O colostro bovino, o primeiro leite produzido pela vaca logo após o parto, fundamental para o desenvolvimento dos bezerros, tem ganhado espaço no núcleo de saúde e bem-estar humano. Usado como suplemento alimentar em diversos países, como nos Estados Unidos, o uso de colostro já é comum e tem sido incluído no mundo das celebridades como Sophie Richie, digital influencer com mais de 11 milhões de seguidores no Instagram, e as Kardashians.
Incluído na produção de queijos e iogurtes ou consumidos em cápsula e pó, o colostro sem dúvidas vem ganhando mercado internacional.
Rico em nutrientes, imunoglobulinas, lactoferrinas, vitaminas e minerais, o consumo de colostro bovino por humanos era proibido no Brasil, até 2017. Mas graças à pesquisa e à persistência da médica veterinária, extensionista na época, hoje Presidente da Emater-RS, a doutora Mara Helena Saalfeld, essa proibição foi derrubada.
A doutora em biotecnologia, que desenvolveu a silagem de colostro, tecnologia do fermentado de colostro, para a alimentação de bezerras, percebeu o grande potencial do colostro para a saúde humana e liderou uma campanha, bem-sucedida, para legalizar seu consumo.
Mara foi a responsável por redigir o projeto de lei que derrubou a proibição do uso de colostro na alimentação humana. Segundo ela, a proibição era infundada e se baseava em desafios técnicos enfrentados pela indústria. “O ponto de pasteurização (aquecimento) é diferente, ocasionando coagulação do colostro quando submetido a elevadas temperaturas, que gerava o entupimento dos maquinários. Isso acontece pelo grande percentual de proteínas que há no colostro, cinco vezes superior ao que tem o leite”.
Benefícios do consumo de colostro
O consumo de colostro bovino por humanos é amplamente difundido em outros países como Turquia, Finlândia, Noruega, Austrália, Nova Zelândia, Canadá e Estados Unidos. No entanto, no Brasil, o mercado de colostro bovino para alimentação humana ainda engatinha.
Embora haja carência de alimentos no Brasil, produtores descartam o colostro bovino por desconhecerem seu valor nutricional e comercial. Foram 65 anos de proibição, falta de informação e pesquisas na área. Hoje já temos indústrias brasileiras que comercializam o colostro e é possível adquirir com um clique na internet . “Várias empresas vendem no Brasil, é um produto aprovado, tem vários experimentos mostrando os benefícios do uso.”, completa Mara.
O colostro bovino tem muitos componentes incluindo proteínas, hidratos de carbono, gorduras, vitaminas, minerais, a imunoglobulina A (IgA) e imunoglobulina G (IgG) em concentrações superiores a leite de vaca.
Dentre os benefícios do uso do “Ouro Branco”, como a veterinária se refere ao colostro bovino, estão a melhora do desempenho e da recuperação em atletas, eficaz vários distúrbios gastrointestinais, profilaxia da gripe, recuperação e auxílio no desenvolvimento do tecido ósseo, além de contribuir para ganho de força e diminuir a reabsorção óssea em idosos.
Para Mara, os benefícios do colostro bovino são válidos para todas as fases da vida. “Mulheres e homens que têm interesse em um bom físico, atletas, idosos que precisem de reposição de cálcio e imunoglobulinas, para todas as fases com recomendações diferentes. Desde a academia até as pessoas que querem melhorar a imunidade.”
O colostro na culinária
Além de ser consumido em cápsulas e em pó, o colostro bovino pode ser utilizado em diversas receitas, como queijos, iogurtes e até mesmo em preparações doces. A versatilidade do colostro permite que ele seja incluído em diferentes dietas e paladares.
“Tudo que faz de leite, faz de colostro”, enfatiza a veterinária que explica que a Emater-RS possui um livro de receitas com colostro bovino. “Usa-se 10 litros de leite faz 1kg queijo, com 5 litros de colostro faz 1kg de queijo. Faz tudo iogurte, ambrosia, pudim.”
O futuro do colostro
O mercado de colostro ainda tem muito a crescer, mas também tem muitos desafios a superar. “Existe um mercado consumidor ávido por colostro, mas ainda existe uma certa ignorância no mercado industrial. É uma transformação lenta, de um processo persistente, não é de um dia para o outro.”, relata Mara.
O produto ainda é caro e existe um certo preconceito, para muitos produtores o colostro e o leite de transição são um leite “choco” ou “sujo”. Segundo Mara, é preciso tirar da memória a proibição e desmistificar o uso.
Com uma composição nutricional superior ao leite, o colostro bovino é um tesouro desperdiçado no Brasil. Apesar de sermos grandes produtores, a maior parte do colostro é descartada após a alimentação dos bezerros. Enquanto no mundo todo, o colostro é utilizado em diversas áreas, como a indústria alimentícia, farmacêutica e cosmética, no Brasil, o potencial desse alimento rico em nutrientes e substâncias bioativas ainda não é totalmente explorado.
As informações foram cedidas por Mara Helena Saalfeld à equipe MilkPoint.
Fontes consultadas: