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Surtos da Varíola Bovina

A varíola bovina é uma doença caracterizada pelo aparecimento de lesões cutâneas localizadas no úbere e tetas das vacas. e e saiba mais.

Publicado em: - 4 minutos de leitura

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Neste mês de outubro, recebemos uma mensagem informando sobre um novo surto da varíola bovina e sugerindo também que o tema fosse abordado em um artigo para que os produtores da região fossem orientados sobre a doença.

Desde o final da década de 90, a varíola bovina vem causando surtos que se repetem anualmente em diferentes regiões do país (São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Bahia, Rio de Janeiro e Espírito Santo). Estes surtos causam muitos prejuízos ao produtor rural já que comprometem centenas de propriedades e milhares de cabeças de gado, bem como um grande número de ordenhadores, já que esta enfermidade é uma zoonose.

A varíola bovina é uma doença caracterizada pelo aparecimento de lesões cutâneas localizadas no úbere e tetas das vacas. A grande preocupação que paira sobre este doença é a semelhança com a Febre Aftosa, por isso é importante que quando os primeiros casos forem observados seja prontamente realizado o diagnóstico diferencial. Uma das principais diferenças entre as doenças é o fato da varíola bovina também afetar os ordenhadores.
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Os diagnósticos laboratoriais realizados a partir do material coletado dos surtos ocorridos nos últimos anos no Brasil apontaram que a etiologia da doença está associada ao vírus vaccinia do gênero Orthopoxvírus. Para compreender melhor os diferentes tipos do poxvírus observe a tabela 1. A cowpox é muitas vezes confundida com a pseudovaríola (pseudocowpox), sendo este último o mesmo agente do ectima em caprinos e ovinos. Nos bovinos a pseudovaríola, a cowpox e a vaccinia são clinicamente parecidas, já no homem, pode-se fazer o diagnóstico diferencial pelo aspecto das lesões, sendo que a pseudovaríola se caracteriza por nódulos e a cowpox por pústulas e vesículas.

Tabela 1- Classificação dos diferentes poxvírus
 


Nos bovinos, as lesões causadas pelos Orthopoxvírus ficam geralmente confinadas aos tetos e úbere das vacas. Caraterizam-se inicialmente, por pequena pápula de 2 a 3 mm de diâmetro, seguida de formação de crostas e disseminação circular da lesão. Com cerca de 10 dias apresenta aspecto crostoso em forma de anel, dentro de 20 dias ocorre a cicatrização. Ocasionalmente, as lesões podem acometer a região medial da coxa e o escroto (no macho). Uma pessoa que tenha manipulado animais infectados com as vesículas pode também contrair a doença, geralmente os ordenhadores podem apresentar vesículas e lesões semelhantes às descritas para os bovinos, localizadas nas mãos e antebraço. Por isso, os surtos de Varíola Bovina tornam-se também um problema de Saúde Pública.

A Varíola bovina é uma doença que se caracteriza por surtos rápidos (cerca de três meses), o animal ou indivíduo acometido elimina o vírus somente nos primeiros dias, podendo, neste período, apresentar febre. O período de incubação da doença é curto, sendo de apenas três dias. A doença está intimamente associada com a imunidade, animais ou pessoas imuno-deprimidas apresentam um acometimento mais severo e vice-versa. As situações de estresse, altas temperaturas, desconforto e doenças em geral favorecem a disseminação da doença. A varíola é autolimitante (a própria doença já estimula a imunidade no animal) e, por isso, não existem vacinas.

A transmissão ocorre principalmente durante a ordenha, podendo ser veiculada tanto em ordenha manual como em ordenha mecânica. Para a instalação do vírus é necessário que a pele do animal esteja com pequenos cortes ou pequenas lesões que permitam a entrada do vírus. Por isso, é importante atenção com a integridade da pele dos tetos e do úbere, principalmente no período seco do ano, quando o teto geralmente fica ressecado e predisposto a injúrias. Os bezerros que mamam diretamente nas vacas acometidas com a lesão podem contrair a doença, apresentando lesões na região do focinho.

É importante destacar que as medidas de biosegurança devem ser implementadas para evitar que a doença seja transmitida entre as propriedades, já a entrada de bovinos acometidos ou ordenhadores que tiveram contando com animais acometidos podem introduzir a doença no rebanho.

Não existe um tratamento específico, sendo prescrito apenas a limpeza, higiene e desinfecção das regiões afetadas com iodo glicerinado. Os principais prejuízos ocasionados pela enfermidade estão associados com a queda na produção de leite e com as infecções secundárias, principalmente a mastite, que deve ser tratada com os procedimentos já utilizados para a mastite na propriedade. Deve-se destacar que a maior arma contra a varíola é o diagnóstico precoce. Somente com a maior divulgação sobre a doença o produtor, o veterinário e o ordenhador poderão ficar atentos aos primeiros sinais e implementar rapidamente as medidas de controle que impedirão a rápida disseminação da doença e o aumento das perdas econômicas.

 


Pesquisadores da UFMG (Escola de Veterinária e ICB) e do IMA relataram um caráter sazonal dos focos observados no estado, sendo que a maioria dos casos ocorreu de maio a setembro, no período mais seco do ano. Os pesquisadores destacam também que o aumento da incidência e a seriedade dos surtos exigem um maior investimento em pesquisa e estudos epidemiológicos pelos órgãos federais e estaduais de vigilância sanitária da saúde humana e animal.

