A doença, que é causada pelo nematoda Stephanofilaria SP, é transmitida através de moscas, especialmente a mosca do chifre. Esta mosca, como o próprio nome fala, parasita mais a região da cabeça e pescoço, no entanto, em períodos quentes do ano há uma quantidade superior da mesma, e ela então se dissemina por todo o corpo do bovino, injetando o verme na pele dos animais por meio da saliva. As moscas podem se contaminar com o nematoda ao se alimentar de vacas doentes e transmitir depois às vacas sadias.
Esta infecção parasitária é uma zoonose, podendo ser transmitida ao homem, razão pela qual também merece destaque. Estudos demonstram a presença de microfilárias no sangue periférico de bebês recém-nascidos, no teste do pezinho, sendo estes bebês gerados por mâes não portadoras de lesões cutâneas, o que indica que além da transmissão ao homem, ocorre a transmissão placentária do parasito.
A lesão na pele das vacas inicialmente caracteriza-se por uma dermatite, ou seja, uma inflamação da porção cutânea acometida, e que progride para uma área alopécica (sem pêlos) e ulcerada e circular, a qual secreta um conteúdo sanguinolento, e normalmente com bastante prurido, pois se observa várias tentativas da vaca em lamber o local. Esta ferida persiste por longo período de tempo, uma vez que na ferida está presente o parasita, e diversos animais, após o tratamento, tiveram novamente o aparecimento da lesão mesmo após um ano. Em alguns casos, ocorre associação da ferida com miíase (bicheira), o que torna a extensão da ferida ainda maior.
A ferida normalmente se localiza na linha média do úbere, próxima aos ligamentos que dividem os quartos mamários. A maioria está presente na parte anterior do úbere. No Brasil, a predominância das lesões se restringe à glândula mamária, com alguns relatos da lesão ocorrendo em outras regiões do corpo da vaca. Acredita-se que esta diferença se deva aos tipos de parasitos, argumento este ainda não confirmado.
Os produtores de leite afirmam que os animais acometidos apresentam uma redução acentuada na produtividade, além do risco de desenvolvimento de mastite, por causa do intenso desconforto, doloroso e pruriginoso. Observa-se número elevado da doença microbiana após o desenvolvimento da ferida no úbere. Acredita-se que isto ocorra justamente porque a ferida permite maior acúmulo de sujidade e moscas no local, bem como multiplicação bacteriana, facilitando a infecção da glândula mamária.
Propriedades que possuem o sistema semi-intensivo ou intensivo necessitam ter preocupação ainda mais elevada, por serem mais susceptíveis a acúmulo de material orgânico, em especial dejetos dos animais, o qual facilitará a multiplicação das moscas que transmitem o parasita.
A maior incidência ocorre justamente em vacas em lactação, por isso a doença é conhecida como úlcera da lactação. As outras categorias também podem ser acometidas, mas em muito menor extensão. Isso possivelmente acontece por alguns motivos, dentre eles, que estas fêmeas frequentam no mínimo uma vez ao dia o local para ordenha, ambiente menor no qual as vacas ficam mais próximas umas às outras, sadias e doentes, e muitas vezes onde há maior concentração de moscas. Ainda, pertencem a classe dos animais do rebanho que normalmente não são vermifugados, justamente para não excretar o medicamento no leite e assim reduzir a quantia de leite vendável. Sendo assim, justifica-se a maior predisposição da categoria para o desenvolvimento da doença. A doença é mais frequente em rebanhos leiteiros, mas pode aparecer em animais destinados a produção de carne, mais comumente na região do escroto de touros.
Em áreas endêmicas pode-se observar até 90% de animais acometidos, e este índice tem sido associado a bovinos de raças taurinas, especialmente da raça Holandesa e Jersey. Animais Girolandos também apresentam incidência, no entanto menor que os animais puros taurinos.
O diagnóstico definitivo deverá ser feito pelo médico veterinário, o qual pode confirmar a presença do parasita pela coleta de material da ferida e envio a um laboratório de parasitologia veterinária. A melhor observação do parasito se dá pela visualização do mesmo no liquido utilizado para enviar a amostra tecidual ao laboratorio, denominado exame direto, com observação do sedimento em microscópio.
