Construir um negócio não é fácil, mas á-lo adiante parece ser ainda mais difícil pois envolve apego a uma história, relacionamentos por vezes complicados e aceitação de que o novo está por vir. Esses três elementos juntos podem tornar a sucessão um processo mais longo e doloroso do que deveria, além de muitas vezes colocar o negócio em cheque.
Existem dois conceitos que moldam o destino das fazendas leiteiras: a sucessão familiar e a sucessão de oportunidades. A agem do bastão, seja por laços familiares ou oportunidades inovadoras, desempenha um papel crucial em garantir a continuidade e o crescimento do negócio e da cadeia como um todo.
A sucessão familiar, permite que histórias e valores sejam transmitidos de geração em geração, além de ter suas vantagens, como a continuidade da cultura empresarial, valores e visão a longo prazo. Ao mesmo tempo também enfrenta desafios, como conflitos familiares, falta de experiência dos sucessores ou resistência à mudança. Até que ponto é realmente necessário obrigar que os filhos tomem frente e sejam sucessores na fazenda?
O produtor Nivaldo Manchetti, que possui 2 filhos, abordou no Interleite Brasil 2023 o tema sucessão e trouxe uma reflexão sobre o assunto, "Por que a sucessão familiar não pode ser ar o comando da sua propriedade, para quem não tem seu sangue? ”. Confira no vídeo abaixo o trecho da palestra do produtor:
Atualmente, muito se ouve sobre a sucessão por oportunidades, quando se olha para além da família e coloca-se o negócio como foco. Nesse tipo de sucessão, os indivíduos são selecionados com base em suas qualificações e capacidades para desempenhar o papel em questão, avaliados por suas competências, habilidades e méritos, independente de sua relação familiar com a organização.
Como podemos encontrar a harmonia entre a tradição e a inovação?
Ambos os tipos de sucessão têm suas próprias vantagens e desafios. A sucessão familiar dá continuidade de valores e tradições familiares, mas também pode gerar conflitos pessoais. A sucessão por oportunidade pode trazer novas ideias e competências para a organização, mas na contramão pode gerar resistência de membros mais antigos ou familiares que esperavam assumir cargos de liderança. A busca pelo equilíbrio perfeito entre história e futuro, entre estabilidade e inovação não tem uma fórmula correta.
A abordagem escolhida depende do contexto da organização, seus objetivos e valores, bem como da disponibilidade de indivíduos qualificados para preencher posições-chave. Em muitos casos, os filhos, após verem a batalha dos pais para prosperarem com suas fazendas, não pensam em ar pelas mesmas tribulações ou não sentem afinidade com a rotina leiteira e querem seguir caminhos distintos.
Obrigar os sucessores a assumirem atividades das quais não gostam e/ou não possuem conhecimento pode ser prejudicial ao negócio e a família. Nesses casos a opção de encontrar alguém com qualificações e apreço pela atividade leiteira pode ser o melhor caminho ou pelo menos algo a se considerar.
Como a sucessão por oportunidade se baseia em meritocracia e competência, garante-se que os cargos importantes serão ocupados por pessoas que possuam a habilidade necessária para tal. Ao selecionar candidatos com base em seus conhecimentos e experiências, as equipes se tornam mais diversas em termos de conhecimento, origens e perspectivas. Isso pode levar a soluções mais criativas e inovadoras.
Além disso, os colaboradores serão incentivados a se esforçar mais e se desenvolver profissionalmente, quando notarem que as oportunidades são baseadas no desempenho e na habilidade. E ao promover funcionários internos com habilidades excepcionais, a organização valoriza o crescimento e o desenvolvimento contínuo dos seus próprios talentos.
Para encontrar o equilíbrio entre ar os valores e a tradição da fazenda e a inovação da fazenda como negócio é importante um processo mais transparente e justo, onde os candidatos têm a oportunidade de competir com base nas suas competências. E também encontrar um sucessor que tenha além das habilidades, possua valores semelhantes. Essa opção irá reduzir conflitos e ressentimentos.
Olhar para trás ou para frente?
Um caminho que a mente geralmente segue nessas horas de transição é lembrar fatos ados e abrir espaço para o saudosismo. É aquele sentimento de se arrepender de ter reclamado por anos de algo e se emocionar ao ver a fazenda construída, lembrar do bezerreiro, recordar a sala de ordenha que era de chão batido e hoje é um fosso bem construído. É olhar o botijão de sêmen e lembrar que toda a genética foi construída aos poucos, com anos de aprendizado e luta.
Nossa mente nessas horas tende a lembrar do que é positivo e bom e não é muito honesta ao balancear os sentimentos negativos em conjunto. Assim a semente do apego a toda a história começa a surgir e facilmente o processo de sucessão é visto como uma ameaça e ou começa a existir resistência ou negação.
A resistência à sucessão pode ser sutil, pois a mente começa a ver apenas barreiras no sucessor e riscos que parecem grandes demais. Tudo pode parecer pouco confiável. Todavia esse quadro mental não é a produtores de leite; ele pode ser observado em diferentes momentos, por exemplo quando é necessário confiar os cuidados de um filho a um terceiro ou quando se vai mudar de país. A partir do momento em que essa decisão bate à porta, simplesmente parece que aquela mudança não é tão interessante assim, ou que a babá não inspira tanta confiança. Atenção! Isso é uma armadilha causada pelo medo.
Da mesma forma, a negação pode ser um caminho atraente a ser seguido e ela se mostra pela falta de enfrentamento dos fatos. O pai que tanto se queixava de cansaço, agora começa a acordar mais cedo, fazer mais tarefas, diz que está em ótima forma e se nega a conversar sobre o assunto com os filhos que insistem em dar um banho de realidade. Muitas vezes isso pode ser encarado com humor ou mesmo desgastar as relações. O fato é que fingir que a idade não chegou e que tudo está como antes apenas adia o enfrentamento de ar o bastão aos filhos ou a algum eleito ao cargo de sucessor, o que toma tempo que podia ser gasto com treinamento, testes, enquanto há disposição para tal.
Em ambos os casos é importante respirar e entender que olhar para trás ou não olhar para lugar algum não irá mudar o status da sucessão. É olhar para frente que gera movimento, que ajuda na evolução e que possibilita que o processo se inicie o mais rápido possível, evitando que o sucessor se veja tendo que tomar parte do negócio sem e ou sem treinamento com o devido prazo.
Independente do tipo de sucessão escolhido, o importante é que haja um processo estruturado e honesto, de forma que os sucessores sejam envolvidos no processo gradualmente e com tempo de poderem ter o aprendizado.
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