O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de leite, com produção em 98% dos municípios brasileiros. Pelo lado da oferta, dados organizados pelo Centro de Inteligência do Leite da Embrapa Gado de Leite mostram que a produção de leite tem variado de 33,3 a 35,3 bilhões de litros por ano, enquanto o consumo aparente, que considera a soma do total produzido com o importado, tem variado entre 167 e 176 litros por habitante por ano (EMBRAPA, 2023).
A produção leiteira representa grande impacto, não apenas na cadeia produtiva pelos aspectos econômicos, mas também em questões sociais. Desta forma, deve haver uma rigorosa inspeção do leite antes de ser comercializado para que os índices desse consumo cresçam de forma exponencial.
Para isso, além da qualidade do leite, a saúde dos animais é um parâmetro a ser avaliado, pois influencia diretamente nos índices de produção e impede que doenças sejam transmitidas por meio da ingestão do leite. Dessa forma, cuidados e manejos sanitários devem ser muito bem estabelecidos dentro das propriedades leiteiras a fim de manter o consumo seguro do leite e derivados lácteos.
Conhece-se por zoonoses as doenças que podem ser transmitidas entre animais e humanos, podendo ser transmitidas pelo contato direto com secreções, pela picada de vetores, resíduos de produção que contaminam o ambiente ou por meio de consumo de produtos de origem animal (SEIMENIS, 2008).
Existem várias zoonoses de importância à saúde pública, porém, as principais relacionadas com transmissão pelo rebanho leiteiro são a tuberculose, brucelose e leptospirose (PEGORARO et al., 2018).
A tuberculose é uma enfermidade de evolução crônica causada pela bactéria Mycobacterium bovis, é de transmissão aérea a partir de aerossóis oriundos de saliva ou espirros. Estima-se que cerca de 10 % das vacas leiteiras e 20% dos rebanhos nacionais estejam acometidos e que as perdas relacionadas a eficiência produtiva do animal sejam em torno de 25 % (BRASIL, 2006). Já nos seres humanos, a infecção resulta da ingestão ou manipulação de leite contaminado, ou do contato com aerossóis afetando prioritariamente os pulmões, embora possa acometer outros órgãos.
A brucelose é causada pela Brucella abortus, em que a principal fonte de infecção é representada pela vaca prenhe, que elimina grandes quantidades do agente no parto ou aborto e em todo o período puerperal (até, aproximadamente, 30 dias após o parto), contaminando as pastagens, a água, os fômites, e os alimentos (BRASIL, 2022). Assim, os seres humanos podem contrair a bactéria por meio da ingestão de alimentos mal cozidos, água contaminada, leite e produtos lácteos produzidos com leite cru contaminado, além do contato com restos placentários, fetos abortados, urina e fezes de animal infectado (MEGID, 2016; PEGORARO et al., 2018). Ao ser contaminado por essas afecções, os principais sinais apresentados nos seres humanos são febre alta, sudorese, além de fortes dores no corpo, calafrios e mal estar.
Já a leptospirose é uma zoonose causada por bactérias do gênero Leptospira sp. que afeta diretamente a lucratividade nas propriedades causando falhas reprodutivas associadas ao aborto, morte ou nascimento de bezerros fracos e queda na produção de leite. E nos humanos podem ocorrer diarreia, dor nas articulações, vermelhidão ou hemorragia conjuntival, fotofobia, dor ocular entre outros sintomas. Sua transmissão ocorre por meio do contato direto da pele (íntegra ou lesada) ou mucosa com secreções, água ou alimentos contaminados, urina, secreções genitais e leite de animais em fase aguda da infecção, especialmente para os colaboradores que mantêm contato direto com o produto (GEMP, 2022).
Por fim, todas as doenças citadas anteriormente são de risco à saúde pública, sendo a principal forma de controle, evitar a entrada de animais contaminados no rebanho. Além disso, a adoção de um calendário de controle sanitário, proporciona a produção e comercialização de produtos íntegros e de qualidade, sem contaminação e prejuízos a saúde pública.
Referências:
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal (PNCEBT). Brasília, DF: MAPA, 2006.
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Brucelose e Tuberculose. Brasília, DF: MAPA, 2022. Disponível em:
EMBRAPA. Anuário Leite – Leite baixo carbono, 2023. Disponível em:
GEMP. Revista Leite Integral – Leptospirose em bovinos leiteiros: controle e prevenção, 2022. Disponível em: < https://www.revistaleiteintegral.com.br/noticia/leptospirose-em-bovinos-leiteiros-controle-e-prevencao>. o em: 18 abr 2024
MEGID, J. Brucelose. In: MEGID. J.; RIBEIRO, J.; PAES, A.C. Doenças infecciosas em animais de produção e de companhia. 1ed. Rio de Janeiro: Roca, p.512-542, 2016
PEGORARO, L. M. C.; WEISSHEIMER, C. F.; PRADIEE, J.; SILVA, J. F. Biossegurança e saúde única. 7° Dia de Campo do Leite: da Pesquisa para o Produtor. Documentos 464, p. 35-45, 2018.
SEIMENIS, A. M. The spread of zoonosis and other infectious diseases through the international trade of animals and animal products. Veterinaria Italiana, v.44, p.591- 599, 2008.