O tratamento é realizado com medicamentos antihelmínticos como ivermectina, levamisol, amitraz, com resultados satisfatórios. Ainda, pode-se recomendar compostos organofosforados para colocação tópica, na ferida, sendo que o ideal é se fazer a associação com a istração parenteral, ou seja, injetável. Deve-se relembrar que alguns medicamentos, como a ivermectina, possuem períodos de carência elevados, motivo pelo qual muitos produtores não realizam o tratamento. O período de tratamento médio ocorre em torno de 30-45 dias, longo, trabalhoso e dolorido aos animais, por apresentar alta sensibilidade na região. Tem-se pesquisado medicamentos fitoterápicos para resolução do problema, os quais ainda encontram-se em teste. Os produtos repelentes usualmente utilizados nas fazendas não apresentam eficácia. Em todo o caso, o tratamento deve ser indicado por um veterinário, o qual fará o acompanhamento do caso e verificará a eficácia dos diferentes métodos.
Silva et al. (2010) fizeram um levantamento do custo para tratamento de vacas acometidas com a parasitose, e concluíram que gasta-se em torno de R$130,00 reais por vaca tratada. Se levarmos em consideração que a doença acomete principalmente vacas em lactação, e que o tratamento mais eficaz é feito pela aplicação de ivermectina parenteral, sendo o leite então destinado somente para alimentação de bezerros por causa do alto período de carência, este tratamento a a ser então impraticável.
Desta forma, esta é mais uma doença na qual prima-se pela prevenção. O ideal é a identificação dos animais acometidos no início da instalação da doença, pois eles funcionarão como foco de contaminação para as demais. Poucas vacas afetadas poderão ser retiradas da ordenha comercial para tratamento sem apresentar um alto impacto na produtividade. No entanto, uma vez que a doença esteja amplamente disseminada, o ideal é afastar os animais doentes para tratamento de forma gradativa, e até mesmo dividi-las em lotes de animais doentes e sadios.
Independente do tempo que a doença iniciou no rebanho, deve-se fazer controle rigoroso dos disseminadores da doença, as moscas. Existe uma série de substâncias que podem ser istradas aos animais para repelir as moscas, no entanto, são absorvidas pela pele e secretadas também no leite, devendo-se evita-las ou respeitar o periodo de carência para cada droga. Os locais de ordenha e de alojamento de animais, para alimentação periódica ou manutenção efetiva dos animais (sistema intensivo), devem possui limpeza de dejetos e outros materiais orgânicos, os quais aumentarão a quantidade de moscas. Ainda, pode-se utilizar susbtâncias que realizam controle quimico das moscas, como o diflubenzuron e o methoprene, os quais são ingeridos pelos bovinos e eliminados nas fezes, impedindo o crescimento das larvas das moscas. Deve-se ressaltar que este controle leva no mínimo duas semanas para mostrar a eficácia, pois as moscas adultas sobrevivem de 1 a 4 semanas. Estes medicamentos podem ser utlizados por vacas em lactação e para animais destinados a carne, pois não apresentam carência para nenhuma das duas produções.

Figura 1: Lesões circulares, ulceradas e com crostas, na região anterior do úbere.
Fonte: Miyakawa et al. (2009)

Figura 2: Ferida na porção anterior do úbere Figura 3: Ferida entre quartos mamários
Fonte: Silva et al. (2010)
Referências Bibliográficas
DIES, K.H.; PRITCHARD, J. Bovine Stephanofilarial dermatitis in Alberta. Canadian Veterinary Journal, v.26, p. 361-362, 1985
MIYAKAWA, V.I.; REIS, A.C.F.; LISBOA, J.A.N. Aspectos epidemiológicos e clínicos da estefanofilariose em vacas leiteiras e comparação entre métodos de diagnósticos. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 29, n.11, p. 887-893, 2009.
SILVA, L.A.F.; RABELO, R.E.; MOURA, M.I.; FIORAVANTI, M.C.S.; BORGES, L.M.F.; LIMA, C.R.O. Aspectos epidemiológicos e tratamento de lesões parasitárias semelhantes a estefanofilariose em vacas lactantes. Semina: Ciências Agrárias, v.31, n.3, p.689-698, 2010.
WATRELOT-VIRIEUX, D.; PIN, D. Chronic eosinophilic dermatitis in the scrotal area associated with stephanofilariasis infestation of Charolais bull in . Journal of Veterinary Medicine, B Infectious diseases and veterinary public health, v.53, n.3, p150-152, 2006.