Um novo estudo acaba de ser publicado e apontou que elevada ingestão de leite (excluindo-se os iogurtes e outros leites fermentados) está associado a maior risco de doenças cardíacas em mulheres. O estudo foi feito com a população da Suécia, um dos países da Europa com maior consumo de lácteos no mundo.
O trabalho avaliou como a ingestão de leite fermentado (iogurtes, coalhada) e não fermentado (leite desnatado ou integral) influencia no risco de desenvolver doença isquêmica cardíaca. A pesquisa acompanhou mais de 100.000 mulheres e homens por um período de até 33 anos.
No início do estudo, os participantes tinham entre 39 e 79 anos, sendo utilizados questionários de frequência alimentar detalhados para avaliar sua ingestão de produtos lácteos. Dentre as participantes do sexo feminino, aquelas que consumiam mais de 300 mL/dia de leite não fermentado registraram um risco maior de desenvolver doença isquêmica cardíaca e infarto do miocárdio (400 mL/dia, +5%; 600 mL/dia, +12%; 800 mL/dia, +21%). Entretanto, essa associação não foi constatada entre os participantes do sexo masculino.
Segundo os autores, há uma diferença entre os sexos na forma como o corpo converte a molécula de galactose em glicose, o que explica os resultados encontrados. Em contrapartida, não foi encontrada associação do consumo de leite fermentado a desfechos negativos em nenhum dos sexos.
Outro dado analisado no artigo foram a enzima conversora de angiotensina (ECA2) e fator de crescimento de fibroblastos (FGF21), ligadas ao metabolismo cardíaco, as quais podem ser alteradas pelo consumo de leite não fermentado, principalmente em mulheres.
Esses achados são relevantes não apenas para orientar o público consumidor a fazer escolhas mais conscientes, mas também para a indústria de laticínios, que pode explorar os benefícios do leite fermentado através de estratégias de marketing e inovação de produtos.
Os autores finalizam o estudo reforçando a necessidade de adaptar recomendações nutricionais à população, considerando os diferentes efeitos de leite fermentado e não fermentado. Há espaço para as empresas produtoras investirem em produtos fermentados e educar os consumidores sobre seus benefícios à saúde. Esses resultados destacam a importância de maior atenção à saúde das mulheres, que parecem ser mais beneficiadas pelo consumo de iogurtes e outros leites fermentados. Esses achados também sugerem caminhos para futuras pesquisas sobre as interações entre o consumo de lácteos, saúde cardiovascular e marcadores biológicos e, sobretudo, para potenciais melhorias em políticas públicas relacionadas à alimentação promotora de saúde.
Referências:
Michaëlsson K, Lemming EW, Larsson SC, Höijer , Melhus H, Svennblad B, Baron JA, Wolk A, Byberg L. Non-fermented and fermented milk intake in relation to risk of ischemic heart disease and to circulating cardiometabolic proteins in swedish women and men: Two prospective longitudinal cohort studies with 100,775 participants. BMC Medicine, 2024 Nov 8;22(1):483. Doi: 10.1186/s12916-024-03651-1.PMID: 39511582; PMCID: PMC11546556.
Michaëlsson K, Wolk A, Langenskiöld S, Basu S, Lemming EW, Melhus H, Byberg L. Milk intake and risk of mortality and fractures in women and men: cohort studies. BMJ. 2014 Oct 28:349:g6015. doi:10.1136/bmj.g6015. PMID: 25352269; PMCID: PMC4212225.
Michaëlsson K. Milk puts women at risk of cardiovascular disease. [Entrevista concedida a] Annica Hulth. Uppsala University News, Uppsala, SE . Disponível em: