de produção de leite e características de tipo constituem informação de alta confiabilidade nas provas de touros jovens, cujas filhas ainda não começaram ou estão começando a ser descartadas, pois são mensuradas na primeira lactação em vacas de leite e tem herdabilidade relativamente alta, chegando até a 0,4, contra características de longevidade, como vida produtiva, que dificilmente am de 0,1 em modelos lineares e 0,2 em análise de sobrevivência. Por esses motivos recomenda-se associar informações de características de produção de leite e tipo com características de longevidade (vida produtiva por exemplo), ao se selecionar para longevidade.
Outras características, em geral de baixa herdabilidade, também estão disponíveis nas provas atuais de touros e devem ser cuidadosamente consideradas em programas sérios de seleção, nos próximos artigos discutiremos mais sobre essas características. Dentre as características de herdabilidade relativamente alta, aquela que na maioria dos estudos teve maior impacto em longevidade foi a produção de leite, ou seja, os animais de maior produtividade em um rebanho são mais dificilmente descartados do que os de menor produtividade.
Certas características de tipo são mais importantes do que outras no que diz respeito à longevidade e saber priorizá-las pode levar a grande economia na compra de sêmen. Como estamos na posição de importadores de sêmen, é razoável basear nossas decisões nas avaliações genéticas de regiões com clima e manejo semelhantes aos do Brasil. A região sudeste dos Estados Unidos pode ser utilizada para este fim, pois apresenta condições próximas à de algumas regiões de produção de leite no Brasil. O gráfico a seguir mostra resultados de análise de sobrevivência, que é a metodologia estatística mais moderna disponível para a análise de dados de longevidade, em rebanhos de gado holandês na região sudeste dos Estados Unidos, após correção para produção de leite:

Nesse gráfico, verificamos que, para essa região, após correção para produção de leite, profundidade de úbere e inserção de úbere anterior são as características que mais interferem em longevidade e que características como força e largura de garupa apresentam relativamente baixo impacto em longevidade e, conseqüentemente, não precisam ser avaliadas quando o objetivo é selecionar para longevidade.
O gráfico a seguir mostra o risco de descarte para cada uma das classes de profundidade de úbere.

Nesse gráfico verifica-se que, na região sudeste dos Estados Unidos, após correção para produção de leite, o risco de descarte de vacas com úbere profundo (score 5 para profundidade de úbere) foi de 1,72, o que é 1,7 vezes maior do que o das vacas intermediárias (score 25 para profundidade de úbere), cujo risco foi forçado a 1,00 e 2,4 vezes maior do que o das vacas de úbere raso (score 45 para profundidade de úbere), cujo risco foi de 0,71, ou seja, animais com úberes mais rasos apresentam maior longevidade.
O tema "Selecionando para longevidade" continuará sendo abordado em futuros artigos e maiores detalhes sobre outras características de tipo serão apresentados.