Por fim, vale a pena enfatizar que todas as pessoas envolvidas com o manejo do rebanho devem ser alertadas sobre a importância do reconhecimento das lesões, sobre o caráter contagioso da varíola bovina e sobretudo que se trata de uma zoonose.

Fonte:

DAMASO, C.R.; ESPOSITO, J.J.; CONDIT, R.C.; MOUSSATCHE, N. An emergent poxvirus from humans and cattle in Rio de Janeiro State: Cantagalo virus may derive from Brazilian smallpox vaccine. Virology, v.25; n.277(2), p.439-49, 2000.

LOBATO, Z.I.; FROIS, M.C.M.; TRINDADE, G.S.; KROON, E.G. Varíola bovina - zoonose reemergente avança em Minas Gerais. V & Z em Minas, n.83, p.18-20, 2004.

PITUCO, M. Laboratório de Viroses - Instituto Biológico - São Paulo, 2004. (informação verbal)

SILVA, P.L. DA; COELHO, H.E.; VIANA, F.C.; LUCIO, W.F.; RIBEIRO, S.C. DE A.; OLIVEIRA, P.R. Surto de variola bovina no municipio de Prata, Minas Gerais. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinaria e Zootecnia (Brazil), v.38, n.3, p.323-330, 1986.

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Material escrito por:

Renata de Oliveira Souza Dias

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A varíola bovina é uma doença caracterizada pelo aparecimento de lesões cutâneas localizadas no úbere e tetas das vacas. A grande preocupação que paira sobre este doença é a semelhança com a Febre Aftosa, por isso é importante que quando os primeiros casos forem observados seja prontamente realizado o diagnóstico diferencial. Uma das principais diferenças entre as doenças é o fato da varíola bovina também afetar os ordenhadores.
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Nos bovinos, as lesões causadas pelos Orthopoxvírus ficam geralmente confinadas aos tetos e úbere das vacas. Caraterizam-se inicialmente, por pequena pápula de 2 a 3 mm de diâmetro, seguida de formação de crostas e disseminação circular da lesão. Com cerca de 10 dias apresenta aspecto crostoso em forma de anel, dentro de 20 dias ocorre a cicatrização. Ocasionalmente, as lesões podem acometer a região medial da coxa e o escroto (no macho). Uma pessoa que tenha manipulado animais infectados com as vesículas pode também contrair a doença, geralmente os ordenhadores podem apresentar vesículas e lesões semelhantes às descritas para os bovinos, localizadas nas mãos e antebraço. Por isso, os surtos de Varíola Bovina tornam-se também um problema de Saúde Pública.

A Varíola bovina é uma doença que se caracteriza por surtos rápidos (cerca de três meses), o animal ou indivíduo acometido elimina o vírus somente nos primeiros dias, podendo, neste período, apresentar febre. O período de incubação da doença é curto, sendo de apenas três dias. A doença está intimamente associada com a imunidade, animais ou pessoas imuno-deprimidas apresentam um acometimento mais severo e vice-versa. As situações de estresse, altas temperaturas, desconforto e doenças em geral favorecem a disseminação da doença. A varíola é autolimitante (a própria doença já estimula a imunidade no animal) e, por isso, não existem vacinas.

A transmissão ocorre principalmente durante a ordenha, podendo ser veiculada tanto em ordenha manual como em ordenha mecânica. Para a instalação do vírus é necessário que a pele do animal esteja com pequenos cortes ou pequenas lesões que permitam a entrada do vírus. Por isso, é importante atenção com a integridade da pele dos tetos e do úbere, principalmente no período seco do ano, quando o teto geralmente fica ressecado e predisposto a injúrias. Os bezerros que mamam diretamente nas vacas acometidas com a lesão podem contrair a doença, apresentando lesões na região do focinho.

É importante destacar que as medidas de biosegurança devem ser implementadas para evitar que a doença seja transmitida entre as propriedades, já a entrada de bovinos acometidos ou ordenhadores que tiveram contando com animais acometidos podem introduzir a doença no rebanho.

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Por fim, vale a pena enfatizar que todas as pessoas envolvidas com o manejo do rebanho devem ser alertadas sobre a importância do reconhecimento das lesões, sobre o caráter contagioso da varíola bovina e sobretudo que se trata de uma zoonose.

Fonte:

DAMASO, C.R.; ESPOSITO, J.J.; CONDIT, R.C.; MOUSSATCHE, N. An emergent poxvirus from humans and cattle in Rio de Janeiro State: Cantagalo virus may derive from Brazilian smallpox vaccine. Virology, v.25; n.277(2), p.439-49, 2000.

LOBATO, Z.I.; FROIS, M.C.M.; TRINDADE, G.S.; KROON, E.G. Varíola bovina - zoonose reemergente avança em Minas Gerais. V & Z em Minas, n.83, p.18-20, 2004.

PITUCO, M. Laboratório de Viroses - Instituto Biológico - São Paulo, 2004. (informação verbal)

SILVA, P.L. DA; COELHO, H.E.; VIANA, F.C.; LUCIO, W.F.; RIBEIRO, S.C. DE A.; OLIVEIRA, P.R. Surto de variola bovina no municipio de Prata, Minas Gerais. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinaria e Zootecnia (Brazil), v.38, n.3, p.323-330, 1986.

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