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A intensificação e os ganhos de escala nos sistemas de produção de leite no Brasil têm sido amplamente debatidos e apontados como soluções para garantir a sobrevivência, principalmente, das pequenas e médias fazendas. Neste sentido, temos observado a adoção crescente de galpões de confinamento em substituição aos sistemas baseados, totalmente ou parcialmente, em pastagens.
Neste artigo, vamos discutir o principal resultado de um trabalho científico que publiquei junto com uma equipe de pesquisadores do Brasil e dos Estados Unidos. O trabalho original com a análise completa está na edição de setembro de 2024 da revista Agribusiness. Nos próximos artigos iremos falar mais sobre ele ainda.
O objetivo principal foi avaliar a eficiência técnica de sistemas de produção de leite, comparando o Compost Barn com sistemas menos intensificados como o Semiconfinamento e o Confinamento Sem Estrutura. Para isso, usamos a base de dados do Programa Educampo do SEBRAE de Minas gerais referente aos anos de 2014 a 2021 com com 1.117 observações de 383 fazendas.
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O diferencial deste estudo está na adoção da abordagem de Fronteira de Produção para avaliar a eficiência dos sistemas de produção. Ao contrário de análises tradicionais que isolam a produtividade de fatores individuais (como terra, rebanho ou mão de obra), essa metodologia considera a eficiência de forma multidimensional, ou seja, avalia a capacidade de produzir mais com os mesmos recursos de maneira integrada. A eficiência técnica, medida nessa perspectiva, varia entre 0 e 1, onde valores mais altos indicam que a fazenda está operando com maior eficiência.
A eficiência global média calculada para esse grupo de fazendas foi de 0,917, com valores individuais variando entre 0,814 e 0,96, indicando um alto nível de eficiência no uso dos recursos. Apesar de haver uma variação dentro do grupo, a elevada eficiência média encontrada reforça a importância de programas de assistência técnica e gerencial, como o Educampo.
A metodologia empregada possibilitou, ainda, decompor a eficiência global das propriedades leiteiras em duas dimensões: eficiência de curto e de longo prazo. Os resultados indicam que, em média, os produtores demonstram maior capacidade de adaptação a variações de curto prazo, como flutuações nos preços de insumos e do leite. No entanto, ao analisar as decisões de longo prazo, como investimentos em infraestrutura (por exemplo, construção de galpões de confinamento), observou-se um menor nível de eficiência. Essa diferença sugere que os produtores podem beneficiar-se de um acompanhamento técnico direcionado para as decisões estratégicas.
A análise da eficiência de longo prazo revelou que os sistemas Compost Barn apresentaram um desempenho superior aos demais sistemas avaliados. Especificamente, fazendas que adotaram o Compost Barn foram 2,3% mais eficientes que as propriedades com semiconfinamento e 1,2% mais eficientes que aquelas com confinamento sem estrutura. Os sistemas de confinamento sem estrutura, por sua vez, demonstraram uma eficiência 1,2% superior aos sistemas de semiconfinamento. A Figura 1 ilustra esses resultados, evidenciando não apenas a maior eficiência média dos sistemas Compost Barn, mas também uma menor variabilidade na eficiência entre as propriedades que o adotam (note o tamanho das caixas azuis no gráfico que representa a maior parte dos produtores).
Figura 1 – Comparação, por sistema de produção, das médias e da dispersão da Eficiência de Longo Prazo das fazendas produtoras de leite em Minas Gerais, atendidas pelo Programa Educampo do Sebrae-MG.
A superioridade de eficiência no uso dos recursos dos sistemas confinados pode ajudar a explicar a tendência de migração para sistemas mais intensificados de produção de leite no Brasil e em outros países. Além disso, essa maior eficiência e homogeneidade podem trazer benefícios competitivos para toda a cadeia produtiva.
Embora os resultados deste estudo contribuam para a compreensão da eficiência dos sistemas de produção de leite, algumas questões ainda precisam ser respondidas. A determinação da escala ideal de produção para a adoção do sistema Compost Barn, por exemplo, é crucial para a tomada de decisão dos produtores, considerando os elevados investimentos envolvidos. Além de estarmos trabalhando neste sentido, nas próximas análises iremos incluir outros sistemas de produção como os baseados em pastagem e o confinamento em galpões Freestall.
Por fim, gostaria agradecer aos professores Marcelo Dias Paes Ferreira da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Charles F. Nicholson da Universidade de Wisconsin (UW) e Lindomar Pegorini Daniel da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT) que são coautores no trabalho original. Agradeço também ao SEBRAE-MG pela cedência dos dados utilizados na análise.
