Neste artigo trataremos de dois assuntos relacionados ao estresse térmico: a zona de conforto térmico e o Índice de Temperatura e Umidade (THI). Estes itens apesar de não serem técnicas diretas para amenizar o estresse térmico dos animais, podem ser ótimas ferramentas para técnicos e produtores monitorarem as condições térmicas a fim de se evitar ambientes estressantes aos animais.
Zona de conforto térmico
Os animais homeotérmicos, em função da espécie, raça, nível de produção, estádio fisiológico e plano nutricional, apresentam uma faixa de temperatura ambiente na qual se encontram em conforto térmico, denominada zona de termoneutralidade (figura 1).
Na zona de termoneutralidade, o sistema termorregulador não é acionado, seja para capturar ou dissipar calor. Assim, o gasto de energia para manutenção é mínimo, resultando em máxima eficiência produtiva. Os limites da zona de termoneutralidade são: a temperatura crítica inferior (TCI) e a temperatura crítica superior (TCS). Abaixo da TCI, a vaca entra em estresse pelo frio, e acima da TCS, em estresse pelo calor (BACCARI JUNIOR, 1998).
Figura 1 - Zona de Termoneutralidade. Fonte: Prof. Dr. Marcos Chiquitelli Neto. UNESP-Ilha Solteira
Para saber um animal está ou não em sua zona de conforto é fundamental estabelecer as TC inferiores e superiores. Porém ainda há certa divergência entre os autores sobre qual seria a temperatura crítica superior para vacas em lactação, uma vez que as raças ditas especializadas em produção de leite tiveram suas origens em regiões de clima temperado.
Segundo Berman (1985) a TC superior estaria entre 25 a 26ºC para vacas em lactação, independentemente de estas terem sido submetidas à aclimatação prévia ou nível de produção. Essa especificidade generalizada de temperatura crítica superior contradiz as considerações de Yousef e Johnson (1985) segundo os quais, a zona de termoneutralidade varia com o estado fisiológico e as condições ambientais.
Outro autor, o Fuquay (1997) considerou para o gado europeu, o valor de temperatura crítica superior é entre 25 a 27ºC. De acordo com Nääs (1989), em função da umidade relativa do ar e radiação solar local, a faixa de termoneutralidade poderia ser restringida entre 7 e 21ºC. Huber (1990) considerou como adequadas para o conforto térmico de vacas em lactação temperaturas do ar entre 4 e 26ºC. Percebe-se que apesar da variação entre os autores todas as TC superiores permaneceram dentro do intervalo de 21 a 27 ºC.
O estresse térmico pode ser em função de temperaturas abaixo da TCI ou acima da TCS. O Brasil por estar situado geograficamente, na sua maior parte, entre o equador e o trópico apresenta problemas com o estresse causado pelo calor, ou seja, acima da TCS.
Índice de temperatura e umidade (THI)
Um dos grandes problemas de se considerar apenas a zona de termoneutralidade para saber se um animal está ou não em ambiente estressante é o fato de que este índice não considerar outros fatores ambientais estressantes como a umidade relativa do ambiente, velocidade do vento e a radiação solar.
Na tentativa de utilizar todos estes fatores, pesquisadores tentaram criar índices e dentre eles destaca-se o índice de temperatura e umidade (THI), desenvolvido por Thom (1959) como um índice de conforto para humanos. Johnson em 1962 e seus colaboradores observaram quedas significativas na produção de vacas leiteiras, associadas ao aumento no THI, que desde então este tem sido utilizado para descrever o conforto térmico destes animais.
Esse índice pode ser calculado a partir da temperatura de bulbo seco e da umidade relativa do ar, conforme descrito por Johnson (1980). Assim:
THI = Ts + 0,36 Tpo + 41,2
em que:
- Ts = temperatura do termômetro de bulbo seco, ºC;
- Tpo = temperatura do ponto de orvalho, ºC.
Quando o resultado do THI for superior a 72, pode-se dizer que o animal está em ambiente estressante. Nem todos os produtores conseguem medir em suas propriedades o THI, seja por falta de conhecimento, equipamentos ou mesmo de tempo. Logo, para facilitar existem no mercado (algumas empresas de medicamentos veterinários e mesmo na internet disponibilizam gratuitamente) tabelas, como a seguir, apresentando de THI estressantes para vacas em lactação.
Para utilizar a tabela, basta o produtor saber a temperatura e a umidade relativa média de sua região.
Tabela 1. Índice de temperatura e umidade (Adaptado de Johnson et al. 1962)
Vale ressaltar, que apesar de muito utilizado o THI, segundo alguns autores, já é uma ferramenta ultraada, pelo fato de não considerar o calor produzido pelo próprio animal.
Uma vez compreendido os conceitos de Zona de Conforto e THI, técnicos e produtores podem facilmente monitorar o ambiente em que os animais permanecem a fim de se identificar o mais brevemente possível situações de risco relacionadas ao estresse térmico e assim buscar medidas (físicas, nutricionais ou de manejo) para amenizar este problema que faz parte de grande parte dos rebanhos tropicais.
Referências
Estresse climático e nutrição animal (2008). Flávio Augusto Portela Santos, Rafaela Carareto, Arlindo José Dias Pacheco Júnior. Workshop Ambiência para bovinos leiteiros - IZ - Sertaozinho-SP
BACCARI JUNIOR, F. Adaptação de sistemas de manejo na produção de leite em climas quentes. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AMBIÊNCIA NA PRODUÇÃO DE LEITE, Piracicaba, 1998. Anais... Piracicaba: FEALQ, 1998, p.24-67.
FUQUAY, J. W. Heat stress and it affects animal production. Livestock Environment, v.2, p.1133-1137, 1997.
HUBER, J. T. Alimentação de vacas de alta produção sob condições de estresse térmico. In: SIMPÓSIO SOBRE BOVINOCULTURA LEITEIRA. Piracicaba: FEALQ., 1990. p.33-48. 41
NÃÃS, I. A. Princípios de conforto térmico na produção animal. Editora ícone, 1989.